Em todos os oceanos do planeta, contam-se mais de 350 espécies diferentes de cação. Em nossas praias, o período que se estende de abril a setembro é sem dúvida a época em que os cações “encostam”. Vamos conhece-los melhor.
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O perigo dos dentes
Se fôssemos fazer uma descrição científica das várias
espécies de cação, diríamos que pertencem, principalmente, às seguintes
famílias: Isuridae, Carcharhiinidae,
Carcharriidae e Sphyrnidae. Essas famílias englobam todos os indivíduos que
comumente nadam pelo litoral brasileiro e são conhecidos pelos nomes vulgares de
martelo, tigre, branco, viola, mangona, tintureira, etc. Um fato bastante
interessante é a confusão entre as denominações “cação” e “tubarão” que a bem
da verdade, designam os mesmos peixes. Aliás, certa vez um pescador caiçara
diferenciou-os assim: “quando é cação, nóis come ele; quando é tubarão ele come
nóis”. Muitas vezes a sabedoria popular é surpreendente, e a despeito da
simplicidade contida nessa afirmação, pode-se dizer que ela é correta, ou no
mínimo aproxima-se bastante da verdade. Como distinguir peixes que chegam
facilmente a 200 quilos, por exemplo?
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Filé maneira correta de isca-lo
E isso considerando só as espécies mais comuns em nosso
litoral, já que se formos consultar livros, vamos descobrir que existem certos
exemplares que atingem com facilidade 1.000 quilos e medem mais de 5 metros de
comprimento. Mas vamos nos deter na análise dos cações (esqueçamos o nome
tubarão) que estão ao alcance dos nossos anzóis. Comecemos pelos dentes, que
nas maxilas e mandíbulas encontram-se dispostos em até 4 ou 5 séries,
dependendo da espécie. Desde já, essa particularidade mostra ao pescador amador
a obrigatoriedade do uso de encastoados de aço nos anzóis. Uma outra
curiosidade está no fato do cação, com seu olfato apurado, ser capaz de
distinguir partículas de sangue na água numa proporção de 0,6 parte por milhão.
Além disso, com seus dois lobos olfativos, consegue também sentir o cheiro do
alimento mesmo a 400 metros de distância. Aqui temos outra boa dica, pois
sabendo disso podemos, durante nossas pescarias de praia, fazer cevas usando
restos de peixes e outros organismos do mar.
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Cação de 1,5m
Para obter melhores resultados na utilização desse tipo de
ceva, recomendamos passar por uma peixaria e conseguir lá tudo o que for resto
de peixe: cabeça, barrigada, couro, etc. Devemos tomar alguns cuidados para transportar
essa ceva até o local da pescaria, acondicionando-a em sacos plásticos
resistentes e sem furos. Isto porque se a ceva vazar dentro do carro, o mau
cheiro resultante será de tal forma perene e “inesquecível” que não restará
outra alternativa ao pescador além de vender o carro. Pois bem. Quando chegar
na praia, tire a ceva do saco plástico e coloque-a em um saco de ráfia, tendo a
preocupação de colocar também uma pedra pesada dentro dele, a fim de evitar que
a água o leve para longe. Amarre a boca deste saco com um fio grosso de 3 ou 4
metros de comprimento e na ponta do fio amarre uma boia ou um simples pedaço de
isopor, que servirá como uma referência visual. Pegue esse saco, leve-o até o
segundo ou terceiro canal da praia e deixe-o dentro da água.
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Pequeno cação
Em todo nosso litoral, normalmente a correnteza segue no
sentido norte-sul, ou seja, olhando-se para o mar, da esquerda para a direita.
Como a boia serve para a localização da ceva, pesque sempre à direita dela,
mais ou menos a uma distância de 30 metros. Observe que essa ceva proporciona
ótimos resultados também para espécies de menor porte. Prepare uma vara boa,
firme e resistente preferencialmente de categoria pesada na modalidade de
praia. Use molinete ou carretilha grande, onde caibam, por exemplo, 500 metros
de linha cuja opção de bitola pode variar entre 0.30 e 0.50mm, a critério do
pescador. (NR: o multifilamento hoje existente no
mercado mudará o diâmetro do fio). Faça um arranque de linha 0.60mm,
medindo mais ou menos 20 metros e um chicote de 1.2 metros com linha 0.90mm. As
pernadas dos anzóis devem ser de aço e os melhores serão os de tamanho entre
5/0 e 7/0, podendo-se utilizar um ou dois.
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Detalhe
A propósito: a
chumbada deve ser do tipo pirâmide ou aranha, com peso variando de acordo com a
correnteza. As iscas – e aqui vai outra dica importante – devem ser peixes
obtidos na própria praia. Lembre-se que você também estará pescando outras
espécies. Assim que fisgar uma betara, um parati barbudo, um roncador ou uma
corvina, por exemplo, tire um filé de cada lado do peixe e isque-o nos anzóis do
cação. Uma boa maneira de fisgar esse filé é introduzir-lhes o anzol na parte
mais grossa, atravessando-os. A
preocupação de esconder a ponta do anzol é totalmente desnecessária, porém você
deve assegurar-se de que a isca esteja firmemente fixada. Para isso amarre com
Elastricot (fio plástico bem fino). O resto do filé vai ficar solto, “nadando”
ao sabor da correnteza, parecendo um “rabo” de peixe. Jogue então a isca bem no
meio do canal onde está a ceva, coloque a vara no fincador, regule bem leve a fricção
do molinete/carretilha e deixe-a na espera.
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Iscas de praia
A partir daí é só aguardar. Aproveite para divertir-se
pescando peixes menores com outra vara e não se preocupe em demasia, pois
quando o cação fisgar, inevitavelmente você vai notar, já que a vara vai dobrar
até a metade e a fricção do equipamento vai “cantar”. Não tenha pressa. Lembre-se de que você mesmo
procurou esse encontro. E prepare-se: dependendo do tamanho do peixe, vai haver
uma briga por um par de horas. No momento em que é fisgado, o cação costuma dar
uma corrida violenta, às vezes percorrendo até 300 metros, sempre em frente,
sem parar. Após essa corrida, já com o peso da linha e da fricção, ele vai
correr paralelamente à praia e é nessa hora que deve-se começar a recolher a
linha. Nesse ponto ele costuma parar e chega até a vir de encontro do pescador,
tracionado que está pela linha. Mais uma ou duas corridas, que tanto podem ser
em frente como em paralelo, e ele começa a se entregar.
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O encontro final
Esse é o momento em que é necessário redobrar os cuidados, pois
para pegar o peixe com segurança vamos precisar de um bom bicheiro, cujo comprimento
do cabo deve ser proporcional ao tamanho do cação. Se o peixe tiver até um
metro ou pouco mais, traga-o bem para o raso e pegue-o pelo rabo com as mãos.
De qualquer maneira, tome muito cuidado: ele vira rápido e poderá morder.
Lembre-se: os dentes pontiagudos são perigosos, mas também fazem parte do
encanto dessa espécie. Pronto, o peixe é seu. E o que é melhor: foi uma briga
boa e limpa, pois você o pescou esportivamente. Apenas mais duas observações
finais. Primeira: os cações às vezes nadam em cardumes, sendo possível
fisgar-se mais de um individuo em pouco tempo na mesma pescaria. A segunda é
que haverá ocasiões em que apesar de termos a “certeza” de haver fisgado um
cação, veremos no final das contas que tratava-se de uma arraia. Observe bem,
quando for arraia você vai perceber logo, já que esse peixe, após uma breve
briga, fica parado no fundo como se estivesse enroscado. Boa pescaria na melhor
época dos cações.
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Revista Aruana Ed:56 Publicada em 04/1997
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