sexta-feira, 29 de março de 2019

ESPECIAL - O FERRÃO : PERIGO!












Cascudo


À vezes, por pressa ou por simples descuido, nossa pescaria pode virar um desastre. Até um incidente comum pode transforma-la em algo bastante doloroso, que vai perdurar por vários dias a nos lembrar que, da próxima vez, devemos tomar mais cuidado.
  


Um grande ferrão
EM NOSSO PLANETA NÃO HÁ UM SÓ ANIMAL QUE NÃO TENHA SEU próprio mecanismo de defesa para se resguardar de seus naturais predadores. Um mecanismo bastante pitoresco, por exemplo, é o de um pequeno lagarto dos desertos da América do Norte, que se defende de seus predadores (na maioria aves) emitindo ruídos guturais grotescos. Esses ruídos causam espanto na ave que o ameaça, evitando o ataque. E assim, lá vai o lagarto vivo e feliz da vida em seu caminho. O mais interessante é que às vezes, o pequeno réptil não tem tempo de emitir tais sons, principalmente quando o ataque é aéreo, e passa então fazer parte do desjejum gastronômico da ave. No caso dos peixes não poderia ser diferente, e tanto no mar como em água doce são várias as espécies que possuem mecanismos de defesa, como por exemplo: dentes afiados, espinhos, escamas, má aparência, veneno, choques (poraquê), infecções (candiru), e ferrões. Neste ultimo grupo, o dos ferrões enquadram-se várias espécies, que tanto podem incluir peixes de escamas, a grande maioria dos bagres, e os chamados peixes de couro ou lisos.


Bagre
Saber lidar com esses peixes é de importância vital para o pescador amador, já que em qualquer acidente com ferrões a dor é grande e pode perdurar por vários dias, não existindo qualquer antídoto que possa aliviar o sofrimento da vítima. Como não poderia deixar de ser, existem muitas lendas a respeito de como amenizar essa incômoda dor, mas como sempre, na prática as coisas são bem diferentes e tudo não passa de total ignorância e crendice. Já ouvimos por exemplo, que em caso de ferroada, um bom “remédio” é urinar no local afetado. Agora imagine (e isso não é difícil) uma ferroada nas costas. Sabendo que tem que ser a urina da própria vítima, como é que vamos fazer? Quer mais? Pois vamos lá.  Alguns dizem também que, em alguns casos, após a ferroada devemos tirar o olho do peixe e esfregar no local.  Isso para não falar nos mais drásticos, que aconselham cortar em cruz o local da ferroada e espremer para sair bastante sangue “que o veneno sai junto”. Tudo bobagem e da grossa. Não há nenhuma base científica que justifique essas práticas, sendo todas frutos da mais pura crendice popular. 

Cuiú –cuiú
Temos um particular amigo, médico cirurgião, que certa vez, pescando no Araguaia, foi picado por uma arraia. Pois bem. Tendo levado um “pequeno” hospital para a beira do rio, não lhe faltavam medicamentos e nem conhecimento para aplica-los. Após pensar um pouco, aplicou por intermédio de injeções, doses de um poderoso e conhecido analgésico ao redor da ferroada. Segundo ele mesmo a dor diminuiu um pouco, mas após o efeito do analgésico passar, a dor voltou, e insuportável. Conta esse amigo que foram perto de trinta e seis horas horríveis, com sintomas como latejamento e até mesmo cãibras e ínguas. Deixar de pescar ninguém quer, e o certo então é tomar alguns cuidados a fim de evitar esse tipo de acidente. Por exemplo: no caso das arraias, a maioria dos acidentes acontece quando o pescador entra na água. O correto nesses casos é andar arrastando os pés pelo fundo do rio, pois a arraia só irá ferroar se pisarmos nela, já que irá se sentir ameaçada. Se só encostarmos, ela não atacará e se afasta. Um outro bom conselho é entrar na água com um pedaço de pau e ir cutucando à frente de onde se vai passar, espantando o animal que por ventura se encontre no seu caminho. 

Maneira correta de manusear o bagre 
Os bagres são um caso a parte, e aí podemos enumerar peixes como o pintados, jaús, jurupocas, piraíbas, filhotes, mandis, e um muito especial: o mandi-chorão. Qual o pescador que não conhece esse pequeno bagrinho, que sai da água fisgado no anzol e emitindo sons parecendo um choro, daí seu nome? E o que tem de pequeno, tem de ferrão ruim. Uma espetadela na mão é coisa para gente grande não aguentar. O melhor conselho que podemos dar quando se trata de ferrões de peixes é antes de tudo, cortar fora todos eles com um alicate apropriado para cortes. Na maioria das vezes (no caso de bagres) os ferrões são três, sendo dois laterais e um no dorso. No caso de grandes bagres, use um bicheiro para mexer com eles e para os médios e pequenos, siga nossa ilustração.  É simples e deve ser feito com o bagre colocado em local firme, como o chão por exemplo. Venha com os dedos abertos por trás do peixe e após encaixar o vão dos dedos no ferrão no dorso, dobre as pontas dos dedos nos ferrões laterais. 

Robalo
Assim seguro, o bagre não vai escapar e nem ferir nossas mãos. Após liberar o peixe do anzol, corte todos os ferrões antes de guarda-lo no viveiro do barco ou geladeira. Se deixarmos o peixe com ferrões e o colocarmos no viveiro do barco onde já existam mais bagres, será inevitável que provoquem ferimentos uns nos outros, chegando mesmo a ficarem presos entre si pelos ferrões. Já presenciamos casos de pescadores que, na pressa, não tiravam os ferrões e iam jogando os peixes no barranco ou na areia das praias. No decorrer da pescaria acabavam pisando sobre eles e ferindo os pés. Aliás, os ferimentos mais doloridos são os que acontecem na região dos pés, e além da dor instantânea, certamente será uma noite infernal, pois o local irá ficar latejando por diversas horas. Outros peixe que costuma causar vários acidentes com seu único ferrão é o robalo.  O mais engraçado é que o acidente com o ferrão dos robalo só ocorre quando o peixe já está morto e vai ser limpo pelo pescador. 

Armau 
Nunca escame um robalo, seja de que tamanho for, antes de tirar o ferrão, que fica junto à nadadeira caudal. Para extrair esse ferrão do peixe, dê um corte profundo na sua base, tanto na frente como atrás. Use um alicate comum e dê uma ou duas torções laterais para finalmente puxar. Após retirar o ferrão (observe que é grande a parte que fica dentro do corpo do peixe), o robalo poderá ser escamado sem perigo. Aliás, falando em robalo, não se pode esquecer a capa das guelras, que cortam como navalha. Costuma cortar profundo, embora não ocasionem lesões tão doloridas como os ferimentos causados pelo ferrão. Como se vê, evitar esses problemas com peixes é muito fácil, bastando apenas seguir algumas regras básicas como as aqui citadas, para nos vermos livres de acidentes sérios e bastantes desconfortáveis para o pescador. Antes de tudo, lembre-se de que a pressa é a maior inimiga da perfeição e, com um pouco de calma, nossas pescarias continuarão causando só alegrias, pois ali estamos é para isso mesmo. Boa pescaria.

Revista Aruanã Ed: 38 publicada em 02/1994

                                                             

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