sexta-feira, 15 de junho de 2018

ROTEIRO - PANTANAL: DESCUBRA-O













A área do Pantanal Matogrossense estende-se por mais ou menos 230.000 quilômetros quadrados. Esses números, pó si só, demonstram a real impossibilidade de alguém conhece-lo totalmente. No entanto, se levarmos em consideração algumas regras básicas, poderemos estabelecer, para a pesca, um procedimento que garantirá o sucesso do pescador em suas futuras pescarias. Analise-as e descubra o paraíso.



Embarcando o pacu  

Qual a melhor época para uma pescaria em rios do Pantanal? Por certo, essa pergunta deve ter sido feita a muitas pessoas e, evidentemente, cada uma terá, de acordo com seus conhecimento da região, uma resposta. Em uma pesquisa realizada aqui na REVISTA ARUANÃ, a maioria dos entrevistados, cerca de 75%, respondeu que o período de agosto, setembro e outubro, é a melhor época de todas. E você, meu caro pescador, tem a mesma opinião? Se a resposta for positiva, como responder então, que mesmo nos meses citados, muito bom pescador foi lá e fez uma péssima pescaria? Aí está portanto, uma indagação que deve ser analisada e estudada por cada um de nós, para então formarmos uma opinião a respeito de quando deveremos marcar nossa pescaria. Começamos a analisar a resposta da pesquisa. E esta, por sua vez, é fácil de ser explicada, pelos motivos apresentados a seguir. Durante muitos anos, boas e grandes pescarias eram feitas, por exemplo, nos rios do Estado de São Paulo, em locais como o rio Tiête, Piracicaba, Grande, Paraná, Mogi Guassu e Paranapanema, apenas para citar alguns bons rios de nosso Estado. Há 50 anos, era muito difícil, a não ser que fosse um grande aventureiro, o fato de um pescador paulista precisar deslocar-se até o Pantanal para fazer uma grande pescaria de dourados, pintados, pacus e enormes jaús. 

              A esquerda Tucum – umas das melhores iscas para pacu          A direita um pintado de 18 kg                                                      
Assim sendo, até bem próximo da capital paulista, ótima pescarias foram realizadas, sendo então a época preferida pelos nossos pescadores, observadas as condições de nossos rios de agosto a outubro. Com o progresso de nosso estado, traduzido em barragens e poluição (e a cada dia que passa mais nos aproximamos do fim), começaram então os pescadores a buscar novos campos para sua pescaria. Descobriu-se o Pantanal, para a grande maioria dos aficcionados, agora com muito mais facilidade de locomoção e com a organização de pesqueiros em rios pantaneiros. E lá se foi nosso pescador, para umas das mais belas regiões do mundo. Com ele, na bagagem, sua tralha de pesca, seu conhecimento, sua técnica, e alguns vícios de pescador. A época de pescar em agosto, setembro e outubro foi um desses vícios. Só que essa afirmação não poderá ser considerada como regra, visto que o Pantanal é uma região completamente diferente dos rios de São Paulo. 

As cheias do Pantanal   

                                
                                      As melhores Épocas de Pesca
                                                                     
Para escolhermos uma boa época de pesca para a nossa pescaria anual, temos que levar em consideração a altura das águas do Pantanal. Para que essa explicação seja quase perfeita, vamos analisar um rio pantaneiro, que sem dúvida, pode nos mostrar essa verdade: o rio Paraguai. Esse grande e belo rio nasce na Serra dos Parecis, onde começa sua caminhada para o Oceano Atlântico. Quando ele atinge o Pantanal, nas imediações de Cuiabá, seu leito original começa a receber centenas de outros rios, até sua foz. O ciclo das chuvas inicia-se primeiro na região norte do Brasil. Com as chuvas, as águas dos rios vão se turvando (em alguns lugares) e vão subindo seu nível, que em pouco tempo, ultrapassam a “caixa” dos rios, alagando campos e estradas.  Toda essa água começa então sua lenta descida para outras regiões. Para melhor compreensão, vamos citar só três cidades do Pantanal: Cuiabá, Corumbá e Porto Murtinho. Se é época de cheia em Cuiabá, por certo não o é nas outras duas cidades citadas, pelo simples motivo de que as mesmas águas que formaram a cheia em Cuiabá, pelo rio Paraguai, irão inexoravelmente atingir Corumbá e por fim Porto Murtinho, distantes entre si algumas centenas de quilômetros. 

Jacarés

Com as cheias, toda a ictio-fauna pantaneira começa sua movimentação. Nos campos o pacu vai “pastar” suas iguarias preferidas; em corixos que antes estavam secos, com a cheia, as águas penetram, formando pequenas corredeiras mais rápidas, para a alegria de dourados e pintados, que dão caça aos pequenos peixes, que começam a subir em piracema, para desovar nos campos alagados e águas cristalinas. Formam-se também os poços mais profundos, com seus remansos a lhes denunciar a presença, onde os enormes jaús ficam a espera dos detritos que lhes traz a correnteza. Com as cheias, enche-se de vida o Pantanal, seja qual for a região em que elas aconteçam. Com a descida das águas, os primeiros campos, citados na região de Cuiabá, começam a aparecer. É hora do pacu voltar para o rio. Dourados e pintados já não tem mais as corredeiras a lhes facilitar a labuta da alimentação. Os jaús serão os últimos a serem prejudicados, tal é a profundeza dos poços em que se encontram; no entanto começam também a descer o rio, em busca de outros poços profundos. Se a água dessa região começa a sair dos campos, inevitável é afirmar-se que ela vai para algum lugar. Lentamente, mas com determinação, desce rio abaixo... para a região de Corumbá, e mais algum tempo... para Porto Murtinho. 

      Piranha – inimiga das iscas

Quando é que isso vai acontecer, só a “mãe” natureza é que pode dizer com precisão. Será em agosto, setembro e outubro? Essa resposta pode ser sim ou não. Sim, porque o ciclo das cheias poderá acontecer nesses meses. Não, porque as águas podem adiantar ou atrasar, de acordo com as condições climáticas. Ora, se agora sabemos que com mais água é melhor a movimentação de cardumes de peixes, sendo portanto mais fácil seu encontro com o anzol do pescador, como é que um pescador pode marcar sua pescaria anual com um ano de antecedência? E mais, fazer essa marcação antecipada da pescaria coincidir com suas férias de trabalho? A resposta é simples e objetiva: se coincidir a época das águas com a marcação das férias, ótimo. O resultado será sempre excelente. Se o período for negativo, com pouca água... adeus, boa pescaria. É exatamente nessa hora que o numerário gasto aparece com mais evidência e resulta no mau humor dos pescadores. As vezes, o erro de marcação acontece com diferença de um, dois ou mais meses. Conhecer o ciclo das cheias e o nível das águas no Pantanal é certeza de uma boa pescaria, que poderá acontecer em qualquer época do ano, dependendo apenas do que a natureza determinar. 



A elegância da garça branca
                                         INFORMAÇÃO

As melhores pescarias no Pantanal, dependendo das espécies que se queira pescar, acontecem durante todo o ano. É muito comum ver-se pescadores que lá vão e trazem em sua bagagem somente uma ou duas espécies de peixes. Esse fato acontece porque os pescadores vão atrás do peixe que está mais fácil de ser encontrado e em maior quantidade, de acordo com as características do local e época. Inevitável a pergunta: e os peixes das outras espécies, onde estão? Um ponto muito importante é o pescador amador saber interpretar e conhecer hábitos e costumes de cada espécie. Isso se traduz em iscas, altura das águas e mais uma infinidade de pequenos itens. São os chamados “sinais da natureza”.  Uma pequena “estória” para afirmar ainda mais essas dicas. Eu fui fazer uma matéria em Corumbá, mais precisamente no Porto Morrinhos, perto de onde hoje, fica a ponte que atravessa o rio Paraguai. Fiquei hospedado no Hotel Tarumã (na região só tinha ele e o do Severino). Foi lá que conheci seu Juju, para sorte minha. Se você olhar uma das fotos que ilustram essa postagem vai perceber o nível das águas nessa região. Pois bem, tinha um monte de pescadores amadores lá. 


Piraputanga
 A tarde, na volta ao pesqueiro, todos mostravam os peixes pescados: dourados e pintados. Aliás essa norma era para mostrar entre os piloteiros, quem pescava mais peixes. Na minha volta ao Tarumã, junto com seu Juju, mostrávamos grandes... pacus rs. Ninguém havia pescado nenhum pacu, só nós. Recebi até de um pescador a proposta de trocar dois dourados por um pacu. Não aceitei. Agora a melhor parte dessa viagem. Pela manhã, eu e o seu Juju, éramos os últimos a sair do pesqueiro, “para não entregar o ouro aos outros piloteiros de onde estavam os pacus”. No barco, subíamos o Paraguai rio acima. No caminho passávamos por vários barcos de pescadores que estavam no Tarumã, pescando nas margens do rio. Eu percebi que seu Juju volta e meia olhava para trás. Perguntei o porquê disso e a resposta foi esta: “é prá ver se alguém vai no seguir”. Não deu outra. Minutos após nossa passagem, dois ou três barcos nos seguiam a uma razoável distância. Seu Juju parava então em algum ponto qualquer e fingíamos que estávamos pescando. Seu Juju falava, tá vendo seu Antonio, não falei? Nessa hora fazíamos uma coisa boa. Seu Juju enrola um cigarro e tomávamos caldo de cana e comíamos rapadura feita por ele. 



                   Mapa do Pantanal

Quando não havia mais movimento de barcos perto de nós, ele dava a partida em nosso motor de popa e então lentamente – para não fazer muito barulho – subíamos mais um pouco o rio. Se escutássemos algum barco se aproximando, eu colocava uma vara na mão e fingia que estávamos corricando. Após o barco passar seu Juju aumentava a velocidade e íamos então para o “nosso” pesqueiro de pacus. Em um desses pesqueiros, éramos obrigados a desligar o motor e com o auxilio de mãos e remos, entrarmos no meio do mato até atingir no meio dos camalotes, um vão de rio limpo. Esse local não tinha mais do que trezentos metros de comprimento por cinco metros de largura. Ainda com os remos, subíamos esse pequeno trecho do rio, até seu início. Nova parada, “para descansar do barulho, segundo o seu Juju”. Mais um cigarro e mais caldo e rapadura. Depois de uns quinze minutos ele avisava: vamos pescar. Colocava tucum na vara de bambu e começávamos a bater a isca. Até chegar no final dos trezentos metros, estavam em nosso barco 4 ou 5 pacus com peso variando entre 6 e 8 quilos, fora o que soltávamos por seu tamanho menor. Por diversas vezes, ao escutarmos barulho de motor de popa, parávamos de pescar e chegamos a deitar no barco, pois segundo seu Juju, “a turma estava nos procurando”. Para finalizar, seu Juju costumava cevar o local com milho antes de sairmos do pesqueiro. Aos que lerem esta estória vão entender porque lhe dei o titulo de “REI DOS PACUS”. Saudades eternas.

Revista Aruanã   Edição:03 Publicada em 12/1987

2 comentários:

  1. Muito bom....Deve ser bom pecar no Pantanal, você seu barco e mais nada.

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  2. Posso concordar que é muito bom sim Rose Maria. Ainda mais se você optar por acampar e abrir mão de um pesqueiro ou barco hotel. Dá muito mais trabalho, já que algumas tarefas ficarão à sua responsabilidade. Mas, o silêncio, os barulhos naturais, a paisagem e a solidão prazerosa, compensam e muito as outras opções. E os peixes e a piscosidade do local escolhido, longe do cotidiano de outros pescadores e a aglomeração, darão à você, o que é realmente uma pescaria esportiva. Obrigado pela sua participação. Abraço

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