sexta-feira, 21 de setembro de 2018

É ÉPOCA DE TUCUNARÉ








Até bem pouco tempo atrás, o tucunaré (Cichla ocellaris) era considerado um peixe da Bacia Amazônica. Devido a peixamentos feitos em todo o Brasil, hoje essa espécie está presente praticamente em todos os estados brasileiros. Saber qual é a melhor época para sua pesca é simples, já que ele conserva, em qualquer local, os mesmos hábitos desde sua região de origem. Confira.



                                      Tucunaré do rio Araguaia

O ciclo das águas, apesar das constantes modificações climáticas na Amazônia, continua a ocorrer numa época em que uma pequena margem de erro, as cheias podem ser previstas com antecedência. Assim sendo, e em perfeita sintonia com a natureza, os peixes mantém inalterados seus hábitos de desova, criação e alimentação porque sabem que quando chega a hora certa, a natureza vai lhes indicar o momento oportuno para que reiniciem, ano após ano, o ciclo de suas vidas. Caso o pescador amador raciocine sobre essa particularidade, terá então as respostas para suas dúvidas acerca da melhor época para pescar esta espécie. Tomemos por exemplo qualquer rio conhecido da região amazônica, que poderia ser o Teles Pires. É bom frisar que trata-se apenas de um exemplo, já que qualquer rio serve para essa demonstração, desde que, lógico pertença à Bacia Amazônica. Tomemos por base uma época qualquer entre setembro e novembro, quando o rio está com pouca água. Normalmente, os lagos (locais preferidos pelo tucunaré) estarão com um mínimo de água, chegando alguns até mesmo a secar completamente. 

Tucunaré de Itumbiara

Outros lagos, apesar de terem mais água, perderam sua comunicação com o rio. Dependendo do tamanho dos lagos, onde ainda haja quantidade razoável de água, o tucunaré estará ou não presente. Dentro dessa regra podemos citar ainda que os lagos pequenos e rasos com certeza não terão tucunarés, pois o peixe – que está acostumado as características da região – ganhará o rio novamente quando as águas começarem a baixar, já que nele encontram sua proteção. Nos pequenos lagos, a única espécie que sobrevive é a piranha (que comerá todas as outras espécies) e uma ou outra traíra, já que conseguirão enterrar-se no barro e esperar a estação das chuvas, quando então o lago terá água novamente. Mas voltemos ao tucunaré. A partir de outubro, começa a estação das águas, com chuvas que mais parecem um dilúvio, tal é sua intensidade. Apesar das chuvas, esta é uma época muito bonita, já que passadas as pancadas (costumam demorar pouco) o sol volta a brilhar, e com uma intensidade resplandecente. O calor é forte e nas matas ribeirinhas já se consegue ver, entre outras, as primeiras flores de ipês roxos ou amarelos. Aliás, essas flores constituem a alimentação preferida de matrinchãs, pacus e outras espécies. 

Tucunaré de Rondônia

Chuva na região é água no rio e, dia a dia, ele vai ganhando volume, sendo que as águas começam a subir mais e mais, indo pela mata adentro. Aquele pequeno lago que estava quase seco começa agora a receber água, e a vida aquática volta em sua plenitude total. Os grandes lagos idem, e o que é melhor: seu tamanho aumenta consideravelmente, passando as águas a cobrir grandes áreas que na seca receberam vegetação, tal como pequenos arbustos e mesmo grama e capim. Com mais água nos lagos, os tucunarés voltam também, já que será ali que criarão seus filhotes, e passarão a alimentar-se com voracidade, pois vária espécies de pequenos peixes também preferem os lagos para viver e são a base de alimentação dos tucunarés. Nessa entrada de lagos, os casais de tucunarés vão se formando e delimitando suas áreas de domínio. Os machos adquirem uma protuberância característica na cabeça, que os identifica. Constroem seus ninhos no chão, em pedras ou ainda em galhadas, onde primeiro serão depositados os ovos pela fêmea e só então fertilizados pelo macho. Após a eclosão – que costuma durar alguns dias – os alevinos ficarão sob o cuidado dos machos até que atinjam um tamanho de mais ou menos 5 centímetros, quando serão então abandonados ao próprio destino.


Tucunaré de Manaus

Esse período compreende os meses entre outubro e março, época em que não deveríamos pesca-los. Aliás o IBAMA deveria criar um Portaria de defeso para essa espécie, o que infelizmente ainda não existe. No mês de abril, o volume de água nos lagos é ainda muito grande e os tucunarés, exaustos e magros devido ao esforço da desova, começam a se alimentar com uma fúria violenta. Pronto. Começa então a melhor época para se pescar essa espécie. Essa época costuma ocorrer nos meses de abril a agosto, podendo variar de acordo com a altura das águas, que podem apresentar desníveis diferentes, já      que é de acordo com as chuvas que teremos os níveis mais altos ou mais baixos, que irão influir na determinação da época especifica para se pescar o tucunaré, época essa que pode atrasar ou adiantar de ano para ano. Como se vê, é tudo uma questão de lógica e raciocínio, baseado na observação das chuvas. Muito bem, sabendo então como foram as chuvas e a que altura estão as águas, o pescador que for fazer sua pescaria na região amazônica poderá marca-la na data exata, afim de “não perder a viagem”.


Tucunaré do rio Teles Pires

Mas já que foi dito anteriormente que essa espécie está presente em todo o Brasil, a pergunta natural do pescador seria: Como saber quais as melhores épocas para pescar o tucunaré nas outras regiões? Exatamente nesse ponto teremos que raciocinar, mais uma vez, para chegar a uma conclusão um tanto óbvia. Se o tucunaré é um peixe da Bacia Amazônica, seja qual for o lugar onde possa ser encontrado, continuará mantendo os mesmos hábitos de sua região de origem, ainda mais porque nessas outras regiões, teremos também época de chuvas, de cheias, etc. Só que há uma outra nuança nesse raciocínio: em outras regiões, o tucunaré foi introduzido em lagos e açudes, “que nunca secam”. Ora, se o açude nunca seca, o tucunaré não terá então que fazer sua “piracema” forçada. Assim sendo, quando chegar a época da cria (outubro a março) ele irá estar criando, e nos mesmos locais descritos (fundo, galhadas e pedras). A eclosão irá ocorrer da mesma maneira, bem como a proteção da prole. 



Tucunaré de São Paulo (Represas)

Feito isso, com as energias desgastadas, o peixe terá de se alimentar vorazmente e isso acontecerá, todos os anos, no período compreendido entre maio e setembro, sendo que de junho a agosto pegaremos os maiores e melhores espécimes, já que em plena época de alimentação voraz, os peixes estarão gordos e grandes. Tudo é questão de lógica, desde que, é claro, sejam conhecidos os dados que vão suscitar nosso raciocínio.  Portanto, seja qual for a região onde você irá pescar – excetuando-se naturalmente a Bacia Amazônica, que tem suas dicas próprias – saiba que, entre junho e agosto ou mesmo em meados de setembro, ocorre a melhor época para a pesca do tucunaré. E agora uma importantíssima consideração final: se não pescarmos entre outubro e fevereiro (época da desova) e respeitarmos o tamanho mínimo de 35 centímetros para o peixe capturado (nesse tamanho é que ele irá desovar pela primeira vez), teremos com certeza muitos peixes e por muitos anos, mesmo fora da Bacia Amazônica.


Nota da Redação: este artigo foi escrito em agosto de 1995. Como pode ser observado, naquela época já tínhamos a esperança de que alguma proteção poderia ser dada ao tucunaré na época de sua desova. Hoje, passados mais de 28 meses de sua publicação, nossas esperanças continuam a esperar que “as autoridades do meio ambiente”, façam sua parte e que, pescadores predadores – aumentaram e muito - respeitem os períodos aqui citados. 

    Revista Aruanã Ed:46 Publicada em 08/1995


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