sexta-feira, 25 de maio de 2018

ESPECIAL - O ACARÁ DA PRAIA









O eterno vigiar

Muitos pescadores que são hoje considerados grandes em nosso segmento começaram suas pescarias fisgando pequenos acarás. Esses peixes eram a nossa alegria em represas, pequenos lagos e lagoas onde sua presença era constante, e isso em todo o Brasil. Se porém o pescador começou a pescar no mar, um pequeno peixe, com a mesma presença do acará, também iniciou muito pescador. Vamos conhece-lo: a betara.


A Menticirruhus americanus – família Scianidae

A presença da betara em nossas praias e rios do litoral, principalmente em sua foz com o mar, é garantida, e mesmo que a pesca seja feita em um mau dia, dificilmente deixaremos de fisgar um peixe dessa espécie. Se analisado, este peixe, apesar de ser bastante comum, tem algumas particularidades bem interessantes, e em livros científicos, é um dos peixes que têm mais nomes, variando de acordo com a região do Brasil, que são no mínimo curiosos. Pertencendo à mesma família das corvinas, pois é um Scianidae, tem como designação científica Menticirrhus americanus. Seu colorido vai do cinza-claro ao escuro e a parte ventral é esbranquiçada. Embaixo de sua boca, que é iliófaga - voltada para baixo devido ao seu habito de alimentar-se no fundo lamacento do mar - tem um barbilhão duro e sua principal alimentação é constituída de pequenos peixes, crustáceos, moluscos e algas. Sua área de atuação estende-se por todo o Brasil. 

Costumam, nas praias, andar em cardumes

Mas há uma particularidade que chama muito a atenção: é a maneira de se pescar a betara: alguns pescadores gostam de fisga-la apenas usando uma pequena vara de bambu, tendo como isca camarão descascado. Entram na praia com água pela cintura e ficam pescando ao seu redor. Já outros, que são a grande maioria, pescam com linha longa, usando molinete ou carretilha. Usam dois anzóis pequenos e um chumbo em formato triangular, com peso que varia de acordo com a correnteza e linha – e que aqui está o grande segredo – bem fina, como por exemplo 0,15 ou 0,20 mm. Uma vara de 3 metros com ponta bem flexível vem complementar um ótimo equipamento para a pesca da betara. A maior e melhor diversão do pescador amador é a oportunidade que um peixe pode proporcionar, e a briga com a betara usando material descrito é sensacional. 

Os barbilhões na boca

Em uma praia, é muito difícil dizer onde a betara está, mas algumas dicas podem ser apontadas. Devemos começar procurando por ela nos canais de praia, tanto de um lado como de outro. Podem estar tanto em canais rasos como nos mais fundos e até fora dos canais, em profundidades de um palmo de água. Por aí já começa sua esportividade, pois o pescador amador tem que procurar até encontra-la. Seu tamanho máximo atinge os 50 cm, e nos indivíduos grandes aparece uma nova coloração, um rosa prateado que se espalha pelas laterais do corpo. Falar nos anzóis ideais para betaras não é fácil, já que podem ser pequenos e até médios, Tudo vai depender da região onde o pescador estiver. Em nossa opinião, devemos começar com anzóis pequenos e, de acordo com o tamanho dos peixes, irmos nos adaptando. 

Um grande espécime em se tratando de litoral de São Paulo

Sua fisgada pode acontecer de várias maneiras: um puxão forte e firme; dois ou três pequenos toques; um afrouxamento de linha que significa que a betara “pegou” a favor da linha e uma corrida forte. A fisgada deve ser firme e segura, pois não se pode esquecer de que, pela própria característica do equipamento, a linha dentro da água fica a grandes distâncias, e por sua elasticidade, desde o pescador até o peixe – no caso de uso de molinete ou carretilha -, a fisgada se traduz muito reduzida. O freio do equipamento deve ser fechado para o lance e, após este, deve ser totalmente aberto, já que estaremos usando uma linha muito fina e de pouca resistência. Mas a esportividade de uma betara de tamanho regular é enorme, pois ela irá lutar bastante fazendo a fricção do equipamento “cantar” por diversas vezes. O importante nessa pescaria é não ter pressa e aproveitar ao máximo a luta com a betara. 



Iniciando os “trabalhos” 

Como diria um velho pescador, o importante em uma pescaria é descobrir a esportividade que ela pode nos proporcionar. Guardada as proporções, uma pequena betara dará ao pescador que estiver usando equipamento ultra-leve, a mesma esportividade que dá um tucunaré, um dourado e até um grande marlin. O importante é o pescador sentir e descobrir este prazer. Afinal de contas, essa é a razão principal da pesca amadora. Para finalizar sobre a betara, o nosso “acará da praia”, vamos dar uma relação pelos quais ela é conhecida ao longo do litoral brasileiro: carametara, caramutara, corvina-cachorro, embetera, judeu, mbetara, papaterra-do-mar-grosso, perna de moça, pirásiririca, pomba-de-mulata, sambetara, siririca, tambetara, tembetara, tremetara e “made in USA”: king-fish.



Revista Aruanã Ed:19 publicada em 12/1990

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