quarta-feira, 27 de agosto de 2014

DICA: CHICOTES E PERNADAS











Todo material de pesca é importante. Como não poderia deixar de ser, os chicotes e suas pernadas são, na pesca de praia, um dos principais itens.
                                                Confira

Chicote da Loja Aruanã   
                                              
O pescador de praia sabe que seu material de pesca tem que ser especial. Desde a vara, molinetes/carretilhas, linhas mestras e arranques, tudo é balanceado e muito bem definido para uma pescaria específica. Nesta edição falamos em especial sobre o arranque, que de uma maneira ou outra, muito tem a ver com o chicote, pois em muito se parecem. Vamos explicar em detalhes.

O arranque, para aguentar o arremesso, vai ter que ser de uma linha cuja bitola suporte todo o peso que vamos arremessar. No caso do chicote, podemos comparar a bitola da linha como sendo a mesma do arranque, já que o peso irá ser o mesmo, só mudando seu tamanho. Enquanto o arranque terá que obrigatoriamente ter um comprimento da vara mais alguns metros dentro do carretel do equipamento, no caso do chicote o pescador é que terá de colocar esse comprimento a seu gosto e, ao mesmo tempo, obedecer ao tamanho das pernadas.


                                              As pernadas

Paratis barbudos


Vamos explicar mais detalhadamente, e desde já esclarecendo que pernadas neste caso, são as linhas onde estarão os anzóis e que ficarão presas nos engates rápidos, estes sim, colocados no chicote.
Um chicote não pode ser muito comprido, o que irá dificultar o arremesso. Não poderá também ser muito curto, pois as pernadas terão que ser curtas também e não haverá então a possibilidade de iscas “mais soltas” e parecendo mais naturais.

Mas qual será então o chicote ideal? Para responder esta questão vamos “montar” aqui um chicote normal para a pesca de praia. Primeiramente, usaremos um girador de tamanho pequeno/médio para começar o chicote. Nesse girador, vamos colocar uma linha, digamos de diâmetro 0,45 a 0,60 milímetros. Essa linha pode vir direto do carretel original, e não devemos cortá-la, por enquanto. Mais ou menos a uns 15 centímetros do girador já colocado e amarrado vamos dar o primeiro nó de correr. 


Bagre-do-mar


Após esse nó, colocamos um engate rápido e logo a seguir outro nó de correr. Alguns pescadores costumam colocar miçangas pequenas acima e abaixo do engate rápido, ou seja, após e antes dos nós de correr. Feito isso, mais ou menos a 40 centímetros, na mesma linha do chicote, damos outro nó de correr, outro engate rápido e mais outro nó de correr. Continuando com a linha do chicote, damos um espaço de mais 50 centímetros e colocamos então um snap (alfinete) para adaptarmos o chumbo. Teremos então um chicote de mais ou menos 1,15 metros ou 1,20 metros. Esse é o tamanho ideal e, então cortamos a linha nesse tamanho.

Agora, as pernadas. Uma boa dica é ter pernadas de vários tamanhos e com diversos modelos de anzóis. Digamos 10 anzóis de cada tipo, desde os menores até os médios (números de 7 a 16, nas medidas padrão Mustad), que deverão estar encastoados, com suas pernadas de linhas variando de 0,25 a 0,35 milímetros (ou mais) dependendo do tamanho dos anzóis. E mais, as pernadas deverão obedecer a um tamanho variável entre 30 a 50 centímetros, sendo que as menores deverão ser usadas no primeiro engate rápido e as maiores no segundo engate rápido. Só para esclarecer, a pernada terá um anzol em uma ponta e um nó mais largo na outra ponta, que permita que ela fique segura no engate.


Galhudo


Uma dica: a primeira pernada montada não deverá ultrapassar o tamanho onde estiver colocado o segundo engate rápido, pois senão poderá enroscar com frequência. A segunda pernada poderá ser maior, e pode ultrapassar a chumbada, pois não irá atrapalhar em nada. Esse procedimento tem explicações que daremos a seguir. Dependendo da espécie de peixe que estiver na praia, alguns preferem fisgar no anzol que esteja mais fundo (betaras, corvinas, pescadas, bagres etc.) e outras preferem fisgar no anzol que estiver mais acima ou mais solto ao sabor da correnteza (galhudos, pampos, sernambiquaras, paratis-barbudos, etc.). Diríamos que essa afirmação é uma regra que, no entanto, permite exceções. A variação de tamanho de anzóis é recomendada, pois com frequência os peixes pequenos atacam as iscas e não conseguimos fisgá-los. 

Robalo


Caso isso esteja acontecendo em sua pescaria, é só trocar a pernada por uma de anzol menor e a fisgada será inevitável. E aqui cabe aquela máxima: “um anzol pequeno fisga peixe pequeno e grande; um anzol grande, só fisga peixe grande”. E para o sucesso de uma pescaria, boas iscas naturais são recomendadas: entre elas, podemos destacar o corrupto, a minhoca de praia, o sarnambi, a tatuíra, a manjuba, o camarão e o filé de sardinha, não necessariamente nessa ordem. O resto é lançar as iscas nos canais de praia (nas praias rasas) ou então na faixa onde costumam estarem os peixes, que tanto poderá ser perto como mais longe da areia da praia, nas praias de tombo. E curtir os prazeres de uma boa pescaria, sem medo de ser feliz.
                                               Mestre Takeshi e seu material de praia


NOTA DA REDAÇÃO: A ideia de fazermos essa matéria na Revista Aruanã, se deu por estarmos fazendo o nosso vídeo de Pesca de Praia, na Ilha Comprida e na praia de Massaguaçu em Caraguatatuba. Respectivamente uma praia "rasa" e uma praia de "tombo". Em nossa companhia dois dos maiores mestres que conhecemos em pesca de praia: Nelson de Mello e Takeshi Tanabe, das equipes Caraguá e Suzanpesca, nessa ordem. Com eles, aprendemos as dicas para uma boa pescaria de praia e que até hoje (agosto de 2014) colocamos em prática em nossas pescarias dessa modalidade. Aliás, desses ensinamentos surgiu a ideia de fazermos um kit de pesca de praia, para vender em nossa loja. O desenho que demonstra o chicote e aqui exibido nesta postagem acompanhava o kit enviado a nossos clientes. Passados tantos anos, não vimos nada melhor do que essas dicas, pelo menos até agora. E aproveitamos para render aqui, nossas homenagens a esses dois pescadores. Com eles aprendemos a pescar em nossas praias. Sua benção Mestres.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

MEMÓRIA: ÉRAMOS FELIZES E NÃO SABÍAMOS

ESPECIAL











Segundo consta, o molinete original foi feito pelos franceses. Não há uma data precisa para se dizer quando ele foi inventado. Mas a grande maioria dos pescadores o usam e bem. Vamos falar um pouco dessa máquina de prazer.








A maioria das histórias infantis começa com “era uma vez” ou “há muito tempo atrás”. Vamos começar esta matéria exatamente assim.
Há muito tempo atrás, um molinete muito famoso era o Mitchell 302 (de origem francesa), de tamanho grande, ideal para a pesca na praia. Na época, eu trabalhava em um banco, e fiz um mês de horas extras, à noite, para poder comprá-lo. A loja que o vendeu a mim era a Gonçalves Armas, que ficava na Libero Badaró, esquina da Avenida São João em São Paulo. Era no primeiro andar de um antigo prédio. Não me lembro quanto custou, mas posso dizer que era muito caro, haja visto o mês de extras.
Pescar com esse molinete era quase um “status” de bom pescador, pois poucos se viam iguais a ele nas praias. Mais ou menos na mesma época, ou um pouco mais tarde, apareceria um outro molinete que viraria coqueluche e até hoje é usado: o Esqualo, de origem argentina.

Molinete Esqualo.


Vários anos depois, inúmeras outras marcas apareceram e novidades foram surgindo, como a troca de lado das manivelas, regulagem da fricção embaixo do corpo, rolamentos e algumas coisinhas mais. A bem da verdade, a máquina foi inventada para não dar certo e deu – e isso eu explico: imagine uma máquina que enrola a manivela para a frente na horizontal e que tem um guia linha que sobe e desce (ou carretel) na vertical? Coisa de louco.
Pois bem, mais recentemente, apareceu mais uma novidade no velho molinete: os carretéis mais altos – para quem gosta de termos mais esnobes, “Long Cast”- para dar melhor vazão à saída da linha. Muito mais fáceis de serem manobrados do que as carretilhas, nas praias eles são praticamente insubstituíveis, pela distância que possibilitam nos arremessos. Eis aqui então o assunto principal desta matéria.
A bem da verdade, e antes que algum pescador se sinta menosprezado, podemos afirmar que a grande maioria dos pescadores de praia usam o molinete, mas existem aqueles que gostam de pescar com carretilhas e também o fazem bem. Esses pescadores que usam carretilhas estão mais localizados no Rio Grande do Sul e parte de Santa Catarina. No resto do Brasil, o molinete impera.

Esqualo e Mitchell


Até hoje, quem pesca com molinetes, ao mudar para carretilhas sente alguma dificuldade, já que o arremesso feito com o primeiro é muito mais simples do que com o segundo equipamento. Mas tudo é uma questão de prática e treino. No entanto, as distâncias que se consegue arremessar com molinetes dificilmente serão conseguidas com as carretilhas. Se compararmos os dois equipamentos, vamos perceber que o molinete joga mais longe e fácil, em compensação tem menor tração do que a carretilha, além de torcer a linha com muito mais intensidade, haja visto a sua maneira de enrolar a linha de pesca. 

               O novo e o velho, 35 anos de diferença na fabricação.  Foto da época.                                                                  

Carretel externo de molinete "moderno". Foto da época.



Pois aí está o “velho e bom molinete” sendo usado até hoje, principalmente em pescarias onde serão necessários grandes e longos arremessos. Mas tem pescador que, mesmo com as restrições que o molinete tem, não o dispensa em suas pescarias, seja no Pantanal, Bacia Amazônica, rios ou represas por esse Brasil afora.
E para terminar e confirmar a potencialidade do molinete em se tratando de arremessos, os campeonatos onde a distância é o alvo mais importante, foram e continuam sendo realizados com molinetes, em sua grande maioria. E para se ter uma idéia da potência de tais arremessos, já aconteceram “tiros”- assim são chamados pelos competidores - , que alcançaram marcas de mais de 200 metros. Nas praias, hoje, com um bom treino e equipamento certo, além de força, consegue-se jogar as iscas em torno de 150 metros, ou mais, o que por si só garante uma boa pescaria de peixes que dificilmente encostariam nas areias da praia. E mesmo que digam inverdades como “quem pesca com carretilhas é melhor pescador do quem, pesca com molinetes”, essa “maquininha maravilhosa”, que na Europa e muito mais usada do que a carretilha, vai continuar a existir, pelo menos enquanto houver peixes e pescadores. E viva o velho e bom molinete, que continua a servir à grande maioria dos pescadores amadores brasileiros.

Molinete Mitchell usado na época em competições de pesca na Europa.


NOTA DA REDAÇÃO: Esta matéria foi publicada na edição 76 em outubro de 2000, portanto a quase quatorze anos e, hoje, agosto de 2014, podemos notar que ainda é bem atual em seu texto. Mas quero dizer alguma coisa mais e principalmente à aqueles que se acham “mestres” na arte de pescar e dizem que o pescador que pesca com carretilha ou fly, é melhor pescador do que quem pesca com molinetes. O melhor pescador que conheci em toda a minha vida e tive a honra de com ele pescar e, muito aprender, usava varas de bambu simples e com linha do tamanho da vara. Aliás fiz uma matéria com ele lá no Pantanal, região de Morrinhos perto de Corumbá. Seu nome, ou como era mais conhecido: “seu Juju”.  Esse pescador, que hoje deve estar pescando no céu pois a ultima vez que estive com ele estava adoentado e com a saúde bastante abalada, era impressionante. Seu Juju olhava para o rio Paraguai e sabia que peixe estava “correndo” e o que estava comendo. Em nossas pescarias de pacu, olhando as folhas de camalote, ele distinguia as mordidas do pacu nos talos desse aguapé. Além disso, sabia precisar se a mordida era recente ou mais antiga. Dizer o que então? Ele era um mestre? Ou seria um mestre, com pós-graduação, mestrado e PHD em pesca? Você decide. Boa pescaria.

sábado, 16 de agosto de 2014

DICA: O IMPORTANTE É A DIVERSÃO

















Suponha que você pesque sua cota logo no primeiro dia de pescaria. Além de pescar e soltar, há uma outra opção para você se divertir.     
                                                      Confira






Pesqueiro junto ao camalote


Para você se divertir com esta opção citada por nós, fique sabendo que não é preciso gastar gasolina nem ter equipamentos sofisticados. Basta apenas uns dois ou três quilos de quirera de milho, uma vara telescópica de ponta fina, uma linha 0.20 milímetros e um anzol pequeno, além de uma chumbada oliva pequena.
O local de pesca também é simples e pode ser até em frente ao pesqueiro onde você está hospedado. Se optar por esse local, veja onde é que o pessoal limpa os peixes, ou então onde é que sai o esgoto da pia da cozinha do pesqueiro. Localizando esses dois locais, pesque no máximo a cinco metros abaixo, ou seja, na direção da correnteza do rio.

Lambari

Se não quiser ficar por perto, localize uma árvore na beira do rio que faça sombra na água. Não que essa sombra vá mostrar o melhor pesqueiro, já que qualquer lugar que tenha dois metros de profundidade será ótimo, mas veja como é muito melhor pescar na sombra, no calor do pantanal.
Pescar no barco, além de mais seguro, é mais confortável, já que uma pequena geladeira de isopor deve obrigatoriamente fazer parte da pescaria – o conteúdo dela fica por sua conta.

Sauá


Monte uma vara telescópica de no máximo três metros, uma linha 0.20 milímetros, com comprimento igual ou com um palmo a mais do que o comprimento da vara. Use um anzol pequeno e um chumbo de no máximo cinco gramas. Se quiser, faça um encastoado bem fino de aço. Nós preferimos não usar o encastoado, apesar de perder alguns anzóis na boca de piranhas.
A isca deverá ser de massa de farinha de trigo e é bem fácil de ser feita: coloque um pouco de farinha de trigo em um prato e vá adicionando água até formar uma espécie de angu, ou se preferir, uma “bolota”.

A tranquilidade de uma boa sombra


Pronto: a isca está no ponto para ser usada. Apoite o barco e procure não fazer barulho. Pegue a quirera de milho e jogue um bocado, sempre acima de onde você estiver, para que a correnteza do rio faça com que a quirera pare embaixo do barco. Tire um pouco de massa e, com os dedos, faça uma bolinha do tamanho de um grão de milho e isque-a no anzol. O lance deve ser feito junto aos camalotes (se tiver) ou direto no rio, procurando fazer com que a isca não encoste no fundo, deixando-a suspensa em uma altura que dependerá da fundura do rio.
Pronto. Sua pescaria já começou e com certeza virão no seu anzol sauás, lambaris, sardinhas, piaus-três-pintas, piraputangas, pacus-peba e até piranhas. É uma briga sensacional, e enquanto você tiver massa para isca e houver a luz do sol a iluminar o rio, sua mão vai cansar de tanto fisgar peixes.
piau-três-pintas                                                                                                                                        

Essa pescaria é uma diversão garantida, e se trata de alguma coisa que só o pescador amador esportivo vai entender e principalmente se divertir, já que esses pequenos peixes são grandes no quesito diversão. Aproveite ao máximo sua estada no Pantanal, pois afinal de contas você foi lá para se divertir e essa pescaria irá dar, se for o caso, muitas iscas para peixes maiores; ou então se levados ao pesqueiro e fritos, a melhor de todas as iscas para o “peixe maior”, que é o próprio pescador. Acompanha, lógico, uma boa cerveja.

NOTA DA REDAÇÃO: Em diversas de nossas aventuras no Pantanal, uma preocupação era dizer ao cozinheiro, que toda a sobra de cozinha, deveria ser jogada em um local pré-determinado e escolhido por nós. Quando chegávamos da pescaria, após o almoço e uma “siesta” dentro da barraca e esperando o calor passar para voltar a pescar de novo,  nosso destino era o local das sobras da cozinha. Para melhorar ainda mais o pesqueiro, sempre levávamos alguns quilos de quirera de milho e, jogávamos uns punhados antes de começar a pescar. E aí era só diversão enquanto tínhamos isca. Uma lembrança: na aventura no rio Piqueri, fomos obrigados a montar uma vara com carretilha, porque estávamos perdendo linha e anzóis seguidamente, tal era a briga com um peixe que estávamos fisgando. Na carretilha, uma linha um pouco mais forte, mas o mesmo anzol e chumbo. Iscamos e jogamos no lugar onde as fisgadas estavam acontecendo. O peixe puxou, nós fisgamos e fricção começou a correr solta. Após uma boa briga e cansado, um piavuçu de quase três quilos veio parar em nossa mão. Nunca iríamos conseguir brigar com um peixe desses com o equipamento que estávamos usando.  Não estranhe se isso acontecer, pois até pacus enormes vem na ceva também. Boa pescaria.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

FOLCLORE BRASILEIRO














Os orarimogodogue, mais conhecidos por bororo, é uma tribo de índios que vive no planalto oriental de Mato Grosso. Para perpetuarem suas histórias, costumam se reunir à noite e conta-las em voz alta. Começaram narrando assim: “Eu digo a vós, meus filhos, a vós meus netos, e vós escutai a minha palavra. Foi assim que nasceram as estrelas...”







Um dos principais alimentos do bororo é o milho. Certo dia as mulheres foram à roça colher espigas, mas encontraram muito pouco. Ficaram tristes, pois não podiam alegrar os maridos que saíram para caçar. Chamaram então alguns meninos que estavam brincando para ajuda-las.
Colheram muito milho e lá mesmo na roça socaram e fizeram bolos para os homens caçadores. Enquanto pilavam o milho, um menino saiu com uma taquara cheia de grão de milho, sem ordem das mulheres, entregando-a a sua avó que estava na maloca. Pediu para a avó preparar um bolo para ele e seus amiguinhos.
Sem saber que tinham pego aquele milho sem ordem, a velhinha fez o bolo. Um papagaio estava olhando tudo e sabia da tramoia das crianças. Para que não contasse, cortaram sua língua.
Quando viram suas mães voltando da roça, ficaram com medo. Foram até a mata, pegaram um beija-flor, amarraram em seu bico um cipó e ordenaram que voasse bem alto e prendesse a ponta do cipó no céu para que subissem também.
Enquanto voava, os meninos emendaram várias cordas de cipó e foram subindo um a um pelo cipó céu acima.
Quando finalmente as mulheres chegaram da roça, perguntaram pelos meninos. A velhinha, cansada, dormia pesadamente. O papagaio nada pôde falar pois estava sem língua.
As  mulheres procuraram os meninos por toda a aldeia e nada. Uma viu o cipó, olhou melhor e concluiu o que havia acontecido. Todas começaram a gritar, pedindo para que voltassem. Mas o beija-flor cada vez levava mais alto a ponta do cipó. Os meninos não quiseram voltar. As mulheres imploraram e choraram.
Como castigo pela desobediência, os meninos tiveram que todas as noites olhar para a terra para ver se suas mães ainda estão chorando. E os olhos dos meninos se tornaram estrelas...




DICIONÁRIO ARUANÃ - ANIMAIS DO BRASIL BIGUÁ





















Dificilmente haverá um pescador amador que não conheça ou não tenha encontrado um pássaro dessa espécie em suas pescarias.

                                           Conheça-o melhor











O Biguá é uma ave da família dos Carbonídeos cujo nome científico é Carbo vigna. Sua cauda, pescoço e bico são enormemente alongados, sendo este último encurvado na ponta. Sua coloração é preta, com pequenos detalhes em amarelo no bico, cara e parte da garganta.
Exímio pescador, o biguá mergulha em busca dos peixes, recebendo por esse motivo (principalmente na Amazônia) o nome de mergulhão. Vive tanto no litoral como em lagoas e rios do interior do Brasil.
Uma outra curiosidade sobre o biguá, e o pescador pode verificar isso em suas pescarias, é que ele é o principal responsável por muitas árvores secas que se vêem nas margens dos rios.
Estranhamente, os bandos desse pássaro escolhem uma determinada árvore para seu pouso noturno. Os excrementos dos pássaros, de alta acidez, escorrem por folhas e galhos, vindo a fazer com que essa árvore morra, e só então os biguás irão procurar outra “vítima” para fazer dela seu próximo pouso noturno.
Rodolpho Von Ihering, em seu livro Animais do Brasil, descreve deliciosamente e melhor do que ninguém o biguá. Podemos então ler:

“É ave essencialmente aquática e vive só da pesca. Não é, porém, afundando e mergulhando debaixo da água que o biguá foge do caçador; ele se afasta voando, porém de um modo característico e curioso: batendo as asas, prossegue durante algum tempo rente à água e a tão pouca altura que os pés e a cauda às vezes arrastam de leve e assim traçam um sulco, que indica sua passagem; só mais adiante a ave firma o vôo e se eleva a boa altura. Característica é a ordem que o bando de biguás observa quando em viagem; alinhados, formam um ângulo obtuso indo, porém, adiante, não o vértice do ângulo, mas uma das linhas retas”.

DICIONÁRIO ARUANÃ DE ANIMAIS DO BRASIL

sábado, 9 de agosto de 2014

EQUIPAMENTOS - ROLAMENTOS FAZEM A DIFERENÇA???










É muito comum hoje em dia, em lojas de pesca, ver-se pescadores amadores que, ao pegar um equipamento na mão, perguntam de imediato quantos rolamentos esse equipamento possui. Será isso tão importante? Confira.









Quais serão os itens mais importantes em um molinete ou em uma carretilha para se determinar sua eficiência? Para essa pergunta ser respondida com segurança, várias outras perguntas terão que ser feitas, já que o velho chavão “cada pescaria é uma pescaria” terá que ser usado e analisado.
Vamos supor que precisemos de um equipamento (vamos chamar assim um molinete ou uma carretilha) para a pesca com isca artificial de superfície.  O pescador mais experiente saberá que precisaremos de um equipamento de recolhimento rápido, por exemplo, 6:3 por 1. Nova pergunta: importa, nessa hipótese, quantos rolamentos esse equipamento tem? A resposta é não, já que o que determina a rapidez de recolhimento será o tamanho da coroa e pinhão desse equipamento.



Outro exemplo: o pescador precisa de um equipamento grande, para a pesca de praia e costão, onde a velocidade do recolhimento não é o mais importante. Nesse caso, a existência de rolamentos é importante? A resposta é sim, já que com rolamentos o recolhimento é muito mais suave.
Mais um exemplo? Vamos lá. Quando maior o peixe, maior deverá ser a bitola da linha, maior deverá ser o anzol e maior deverá ser o equipamento. Portanto, quanto mais rolamentos esse equipamento possuir, melhor. Essa afirmação está certa ou errada? A resposta é... errada.




Vamos começar pela esportividade, e com isso cai por terra a bitola da linha, o anzol e o tamanho do equipamento. Afinal de contas, alguém discorda que é muito mais esportivo pegar um grande peixe com uma tralha mais leve? É claro que não, e mais: não importa o tamanho do equipamento para determinar o número de rolamentos que nele possam existir. Podemos parar com os exemplos, pois o pescador deve estar percebendo onde estamos querendo chegar.


A eficiência de um equipamento de pesca não se mede pelo número de rolamentos que o mesmo possui. Afinal de contas, a função principal de um rolamento é a maior facilidade em fazer com que o eixo onde ele esteja role melhor. Ou será que vamos conseguir colocar rolamentos onde não haja um eixo? E, se a resposta for afirmativa, para que isso ira servir?
Como se vê pela pergunta acima, os rolamentos serão importantes onde queira-se melhor rolagem de um eixo. Agora, o que dizer de um equipamento que tenha dez rolamentos, por exemplo? E mais, em alguns casos, existem rolamentos até no guia linha! Isso será realmente necessário? Evidente que a resposta é não.



Sem medo de errar, poderíamos afirmar que quatro ou cinco rolamentos em qualquer equipamento são mais do que suficientes, já que com esse número de peças estaremos cercando as principais funções onde elas sejam realmente necessárias.
Do jeito que as coisas vão, brevemente haverá rolamentos até na vara de pesca  - por favor não confundam rolamentos com roldanas. Se a moda pega, já pensaram em um pescador amador comprando um barco e fazendo a seguinte pergunta: quantos rolamentos esse barco tem?
Pois é, pescador. O rolamento é um item importante em um equipamento, desde que ele seja em número e função necessários ao que o equipamento se presta.


Agora, faça a seguinte comparação no que se refere a um equipamento qualquer, do mesmo tamanho e até da mesma marca, mas que tenha número diferente de rolamentos, no item, preço.

Qual será o mais caro e o mais barato? A resposta é sua.


NOTA DA REDAÇÃO: Revendo estes artigos da Revista Aruanã, por exemplo este, publicado em fevereiro de 1998, edição 61, eu me divirto com os exercícios de “futurologia” que estávamos (sem o saber) praticando naquela época. Hoje, agosto de 2014, os tais rolamentos já não são tão importantes assim, pois podemos comprar ótimos equipamentos com bem menos rolamentos do que, naquela época, as fábricas apregoavam. Aliás meu amigo pescador, se puder e lembrar, conte e pode ser nos dedos das mãos, quantas mudanças realmente aconteceram em nosso segmento, que vieram a mudar para melhor, as nossas pescarias. Faça isso com seus amigos e vocês terão uma surpresa. O importante é pescar muito e bem. Com isso, e com muita observação e inteligência, vamos nos tornando cada vez mais, melhores pescadores.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

MODALIDADE - ARREMESSO: TÉCNICA OU FORÇA?


















Dependendo do tipo de pescaria que formos realizar, precisaremos, no arremesso, de força aliada a técnica. Vamos conferir esse importante item.




Praia rasa: Localize os canais.

Uma regra sem exceção é aquela em que, ao começar uma pescaria, o arremesso será o primeiro movimento a ser executado. Podemos estar usando como equipamento carretilha, molinete ou até uma linhada de mão. Isso não é importante, já que nos três itens iremos precisar de alguma força e muita técnica para efetuá-los bem.
Vejamos aquele pescador que usa a tradicional e antiga linhada de mão. Para arremessar sua isca ele precisará dar, com a linhada, vários giros por cima ou do lado do corpo e, no momento exato, soltar essa linha para que sua isca siga reta, em frente, levando toda a linhada que estava no barranco. Precisa força? A resposta é sim,, mas também é necessária alguma técnica, já que soltar a linha no momento certo é uma questão muito importante. Com carretilha ou molinete não é diferente, então vamos abordar o uso desses dois equipamentos.
No que se refere ao molinete, principalmente quando estivermos pescando na praia ou costão, a força é um item primordial, já que nesses segmentos de pesca sempre precisaremos dar longos arremessos. Mas existe também a técnica, já que se não soltarmos a linha no momento certo, o arremesso será prejudicado. O ato de soltar é aquele em que estamos segurando a linha com o dedo indicador, com a haste do molinete aberta e, no momento exato. Liberamos o fio para efetuar o arremesso. Para quem pesca com carretilha nesses dois segmentos, esse ato de soltar a linha é feito com o dedo polegar que estava segurando o carretel do equipamento.

Arremesso com força

Quando estiver tudo pronto, tais como iscas, chumbadas e etc, levaremos a vara por detrás do corpo e, com grande força, soltaremos a linha por cima da cabeça, ou então pelo lado do corpo. Às vezes não será necessário empregar tanta força, como por exemplo nos casos em que queremos atingir os canais de praia, sendo esse tipo de arremesso chamado “de precisão”.
Como nosso leitor já pôde perceber, nesse tipo de arremesso precisaremos de mais força e um pouco menos de técnica.
Um outro tipo de arremesso, onde precisaremos de mais  técnica e menos força, é praticado naqueles segmentos de pesca considerados mais especializados, como é o caso das iscas artificiais. Normalmente, nesse segmento a técnica será sempre superior à força, já que devemos “colocar a isca no lugar certo”. Esse ato se dá nos arremessos junto a obstáculos, tais como galhadas e pedras, entre outros. É obrigatório que a isca caia com precisão no meio de uma galhada, por exemplo, pois é lá que está o peixe. O problema maior é colocar a isca no lugar exato, muitas vezes a uma distância de 20 metros ou mais. A força nesse caso não é importante, mas a técnica o é. Normalmente, em um lance de precisão, a técnica ou “segredo” está em parar o arremesso da linha na hora certa. Após o arremesso, devemos observar a trajetória da isca e, quando esta chegar ao local adequado, parar a saída da linha, tanto no molinete como na carretilha, onde mais uma vez precisaremos da ação dos dois dedos citados anteriormente.

O polegar no uso da carretilha

Uma regra que não admite exceção é aquela que diz que a prática se adquire com muito treino. Seja qual for o tipo de pescaria que o pescador realize, é obrigatório treinar muito seus arremessos, de força e precisão. É aqui que surge uma dica muito importante, pois são vários os casos de pescadores que treinam exaustivamente  e não conseguem fazer bons arremessos. O erro em tal fato, podem ter certeza, está na vara e, em menor escala, na linha usada para pescar. Uma vara de pesca deve obrigatoriamente ser um equipamento balanceado, ou seja, de acordo com a modalidade de pesca que formos praticar. Em praia ou costão, por exemplo essa vara deverá ter comprimento e resistência proporcionais ao peso que se quer arremessar. Uma vara muito flexível nunca dará um longo e bom arremesso, já que ficará envergada com o peso de chumbadas e iscas na hora do lance. Outro exemplo será a bitola da linha. Jamais conseguiremos fazer um arremesso longo com uma linha grossa, pois a bitola da linha fará com que o lance saia “espremido”.
Pescando em praia de tombo                                                                                         

O mesmo item (vara) será o mais importante nos casos de arremesso de precisão. Como se vê, tanto a força como a técnica serão usadas nos arremessos. Mas por certo não adiantará  força ou técnica se durante a pescaria não estivermos com um material muito bem balanceado para aquele tipo de pesca que estamos realizando.

Aquela conversa de que um só equipamento serve para todos os tipos de pescaria, sejam elas em praia, com iscas artificiais ou no Pantanal é uma lenda que há muito deixou de existir.


NOTA DA REDAÇÃO: Hoje, em julho de 2014, ao fazer esta nova postagem que publicamos na Revista Aruanã em outubro de 1997, percebemos o quanto ela ainda é útil nas dicas aqui relatadas. Na pesca que chamamos de rasa, o arremesso é com força, “mas tem que cair dentro dos canais da praia”. Na praia de tombo, “ou o pescador arremessa com força e que a isca caia onde cair, ou arremessa com pouca força e aí já entra um pouco de técnica”, pois o peixe pode estar perto da arrebentação, que nesse tipo de praia, é bem perto da areia.
E, mais uma vez afirmamos: quanto mais o pescador pescar, com certeza, mais ele estará apto a praticar qualquer modalidade de pesca, com arremessos melhores, ou mais longos ou mais precisos, quando for o caso e, que seja onde a pescaria possa acontecer. Boa pescaria.