Na opinião de alguns pescadores, a
pescaria de lulas não chega a ser uma pescaria, já que esse molusco não briga
quando fisgado. Porém, conhecendo melhor a lula, vamos descobrir fatos bastante
interessantes. Confira.
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Costão oeste
da Ilha Vitória, no litoral da praia de Caraguatatuba (São Sebastião-SP)
Ao ouvir falar em lula, a maioria dos pescadores tem pouca
coisa a dizer, e o mais comum é fazer graça referindo-se àquela conhecida
figura do mundo político. Portanto, é inevitável que durante a espera da
fisgada desse molusco, várias piadas se apresentem, já que enquanto não acontece
a ação da pescaria, pouca coisa melhor tem-se a fazer do que ficar jogando
conversa fora. No entanto, ao pesquisarmos a lula, os vários aspectos que se
apresentam são bastante interessantes. Vejamos: são cefalópodes pertencentes à
família dos Loligenídeos. As espécies
mais frequentes em nosso litoral são duas: Loligo
brasilienses e loliguncula brevis. Recebem também o nome vulgar de
calamares que, em italiano, de calamaio, significa
tinteiro.
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A siba ou “pena”
interna da lula. (Ilustração: Rodolpho Von Ihering)
Aí está, portanto, a primeira curiosidade, já que o nome “tinteiro”
com certeza se dá devido ao fato de que as lulas, a exemplo de outros de sua
família, como os polvos, expelem uma substância escura parecida com tinta, para
sua proteção. E tem mais: em seu corpo há uma parte. Vulgarmente chamada de
siba, muito parecida em seu formato com uma pena de galinha. Daí dizer-se que a
lula “já vem com tinta e pena para escrever”. Devo confessar que essa foi a
primeira vez que fiz esse tipo de pescaria e, quando a primeira lula foi
fisgada, fiz questão de olhá-la bem, pois assim que saia da água. Ela parece um
artefato artificial devido a seu formato, cor e características. Senti-me como
uma criança quando pega um novo e desconhecido brinquedo nas mãos.
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Lulas
Mas vamos começar falando da pescaria em si. A isca,
artificial, nada mais é do que um corpo redondo e fino, mais parecendo um giz
de escrever. É feita de chumbo e tem uma linha branca enrolada em toda a sua
extensão, que é de aproximadamente 10 centímetros. Na parte de cima há uma
argola onde é amarrada a linha e na parte de baixo, com formato de
guarda-chuva, há várias pontas semelhantes a anzóis, que diferem destes por não
terem fisgas. Essas pontas, feitas de arame de aço fino, podem ser em número de
6 ou 8 e sua função é fisgar a lula. Os pesqueiros de lula devem obrigatoriamente
estar localizados em chão de fundo de areia. Se houver pedras ou lodo, com
certeza não haverá lulas.
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Pesqueiro de
lulas
Em Caraguatatuba, no litoral norte de São Paulo, que foi onde
fizemos esta matéria, os pesqueiros mais conhecidos são a Ilha Vitória, a Ilha
de Búzios e três ou quatro locais na parte norte da Ilha Bela. Esta é uma
pescaria que só pode ser feita embarcada, e a profundidade pode variar, pois é
possível fisgar lulas em profundidade de até 30 metros. Na matéria estávamos
pescando a uma profundidade de 10 metros, na Ilha Vitória. Como é uma pescaria
simples, usa-se linhas de mão e pode-se usar várias linhas ao mesmo tempo, pois
quando estamos em cima de um cardume (elas andam sempre assim), a produtividade
é enorme. Dá-se o lance, deixando a ir até o fundo.
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Isca utilizada
na pesca de lula
Quando percebemos a batida no fundo, suspendemos a isca cerca
de um metro. Essa é a primeira opção. No
entanto, ao longo da pescaria, é muito comum pesquisar-se outras profundidades,
pois o cardume costuma se movimentar muito no decorrer do dia. Para quem nunca
havia feito esse tipo de pescaria, tudo era novidade e, alertado pelos
companheiros, fiquei sabendo que a lula não “belisca” a isca. Quando muito,
causa um pequeno peso a mais, dependendo muito da sensibilidade do pescador
para perceber essa diferença. De imediato, começamos a comparar essa pescaria à
do black-bass com minhoca artificial, já que nessa modalidade o toque é também bem
sutil.
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Grandes
exemplares
Nós estávamos em cinco pescadores no barco, porém a
quantidade de pessoas não atrapalha, já que desce-se a linha rente à boda da
embarcação e pesca-se no fundo. Vez por outra, deve-se balançar a isca
artificial, subindo e descendo, para atrair as lulas. A primeira lula que
fisgamos foi dessa maneira. Subindo e descendo a linha, percebemos que o peso
da isca havia mudado. Demos então um puxão mais forte (para fisgar) e recolhemos
a isca sem dar folga alguma, pois as hastes de metal não têm fisga e, se
afrouxarmos a linha, ela escapará. Recolhemos rapidamente e, assim que a lula
chegou à superfície, uma nova curiosidade: ela jogava jatos de água para cima,
jatos esses, jatos esses que chegavam até dois metros de altura.
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A seta
indica o “reservatório de tinta” da lula
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Dentro do barco, ela sai fácil dos “anzóis” e nesse ponto é
preciso tomar cuidado: se a lula continuar a ser incomodada, ela lança um jato
de “tinta preta” a fim de se defender, o qual, apesar da suleira que provoca no
barco e nas roupas, felizmente não causa nenhum problema ao pescador. Outra
curiosidade é quanto à coloração desta espécie. Assim que sai da água, sua cor
é de um bege claro. Porém, quando colocada em local seco, rapidamente começam a
se formar algumas pequenas pintas vermelho-amarronzadas que, segundo depois, já
tomaram todo o seu corpo. Colocadas na geladeira, as lulas perdem essa
coloração, voltando então a apresentar tons claros, onde predomina o branco.
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Ilha Vitória
em São Sebastião-SP
Ao segurar a primeira lula na mão, mais do que nunca tem-se a
impressão de ser ela algo artificial, tal é a forma de seu corpo. Dentro de um
cilindro sai de sua cabeça, com grandes olhos, oito tentáculos pequenos e duas
hastes maiores. O tão também é todo especial, dando mais uma vez a sensação de
artificialidade, apesar de ser um organismo vivo. Tudo isso é bastante
interessante ao neófito pescador de lulas. Segundo nossos companheiros, em um
bom dia consegue-se pagar facilmente 20 ou 30 quilos de lulas. Em nossa
pescaria o dia não estava propício, mas mesmo assim fisgamos cerca de 20 lulas.
Algumas até consideradas grandes, atingindo perto de 30 centímetros de
comprimento.
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Os remansos
são ótimos pesqueiros
A melhor época para esse tipo de pesca pode variar de ano
para ano, começa em novembro, podendo se alongar até março ou abril/maio. No
que se refere a horários, segundo os pescadores, a parte da manhã, bem cedo,
será sempre melhor, até mais ou menos dez horas. Depois, o horário apropriado
será do fim da tarde até o escurecer. E mais uma vez a história se repete
quando consideramos que, em matéria de pesca, estamos sempre aprendendo.
Aprendemos agora a pescar lulas graças aos companheiros Bira, Luís Pardini,
Pedro e Nelson de Mello. Agradecemos também à Eliana e ao Dirceu, do Jundu
Hotel, muito bons pescadores de lula lá em Caraguatatuba. Finalizando, diríamos
que embora não sendo essa pescaria uma das modalidades mais emocionantes, na
mesa o sabor das lulas é sensacional (veja a seguir uma receita excelente). Boa
pescaria e bom apetite.
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Revista
Aruanã Ed:55 publicada em 02/1997
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Muito boa matéria. Eu fisgava umas na Ilha Bela, no pier do Iate Club. Abraços.
ResponderExcluirObrigado "anônimo" rs. Só o Face não gostou muito já que sua I.A. demorou 13 dias para saber que a lula que estava na matéria, era o molusco e não o político. E chamada de Inteligência Artificial, se mostra burra, não por culpa dela, mas sim por quem a manipula. Valeu. Abraço
ExcluirValeu amigo. Abraços. J.A.Gomes
ExcluirObrigado J.A.Gomes. Como anônimo, você é o amigo mais conhecido que tenho. Grande abraço parceiro de pescarias. Valeu Zé.
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