domingo, 25 de março de 2018

ROTEIRO -A BARRAGEM TRÊS IRMÃOS










Quem vê o rio Tietê na cidade de São Paulo (uma vergonha) nem imagina que, algumas centenas de quilômetros à frente, ele volta a ter suas águas limpas, potáveis e o melhor com muitas espécies de bons peixes e, sem a ajuda de qualquer órgão governamental. É o caso da Barragem de Três Irmãos, nosso roteiro desta edição.



Tucunaré azul

Só para que o pescador amador faça uma ideia do que é Três Irmãos, podemos dizer que a represa tem 130 km de extensão, e isso sem contar os braços que saem do canal principal. Uma boa dica também é saber que, pescando em Três Irmãos pode-se, através de um canal de ligação, chegar a outra importante e boa represa para a pesca, que é Ilha Solteira, sendo esta já no rio Paraná. Os principais peixes encontrados nestas duas represas são o tucunaré (três tipo: o azul, o amarelo e o “paca”) e as corvinas, que facilmente atingem dois quilos. Para a pesca do tucunaré além das iscas vivas (na região vende-se muitos lambari), existem também as iscas artificiais. Para as corvinas, as iscas mais usadas são as naturais, e em pedaços. Dentre estas, podemos destacar o lambari, a minhoca, e a tuvira. Segundo informações lá obtidas, com um pequeno pedaço de tuvira é possível fisgar até 10 peixes sem trocar a isca. Como se sabe, as corvinas pegam no fundo, e aqui citamos um fato incrível: chega-se a pegar corvinas em locais com 40 metros de profundidade. Conforme dissemos, há um canal de ligação entre as duas represas, que foi construído para facilitar a navegação das grandes barcaças de carga, que percorrem o trajeto entre o Tietê e o Paraná. Para que essa seja segura, foram colocadas bóias sinalizadoras na superfície da água. 

Melhores pesqueiros: galhadas

Pois bem, os pescadores costumam amarrar seus barcos nessas bóias para ali pescar as corvinas, que tanto podem ser pescadas durante o dia como à noite. São várias bóias espalhadas pela represa, em locais com diferentes profundidades, que costumam ter entre 20 e 50 metros. Mas as corvinas também podem ser pescadas em outros locais como galhadas e mesmo grotas, onde a profundidade é bem menor. A respeito dos tucunarés, continuamos a afirmar que a melhor opção ainda é a pesca com iscas artificiais, já que a esportividade é maior e há mais movimento por parte do pescador amador, pois muda-se constantemente de local e vai-se em busca do peixe. São muitos os locais onde o tucunaré está presente, e como não poderia deixar de ser – já que se trata de um peixe predador -, o pescador deve dar preferência às galhadas, principalmente quando elas aparecem nos braços laterais da represa e, do meio para o fim desses braços. Pescar nesse tipo de local, o ideal é dispor de um motor elétrico, pois esse equipamento permitirá que o pescador “bata” facilmente toda a extensão das galhadas, o que, em certos casos equivale a uma distância entre 100 e 200 metros. A essa operação costumamos dar o nome de “pentear” os pesqueiros. Ou seja: bate-se a isca metro a metro em toda a extensão das galhadas. Após fisgar um peixe, procure, sem fazer barulho, dar mais lances no mesmo local ou imediações, já que o tucunaré – é um hábito próprio da espécie – costuma andar em cardumes. 

Tucunaré paca

Isca artificial: Popper                    
Aqui veremos uma particularidade especifica de Três Irmãos que normalmente não encontraremos em outras represas. Fisgamos diversos peixes, em locais bastantes rasos, com pouca vegetação e praticamente com nenhuma galhada. Nesses locais, se o pescador preferir, pode descer do barco, já que as margens são firmes, e ir batendo iscas que trabalhem na superfície. As colheres, jigs e spinners também dão bons resultados. Esse tipo de pesca consiste em andar na margem, sendo que com sua aproximação os tucunarés vão mais para o fundo. Os lances devem ser dados num ângulo de mais ou menos 30 graus a partir da margem e sempre à frente do pescador. Vez por outra, é conveniente dar um ou dois lances para trás, já que o peixe se afasta com sua aproximação, mas logo em seguida à sua passagem, volta para o mesmo local. Uma boa dica quando se está pescando dessa maneira é, quando fisgar um peixe, agachar-se para tirar o peixe do anzol e em silêncio continuar a dar lances, sem caminhar. Mais uma vez, citamos o hábito do tucunaré andar em cardumes. Outra boa dica é que, andando, muitas vezes conseguiremos ver os tucunarés saindo da água rasa e indo para o fundo, o que se traduz em ricos na superfície da água, ou então em desabalada carreira, causando uma verdadeira “bagunça” na rasura, tal a agitação com que se movem. Outros pontos também muito bons para tentar fisgar os tucunarés de Três Irmãos são os fundos de grotas que tenham pequenos riachos a desaguar na represa.


Grotas: um bom pesqueiro

Esses locais são muito comuns, e estão disponíveis em várias grotas lá existentes. Aqui a pescaria deve ser feita com o barco. Basta vir, movido pelo motor elétrico, bem no meio da grota. Assim que percebermos o riacho, começaremos a dar lances com as iscas artificiais nas laterais. À medida que se vai avançando, o riacho vai ficando estreito, e é então que devemos dar o lance bem no meio dele, trabalhando a isca como se fosse um pequeno peixe saindo dele. Importante: procure dar lances longos, pois se o tucunaré perceber sua presença irá fugir rapidamente do local. A dica aqui é a seguinte: não desça do barco, pois suas passadas nas margens serão percebidas pelos peixes e, se assim ocorrer, o fracasso será inevitável. Podemos afirmar que tanto Três Irmãos como Ilha Solteira são excelentes pesqueiros, e os tucunarés lá atingem facilmente os 3 ou 4 quilos. Temos conhecimento inclusive de um exemplar que pesou 5.460kg, o que, convenhamos, não é muito comum, mas tomando por base a média de peso citada, esses tucunarés podem ser classificados como grandes peixes. Em um bom dia de pescaria, consegue-se fisgar de 20 a 50 tucunarés nessas duas represas. É bom que observemos que não há a necessidade de se matar tantos peixes, mas esse é um problema que fica a cargos do discernimento ecológico de cada pescador.

O mapa da região 

No entanto, é muito importante observar o tamanho mínimo de 25 cm estabelecidos para a captura do tucunaré, pois ao respeitarmos essa medida, estaremos dando ao peixe a oportunidade de desovar pelo menos uma ou duas vezes. A propósito, a APAB (Associação de Pescadores Amadores do Brasil) já está com uma minuta elaborada em uma portaria tramitando no IBAMA de São Paulo, onde essa medida está citada, bem como medidas de proteção a esse magnífico peixe esportivo. Tal preocupação se justifica, como a de Itumbiara (GO) onde havia muito peixe e era uma delicia pescar. A depredação acarretada pela pesca profissional e infelizmente por maus amadores (que chegavam a matar 500 peixes de qualquer tamanho em uma só pescaria) tornaram Itumbiara uma represa com pouco peixe. Ainda há peixes lá, só que fisgar bons exemplares, atualmente, não é tarefa muito fácil. Aí está, portanto mais um roteiro testado e aprovado pela equipe Aruanã, sendo que desta feita nos fixamos na cidade de Pereira Barreto, mais precisamente na Dinâmica das Águas. Confira na ilustração.


Em nossa NOTA DA REDAÇÃO da época, mostramos o apoio da Dinâmica das Águas. Convém hoje, salientar mais uma vez que, essas informações devem ser atualizadas antes de ir pescar nessas barragens.

Dinâmica das águas.






Publicada Revista Aruanã Ed:44 em 04/1995

terça-feira, 13 de março de 2018

OS PIONEIROS DA PESCA AMADORA NO BRASIL - COMERCIAL CREMONESI














   Publicidade da Cremonesi na época
       Nos arredores da cidade de São Paulo, a cidade de Jundiaí é muito conhecida pelos pescadores amadores. Além de sua beleza e parque industrial, com certeza a Comercial Cremonesi também tem muito a ver com essa fama. Vamos conhece-la.


Aspecto da loja
Alguns motivos principais determinam a preferência dos pescadores amadores comprar em uma determinada loja. Entre esses motivos, destacamos os preços, a qualidade dos produtos comercializados, a seriedade no atendimento e principalmente a lealdade dos diretores das empresas com seus clientes. Antonio Pedro Cremonesi, 52 anos, tem todos esses requisitos. Natural de Jundiaí (SP), há 30 anos ele se dedica a esse tipo de comércio. Formado em Contabilidade e Administração de Empresas, e durante sua juventude, trabalhou na Cia. Paulista de Estradas de Ferro. Sua paixão pela pesca o fez montar sua própria loja: a Comercial Cremonesi. Casado com Dona Elisabeth tem três filhos: Célia, Fernando e Cláudia, que trabalham com ele na loja. Diferente de outros empresários deste ramo, Antonio Pedro começou direto com sua loja, e com muito esforço e dedicação, firmou-se no cenário nacional. A Comercial Cremonesi está instalada em prédio próprio, que ocupa uma área de 1560 m2, contando com 22 funcionários. Em fase final de construção estão mais 360 m2, que segundo “Toninho”, serão destinados à implantação da mais completa oficina de motores de popa do estado de São Paulo. Fizemos uma pergunta a ele: “Por que comprar em Jundiaí?” Sem hesitar, ele responde: “Além de nosso atendimento, com certeza nossos preços são os melhores do Brasil, e por essa razão, temos clientes em todo o território nacional”. Pescador amador inveterado tem entre suas preferências locais como Corumbá, Porto Jofre, Porto Manga e em especial rios como o Paraguai e o Taquari, de onde tem lembranças um pacu de 6kg, um pintado de 11,5kg e um dourado de 5,5kg, “já limpos”. Em suas pescarias, Toninho usa como iscas a tuvira, o jeju e o caranguejo. Entre essas modalidades, sua pescaria preferida é a de dourados.

Sr. Antonio Pedro Cremonesi, diretor
Como outra opção, ele se confessa apaixonado pela pesca do lambari, feita em pequenos rios e usando o siriri como isca. Com saudade, ele se lembra de suas primeiras pescarias, feitas no rio Jundiaí-Mirim, quando tinha 9 anos de idade. Desde essa época, o lambari já era fisgado e os “grandes peixes” eram os bagres. Com alegria Toninho diz que seu clientes, quando viajam para suas pescarias e são identificados como pescadores de Jundiaí, ouvem sempre a pergunta “Vocês conhecem a Cremonesi?”, e nos mais remotos cantos do país, o que é para ele um motivo de muito orgulho. Como tristezas, Toninho aponta a devastação do meio ambiente, “pois nossas pescarias, a cada dia que passa, têm sua distância aumentada, numa demonstração clara de que bons locais, livres de depredação costumeira, estão cada vez mais longe.” E ele cita ainda mais um item: o orgulho de levar o nome de Jundiaí para todo o Brasil, através da Comercial Cremonesi. E faz um desafio: “Em se tratando de materiais para pescadores, nosso preço, principalmente em barcos, motores de popa e lanchas, não têm concorrência.” A Comercial Cremonesi trabalha com artigos para caça, pesca, camping, náutica, esportes em geral, cutelaria e mergulho, além de dispor de oficina especializada em motores de popa, barcos, armas e artigos de pesca. Motores de popa de marcas como Johnson, Mercury, Yamaha, e Evinrude, com potência de 3 a 300 HP estão em exposição na loja. Como mensagem final, Toninho Cremonesi diz que seu maior sonhos é “um dia ver o IBAMA, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente, cumprir suas funções de fato e de direito, cuidando como se deve de nosso meio ambiente.” O endereço da Comercial Cremonesi é: Rua Marechal Deodoro da Fonseca, 600 – Jundiaí – SP – CEP 13200. Fones: (011)434-2000 e (011)434-1112. É só ligar e conferir. 

NOTA DA REDAÇÃO: A Comercial Cremonesi continua no mesmo endereço e seu tel. atual é (011) 3964-1000

Revista Aruanã Ed:22 publicada em 06/1991
                                                                           

sexta-feira, 2 de março de 2018

HISTÓRIA DE PESCADOR - O PORTO








Começando a atracação no porto                                                                                      



 São muitas as histórias engraçadas que já tivemos oportunidade de viver em nossas andanças por esse Brasil afora. Isso até já é um projeto para um futuro livro. Esta história, por exemplo, aconteceu no rio das Velhas, em Sacramento (MG).
                                                                                 

Rio da Velhas

Na ocasião, havíamos ido ao Rio das Velhas com a finalidade de fazer uma matéria sobre “tubaranas” (que depois descobrimos serem pirapitingas). Nessa pescaria estavam presentes além de mim, o Amir, o Lester e o Mauricio, todos residentes em Sacramento. Da matéria, publicada na revista, o leitor deve se lembrar: descemos o rio das Velhas desde a pequena cidade de Desemboque, até um determinado trecho do rio, na fazenda do amigo Abrão, percorrendo mais ou menos 35 quilômetros. Rio bonito, muitas corredeiras, água muito limpa e muita pirapitinga fisgada. No que se refere a “bóia”, ou seja, o que comeríamos durante a viagem, ficou acertado que seria de responsabilidade do Amir, que iria fazer uma farofa de frango à mineira. De fato, ao entrarmos no rio em Desemboque, o caldeirão da farofa lá estava e foi acomodado em um canto do barco. 

As pirapitingas

Lá pelas tantas, deu fome no pessoal e cada um de nós com uma lata de refrigerante nas mãos, literalmente “atacou” a farofa. Realmente estava muito bem temperada, mas a bem da verdade devo dizer que havia muito pouco frango propriamente dito. O Mauricio disse então que apesar de ser aquela uma farofa de frango, deste só tinha mesmo pescoço, “grade” (costela) e pé. Prosseguiu revelando que o Amir havia comido o peito e as coxas do frango na noite anterior à pescaria. Bem, o que o Amir respondeu é impublicável, mas proporcionou-nos boas risadas durante o dia. O interessante era que o caldeirão de farofa passava de mão em mão. E cada um dava uma “ciscadinha” na farinha para ver se achava um pedaço de frango. 


Mas o mais engraçado estava por vir. Continuamos a descer o rio e já no final da tarde estávamos chegando ao nosso destino: o porto. Após uma curva do rio, eu e o Amir tivemos o seguinte diálogo: - Olha lá o Porto anunciou ele. – Onde? Indaguei. – Lá! E projetava o lábio inferior em forma de bico apontando à frente. – Onde é que está esse porto, que eu não estou vendo? – Ali, pô, onde está aquele bambu seco encostado. – Você está brincando... – Que nada sô! Lá é o melhor lugar para “subir” o barco. Pois é, leitor, o “porto”, solitariamente sinalizado por uma vara de bambu encostada no paredão de pedra do rio, estava lá. Eu disse paredão? Então bota mais paredão nisso. Para se ter uma idéia, o tal paredão tem mais ou menos uns 20 metros acima do nível do rio, sendo o principio de pedra e o resto de terra, com várias árvores no meio do trajeto. Incrédulo, dirigi-me ao Amir: “Vocês estão brincando que vão tirar o barco por aí” E ele: “fique o senhor sabendo que esse é o melhor porto do Rio das Velhas!”. 

A “operação subida”

Pois bem. Optei por sentar, aprontar minha máquina fotográfica e registrar a “espetacular” subida do barco. Pelas fotos o leitor pode ter uma idéia da “beleza e comodidade” oferecidas por aquele que era o “melhor” porto do rio. A “operação subida” deu-se mais ou menos assim: amarraram a ponta de uma corda comprida na proa do barco e o Lester subiu o morro levando outra ponta. Lá em cima, deu uma laçada em uma árvore e comandou a subida. Aqui embaixo, o Amir e o Maurício pegaram cada um do lado do barco e começaram a levanta-lo. A essa altura chegaram amigos da fazenda do Abrão, que também deram uma “mãozinha”. A cada grito do Lester lá no alto o pessoal aqui embaixo dava um empurrão no barco para cima. Após mais ou menos 15 minutos, o barco estava descansando no pasto da fazenda enquanto o pessoal da “operação subida” arfava e suava em bicas. E então o Amir lançou a observação fatal: “Viu, panaca? Agora fala a verdade, você já viu porto melhor e mais seguro do que este?” O silêncio foi minha resposta final, pois para subir o “porto”, precisei do auxílio de cordas. Sem comentários.



Revista Aruanã Ed: 55 publicada em 12/1994