sexta-feira, 26 de junho de 2015

DICIONÁRIO ARUANÃ PEIXES DO BRASIL OLHO-DE-BOI
















Com a chegada dos meses mais frios (outono/inverno), começa a aparecer em nosso litoral um peixe que, além de ter carne de excelente sabor, tem, para quem pesca esportivamente, um grande interesse, tal é a “briga” que o olho-de-boi proporciona.








Conhecido cientificamente como Seriola lalandi, este peixe, da família dos Carangidae, que chega a atingir 2 metros de comprimento e mais de 50 quilos de peso, tem como cores predominantes um azul metálico no dorso, sendo o ventre esbranquiçado. Nos peixes mais jovens, ainda vemos nesta espécie uma listra amarela disposta longitudinalmente. Como recorde temos registro de um peixe pescado no Brasil com aproximadamente 32 quilos.
Sua característica principal é andar em cardumes, e sempre em águas profundas do litoral, ou então beirando pequenas ilhas ou os parcéis de pedras submersas. Como iscas para sua captura, podemos citar as sardinhas, paratis, cavalinhas e mais uma infinidade de outros pequenos peixes. Como dica, podemos dizer que o olho-de-boi costuma pegar tanto no fundo como na superfície. Neste caso, é recomendável que as iscas estejam vivas e a linha do pescador sem chumbada.
Na impossibilidade de se conseguir as citadas iscas vivas, podemos substituí-las, e com vantagem, pelas iscas artificiais.  Para escolhermos as melhores iscas artificiais, devemos levar em consideração o aspecto delas, que deve assemelhar o tanto quanto possível dos peixinhos naturais que habitam no local da pescaria e que são o alimento do peixe por nós pretendido. Assim, devemos imitar cores e tamanhos dos peixinhos. Usaremos então plugs com mais ou menos 20 centímetros de comprimento nas cores azul, preta, ou mesmo vermelha no dorso e barriga branca. Estas iscas dão ótimos resultados.
A modalidade de pesca nesse caso deverá ser a de corrico, que consiste em, com o auxílio do movimento do barco, puxar a linha com a isca na ponta, fazendo com que a isca se movimente para atrair a atenção dos peixes. Só não pescaremos no sistema de corrico no caso de, é lógico, avistarmos um cardume à superfície, quando deveremos parar o barco e passar a dar lances sobre os peixes. A velocidade de recolhimento da linha deverá ser lenta, mas o suficiente para fazer a isca artificial “nadar”. Essa mesma velocidade pode ser usada para a pesca na modalidade de corrico e, a distância ideal entre a isca e o barco deverá ser descoberta pelo pescador no momento da pescaria.
Aconselha-se começar o corrico com uma distância média por volta de 30 metros.
O material para a pesca do olho-de-boi deverá ser o de categoria média. Para encerrar, podemos dizer que, conforme a região do Brasil, o olho-de-boi também é conhecido pelos nomes de: arabaiana, arabaiana pintada, pintagola, tapireçá e urubaiana. 


quinta-feira, 25 de junho de 2015

DICIONÁRIO ARUANÃ ANIMAIS DO BRASIL - ONÇA









     ONÇA
                                  Felis onça                                                                     



Não se pode negar que a onça é um animal extremamente atraente, que nos fascina por sua ferocidade e mistério ao mesmo tempo que nos envolve com sua elegância e beleza.







Carnívoro da família dos Felídeos, também conhecido pelos nomes de “onça pintada” ou “jaguaretê”. É um pouco menor que seu parente asiático, o tigre, pois atinge 1,2 m de comprimento, sem a cauda, que mede 60 cm; a altura é de 85 cm. A cor é amarelo-ruiva, com 5 séries de rosetas pretas nos lados; em parte essas rosetas têm no centro uma pequena mancha preta; outras são irregulares; nas extremidades e principalmente na cara são substituídas por manchas de vários tamanhos; a cauda tem anéis pretos e a ponta também é preta. Os caçadores distinguem ainda duas variantes: “canguçu”, que é um pouco menor, de cabeça mais grossa e as manchas do corpo são menores e mais numerosas; a “onça preta” é de colorido escuro, quase preto, onde dificilmente se destacam os contornos das rosetas. Estas variantes, contudo, o zoólogo não consegue fixar em como subespécies. A onça tem todos os predicados para dominar e de fato impera no sertão. Trepa em árvores com a mesma facilidade com que atravessa os maiores rios; não há quem a iguale em saltos em altura e em distância e a tudo isto alia uma sagacidade e habilidade de emérita caçadora. Em geral contenta-se com porcos do mato, capivaras ou veados; mas se essa caça e pouca e houver gado na região, os criadores pagam largo tributo. É ao crepúsculo que a onça prefere sair à caça; depois de subjugada a vítima, ela carrega para um esconderijo, suga-lhe o sangue e, sobrando alguma carne, guarda a carcaça para o dia seguinte. Empanturrada, vai dormir em lugar seguro, entre caraguatás ou no espesso da capoeira. O touro é o único animal que ela respeita, mas, forçada à luta, ainda assim às vezes o vence. Também os porcos do mato, reunidos em vara, sabem resistir-lhe; por isso a onça espreita ocasiões oportunas em que possa surpreender os que estejam desgarrados. Quanto ao homem, a onça sabe que é perigoso medir forças com ele, e por isto são relativamente raros os acidentes, que não sejam de pura temeridade. Contam-se casos de onça que perderam o medo do homem e que daí por diante se aproveitam de todas as ocasiões para saborear novamente tal carne e, de preferência, de gente de cor. Em compensação, registraram-se casos autênticos de caçadores que, sem maiores acidentes, mataram elevado número de onças só a facão ou com lança. 






                                                                                                                   Foto Asa Roy

Diz Varhagem a respeito dessas caçadas: “Se estás seguro de que o valor não vos há de faltar, posso-vos dar a segurança que no combate a fera cairá a vossos pés, quer por meio de tiro feito bem à queima roupa, quer pela arma branca, se fordes munidos de uma faca e de uma forquilha; pois com a forquilha enchereis as goelas da fera quando vo-las abrir e depois de assim terdes assegurada, lhe caireis com a faca entre as espáduas. Para melhor se defender, poderá o caçador de onça levar consigo uma grande pele de carneiro, com lã acrescida, a qual no momento do combate usará em forma de manto, com que terá segurança de que a onça, saltando de improviso às costas ou aos braços, não o destroçará (Sic)”.
Em seu livro “Viagens e Caçadas”, o Comandante Pereira da Cunha narra um interessante caçada de onça: “Com a máxima cautela, os dois zagaieiros à frente, o Nélson entre eles, eu e o Gomes logo atrás, o camarada puxando a retaguarda, penetramos no acurizal. Um belo espetáculo oferecia-se aos olhos dos caçadores. A denodada cachorrada acuava um enorme macharrão que, entre sentando e em pé, com as costas protegidas por um acuri, a boca escancarada, donde pariam urros de guerra, as presas ameaçadoras a descoberto, os braços e as fortes garras saltadas, fazia frente aos valentes cães. O Nélson visou um pouco atrás do maxilar e um pouco acima, fazendo partir o tiro; o animal rolou por terra e a cachorrada avançou. Rápido, porém, uma nuvem de poeira levanta-se, os cães afastam-se e o macharrão, reerguendo-se procura apanhar um deles. Mas o nosso grupo também tinha avançado e a onça, deparando com ele, salta sobre um dos zagaieiros. A enorme força e o grande peso do animal enfurecido deveriam dominar o valente Coriango; este homem já havia morto muitas onças como zagaieiro e sua grande prática de muito lhe valeu neste momento crítico; assim, com calma e perícia, recebeu o macharrão na ponta da zagaia e por tal forma que o derrubou por terra. O outro zagaieiro cravou, por seu turno, a zagaia no peito do animal. A cachorrada, assanhada, mordia raivosa o terrível inimigo, que ainda assim ferido e subjugado, apanhou um dos cães e quase o mata; para salvá-lo o Gomes atirou na cabeça do macharrão, acabando por mata-lo (Sic)”.
O Jardim Zoológico de Nova York comprou certa vez uma onça fêmea, a fim de que fizesse companhia a um belo espécime paraguaio; durante alguns dias juntam-se as duas jaulas, para que assim os dois prisioneiros, ainda apartados, fizessem camaradagem. Mas bastou a nova companheira penetrar no compartimento do “Lopez”, para que este lhe saltasse à nuca e com a primeira dentada lhe triturasse duas vértebras; a morte da pobre noiva foi instantânea, como se lhe talhassem o pescoço a machado. Muitos caçadores afirmam que a onça imita o pio do macuco e com tal perfeição, que o caçador, enganado, se acerca da fera, atraído pelo pio com que esta lhe respondera. Outros caçadores, porém, o negam, nunca lhes tendo constado casos semelhantes, bem documentados. Frequentemente dá-se porém o inverso, pois é certo e aliás muito natural, que os felinos, bem como muitos outros carnívoros, procurem o macuco que ouviram piar e assim também acodem ao pio do caçador. Escondido no embaiá e piando macuco, não raro acontece ao caçador, quando embrenhado em matas em que haja onças, ser uma destas que se lhe apresente ao tiro de... chumbo fino! Característico é o estalido seco e repetido com que a onça se trai, ao mover-se nervosamente as orelhas, que então produzem como que o som abafado de castanholas. A área de destruição desta espécie estende-se do Texas ao norte da Patagônia. Depois de cento e poucos dias nascem os filhotes, nunca mais de três e que alcançam desenvolvimento completo no terceiro ano.
Bibliografia Consultada:
Dicionário dos Animais do Brasil
Rodolpho Von Ihering


sexta-feira, 19 de junho de 2015

DEPOIMENTO: UM PEIXE ESPECIAL.









Existem determinadas situações em nossa vida que, por mais que vivamos, jamais serão esquecidas. É o caso desse dourado. Com certeza, um peixe muito especial.






O peixe e o material de pesca

Rio Cabaçal, Mato Rio Grosso, Junho de 1998. Era uma matéria como todas as outras, que fazemos com muito amor e carinho para relatar aos nossos leitores. O rio Cabaçal não é muito conhecido, ou não era, já que agora ele pode ser conhecido através do nosso novo roteiro, publicado nesta edição. Já estávamos pescando no Cabaçal há quatro dias e já tínhamos fisgados vários dourados, com peso variando entre 4 e 8 quilos, o que chega a ser normal. Nosso material; uma vara Fenwick de 15 a 40 libras; uma carretilha Abu Ultra Cast 5600; linha monofilamento 0,40 milímetros; um líder de 40 centímetros de aço recoberto por nylon e um anzol Mustad referência 92247 e tamanho 7/0, e finalmente, isca viva de tuvira. Nós somos adeptos de iscas artificiais, e aliás fisgamos vários dourados com elas nessa pescaria. Só que no Cabaçal, mais precisamente nas galhadas do rio, em virtude das corredeiras serem muito fortes, optamos pela isca natural, já que, sem chumbo, conseguíamos que as iscas ficassem mais tempo junto às galhadas, o que não aconteciam com as artificiais, pois assim que dávamos os lances, ao trabalhar a isca, a correnteza da água tirava a isca imediatamente dos melhores lugares. O local onde fisgamos esse peixe pode ser facilmente descrito e encontrado nesse rio. Saindo-se do Cabaçal Rio’s Hotel, pega-se à esquerda do rio, e essa galhada é a ultima de uma série de galhadas antes de vir uma parte mansa do rio. Nesse trecho onde a galhada está, o rio tem aproximadamente 30 metros de largura, e para quem olha de cima para baixo da correnteza a própria água diz o trajeto, já que existem galhadas à direita, à esquerda e no meio do rio. Com o motor desligado, vamos descendo na base do remo e dando lances à frente, ao lado e no remanso de cada galhada. Deve-se bater todas as possibilidades da galhada. É o que chamamos de “passar o pente fino”.


Tabela elaborada pelo Prof. Manoel Pereira de Godoy


As galhadas do Cabaçal

O Cláudio, vulgo Pica-Pau, estava pilotando para mim. Passamos a galhada da direita e conseguimos dar dois lances antes que a correnteza nos tirasse dela. A galhada da direita era formada por uma árvore caída e estava mais para fora da margem, porém um de seus galhos aparecia quase junto à margem, formando uma espécie de corredor por onde a água descia mais calma. A essa altura, o barco já tinha descido uns dez metros e o corredor ficou então mais para cima de onde eu estava. Rapidamente, dei um novo lance bem no meio do corredor e, dando pequenos toques, fiz a tuvira vir quase à tona da água, já que, se deixasse-a afundar, o enrosco seria inevitável. A isca desceu mais ou menos dois metros no corredor e o peixe fisgou. A fisgada foi violenta e seguida de uma corrida rápida no sentido da correnteza. O peixe passou por trás do barco e foi para a outra margem, onde havia uma galhada de um pau só, que tinha mais de um metro para fora da água. Esse peixe entrou por baixo dessa galhada e parou. Eu sentia a linha roçando a galhada. No remo, o Cláudio não estava conseguindo segurar o barco na correnteza. Gritei para ele ligar o motor de popa, já que precisávamos ir até a galhada tentar tirar o peixe de lá. A sorte estava do meu lado, já que, com a partida e o ronco do motor, o peixe se assustou e saiu sozinho da galhada descendo correnteza abaixo. Na minha cabeça várias suposições, pois ainda não sabia que espécie de peixe era. Só dava para perceber que era enorme, já que a briga não estava fácil. Após sair da galhada, o peixe tirou mais ou menos uns 20 metros de linha da carretilha e parou na correnteza. Depois dessa parada, começou a vir em direção do barco e, a mais ou menos três metros de nós mostrou, em um pequeno salto, toda sua beleza, revelando-se para nós: um enorme dourado. Ficou brigando contra a correnteza e ao nosso lado. A vara de pesca, totalmente envergada.



O local da captura

 Por duas vezes, o dourado passou por baixo do barco, fazendo com que o Cláudio levantasse o motor para não enroscar a linha na rabeta. Deu mais um salto e ficou nadando quase na superfície ao nosso lado, mostrando agora todo seu tamanho. Trazer esse peixe para o barco foi outra proeza, já que o puçá que tínhamos era muito pequeno para o tamanho do peixe. Acabamos usando um anzol a título de bicheiro, já que eu precisava ter aquele peixe em minhas mãos principalmente para poder fotografá-lo, pois jamais em toda a minha vida havia visto um dourado daquele tamanho, aliás, um dourado fêmea, como constatamos depois. Após trazer o peixe para o barco, vimos uma coisa estranha, pois perto do ânus do peixe havia um espinho de algum peixe que essa fêmea havia comido, e ao expeli-lo ele saiu pelo reto e encravou na carne de seu corpo, mostrando inclusive uma pequena infecção, pois ao redor da farpa do espinho a carne do peixe apresentava uma mancha vermelha. Fomos até a margem de uma praia do rio, já que dentro do barco não havia condições de fazer boas fotos. Aqui um parêntesis, pois para fotografar demoramos cerca de dez minutos. O peixe estava completamente exausto, assim como eu. Soltá-lo, portanto, seria duvidoso, no que se refere à sua sobrevivência. Resolvi guardá-lo, para as tradicionais fotos na mão do pescador. Com certeza não fiquei com nenhum drama de consciência, haja visto que já soltei muitos outros peixes em minha vida, e nem o trouxe para São Paulo, presenteando meu amigo Roberto Braga com esse magnífico exemplar de Salminus maxilosus. Aqui na minha mesa, escrevendo essa matéria, consulto uma tabela feita para mim pelo Prof. Dr. Manoel Pereira de Godoy, já publicada anteriormente na Aruanã. Esse peixe, com seus 13,5 quilos e um metro de comprimento, tinha idade aproximada entre 20 e 21 anos. Realmente um peixe muito especial, que pode ser considerado, em se tratando de rios do Pantanal (não confundir com peixes do rio Paraná e outros) um verdadeiro recorde. E só me resta agradecer a Deus por ter me dado um peixe tão especial, que veio enriquecer a minha vida, que agora imortalizou para sempre esse dourado

sexta-feira, 12 de junho de 2015

DICIONÁRIO ARUANÃ PEIXES DO BRASIL LAMBARI




















Abundante e pequeno, o lambari é encontrado em todo o Brasil. Como isca ou como pesca, não há pescador que não lhe reconheça as qualidades.









Designado como lambaris existem aproximadamente 150 espécies, sendo mais conhecido o Astyanax fasciatus, prateado e de rabo vermelho. Todas as espécies são classificadas na família Characidae, sejam elas de rabo vermelho ou amarelo. Alimenta-se de algas, larvas e insetos e serve de alimento para diversas espécies predadoras, tais como o tucunaré, a traíra, o black bass, o dourado, o pintado, a piraputanga, a matrinchã, etc. Habita praticamente todos os cursos de água do Brasil e recebe diferentes nomes conforme a região onde se encontra. Lambari-bocarra, piabinha do rio, piaba, canivete, etc, são alguns dos seus sinônimos. As fêmeas são sempre maiores do que os machos, atingindo entre 13 e 14 cm de comprimento e 30 gramas de peso. Algumas espécies não ultrapassam 5 cm.
Proporcionam uma boa briga. Valente, só se entrega quando cansado. Uma particularidade deste peixe é que os de águas rápidas e rios brigam mais do que os de águas paradas, como por exemplo, lagos e represas. Para fisga-lo em quantidades, deve-se fazer uma boa ceva de quirela de milho ou de farelo. Suas iscas prediletas são o siriri (pescando na flor d’água), e uma infinidade de iscas brancas, tais como: macarrão, queijo, massa de farinha de trigo, larvas, insetos e a tradicional minhoca. Arisco, costuma levar do pescador uma boa quantidade de iscas antes de deixar-se fisgar.
Usado como isca, o lambari é um dos mais apreciados, pois não há um só peixe predador que recuse um anzol iscado com este peixinho. Sua carne é de excelente sabor, principalmente quando frito, no acompanhamento do aperitivo.

DICIONÁRIO ARUANÃ PEIXES DO BRASIL - LAMBARI






sábado, 6 de junho de 2015

O TEMPO E AS PESCARIAS - NO MAR OU ÁGUA DOCE.













Conheça um pouco mais sobre as frentes frias. Elas podem significar o fim de suas pescarias.





Nesta foto de nosso continente (obtida através do satélite Góes) pode-se notar o agrupamento de nuvens (manchas brancas) que forma uma frente fria


A s principais alterações na maior parte do Brasil, sobretudo nas regiões ao sul do paralelo que passa por Brasília, são provocadas pelas chamadas frentes frias. Portanto, seria útil ao pescador saber o que é exatamente uma frente fria (na verdade um termo técnico da meteorologia que se tornou muito popular no Brasil mas nem sempre é bem interpretado pelo leigo) e, principalmente, reconhecê-la pelos seus sinais característicos, como a transformação das nuvens, a mudança do vento e da temperatura, e as variações da pressão barométrica.  Isso aumentaria muito a sua capacidade natural para fazer prognósticos sobre o tempo. E conhecendo o mecanismo de funcionamento das frentes frias no Brasil, o pescador tem condições de aproveitar melhor – corrigindo-as ou atualizando-as – as previsões de tempo divulgadas pela imprensa, rádio e televisão. Entendendo o comportamento das frentes, o pescador poderá perceber, por exemplo, que o tempo que o jornal previa (há 24 horas atrás) para o Paraná, já está acontecendo em São Paulo, devido à aceleração do movimento de uma frente, o que altera completamente a situação meteorológica em sua área, quanto à temperatura, chuvas, etc.

Em termos gerais, frentes frias são vanguardas das massas de ar polar (isto é, grandes volumes de ar frio originado da região antártica) que periodicamente invadem o país, procedentes do sul do continente. Mais tecnicamente, a frente fria é uma superfície inclinada que separa uma massa de ar frio de um lado, de uma massa de ar quente do outro. O ar frio é mais denso e portanto mais pesado, e ao avançar sobre o ar quente, mais leve, penetra por baixo como uma cunha, levantando o ar quente. É esse levantamento que forma extensas camadas de nuvens, e estas por sua vez, causam as chuvas que acompanham as frentes frias.

Pinguins da região antártica                                                                                                                                                                    
                                                                                                                                                               
  A figura ilustra a estrutura (vista de perfil) de uma frente fria típica do Brasil, vendo-se abaixo, a representação utilizada nas chamadas cartas sinóticas, ou mapas do tempo. A idéia de se representar uma frente fria por uma linha dentada surgiu durante a 1ª Guerra Mundial (1914-18), por analogia com as frentes de combate, assim representadas nos jornais. De fato, a frente fria é a “linha de choque” entre o ar frio e o ar quente, que não se misturam devido à diferença de densidade. Quando o ar frio ganha terreno sobre o ar quente, a frente é dita fria; mas quando é o ar quente que leva a melhor, empurrando o ar frio para trás, aí a frente é uma frente quente. Há ainda um outro tipo de frente, a frente oclusa, que acontece quando duas cunhas de ar frio se fecham sobre uma massa de ar quente, uma de cada lado, cortando o contato deste com o solo.
Neste caso a massa quente é levantada em bloco, processo que gera chuvas muito extensas, geralmente com inundações e outros desastres no sul do Brasil. Justamente por ter uma temperatura mais alta, a massa de ar quente contém maior umidade, que vai se resfriando e condensando à medida que é obrigada a subir (são leis da física: quanto mais alto, mais baixa é a pressão, mais o gás se expande, e quanto mais se expande mais se resfria; quanto mais frio, menos água em estado de vapor pode existir no ar, e o vapor excedente passa ao estado líquido, formando nuvens e chuva). A teoria das frentes polares (de cujas oscilações provêm as frentes frias, quentes e oclusas) e das massas de ar (frias, quentes, tropicais e marítimas) forma a base da meteorologia moderna e foi criada pelos escandinavos na citada época da 1ª Grande Guerra.                                                                                                                                            

Representação (vista de perfil) de uma frente fria típica do Brasil.                                                                                                    
Ela veio tornar mais fácil e racional prever o deslocamento e as contínuas transformações dos centros de baixa e alta pressão, facilitando enormemente a previsão do tempo. Segundo esta teoria, as frentes se localizam necessariamente ao longo de um eixo de baixa pressão atmosférica, para o qual convergem os ventos: de um lado, os ventos quentes do norte, e de outro, os ventos frios do sul. A rotação da terra desvia esses ventos, fazendo com que no Hemisfério Sul, os ventos que precedem a frente soprem de noroeste, e os que seguem a frente soprem de sudeste. Aliás, é a rotação da Terra a responsável pela existência de frentes no planeta, na forma de rampa inclinada: se a Terra não girasse, o ar frio simplesmente se acomodaria horizontalmente sob o ar quente.

Sendo a frente uma zona (ou eixo) de baixa pressão, é natural que o nosso já conhecido barômetro acuse com antecedência a aproximação de uma frente fria, baixando. Mas para interpretar corretamente esta leitura é preciso primeiro descontar o efeito da “maré barométrica”, de que já falamos no número 1 da ARUANÃ. Depois que passa a frente, o barômetro sobe.

Iceberg “tabular” típico da região antártica.                                                                                                                                       
                                                          Estágios
Uma sequencia típica de nebulosidade e variações características de pressão, do vento e da temperatura marcam a aproximação e a passagem de uma frente fria através da região. Para reconhecer esta sequência o pescador deve habituar-se a observar seguidamente o céu, para que possa perceber a gradual transformação na nebulosidade, bem como a direção do vento. Uma vez ultrapassado o rio da Prata pela frente fria, a evolução do tempo em nossa região dá-se geralmente em três estágios:
a)Pré-frontal: ventos de NE girando a N e NW, forte aquecimento, por vezes desencadeando trovoadas. Aparecem finas nuvens cirros (constituídas de cristais de gelo, com aparência de filamentos ou véu leitoso, situadas a mais de 5.000 metros de altitude), que se elevam cada vez mais acima do horizonte no setor oeste e sudoeste.
b)Frontal: vento girando rapidamente de NW para W, SW, S e SE, persistindo mais longamente o de SE. Pancadas de chuvas contínuas ou intermitentes, durante 1 a 3 dias. A entrada eminente da frente é anunciada pelo aparecimento de nuvens do tipo altocúmulus, em forma de flocos ou glóbulos, entre 2.000 a 4.000 metros de altitude. Geralmente elas se transformam numa camada contínua de altoestratos, cobrindo todo o céu. A entrada da frente é caracterizada por uma camada de nuvens baixas (estratoscúmulos), rápida mudança do vento para sul, subida do barômetro, e queda da temperatura.
c)Pós-frontal: o vento gira de E para NE, o tempo limpa. Mas outra variante, podem voltar as chuvas, o céu cobrindo com camada de altoestratos, o que geralmente indica um recuo ou uma ondulação da frente.
Representação utilizada nas cartas sinóticas.                                                                                                                                    
                                                                                                                                                                                                                Como no noticiário dos jornais ainda se faz uma certa confusão entre frente fria e massa fria, o leitor deve se precaver para evitar erros de interpretação. Frente fria é apenas uma linha divisória entre o ar frio de um lado e o ar quente de outro. Esta divisão é apenas relativa, pois no verão a diferença de temperatura pode ser pequena, por exemplo, de 32 graus no lado do ar quente, para 27 graus do lado do ar “frio”. O ar mais frio costuma vir bem na retaguarda da frente fria, sob o corpo principal da massa de ar polar (que é também onde ocorrem as pressões atmosféricas mais altas, devidas à maior densidade do ar frio) que segue a frente fria. O maior frio em São Paulo, por exemplo, pode vir bem depois que a frente fria já passou e já se encontra na Bahia, enquanto nosso Estado fica bem no meio da massa de ar polar, onde tanto o frio é maior, como a pressão é mais alta, propiciando tempo firme e seco. É claro que nestas condições sob o sol tropical, a massa polar não resiste por muito tempo, transformando-se, pelo aquecimento, em massa tropical. Esta por sua vez fará frente à nova massa polar, repetindo-se o ciclo que caracteriza a evolução do tempo na maior parte do Brasil.



NOTA DA REDAÇÃO: O Prof. Rubens Junqueira Villela, foi o primeiro brasileiro a pisar em solo antártico, em 1961. Fez parte das expedições brasileiras, como meteorologista na implantação da estação polar brasileira, a bordo do navio Professor Besnard (navio oceanográfico da USP) e, na inauguração da Base Comandante Ferraz em 1984.
Eu tive a honra de conviver durante muitos anos na redação do jornal O Estado de São Paulo, onde o Prof. Villela era meteorologista do Estadão e eu colunista de pesca do Jornal da Tarde. Muito insisti com o professor, para tentarmos achar alguma relação entre a meteorologia e a pesca esportiva. Finalmente (após comparação de datas) cheguei à conclusão de que a pressão atmosférica influencia e muito a pesca amadora/esportiva. Em minha coluna no JT eu publicava a princípio um quadro com a previsão do tempo para o fim de semana. Depois da conclusão que aludi acima, comecei a publicar também a pressão atmosférica no mesmo quadro. Em matérias posteriores e em diversas pescarias, tenho a opinião própria de que, com pressão abaixo de 1010 milibares, a pesca é menos produtiva. Acima dessa pressão costumo ter sucesso em minhas pescarias. Antonio Lopes da Silva.
PS: Para saber mais sobre o Prof. Villela, consulte o Google.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

HUMOR: A TRANQUILIDADE DE UMA PESCARIA NA PRAIA.






Segundo o Zé Lambari, esta é a modalidade de pesca mais tranquila que existe, principalmente se for feita na temporada de férias e em feriados prolongados.