A área do Pantanal Matogrossense estende-se por mais ou menos
230.000 quilômetros quadrados. Esses números, pó si só, demonstram a real
impossibilidade de alguém conhece-lo totalmente. No entanto, se levarmos em
consideração algumas regras básicas, poderemos estabelecer, para a pesca, um
procedimento que garantirá o sucesso do pescador em suas futuras pescarias.
Analise-as e descubra o paraíso.
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Embarcando o
pacu
Qual a melhor época para uma pescaria em rios do Pantanal?
Por certo, essa pergunta deve ter sido feita a muitas pessoas e, evidentemente,
cada uma terá, de acordo com seus conhecimento da região, uma resposta. Em uma
pesquisa realizada aqui na REVISTA
ARUANÃ, a maioria dos entrevistados, cerca de 75%, respondeu que o período
de agosto, setembro e outubro, é a melhor época de todas. E você, meu caro
pescador, tem a mesma opinião? Se a resposta for positiva, como responder
então, que mesmo nos meses citados, muito bom pescador foi lá e fez uma péssima
pescaria? Aí está portanto, uma indagação que deve ser analisada e estudada por
cada um de nós, para então formarmos uma opinião a respeito de quando deveremos
marcar nossa pescaria. Começamos a analisar a resposta da pesquisa. E esta, por
sua vez, é fácil de ser explicada, pelos motivos apresentados a seguir. Durante
muitos anos, boas e grandes pescarias eram feitas, por exemplo, nos rios do
Estado de São Paulo, em locais como o rio Tiête, Piracicaba, Grande, Paraná,
Mogi Guassu e Paranapanema, apenas para citar alguns bons rios de nosso Estado.
Há 50 anos, era muito difícil, a não ser que fosse um grande aventureiro, o
fato de um pescador paulista precisar deslocar-se até o Pantanal para fazer uma
grande pescaria de dourados, pintados, pacus e enormes jaús.
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A esquerda
Tucum – umas das melhores iscas para pacu A direita um
pintado de 18 kg
Assim sendo, até bem próximo da capital paulista, ótima
pescarias foram realizadas, sendo então a época preferida pelos nossos
pescadores, observadas as condições de nossos rios de agosto a outubro. Com
o progresso de nosso estado, traduzido em barragens e poluição (e a cada dia
que passa mais nos aproximamos do fim), começaram então os pescadores a buscar
novos campos para sua pescaria. Descobriu-se o Pantanal, para a grande maioria
dos aficcionados, agora com muito mais facilidade de locomoção e com a
organização de pesqueiros em rios pantaneiros. E lá se foi nosso pescador, para
umas das mais belas regiões do mundo. Com ele, na bagagem, sua tralha de pesca,
seu conhecimento, sua técnica, e alguns vícios de pescador. A época de pescar
em agosto, setembro e outubro foi um desses vícios. Só que essa afirmação não
poderá ser considerada como regra, visto que o Pantanal é uma região
completamente diferente dos rios de São Paulo.
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As cheias do
Pantanal
As melhores Épocas de
Pesca
Para escolhermos uma boa época de pesca para a nossa pescaria
anual, temos que levar em consideração a altura das águas do Pantanal. Para que
essa explicação seja quase perfeita, vamos analisar um rio pantaneiro, que sem
dúvida, pode nos mostrar essa verdade: o rio Paraguai. Esse grande e belo rio
nasce na Serra dos Parecis, onde começa sua caminhada para o Oceano Atlântico.
Quando ele atinge o Pantanal, nas imediações de Cuiabá, seu leito original
começa a receber centenas de outros rios, até sua foz. O ciclo das chuvas
inicia-se primeiro na região norte do Brasil. Com as chuvas, as águas dos rios
vão se turvando (em alguns lugares) e vão subindo seu nível, que em pouco
tempo, ultrapassam a “caixa” dos rios, alagando campos e estradas. Toda essa água começa então sua lenta descida
para outras regiões. Para melhor compreensão, vamos citar só três cidades do
Pantanal: Cuiabá, Corumbá e Porto Murtinho. Se é época de cheia em Cuiabá, por
certo não o é nas outras duas cidades citadas, pelo simples motivo de que as
mesmas águas que formaram a cheia em Cuiabá, pelo rio Paraguai, irão
inexoravelmente atingir Corumbá e por fim Porto Murtinho, distantes entre si
algumas centenas de quilômetros.
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Jacarés
Com as cheias, toda a ictio-fauna pantaneira começa sua
movimentação. Nos campos o pacu vai “pastar” suas iguarias preferidas; em
corixos que antes estavam secos, com a cheia, as águas penetram, formando
pequenas corredeiras mais rápidas, para a alegria de dourados e pintados, que
dão caça aos pequenos peixes, que começam a subir em piracema, para desovar nos
campos alagados e águas cristalinas. Formam-se também os poços mais profundos,
com seus remansos a lhes denunciar a presença, onde os enormes jaús ficam a
espera dos detritos que lhes traz a correnteza. Com as cheias, enche-se de vida
o Pantanal, seja qual for a região em que elas aconteçam. Com a descida das
águas, os primeiros campos, citados na região de Cuiabá, começam a aparecer. É
hora do pacu voltar para o rio. Dourados e pintados já não tem mais as
corredeiras a lhes facilitar a labuta da alimentação. Os jaús serão os últimos
a serem prejudicados, tal é a profundeza dos poços em que se encontram; no
entanto começam também a descer o rio, em busca de outros poços profundos. Se a
água dessa região começa a sair dos campos, inevitável é afirmar-se que ela vai
para algum lugar. Lentamente, mas com determinação, desce rio abaixo... para a
região de Corumbá, e mais algum tempo... para Porto Murtinho.
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Piranha –
inimiga das iscas
Quando é que isso vai acontecer, só a “mãe” natureza é que
pode dizer com precisão. Será em agosto, setembro e outubro? Essa resposta pode
ser sim ou não. Sim, porque o ciclo das cheias poderá acontecer nesses meses.
Não, porque as águas podem adiantar ou atrasar, de acordo com as condições
climáticas. Ora, se agora sabemos que com mais água é melhor a movimentação de
cardumes de peixes, sendo portanto mais fácil seu encontro com o anzol do
pescador, como é que um pescador pode marcar sua pescaria anual com um ano de antecedência? E mais,
fazer essa marcação antecipada da pescaria coincidir com suas férias de
trabalho? A resposta é simples e objetiva: se coincidir a época das águas com a
marcação das férias, ótimo. O resultado será sempre excelente. Se o período for
negativo, com pouca água... adeus, boa pescaria. É exatamente nessa hora que o
numerário gasto aparece com mais evidência e resulta no mau humor dos
pescadores. As vezes, o erro de marcação acontece com diferença de um, dois ou
mais meses. Conhecer o ciclo das cheias e o nível das águas no Pantanal é
certeza de uma boa pescaria, que poderá acontecer em qualquer época do ano,
dependendo apenas do que a natureza determinar.
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A elegância
da garça branca
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INFORMAÇÃO
As melhores pescarias no Pantanal, dependendo das espécies
que se queira pescar, acontecem durante todo o ano. É muito comum ver-se
pescadores que lá vão e trazem em sua bagagem somente uma ou duas espécies de
peixes. Esse fato acontece porque os pescadores vão atrás do peixe que está
mais fácil de ser encontrado e em maior quantidade, de acordo com as
características do local e época. Inevitável a pergunta: e os peixes das outras
espécies, onde estão? Um ponto muito importante é o pescador amador saber
interpretar e conhecer hábitos e costumes de cada espécie. Isso se traduz em
iscas, altura das águas e mais uma infinidade de pequenos itens. São os
chamados “sinais da natureza”. Uma
pequena “estória” para afirmar ainda mais essas dicas. Eu fui fazer uma matéria
em Corumbá, mais precisamente no Porto Morrinhos, perto de onde hoje, fica a
ponte que atravessa o rio Paraguai. Fiquei hospedado no Hotel Tarumã (na região
só tinha ele e o do Severino). Foi lá que conheci seu Juju, para sorte minha. Se
você olhar uma das fotos que ilustram essa postagem vai perceber o nível das
águas nessa região. Pois bem, tinha um monte de pescadores amadores lá.
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Piraputanga
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A tarde, na volta ao pesqueiro, todos mostravam os peixes
pescados: dourados e pintados. Aliás essa norma era para mostrar entre os
piloteiros, quem pescava mais peixes. Na minha volta ao Tarumã, junto com seu
Juju, mostrávamos grandes... pacus rs. Ninguém havia pescado nenhum pacu, só
nós. Recebi até de um pescador a proposta de trocar dois dourados por um pacu.
Não aceitei. Agora a melhor parte dessa viagem. Pela manhã, eu e o seu Juju,
éramos os últimos a sair do pesqueiro, “para não entregar o ouro aos outros
piloteiros de onde estavam os pacus”. No barco, subíamos o Paraguai rio acima.
No caminho passávamos por vários barcos de pescadores que estavam no Tarumã,
pescando nas margens do rio. Eu percebi que seu Juju volta e meia olhava para
trás. Perguntei o porquê disso e a resposta foi esta: “é prá ver se alguém vai
no seguir”. Não deu outra. Minutos após nossa passagem, dois ou três barcos nos
seguiam a uma razoável distância. Seu Juju parava então em algum ponto qualquer
e fingíamos que estávamos pescando. Seu Juju falava, tá vendo seu Antonio, não
falei? Nessa hora fazíamos uma coisa boa. Seu Juju enrola um cigarro e
tomávamos caldo de cana e comíamos rapadura feita por ele.
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Mapa do
Pantanal
Quando não havia mais movimento de barcos perto de nós, ele
dava a partida em nosso motor de popa e então lentamente – para não fazer muito
barulho – subíamos mais um pouco o rio. Se escutássemos algum barco se
aproximando, eu colocava uma vara na mão e fingia que estávamos corricando.
Após o barco passar seu Juju aumentava a velocidade e íamos então para o
“nosso” pesqueiro de pacus. Em um desses pesqueiros, éramos obrigados a
desligar o motor e com o auxilio de mãos e remos, entrarmos no meio do mato até
atingir no meio dos camalotes, um vão de rio limpo. Esse local não tinha mais
do que trezentos metros de comprimento por cinco metros de largura. Ainda com
os remos, subíamos esse pequeno trecho do rio, até seu início. Nova parada,
“para descansar do barulho, segundo o seu Juju”. Mais um cigarro e mais caldo e
rapadura. Depois de uns quinze minutos ele avisava: vamos pescar. Colocava
tucum na vara de bambu e começávamos a bater a isca. Até chegar no final dos
trezentos metros, estavam em nosso barco 4 ou 5 pacus com peso variando entre 6
e 8 quilos, fora o que soltávamos por seu tamanho menor. Por diversas vezes, ao
escutarmos barulho de motor de popa, parávamos de pescar e chegamos a deitar no
barco, pois segundo seu Juju, “a turma estava nos procurando”. Para finalizar,
seu Juju costumava cevar o local com milho antes de sairmos do pesqueiro. Aos
que lerem esta estória vão entender porque lhe dei o titulo de “REI DOS PACUS”.
Saudades eternas.
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Revista Aruanã Edição:03 Publicada em 12/1987
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Muito bom....Deve ser bom pecar no Pantanal, você seu barco e mais nada.
ResponderExcluirPosso concordar que é muito bom sim Rose Maria. Ainda mais se você optar por acampar e abrir mão de um pesqueiro ou barco hotel. Dá muito mais trabalho, já que algumas tarefas ficarão à sua responsabilidade. Mas, o silêncio, os barulhos naturais, a paisagem e a solidão prazerosa, compensam e muito as outras opções. E os peixes e a piscosidade do local escolhido, longe do cotidiano de outros pescadores e a aglomeração, darão à você, o que é realmente uma pescaria esportiva. Obrigado pela sua participação. Abraço
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