sexta-feira, 8 de junho de 2018

É ÉPOCA DE PEIXES DO FRIO










Com os meses mais frios, principalmente no litoral sul e sudeste do Brasil, algumas espécies começam a aparecer com maior intensidade, proporcionando ao pescador amador grandes pescarias. Descubra porque essas espécies são consideradas como “peixes do frio”.



Miraguaia

Podemos apontar três correntes marítimas que agem em nosso litoral. São elas: a Corrente da Guiana, que é um braço da corrente Sul-Equatorial e que ocorre ao longo da costa do nordeste, do Cabo de São Roque para cima; a Corrente do Brasil, que deriva de um ramo da Corrente Sul-Equatorial do Cabo de São Roque para o sul, normalmente até a altura do estuário do rio da Prata, onde desvia-se para leste em direção à África; e a Correntes das Malvinas ou Falklands, de águas frias, que sobe do extremo sul do continente, passando entre este e as ilhas do mesmo nome até encontrar-se com a Corrente do Brasil, entre o Prata e a costa do Rio Grande do Sul. Esta região de encontro, bem como as intromissões da Corrente das Malvinas em nossas águas de plataforma costeira, alcançando até o litoral do Rio de Janeiro (mais ou menos Cabo Frio), é uma boa dica para o pescador amador pescar corretamente os chamados peixes “do frio”. 

Sargo

Para o pescador amador mais observador, existem ainda algumas dicas que determinam quando está chegando a hora de se tentar essas espécies. A primeira delas é a chegada do nosso inverno. Com frio, poucos são os pescadores que continuam, por exemplo, a pescar de praia. Esta por si só já é uma dica para se mudar o tipo de pescaria. Afinal de contas, ninguém é de ferro, e com frio, é bastante desagradável pescar nas águas da praia. O jeito então é mudar para a pesca de costão ou alto mar. Uma segunda dica bastante aproveitável é o aparecimento da tainha em nossos canais de litoral. Aliás, começamos a ver essas tainhas primeiramente nas bancas de vendedores de peixes e mesmo por notícias de jornais, mostrando a verdadeira “matança” que se faz com esse peixe no litoral de Santa Catarina, em um evento denominado erroneamente de “festa da tainha”. 

Olhete

São diversos pescadores profissionais que, unindo suas forças (redes) fecham os cardumes, que se deslocavam para o sudeste a fim de desovar. Ano a ano, essa atividade mostra claramente que os cardumes estão diminuindo, e só não enxerga quem não quer ver. Em um futuro bem próximo, se esses pescadores profissionais não forem esclarecidos, não haverá mais tainhas em nosso litoral. Após o desabafo, voltemos aos peixes do frio. Com a dica do inverno e do aparecimento das tainhas, começamos a encontrar primeiro nas ilhas lá fora e depois perto dos costões, notícias de alguns pescadores que fisgaram anchovas, olhetes, olhos-de-boi, corvinas, miraguaias, sargos e cações. A Corrente das Malvinas ou Falklands (para os peixes o nome certamente não é importante) tem as águas de uma coloração verde garrafa, e como são ricas em peixes como sardinhas, savelhas, cavalinhas, etc., trazem mais para perto da costa os peixes maiores que vêm em sua caça, já que são sua principal fonte de alimentação.



Corvina

Aliás, essa afirmação por si só já é uma boa dica quanto ao tipo de isca a ser usado. A temperatura dessas águas pode ser medida mais ou menos em torno de 14 graus, e a velocidade das correntes varia em torno de 0,7 nós (1.3 km/h). Ora, se o pescador amador sabe que medindo a temperatura da água e ela estando em torno da marca citada, concluirá que temos as condições para permanência dos peixes em nosso litoral. Se tudo indica boas condições, é impossível então que, indo a uma pescaria, não consigamos fisgar algum peixe do frio. Mais uma vez devemos citar, devido a importância que têm, que os primeiros peixes do frio a aparecer serão capturados sempre por pescadores que pescam embarcados em ilhas ao longo de nosso litoral. 

Betara

Com o domínio maior dessa corrente, e posterior temperatura no litoral, mais especificamente nos costões, começamos a fisgar tais peixes em pontas mais para dentro do mar, para finalmente com marés fortes (normalmente as de luas grandes –cheia ou nova), começamos também a fisga-los até dentro de nossos rios e canais do nosso litoral. Essa regra é certa, porém, a época em que se dá pode variar de ano a ano. Se você é um pescador embarcado com preferência por iscas naturais, use como isca principal a sardinha, e procure pescar sempre perto de ilhas e dê preferência a pescar apoitado em parceis submersos ou nas imediações das ilhas. Os melhores parceis são aqueles que ficam distantes algumas centenas de metros da ilha, e que tenham faixas de areia a separa-los. Outra dica: prefira sempre os parceis do lado sul das ilhas que recebem diretamente a corrente. 


Cação

Para os pescadores que pescam com iscas artificiais, a melhor maneira de pescar será corricando na ilha, dando preferência sempre do lado de fora, onde as pedras tenham mais organismos vivos e o mar é mais agitado. Normalmente, esses locais estão voltados para a direção sul ou nordeste. Os parceis também são de excelente qualidade para se passar corricando sobre eles. Aqui uma dica: o parcel não pode ser muito fundo, sendo ideal um profundidade de no máximo dez metros. Caso haja um parcel mais raso, podemos apoitar e dar lances sobre eles e trabalhando as iscas artificiais. Para esse tipo de pesca (corrico), as melhores iscas são as Rapalas Magnum 14, nas cores branca com o dorso preto ou azul, cromeadas com a mesma cor no dorso, as vermelhas e amarelas e uma muito especial que é a isca totalmente branca com apenas a cabeça na cor vermelha. 

Anchova

Tente todas, já que sabemos que peixe não as vê assim coloridas. A distância ideal entre a isca e o barco cabe ao pescador descobrir. Comece por corricar a uma distância mínima de 30 metros e depois vá se alongando. Outra boa dica é, se houver mais pescadores no mesmo barco, que cada um use uma isca diferente da do outro. Fisgado um peixe, espere a confirmação do segundo peixe na mesma isca. Durante o dia, se parar de bater nessa cor, volte a colocar iscas de cor diferente e espere sempre a fisgada do segundo peixe na mesma isca. Para o pescador de costão, o jeito é pescar somente com iscas naturais. Use dois métodos: pesca de fundo e pesca de bóia. Por exemplo: a miraguaia só pega de fundo, e suas iscas principais são o marisco (em pencas e com casca), os sarnambis, siris, caranguejos de pedra e de mangue. Para espécies como a anchova, olhete, olho-de-boi e corvina, a sardinha é a isca ideal. Ou então um outro pequeno peixe, de acordo com o litoral de cada estado. 

Olhete

Para os sargos, uma boa isca é o caranguejo, o marisco, a baratinha e, em casos mais raros, o camarão. No tocante a material, para a pesca embarcada use varas de ponta mais grossa e do tamanho que não exceda a dois metros. A linha pode ser até 0,60 mm, e no caso de iscas naturais, anzóis desde o 4/0 até o 9/0 dependendo do tamanho dos peixes. Na pesca de costão as varas deverão ter comprimento superior a 3,5 metros, pois além de facilitar o lance, deixam a linha longe das pedras e arrebentação. (As varas de praia podem ser usadas aqui). A bitola de linha mais usada é de 0,50 mm e os anzóis podem ser os mesmos ou não, dependendo do peixe a ser tentado e do tamanho dele. Aí está portanto, uma boa época para peixes do frio. A propósito: no ultimo domingo do mês de junho, no pesqueiro Lage de Santos (NR: hoje proibida a pesca lá) a temperatura da água estava entre 13 e 15 graus. Vários barcos fizeram ótimas pescarias nesse local, usando tanto iscas naturais como artificiais. Para terminar, a Corrente das Malvinas deverá continuar atuando no litoral citado até meados de setembro. Boa pescaria. 

Revista Aruanã Ed:23 Publicada em 08/1991


Nenhum comentário:

Postar um comentário