quinta-feira, 30 de outubro de 2014

DOCUMENTO: MEMÓRIAS DE UMA LUTA INGLÓRIA










Foi com grata satisfação que recebemos em nossa redação uma carta de um colega participante de nossa comunidade de pescadores amadores. Seu objetivo é comum ao nosso.

                             Vamos à carta.














Esta é a carta recebida por nós dia 12 de outubro deste ano (1990):
“Na condição de privilegiado assinante dessa excepcional revista, gostaria de ver publicada na seção adequada (Álbum) esta foto, que foi tirada quando meu pai e eu (Jarbas Passarinho e Jarbas Passarinho Jr.) estivemos na região do Pantanal do Paiaguás. Os peixes foram pescados no rio Piqueri. Sinceramente, ficaria envaidecido de nos ver juntos, impressos na minha revista. Na verdade, além do números atrasados, babei e babo com cada exemplar que recebo.
Por outro lado, gostaria de expressar minha repugnação com a decolada da inoperância e ineficiência dos fiscais responsáveis. Tive dez dias de férias recentemente e ia para o pontão (existem dois) aqui abaixo da ciclovia do Lago Norte (o lago compreendido entre a Península dos Ministros e o Lago Sul).
Todos os dias e principalmente à noite, há redes enormes, que poderiam cercar a passagem sob a ponte, fora os incontáveis tarrafeiros que chegam ao ponto de abrirem a tarrafa em nossas linhas. Todos sabemos que no Lago Sul e principalmente na Península dos Ministros isto não acontece. Lá existem carpas de até 12 quilos, tucunarés de bom tamanho, e eu aqui no Lago Norte pesco as sobras: pequenos acarás e tilápias do tamanho de uma mão esticada, e muito raramente, quando usei a fórmula (massa) que a Aruanã me ensinou, nestes dez dias consegui pegar três carpas, sendo que uma passou de dois quilos.
Gostaria de ver, se possível, na seção de cartas, o meu protesto, indignação e revolta com o que acontece.
OBS: Com relação à foto, trata-se de pacus, dourados e tucunarés pescados por Jarbas Passarinho e Jarbas Passarinho Jr., no rio Piqueri, Pantanal do Paiaguás, MS. Desde já grato à minha revista.
Jarbas Passarinho Jr. - DF 03/09/90”

Aruanã responde:
Prezado Jarbas Passarinho Jr.: Em primeiro lugar, é um prazer tê-lo como um de nossos assinantes, que hoje se somam aos milhares, espalhados pelo Brasil e mesmo em outros países.
Sua carta, a exemplo de outras que recebemos, tem o mesmo tom de amizade que nos une a todos e as mesmas queixas sobre a pesca predatória neste país, onde parece que as leis não foram feitas para serem cumpridas.
O problema da pesca predatória existe e é padrão em todo o território brasileiro. Nós não somos contra a pesca profissional, desde que ela seja feita artesanalmente. Sabemos que muitos são os brasileiros que, tendo herdado essa atividade de seus pais e avós, têm na pesca sua atividade principal. Somos contra, isso sim, os maus pescadores que usam redes e tarrafas, tentando tirar do meio ambiente o lucro fácil e sem escrúpulos. Somos contra, por exemplo, a existência de frigoríficos dentro do Pantanal e da Bacia Amazônica, que estão exaurindo o potencial de nossos rios. Somos contra os barcos de arrasto em nosso litoral, que fazem sua pesca criminosa, praticamente dentro da arrebentação. Esse tipo de pesca profissional não respeita nenhuma norma. Para eles só interessa o peixe e o lucro que este lhes der.
Acabando o peixe de um rio, eles simplesmente mudam com seus barcos e redes para um novo rio e assim sucessivamente. O que você acha da informação de que o Brasil é um dos poucos países do mundo que permite a pesca profissional em águas interiores (rios e represas)? Pois é, meu prezado Passarinho, isto é a verdade.




Acostumados com esse problema, diríamos a você que a solução para nosso meio ambiente estaria, principalmente, em três questões básicas: educação, legislação e fiscalização. Nós não temos nenhum desses itens básicos, o que por certo torna as coisas muito mais difíceis.  Nosso maior problema em termos de meio ambiente, parece incrível, mas é a verdade, chama-se IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente). Esse órgão, em se tratando de problemas de pesca, é omisso, inoperante, burocrático e infelizmente, em muitos casos, corrupto.
O IBAMA não erra por ação, mas sim por omissão. Eles de pesca, não entendem absolutamente nada, a não ser cobrar a taxa de licença amadora, que em 1989, de seis milhões e meio de pescadores, arrecadou a bagatela de US$270 milhões. Onde está esse dinheiro? Onde foi aplicado? São perguntas que não tem respostas, a não ser a certeza de que os recursos não foram aplicados na pesca amadora.
Com certeza, temos agora em você um pescador amador muito importante, já que será muito mais fácil transmitir ao senhor seu pai, Dr. Jarbas Passarinho, nosso digníssimo Ministro da Justiça, estes problemas existentes em um órgão federal. Essa luta prezado Passarinho, é uma luta nossa de muitos anos. Quem sabe agora vamos conseguir que, pelo menos, nos ouçam.
Contamos com você. Eu e mais alguns milhões de pescadores amadores brasileiros. Um forte abraço. Antonio Lopes da Silva.


NOTA DA REDAÇÃO OUTUBRO DE 2014: Pois é pescador. Logo depois da publicação desta carta na Aruanã, com recursos fornecidos pelo Jornal da Tarde, estivemos em Brasília. O Ministro da Justiça, Jarbas Passarinho, nos recebeu em uma audiência particular no ministério. Presentes além do ministro e eu, seu filho Passarinho Jr. e o fotografo do Jornal da Tarde da sucursal de Brasília. Confesso que pela primeira vez, consegui divisar uma luz no fim do túnel em nossa luta. Voltei para São Paulo onde, dias depois, recebi um telefonema do ministro Jarbas, dizendo ter marcado uma audiência com a atual presidente do IBAMA. Mais uma vez fui a Brasília e mais uma vez voltei com a mesma impressão de ter falado com as paredes do órgão.
Liguei ao Ministro Jarbas e disse-lhe do resultado da audiência, ou seja, nada. Nova audiência em Brasília e agora com o Secretário Nacional de Meio Ambiente José Lutzenberger. Agora sim, pela primeira vez ouvi de uma autoridade em meio ambiente, palavras nunca ditas a um jornalista. Reservo-me o direito de não transcrever aqui, o que me foi prometido, já que fiz essa promessa ao secretário Lutzenberger. Mas o que eu ouvi, por certo iria resolver todos os problemas da pesca do Brasil, tanto amadora como profissional. Só Deus sabe o que eu estava sentindo ao embarcar no vôo para São Paulo. Para finalizar: todos nós sabemos o que aconteceu ao governo Collor de Mello e consequentemente as promessas feitas a mim pelo Secretário José Lutzenberger.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

ESPECIAL: A MEDIDA DOS ANZÓIS














Qual é o tamanho certo de um anzol? A pergunta parece infantil, mas ao analisarmos vamos verificar um fato que, para ser mostrado, pede que voltemos ao século passado. Confira.






Essa pergunta sobre o tamanho certo de um anzol nos foi feita pelo nosso leitor Nelson do Reis. Com toda a razão, ele nos perguntou se, por exemplo, tivermos um só anzol e quisermos saber qual é o seu tamanho, ou se preferirem, tipo ou numeração, como podemos ter a certeza de que aquele anzol é o de numeração certa?

Anzóis 1665

Como não sabíamos a resposta correta, a não ser pela nossa prática em identificar um anzol, fomos até a Mustad, a fim de obter a resposta e elucidar a dúvida do leitor. E tivemos então uma surpresa, pois uma história muito antiga, e que, acreditamos, a maioria dos pescadores desconhecem, nos foi contada. 

Carapicu fisgado em anzol pequeno


Anzóis 92274

Vamos a ela. Segundo as informações, quem começou a fazer os anzóis de metal foram os ingleses. Esses anzóis, bastante rudimentares, eram os únicos que existiam, sendo mais resistentes do que aqueles usados na época, em sua maioria feitos de ossos ou de madeira. A Mustad que já fabricava cravos para ferraduras, resolveu então, por intermédio de seu presidente, fabricar anzóis, digamos, industrialmente. Mas que modelos, formatos e tamanhos seriam os ideais? A Mustad montou então uma equipe de “viajantes”, que saíram Europa afora, entrevistando pescadores e sabendo deles quais eram os formatos, tipos e tamanhos dos anzóis por eles preferidos. 

Anzóis antigos confeccionados em osso

Após alguns anos nessa pesquisa, os viajantes, retornando à fábrica, trouxeram cada um deles uma enorme quantidade de tipos, tamanhos e formatos usados por pescadores nas mais distintas e remotas regiões da Europa e para as mais diversas espécies de peixes. Com essas informações em mãos, e já com maquinas inventadas pelos engenheiros da Mustad, começou-se a fabricar então os modelos exigidos pelos pescadores.

Esses modelos, cujas matrizes originais eram de ossos ou de madeira, tiveram que ter uma sigla ou número que os identificassem na linha de fabricação, para que se soubesse então quais eram e para que região seriam enviados. Essa é a história que tínhamos para contar, e o detalhe é que não existe medida nenhuma que identifique o anzol, mas sim o tipo e a numeração que foi inventada pela Mustad. 

Anzol = segurança



Anzóis 92676

Assim sendo, hoje, se contarmos os modelos de anzóis fabricados pela Mustad, vamos chegar ao número aproximado de 628. Ao multiplicarmos esses modelos por formatos, cores, tamanhos, dureza e tipos, teremos então uma soma que ultrapassa 120 mil anzóis diferentes, incluindo também as chamadas garatéias.
Assim sendo, por exemplo, o modelo 92247 tamanho 7/0, é identificado apenas por esse modelo e tamanho, não tendo nada mais que o identifique a não ser o formato com que a própria fábrica, digamos, o “batizou”. Para tornar então mais fácil essa identificação, estamos publicando nesta matéria uma tabela de identificação em tamanho original onde, segundo a Mustad, estão os anzóis mais vendidos. Uma outra informação é que, na pesca profissional, os modelos e números são diferentes dos modelos usados na pesca amadora. 


Anzol chapinha

Usando um pouco de saudosismo, podemos citar alguns nomes que os pescadores mais antigos irão se lembrar: “mosquito”, “chapinha”, fundo de agulha”, tortinho etc. Só nos resta escrever o velho chavão: “em pesca estamos sempre aprendendo”.

NOTA DA REDAÇÃO: Queremos esclarecer ao nosso leitor que, o tamanho do formato da revista impressa, é diferente do tamanho que agora publicamos aqui no blog. Essa diferença chega a ser maior em até 2,5cm no blog, do que foi publicado na revista em outubro de 2000, dependendo do tipo do anzol. Por essa razão, solicitamos que relevem os tamanhos aqui publicados e de imediato pedimos desculpas. No restante da matéria, as informações até hoje, são perfeitas e corretas.
No entanto, caso o leitor queira visualizar os tamanhos exatos dos anzóis, no lado direito do blog, basta clicar no link da Mustad, para ver  então esse detalhe.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

DICIONÁRIO ARUANA - ANIMAIS DO BRASIL



      OUTROS BICHOS                                                              
                                                                                                                                                      


  









Jaburu, jabiru, tuiuiú, cauauã, jabiru-moleque, passarão, cabeça-de-pedra, maguari, joão grande, socoí, baguari... Serão vários nomes para designar a mesma espécie ou cada um deles refere-se a um pássaro diferente? Confira.






O jaburu (Mycteria mycteria) é uma ave de pernas longas e de corpo robusto, com cerca de 1,15m de altura. O bico, grosso na base e afilado na ponta, alcança 30cm de comprimento; o pescoço é nu, preto, destacando-se a parte inferior do papo, também nu, pela cor avermelhada. Sua plumagem é branca, ainda que não muito alva, e as pernas são pretas. Mais conhecido como “tuiuiú” na região do Pantanal mato-grossense, o jaburu pode lá ser observado em grandes bandos ao longo das praias, os quais formam verdadeiras nuvens vivas ao levantar vôo com a aproximação de alguma embarcação.
O ninho, construído sobre forquilhas de grossos galhos de árvores, é resistente e composto de ramagens entrelaçadas. Normalmente, a fêmea lá deposita apenas dois ovos, que são vigiados pelo casal, em pé à beira desse ninho, cujas avantajadas proporções são suficientes para acomodar um homem.
Só mesmo com o auxílio das denominações científicas é possível conseguir explicar a aplicação tão diversa que têm, de norte a sul do país, os vários nomes de nossas maiores aves pernaltas da ordem Ardeiformes.  O Mycteria mycteria é a ave que no sul é conhecida como “jabiru” e na Amazônia e no Pantanal, como já dissemos, recebe o nome de “tuiuiú”. Já o cauauã do norte é o “jabiru-moleque” ou “baguari” do sul, espécie assemelhada à “cegonha” europeia (também chamada assim entre nós), cujo nome científico é Euxenura maguari. O nome Tantalus americanos designa o “passarão” da região amazônica, que também é conhecido por lá como “cabeça-de-pedra” e no sul recebe o nome de “tuiuiú”. O “joão-grande” (ou socoí) do sul é “maguari” na Amazônia, cientificamente classificado como Ardea socoi. Os termos “maguari” e “baguari” não tem acepção restrita, e aplicando-se, conforme a região, a qualquer das aves acima mencionadas.

DICIONÁRIO ARUANÃ          -                 ANIMAIS DO BRASIL

ROTEIRO: O LAGO PRETO















Fantástico. Este é o termo exato para descrever este roteiro realizado pela equipe Aruanã no coração da Bacia Amazônica. Confira.






Encontro dos rios Tapajós e Amazonas
Saímos de São Paulo direto para Manaus, onde fizemos uma conexão para Santarém no Pará, onde terminamos a parte aérea da viagem. Lá, estavam nos esperando a bordo do barco “Aventureira”, o Bento e sua esposa Edna, proprietários dessa embarcação, a qual, a partir de agora, passa a fazer parte da agenda dos pescadores amadores brasileiros. Mais adiante falaremos especificamente desse assunto.
Entramos no barco e começamos a navegar, primeiro pelo rio Tapajós, indo logo a seguir para o rio Amazonas, onde pode-se presenciar um encontro de águas que, apesar de não ser tão famoso como o de Manaus, não é menor belo. Eram exatamente 16h00, quando navegávamos pelo rio Amazonas.


Tucunaré açu
Após trocarmos de roupa, passando para algo confortável como uma camiseta e bermudas, lembrávamos o clima de São Paulo, de onde saímos com 12 graus para os 35 do Pará. Em um confortável “deck” na parte superior do barco, íamos vendo as maravilhosas paisagens desse rio magnífico, que vai começando a deixar aparecer seus barrancos de terra, já que estamos no meio da vazante. Nosso destino é o rio Guajará, que recebeu o nome em virtude de uma planta homônima da família das Sapotáceas, muito comum nessa região. Esse rio, não muito conhecido, prometia boas pescarias de tucunarés, pois o Bento trazia notícias de grandes exemplares. 




Rio Guajará 
Com a chegada da noite, após um belo jantar, cada um de nós foi para seu camarote, onde o ar condicionado nos garantia uma boa noite de sono. Navegamos por aproximadamente 13 horas, quando então atingimos a foz do Guajará. Diferente do Amazonas, que tem águas normalmente barrentas, o Guajará as tem limpas e cristalinas.É um rio estreito para os padrões amazônicos, medindo aproximadamente entre 50 e 60 metros de largura. Sua mata ciliar é formada de pequenas árvores e muita vegetação aquática. Logo de cara, nos deparamos com uma verdadeira “ilha móvel”, que vinha descendo o rio, fazendo seu trajeto na vazante. 



Lago Preto



Essa ilha, com vegetação alta, à semelhança de pequenas árvores, ocupava quase a totalidade da largura do rio, o que fez com que a Aventureira encostasse bem na margem, para poder continuar seguindo seu rumo. Aqui e acolá, vê-se as casas da população ribeirinha, todas construídas no sistema de palafitas, e aqui vem a primeira observação interessante: existem lá currais suspensos, onde o gado, na maioria búfalos, passam a noite em local seco. Pela manhã, após a ordenha (o leite é de excelente qualidade), soltam esses búfalos, que pastam com a água do rio pela altura do pescoço. Mais tarde teríamos outra grande surpresa em relação aos búfalos, que acabaram agindo como se fossem nossos tratores, facilitando nosso acesso ao Lago Preto.


População ribeirinha
Após duas horas subindo o Guajará, atingimos nosso ponto de parada. Amarrada a uma árvore de grande porte, a Aventureira descansava seus motores.
De nossa parte, só restava preparar nosso material de pesca, já que o desjejum já havia acontecido enquanto navegávamos. Descemos dois barcos de alumínio na água, ambos equipados com motores de 8 HP, motor elétrico e um remo. Enquanto estávamos no barco, por mais que olhássemos, não conseguíamos avistar nenhum lago (esses são os melhores pontos de pesca para o tucunaré). Contávamos agora com a ajuda de um morador ribeirinho, velho conhecido do Bento, que iria nos servir de guia até o lago preto.



Rebanho de búfalos abrindo o caminho. Peão de canoa
A ansiedade e o desconhecimento da região às vezes nos faziam ter alguns pensamentos negativos, achando a princípio que estávamos entrando em uma “furada”, pois por mais que procurássemos, não víamos onde pescar. Perguntamos ao caboclo onde era o lago e ele apontou uma árvore alta, dizendo ser ali a entrada do lago, na margem esquerda do Guajará. Achamos melhor calar e esperar. Com o motor de popa funcionando, fomos nos encaminhando para direção da tal árvore alta. Lá chegando avistamos um pequeno curso de água de no máximo três metros de largura, mais parecendo um igarapé (semelhante aos corixos do Pantanal). Entramos nesse curso de água, quando então questionamos o caboclo acerca da duração desse trajeto.


Curral Suspenso
A resposta foi sincera e objetiva: aproximadamente uma hora. Pois bem, ao redor desse pequeno igarapé, só víamos vegetação aquática, por boas centenas de metros, dos dois lados. Como esse igarapé mantinha seu curso limpo e com boa passagem para os barcos? Pois bem, a resposta veio através dos “búfalos tratores”. Dias antes de nossa chegada, já avisados pelo Bento, os caboclos pegaram uma manada de búfalos e os fizeram percorrer esse caminho até o Lago Preto, ou seja, os animais foram abrindo, no meio da vegetação, uma verdadeira “rua” para que pudéssemos passar. Aliás, essa mesma “rua” servia também para eles mudarem os búfalos de pastagem. Em uma de nossas idas e vindas ao lago, presenciamos um peão tocando a boiada (“ou seria “búfalada”?) e ao passarmos por ele com nosso barco, pudemos observar o inusitado da cena. 





Pescando no Lago Preto
Enquanto o peão comum tradicionalmente utiliza cavalos para tocar o gado, esse usava uma canoa, remando ao lado dos búfalos, com todos aqueles mesmos gritos e gestual característicos para tanger o gado, que obedecia prontamente. Foi muito interessante essa cena, inédita aos nossos olhos.
Uma outra particularidade desse igarapé eram os constantes barulhos de peixe na superfície, que mais tarde soubemos ser ocasionados por pequenos tucunarés e aruanãs, presentes em quantidade muito grande. Nas “margens” centenas de patos “asa branca” alçavam vôo devido a nossa aproximação. Finalmente, atingimos o Lago Preto, estreito no início, abrindo-se mais adiante em uma largura de aproximadamente 1 quilômetro, por 2 quilômetros de extensão. Começamos a bater nossas iscas e logo pegamos dois tucunarés pequenos, de aproximadamente 500 gramas.


Um grande tucunaré
A água estava ainda um pouco alta, pois adentrava a mata das margens, de onde escutávamos constantemente batidas de tucunarés dando caça aos pequenos peixes. Nas margens, nenhum lugar tinha ainda nos chamado a atenção, pois acostumados que estamos a pescar de batida, queríamos algumas galhadas para facilitar a prática de nossa modalidade de pesca preferida. Andamos cerca de uma hora procurando um bom lugar, quando, no fim do lago, achamos o local que mais se aproximava de nossa intenção. Havia algumas galhadas pequenas e moitas de aguapé, com entradas livres de água no meio deles.



Piranha preta

Voracidade das piranhas
Agora, com o motor elétrico, começamos a bater esse local. Estávamos usando três varas, equipadas respectivamente com material de categoria leve, média e média/pesada. As linhas eram de bitolas 0.30, 0.35 e 0.40mm. Demos o primeiro lance com a linha 0.30 mm e uma isca de superfície Jumping Minnow para “fazer barulho” na água. A pegada que ocorreu imediatamente após o lance e o trabalho da isca, mesmo não tendo fisgado o peixe, nos fez encostar essa vara, pois era material leve demais para aquilo que vimos bater.
Outra vara, linha 0.40 mm e isca Red Fin 900. E começou a pescaria. O primeiro tucunaré dentro do barco pesava cerca de 5 kg e mostrava em seu dorso o estrago feito por uma piranha, que lhe havia levado um bom naco de carne, quase decepando totalmente o seu “cupim”, a mostrar que tratava-se de um tucunaré macho. 




Briga: as incríveis acrobacias do tucunaré
O sol, mais ou menos às 10h00 da manhã, nos dava a impressão de uma temperatura de 40 graus. Pescamos até meio dia e nessas duas horas fisgamos e perdemos cerca de dez tucunarés de bom tamanho. Eles atacavam as iscas, mas após uma breve briga conseguiam se soltar, como que por encanto. Pela nossa experiência, deduzimos que eles estavam desconfiados da ação da isca e que era por esse motivo que vinham e não chegavam a fisgar pra valer. Bem cedo, com certeza, seria bem melhor.
Insistentemente, procurávamos alguma praia ou barranco nas margens do lago, pois já se fazia necessário tomar um bom banho, tal era o calor do meio dia. 






Depois da fisgada, saltos de arrepiar
Como não havia, o jeito foi tomar banho dentro do próprio barco, com o auxílio de uma pequena vasilha. Tal cuidado se explicava pela ação no tucunaré fisgado, e ainda mais por estarmos em um lago fechado. Por certo a piranha que fizera aquele estrago era das pretas e bem grande. Após o banho, paramos à sombra de uma árvore alta, sempre dentro do barco. Fizemos um lanche, e dentro do mato ouvíamos as batidas constantes dos grandes tucunarés.
Pescamos das 16h00 até o escurecer. Perdemos mais alguns tucunarés grandes e fisgamos cerca de 8 peixes entre 2 e 3 quilos. Voltamos à Aventureira e ao conforto do ar condicionado. No dia seguinte, saímos as 6h00 da manha com destino ao mesmo lago. Quando chegamos ao local da pescaria do dia anterior, o sol mal havia saído e comentamos que o fuso de uma hora a menos não havia sido observado por nós, já que nossos relógios de pulso ainda marcavam a hora de São Paulo. 



Uma briga como poucas                                                                                
Começamos a pescar e o que se seguiu então confirmou tudo o que aprendemos com a experiência. Dificilmente um lance não provocava ação de peixe, e os grandes tucunarés começaram a ser fisgados. Não tínhamos como pesar os peixes, mas com certeza estavam entre 4 e 6 kg. Alguns eram tão grandes que uma mão fechada caberia inteira em sua boca. Houve um peixe que abocanhou uma Red Finn 900, e ela coube, atravessada e inteira, em sua boca.



A beleza do Tucunaré
Nossa fricção, regulada para a linha 0.40 mm, não era suficiente para brecar a corrida dos grandes tucunarés, e tivemos então que ajudar com o dedo polegar no carretel da Abu 5500, a frear essa corrida. As varas, após a fisgada, tinham que ser apoiadas na barriga para auxiliar o movimento de “alavanca” e seguras com as duas mãos, que uma mão só não era suficiente para aguentar. Escrevendo esta matéria, já na redação aqui em São Paulo e passados três dia da pescaria, ainda sinto a dor na barriga e observo a bolha formada no dedo polegar da mão esquerda.Pescamos até às duas horas da tarde, quando de comum acordo resolvemos parar.


Búfalos na paisagem; os “grandes”; depois da briga, a entrega
O resultado dessa pescaria ficou com cerca de 40 tucunarés (não tivemos a preocupação de contar) entre 3 e 6 kg, e isto sem contar algumas piranhas pretas, entre as quais havia exemplares com mais de 2 kg. Voltamos à Aventureira e passamos o resto do dia desfrutando o conforto desse belo barco. No dia seguinte, passeamos somente para conhecer outros pontos de pesca nesse mesmo rio e em pequenos rios vizinhos. À noite, voltamos para Santarém, e agora, com a correnteza do rio Amazonas contra, nosso percurso iria demorar 18 horas aproximadamente.
E mais: com certeza, após a briga com esses 40 grandes tucunarés, em se tratando de pescaria, estávamos satisfeitos.


Belos exemplares e tucunaré no puçá 
Afinal de contas, estávamos ali a trabalho e a nossa meta havia sido cumprida, pois este roteiro é inédito e o Lago Preto está ainda virgem, à espera da visita de nossos leitores para pescar, já que se situa dentro de uma propriedade particular onde só o pessoal da Aventureira tem autorização de acesso. Valeu a pena, já que há muito tempo não tínhamos uma ação de tucunarés tão intensa.
A propósito: a título de esclarecimento, é bom dizer que os grandes tucunarés fisgados por nós pertencem à espécie “açu” (amarelos), mas fisgamos também alguns das espécies “paca” e “pitanga”, estes um pouco menores do que os primeiros. Realmente foi um roteiro fantástico.


A Red Finn 900 na garganta.



Pôr do sol no Lago Preto


INFORMAÇÃO

O barco Aventureira, a partir desta edição da Aruanã, passa a ser a mais nova opção em turismo de pesca na região amazônica, mais precisamente no estado do Pará. Sueis proprietários, o casal Bento e Edna Machado, estão operando com sua agência particular de turismo de pesca e atendem solicitações de reservas pelo telefone (091)227-0975 e fax (091)227-0262.


Nossos anfitriões

O Aventureira
O Aventureira tem 19,8 metros de comprimento, é equipado com dois motores de 60 HP MWM, dois geradores de 125 HP, 4 camarotes com capacidade total para somente 4 ou 6 pescadores no máximo por pescaria, ar condicionado em todas as dependências do barco, radiocomunicação, TV, aparelho de som, solarium, radar, sonar e GPS. Finalmente, os custos dessa viagem são os mais baixos do Brasil em se tratando de pescarias em barcos-hotéis, conforme pode ser confirmado pelos telefones acima.


As cores de um tucunaré


NOTA DA REDAÇÃO:

Hoje, outubro de 2014, com certeza, praticamente estarão mudadas algumas informações contidas nesta matéria. Fizemos questão de transcrevê-la como foi publicada no original, tal foi a emoção ao escrevê-la pela primeira vez, ainda com a adrenalina da pescaria. Portanto, recomendamos que o leitor de nosso blog agora, caso queira ir até o Lago Preto, tenha a preocupação de confirmar se ainda há turismo para esse local.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

DICIONÁRIO ARUANA - ANIMAIS DO BRASIL - OURIÇO DO MAR

OUTROS BICHOS










Existem hoje cerca de 800 espécies de ouriços-do-mar catalogadas cientificamente. Vamos conhecer um pouco melhor este interessante animal.








O ouriço-do-mar, representante da classe dos equinodermos (grupo de animais que, entre outras características, têm o corpo revestido de placas calcárias formando um esqueleto de espinhos externos), é também conhecido como “pindá”, nome de origem indígena que significa anzol.
Seu corpo reveste-se de numerosos espinhos que, na maioria das vezes, são longos e agudos. Porém, algumas espécies apresentam um revestimento corporal muito frágil, o que gradualmente estabelece sua passagem para outra forma de equinodermo, a chamada “bolacha do mar”, que consiste em um disco achatado com espinhos não pungentes.
O habitat desses animais localiza-se nas águas mais profundas do mar. Porém, quando revolto, o mar os “lança” em direção à praia, o que constitui uma desagradável surpresa aos banhistas. Em certas praias, os ouriços do mar são encontrados em número tão elevado que fica quase impossível pisar na areia molhada sem se machucar.
O ouriço-do-mar locomove-se com auxilio de ventosas que, afixadas a um apoio sólido, possibilitam a esse animal que se arraste na direção escolhida.
Além das ventosas, os espinhos dessa espécie são também usados como auxiliares em sua locomoção. Os espinhos servem para a defesa do animal e, por serem móveis, com sua morte destacam-se facilmente do corpo.
O ouriço-do-mar é ovíparo e seus ovos consistem em um excelente material de estudo para os biólogos, proporcionando fabulosas descobertas a respeito da primeira fase da embriogênese (etapas compreendidas desde a formação do embrião até sua transformação em feto).




 DICIONÁRIO ARUANà     -    ANIMAIS DO BRASIL


segunda-feira, 6 de outubro de 2014

DICIONÁRIO ARUANÃ - PEIXES DO BRASIL - CARAPAU

















Apesar de não atingir porte avantajado, o carapau é um peixe marinho bastante apreciado pelos pescadores amadores de todo o litoral brasileiro.  Vamos conhecê-lo melhor.









Segundo afirma Rodolpho Von Ihering em sua obra “Dicionário dos Animais do Brasil”, o nome “carapau” englobaria uma denominação específica para os indivíduos jovens da espécie do chicharro (em muitas publicações, encontraremos referências a esse mesmo peixe com a grafia “xixarro”, sendo que optamos aqui pela transcrição com “ch” de acordo com o que estabelece o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa). O chicharro jovem que é chamado de carapau recebe a designação científica de Trachurus lathami e pertence à família Carangidae. Tem o dorso verde-claro e o resto do corpo em tom prateado, com uma mancha no opérculo. Pode atingir até 40 cm de comprimento total e 500g de peso. Essa espécie alimenta-se de pequenos peixes e ocorre desde o Atlântico Norte até a Argentina. Já o carapau propriamente dito é designado cientificamente de Eucinostomu gula e pertence à família Gerreidae. Tem também o dorso esverdeado e o ventre prateado, porém difere do chicharro jovem em termos de tamanho: é um peixe de pequeno porte, chegando a atingir no máximo 25cm de comprimento.
Trata-se de espécie de água salgada, sendo ambas encontradas em todo o litoral brasileiro. No que se refere à pesca, o carapau/chicharro será encontrada tanto em alto mar como em costões, praias e rios do litoral, e pode ser pescado durante todo o ano. O equipamento recomendado para sua captura consiste de vara com molinete ou carretilha de categoria leve, linha de bitola variando entre 0.25 e 0.35mm e anzóis números 2,4,6,8 e 10, sendo que as melhores iscas serão os filés de sardinha ou parati, além de pequenos peixes como betara, manjuba e peixe-rei. São sinônimos dessa espécie: “garapau”, “guaraçuma”, “araximbora” (no Espírito Santo), “palombeta” (na Bahia) e “xarelete”.
O carapau da família Guerreidae também é conhecido como “carapicu” e “carapicu-açu”. É encontrado em costões, praias e foz de rios, e também pode ser pescado durante o ano todo, com o mesmo material utilizado para o carapau/chicharro. Quanto às iscas, além dos filés de sardinha e parati, outras boas opções serão: camarão descascado, tatuíra, corrupto, sarnambi, saquaritá, baratinha-do-mar e pitu.


                                                                   


DICIONÁRIO ARUANÃ  -   PEIXES DO BRASIL