É um costume bastante antigo, onde
certos pescadores tem como mania, afiar seus anzóis. Segundo eles, a fisgada é
melhor e muito mais segura. Será isto verdade? Confira.
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A tralha de pesca
Esta matéria tem como objetivo, aguçar o raciocínio dos
pescadores amadores, no que se refere a um dos itens mais importantes da nossa
tralha de pescaria: os anzóis. Vamos imaginar então, um pescador preparando sua
tralha para a pescaria sensacional que ele irá fazer dentro em breve, talvez no
Pantanal ou na Bacia Amazônica, ou ainda no mar. Verificar tudo é questão de
garantir o sucesso dessa pescaria. Varas, linhas, molinetes ou carretilhas,
chumbadas, bicheiros, roupas, medicamentos, bonés, encastoados e... os anzóis.
Não se sabe de onde, mas é uma mania que muitos possuem de passar o dedo na
ponta do anzol, ou ainda, “para testar” essa ponta, acham que o anzol deve
parar em cima da unha do dedão da mão, já que só assim sabe-se se o anzol está
afiado ou não. Pior que isso, é quando o nosso pescador cisma de que o anzol
não está afiado e resolve então “melhorar sua ponta”. O que se segue então é um
amontoado de procedimentos, onde o que se vai conseguir no final, é piorar esse
anzol, no que ele tem de mais importante, a ponta. Vamos começar então, pelo
pescador que prende o anzol em uma morsa, com a ponta para cima e com uma lima
de ferro, começa a limar as duas laterais do anzol, para fazer a ponta ficar
mais fina. Outros usam lixas de ferro e envolvem toda a ponta do anzol. Existem
ainda os que mais apressados, passam o anzol em um esmeril, a alta velocidade,
sem saber que com esse procedimento estão inutilizando a têmpera do aço, que é
o sinônimo de segurança do anzol.
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Afiando o anzol preso em uma morsa com o auxílio de uma lima.
Se fosse só isso até que dá para consertar ou pelo menos
aconselhar e mostrar onde estão os erros. Mas não, existem outras coisas que
até Deus duvida. Querem um exemplo? Em uma de nossas viagens ao Pantanal, vimos
na mão de um piloteiro um anzol de cor preta e seu formato era igual ao anzol
específico para a pesca do Black-bass com minhoca artificial. Ao perguntarmos de onde ele tinha tirado
aquele anzol, veio a resposta: é um anzol “fabricado” por um pescador
profissional de Mato Grosso, e é o melhor anzol que tem para pescar aqui no
Pantanal. Quisemos saber mais e, soubemos. O tal “fabricante de anzóis” tem
como matéria prima as molas de colchões velhos, que são colocados no fogo, para
se ter a forma final do anzol e depois são esquentados novamente e usam para
temperar, a banha de capivara, ou ainda a banha de pacu, que segundo eles é o
que dá melhor têmpera. A farpa desse anzol é conseguida com uma “ferramenta”
cortante que após entrar no corpo do aço, é virada para cima, e essa parte que
virou para cima é a farpa. Muito bem, para não perder muito tempo, vamos dizer
que essa é mais uma das grandes bobagens que temos visto na pescaria. Mola de
colchão virar anzol é demais e pior ainda é a banha de capivara ou de pacu, ser
o óleo da têmpera. Se a moda pega, vão faltar capivaras no pantanal e nenhum
pescador vai jogar seu colchão velho, já que todo mundo dorme em colchão o que
não garantimos na parte referente a capivara.
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Anzóis feitos com mola de colchão
Ou será que anta, paca, queixada, caititu também serve, em
substituição a banha de capivaras? E tem gente que vai ao pantanal pescar e
compra tais anzóis, principalmente na região de Cuiabá. Vamos voltar a
seriedade do assunto. Nós da Aruanã, tivemos oportunidade de visitar várias
fábricas de anzóis em todo o mundo e ver seu processo de fabricação, desde o
aço bruto, até o anzol ser colocado nas caixas para a venda. Vamos citar o
exemplo da Mustad, que fabrica anzóis “só a mais de 120 anos”. Sobre isso, muito
teríamos que falar, mas com certeza interessa mais dizer que, as máquinas dessa
fábrica, são de sua própria autoria, e a têmpera do aço é um segredo guardado a
sete chaves. Após o anzol adquirir sua forma definitiva, ele é então temperado
e seguem-se então vários banhos químicos, o que vai assegurar a sua ponta,
resistência e durabilidade. São várias etapas na fabricação de um anzol que
tanto pode ser o popular “anzol mosquito” como os grandes anzóis. Tudo é
altamente estudado e desenvolvido para a segurança do anzol. Um anzol , quando
sai de uma fábrica séria, não precisa passar por nenhuma melhoria e ainda mais,
nas mãos de quem não entende nada de metalurgia, ou de têmpera, ou de aço, etc.
O erro principal está sim em se guardar anzóis usados, sem nenhum cuidado em
sua manutenção e querer que o mesmo tenha sempre a mesma qualidade.
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Afiando anzol em um esmeril
E o mais engraçado é que se tem essa preocupação apenas com
os anzóis “para os peixes grandes”, já que esses peixes “precisam” ser muito
bem ferrados e a afiação da ponta se faz necessário. Eu nunca vi, por exemplo,
afiando anzol para pescar lambari. Ou será que o lambari não merece essa
atenção? A bem da verdade, existem alguns tipo de anzóis, que tem sua ponta
cônica, ou seja redonda e parecem que são mais afiados que os outros. Ledo
engano, já que por experiência podemos dizer que se esses anzóis são mais
afiados, com certeza sua ponta perderá muito mais rápido essa afiação, devido a
um desgaste mais rápido também. O importante em um anzol é, principalmente,
saber de sua origem, usá-lo corretamente, e se fomos guardá-lo que se tomem as
medidas necessárias para sua conservação e finalmente, caso ele tenha tido uma
vida longa de belas ferradas e brigas sensacionais com os peixes, aposentá-lo,
já que ele fez sua parte e merece esse descanso, Pode até ser pior, onde o
sentimentalismo não entra: jogá-lo simplesmente no lixo. Afinal de contas, pelo
que o anzol é importante em uma pescaria, pode-se afirmar que é entre todos os
itens dessa pescaria, o mais barato. Vale a pena ficar inventando coisas banais
como afiar um anzol? Boa pescaria e vamos deixar as capivaras em paz, que a bem
da verdade não servem nem para comer, já que sua carne tem um gosto estranho.
Quanto aos colchões, faça deles o que quiser, já que nos deram muito prazer
(dependendo de cada um) por vários anos. Faz até nos lembrar daquela estrofe de
música que diz: “sic - guenta colchão velho”. Quanto a colchão de molas virar
anzol é, no mínimo, desrespeito...ao colchão e a inteligência do pescador.
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Revista Aruanã Ed:70 Publicada em 08/1999
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