quinta-feira, 27 de novembro de 2014

PANTANAL: SEMPRE AVENTURA - 810 KMS PESCANDO E ACAMPANDO





















Partimos de São Paulo eu e o Kenji Honda, nosso fotógrafo. De Corumbá, o Orozimbo Decenzo, dono do barco-hotel Cabexy e já velho companheiro de aventuras. Com ele vieram o Ney Silva, presidente da Colônia de Pescadores Artesanais de Corumbá, que seria nosso piloteiro, e o Antônio O. Araújo, que faria as vezes de cozinheiro nesta viagem.



Marcamos encontro em Coxim (MS) por volta das 20:00 h, após termos saído de carro de São Paulo às 0.500 h, via Três Lagoas. Nossos companheiros já estavam instalados no hotel marcado para o encontro. No dia seguinte, 9 de junho, sairíamos às 6.00 h para o rio Correntes. Foram feitas algumas compras de ultima hora, como gelo e alguns gêneros alimentícios e seguimos estrada acima em direção a Rondonópolis. De Coxim até o porto de embarque são aproximadamente 120 km, e como referência podemos citar o posto Alto Piqueri, onde compramos o combustível para a primeira parte da viagem. Um pouco mais à frente do posto há uma placa indicando “Estrada Velha”, meio escondida na vegetação da estrada de asfalto.
Uma outra boa referência é a Fazenda Horizonte, que margeia a tal Estrada Velha. Entramos à esquerda e fomos seguindo em meio à citada fazenda. Para chegar à beira do rio, a “dica” é o Pesqueiro do Bispo, local onde se pode descer os barcos e a carga com facilidade. Nessa estrada de terra, passa-se por três ou quatro porteiras. Finalmente chegamos às margens do rio Correntes, que já mostra parte de sua beleza. Mal sabíamos nós o que viria de extasiante em termos de beleza natural logo à frente. Barcos n’água, motores de popa colocados e carga distribuída nos dois barcos modelo Karib 500 (calculamos mais ou menos 800 kg em cada um) e, exatamente às 10:30 h iniciamos a descida para a aventura. 


O Correntes é um rio de relativa correnteza, com muitas galhadas no meio, onde podíamos avistar lagoas boas para os tucunarés. O normal seria navegarmos até as 16:00 h, mas diante de tantos locais bons para a pesca, resolvemos acampar às 15:00 h. Este primeiro acampamento foi por nós denominado “Porto da Araras”, tal era a quantidade de aves dessa espécie que havia em nosso redor. São araras azuis e amarelas, muitas delas com ninhos e filhotes nas pontas dos buritis secos. São centenas de casais criando os filhotes à custa dos coquinhos de buritis, que constituem a grande parte das árvores que compõem a vegetação do Correntes.
Acampamento montado, sendo uma barraca grande para a cozinha e cinco menores, uma para cada um. Ficou bonito esse acampamento. Com um dos barcos livres de toda a tralha, convido o Ney para dar uma “olhada” em uma baía que fica a menos de 300 metros do acampamento. Logicamente, levei meu material de pesca: uma vara Fenwick e uma carretilha Daiwa TDH I com linha 0.30 mm e isca Bomber 15.





Primeiro lance, duas “trabalhadas” e lá se foi minha isca na boca de um tucunaré do qual nem cheguei a ver o tamanho. Montei um novo snap, e agora uma isca Rebel de 13 cm. Alguns arremessos e depois de meia hora, seis tucunarés de bom tamanho já estavam no viveiro do barco.  Voltamos ao acampamento, fizemos filés desses peixes e foram eles a nossa janta.
Uma curiosidade: tanto o Zimbo como o Ney e o Antônio nunca havia visto ou comido o tucunaré do Pantanal. Adoraram o peixe. A noite foi chegando e nosso horário de ir dormir era por volta das 21.00 h. Pouco mosquito e um pouco de frio (estranhamente) por volta das 23:00 h tornava o sono muito mais agradável.
A alvorada da equipe aconteceu às 5:30 h, e a essa altura o Antônio já estava com o café pronto. Aliás, isso aconteceu durante toda a viagem, sendo que a “bóia” feita por ele também era de primeira, o que lhe valeu o título de “Cozinheiro Nota 10”.
Já com o sol totalmente descoberto, fomos pesquisar outras baías, tanto para cima como para baixo do acampamento, só que desta vez em quatro no barco. Eu pescando, o Ney pilotando, o Zimbo para ver e o Kenji para fotografar. Pois bem, em todas as baías fisgamos tucunarés, chegando mesmo a fisgar dois peixes de uma só vez na isca artificial. Pegávamos e soltávamos. Ficamos o dia inteiro, só interrompendo para o almoço essa “vida dura”. 


À nossa volta, continuávamos a ver os ninhos das araras. Sabendo do “pega e solta”, o Antônio nos pediu que trouxéssemos alguns peixes para filetar e guardar, já que lá para baixo (São Lourenço e Paraguai), não haveria tucunarés.
Saímos novamente e fisgamos dez tucunarés de tamanho variando entre 2 e 3 kg. Filetamos todos eles. Jantamos e desmontamos as tralhas, já que no dia seguinte iríamos viajar. Arrumamos tudo nos barcos e só ficaram armadas as barracas para dormir. Noite tranquila, e no dia seguinte foi só esperar as barracas secarem para tudo ser desmontado, lixo queimado e enterrado, e o motor roncando para mais uma etapa. Eram 9:00 h.

Nossa intenção agora é chegar à Fazenda Mangueiral, onde o administrador Moacir é nosso amigo. Navegamos até as 15:00h. Durante o trajeto avistamos várias fazendas, mata de buritis e mais araras. Ao longe avistamos uma serra e de repente, a vegetação muda completamente, passando a uma mata mais cerrada. O rio estreita bastante e a correnteza é bem mais forte. Com certeza já estávamos no rio Piquiri, mas não conseguíamos ver de onde havíamos saído do Correntes para o Piqueri. 



Aqui um aviso aos futuros aventureiros: existem duas bifurcações que deixam dúvidas. O certo é ir sempre pela direita. A serra que avistávamos ao longe agora está ao nosso lado. Passamos por sua “ponta” e fomos rio abaixo. Sumiram as araras e os buritis. Em compensação começaram a aparecer as primeiras capivara e jacarés.
Avistamos também tuiuiús, patões, colhereiros, cabeças-secas e baguaris. Nas árvores bandos de bugios.
Avistamos uma sede de fazenda e resolvemos perguntar se a Mangueiral ainda estava muito longe. Após sermos informados de que precisaríamos de sete horas de navegação, resolvemos acampar, pois já passava das 15:00 h.
Curiosamente, escolhemos a ponta de uma ilha e depois descobríamos que estávamos na confluência do rio do Peixe de Couro, que é onde o rio Itiquira deságua, poucos quilômetros acima. Montamos apenas as barracas de dormir e durante o resto da tarde divertimo-nos com as pequenas varinhas de isca. E o que essas varinhas telescópicas sofreram não está escrito, já que no meio de sauás e sardinhas de água-doce, vez por outra fisgávamos piraputangas e piaus-três-pintas, alguns com mais de 1 kg. Denominamos esse acampamento de Porto das Capivaras, e mais adiante o leitor verá por que.


Não tiramos a carga total dos barcos, já que nossa intenção era acampar no rio São Lourenço, mas com meia carga mesmo saímos para tentar um pacu para o jantar. Nada feito. O jeito então foi comer piraputanga, piau e filés de tucunaré (aqueles).
A noite chega, e antes do jantar é hora do banho de rio, que é feito a base de canequinha, já que a margem onde estamos tem galhadas e o rio é muito fundo. O ultimo a tomar banho foi o Zimbo, que esqueceu o sabonete no barranco do rio. No dia seguinte, antes de partirmos, ele se lembrou e voltou lá para apanhar o tal sabonete, que não estava no local. Mas havia muito rastro de capivara em torno do local do banho. Possivelmente uma capivara comera o sabonete. Foi aquela gozação, principalmente quanto ao fato da capivara estar soltando bolinhas de sabão pelo rio e que ninguém ia emprestar sabonete ao Zimbo até o final da viagem.
Partimos logo cedo para a Fazenda Mangueiral. A propósito, eu ia me esquecendo: após a primeira noite acampados, ainda no Correntes, resolvemos isolar a barraca do Kenji das do resto do pessoal. Motivo? Seu ronco assustava até qualquer onça que aparecesse nas imediações. E foi assim até o final da viagem. Esperávamos o Kenji montar a barra e então montávamos as nossas, o mais longe possível.


Mais uma vez atenção, futuros aventureiros: após a bifurcação do rio do Peixe de Couro, meia hora abaixo há outra bifurcação, e agora o caminho certo é para a esquerda. Muitas outras bifurcações apareceriam, mas todas são margeando ilhas, o que acaba dando na mesma.
Agora a paisagem é bastante pantaneira, mas as lagoas marginais continuam a aparecer. Podem ser contadas às centenas, desde o início de nossa viagem, no Correntes. O tucunaré está presente em todas, não só no Correntes, mas também no Piqueri, assim como no Peixe de Couro e também no Itiquira.
A novidade do percurso ficou por conta de uma anta na margem, que conseguimos fotografar. Há muitos anos não víamos uma anta no Pantanal.  Essa seria a maior novidade, não fosse o que aconteceu na hora de reabastecer os tanques dos motores. Eu precisava de uma foto do abastecimento que é feito no meio do rio e com os dois barcos juntos. Pedi ao Kenji que fizesse essa foto, já que estava em posição melhor com relação ao sol. Ele tirou sua máquina e começou a procurar a melhor posição e o melhor foco. Só que focou tanto que perdeu o equilíbrio e acabou caindo no rio. O mais engraçado de tudo é que perdemos o japonês de vista no meio da água, menos seu braço direito, que ficou levantado para fora d’água a fim de não molhar a máquina. “Profissional nô?”. Depois dessa ele passou a câmera para o Antônio e então foi a minha vez de pegar a minha máquina rapidamente para não perder o flagrante dele ali, todo molhado. Foi uma risada só e serviu de gozação pelo resto da viagem.  Eu mesmo, quando lembrava da cena, ria sozinho.


Chegamos à Fazenda Mangueiral às 16:00 h.
O Moacir não estava, já que havia levado sua esposa para Cuiabá, prestes a dar à luz. No entanto seus pais, Dona Raquel e Sr. Euclides nos receberam maravilhosamente bem e nos serviram arroz carreteiro, feijão e salada fresca.
Foi um banquete.
Dormimos nas dependências da fazenda, e aconteceu outro fato curioso: mais ou menos às 21:30 h começamos a escutar um barulho na água do Piqueri. Eu e o Zimbo nos levantamos e fomos ver o que era. Um espetáculo maravilhoso: uma piracema de curimbatás que pegava o rio de margem a margem. Quando iluminávamos a água com as lanternas, o rio estava cor de prata. Vez por outra, um estouro de peixes como o pintado e o jaú fazia com que os curimbatás saltassem, prateando ainda mais o rio. Essa piracema durou até as quatro horas da manhã, segundo nos contou o Sr. Euclides, que se levantara nesse horário. 


Dia 13 de junho, saímos para Porto Jofre às 07:30h. Em uma praia topamos com uma ilha de areia, onde com certeza havia mais de 200 jacarés enormes. Fomos devagar e ainda conseguimos tirar boas fotos. Chegamos a Porto Jofre às 10:30 h. Até aqui gastamos 390 litros de gasolina nos dois barcos, somando percurso e eventuais pescarias.
Em Porto Jofre fizemos novo abastecimento de gasolina no Posto do Jamil, fizemos compras e continuamos viagem. Eram 11:30 h quando chegamos à Pousada Santa Maria, do Wilson Feitosa, onde “filamos” um bom almoço e aproveitamos para falar por rádio com São Paulo, a fim de dar notícias. Segundo nossos cálculos, estávamos exatamente na metade do caminho. Depois do almoço, já no rio São Lourenço, descemos mais três horas, até finalmente chegar à foz do rio Negrinho. O local escolhido para acampar foi o mesmo que utilizamos quando da viagem que fizemos de Cuiabá a Corumbá, já relatada em edição anterior da Aruanã. Até montar o acampamento, agora completo, a noite já havia chegado rápido e não deu tempo para mais nada; foi só tomar banho, jantar e dormir.
No dia seguinte bem cedo, após o café, montamos nossas varas de bambu e fomos atrás do pacu no rio Negrinho. A água do rio, que normalmente é cristalina, estava turva devido à chuva, que não chegou a nos atingir, mas que ouvimos ao longe. Mesmo assim conseguimos fisgar vários pacus, cacharas e palmitos, além, é lógico, das tradicionais piranhas. Na foz, onde anos atrás pegamos vários dourados, só conseguimos fisgar cachorras. Após o almoço, nossa diversão ficou por conta das varinhas de isca, fisgando pequenos peixes. Deparamo-nos com um cardume de pacu-peba: era só jogar e fisgar. O pequeno pacu-peba briga muito e bem, e quando já esta se entregando, costuma vir à tona da água e dar “rabadas”, agitando-se e fazendo muito barulho. 



Logo abaixo do acampamento onde estávamos havia uma galhada com alguns camalotes enroscados. Atraído pelo barulho que os pacus faziam, veio até bem perto de nós um jacaré, na tentativa de abocanhar algum peixe. Apelidamos o bicho de “Bebeto”. Bebeto ficava a menos de um metro de nossas mãos. Começamos a jogar-lhe alguns peixes, que ele pegava e ia comer lá no meio da galhada. Não demorou muito e outro jacaré chegou para ser servido também. Esse era enorme, e recebeu o contraditório apelido de “Romário”. Enquanto jogávamos peixes para um e outro, não é que o Romário deu uma surra no Bebeto? Este ultimo acabou fugindo, deixando o banquete só para o grandão.
Ficamos dois dias nesse acampamento, sendo que todo esse tempo o Romário foi nosso companheiro constante. Quando chegávamos de alguma pescaria e não o víamos por perto, era só fazer barulho na água com as mãos que ele aparecia. Esse ficou sendo o “acampamento do jacaré”.
Outro fato curioso foi a aparição de um bando de biguás, que lá pousaram durante a noite e, exatamente às 04:00 h começaram a cantar (?), só que em vez de canto, aquilo parecia barulho de porco roncando. Todo mundo acordou, e vez por outra era possível ouvir um palavrão vindo de alguma barraca em louvor à cantoria dos biguás. 


Dia 15 de junho. Havíamos pego várias sardinhas e sauás para tentar os pintados. Subimos o Negrinho até um bom pesqueiro. Na margem, perto de nós praias de areia repletas de jacarés. Conseguimos fisgar cacharas e palmitos, até que as piranhas acabaram com nossas iscas. Por brincadeira, jogamos uma piranha na praia.
Veio um jacaré e a abocanhou. Ele a pegou de lado, ficando com o peixe atravessado na boca. Depois, deu duas ou três abocanhadas até virar a cabeça da piranha para a frente. Então mastigou fazendo barulho e só depois a engoliu. O barulho da mastigação atraiu outros jacarés. Até acabarem as iscas, várias piranhas foram servidas aos jacarés. Mórbida “vingança” a nossa.
No meio do rio víamos os dourados batendo nas iscas chamadas “brancas” (pequenos peixes). Cansei o braço de tanto arremessar os mais variados tipo de isca e nenhum fisgou. A água do rio ficou mais turva ainda. Voltamos para a ultima noite no Porto dos Jacarés, logicamente sem esquecer de levar duas piranhas para nosso amigo Romário.
Novo dia: 16 de junho. Desmontamos o acampamento e descemos o rio São Lourenço às 06:30 h. Chegamos à barra do rio Paraguai às 10:30 h. Nesse ponto a paisagem é muito bonita, já que se avista a Serra do Amolar, que é uma cadeia de montanhas, praticamente rochosas. A água do Paraguai está bem limpa.  Continuamos a descer o rio, agora em uma região bastante conhecida nossa.  Às 13:45 h, passamos à boca do Paraguai Mirim. As noticias são de que o peixe está lá, havendo maior incidência de pacus e pintados. Continuamos nossa viagem, e exatamente às 14:00 h paramos para aquele que seria nosso último acampamento dessa viagem. O local chama-se Ilha Verde. Nosso acampamento foi montado em um piquete da fazenda de mesmo nome, e agora estávamos acampados sobre grama. Perto de nós havia uma grande árvore, muito frondosa, conhecida na região como “morcegueira”. Graças a ela, resolvemos que não seria preciso montar a barraca-cozinha.


Descarregamos os barcos e, depois de tudo arrumado, só nos resta partir para a famosa “vida dura”. Montei um equipamento para dourado, composto de uma carretilha Abu 6500, uma vara Zebco modelo QXLC 60H, linha 0,40mm, um encastoado com 5 metros de aço flexível e iscas grandes, tipo Red Fin, Rapala e Bomber. Descendo a Ilha Verde, há um corixo de água entrando no campo (este é um detalhe importante na época das cheias) e formam-se corredeiras. No primeiro lance já fisguei um dourado de bom tamanho. Outros três se sucederam, mas escaparam. Fomos até a entrada da Baía vermelha, que fica próxima dali, mas lá não havia corredeiras ainda, portanto os dourados não estavam presentes.
O pôr do sol nos dá o sinal de que é hora de voltar para o acampamento, tomar um bom banho de rio, jantar e ir para a cama, já que o corpo começa a demonstrar sinais do cansaço da viagem.
Amanhece um novo dia, e logo cedo retornamos aos dourados. Fisgamos um, que foi solto, e mais outros quatro vieram atrás da isca, mas não fisgaram. Há muita comida para eles no rio. A conselho do Ney, descemos um pouco mais pelo rio e, entrando em um pequeno corixo, descobrimos mais uma pequena corredeira. Mais um dourado fisgado, este de pequeno tamanho (o limite para a captura dessa espécie é de 55 cm), que foi solto. Percebi a presença de mais peixes, que perseguiam a isca e não fisgavam. O tempo passou rápido e voltamos ao acampamento.

Após um bom almoço, saímos novamente à tarde, os quatro em um só barco, para tentar os pacus. Achamos um local no rio Paraguai onde a água está saindo do campo (detalhe importante para a pesca do pacu) e mais: sinais da natureza, como capim comido e folhas de camalotes cortadas, que nos dão a certeza de que há pacus nas imediações. 


Montamos as varas de bambu e não deu outra: pescando com isca de tucum, na modalidade de batida, fisgamos quatro pacus de bom tamanho. Numa pequena corredeira do rio, um lance e mais um dourado. Ficamos com o dourado e um dos pacus, que seriam nosso jantar nesta ultima noite na Ilha Verde. O sabor de peixe fresco, assado na grelha, é infinitamente melhor do que o peixe congelado... Foi um banquete digno de pescadores amadores. No céu, a lua está em quarto crescente e a noite está bastante clara.
À frente do acampamento ouvimos peixes batendo nos lambaris e sauás. Devem ser pintados e jurupocas, mas ninguém se anima para tentar fisgá-los, também pelo motivo de já estarmos no fim de mais essa maravilhosa aventura, e não necessitarmos de alimentação. E depois, trazer peixe para que? No mínimo é criar problemas nas barreiras e candidatar-se a ser “achacado” pela cobrança de ICMS, que vergonhosamente continua sendo recolhido dos pescadores amadores. Basta avistar um carro de pescadores amadores para que os fiscais da Fazenda de Mato Grosso do Sul, desçam como urubus sobre carniça, cobrando um imposto que, além de ser ilegal, repito: é vergonhoso.
Dia 18 de junho, é a hora de desmontar tudo e voltar para a última etapa, rumo a Corumbá, ponto final de nossa aventura. Saímos às 8:45 h e exatamente às 12:25 h desembarcamos no porto em Corumbá. Graças a Deus, tudo em ordem, e mais uma vez, missão cumprida.


Embora já acostumados a essa tipo de aventura, podemos afirmar que essa foi uma das regiões (principalmente o rio Correntes e o Piqueri) mais bonitas que já vimos em todo o Pantanal. O consumo de gasolina de Porto Jofre até Corumbá, somados percurso e pescarias, foi de 325 litros.
Queremos aqui agradecer à Metalglass, que nos forneceu os dois barcos Karib 500, à OMC do Brasil, que forneceu os motores de 25 HP (sendo um deles Johnson e o outro Evinrude), à Colemam, que nos ofereceu as seis barracas usadas no acampamento e à Motul, que forneceu o óleo dois tempos. Usamos o óleo 300, que é biodegradável.
Agradecemos também a Pousada Santa Maria pelo almoço e ao pessoal da Fazenda Mangueiral pelo jantar e pela pousada. Tudo isso sem esquecer de agradecer a todos aqueles personagens, em sua maioria anônimos, que encontramos pelo percurso afora, os quais, sabendo sermos nós da Aruanã, mostraram-se amigos e ofereceram toda a ajuda de que pudéssemos precisar. Obrigado a todos.
Durante mais esta aventura no Pantanal percorremos um total de 810 quilômetros, desde a partida no rio Correntes até a chegada ao porto em Corumbá. 


E aqui um recado aos futuros aventureiros: para realizar com sucesso uma viagem como essa, basta ter boa vontade, organização e bom senso. É necessário levar toda a tralha de cozinha, como panelas, pratos, vasilhas plásticas, uma boa tábua de carne, baldes para água, etc. Cadeiras de alumínio, fogão a gás, geladeiras de isopor (levamos três de 120 litros cada), gerador pequeno ou lampiões, facão, enxada (para enterrar o lixo e limpar o acampamento), galões para gasolina, cordas e material de primeiros socorros também são itens fundamentais. Evidente está que nem é preciso falar da câmera fotográfica e do material de pesca. Aliás, é útil acrescentar a este ultimo algumas varas de bambu para a pesca do pacu e pequenas varas para fisgar iscas. Bons barcos, motores e barracas contribuem e completam o sucesso de qualquer aventura.
Mais uma vez, podemos dizer com orgulho que só a Aruanã realiza este tipo de roteiro para o pescador amador. É mais um percurso, agora totalmente desvendado, que se oferece como opção para sua próxima pescaria. É o tal negócio: quem realmente sabe pode fazer, e não precisa pedir a outros que o façam ou escrevam por ele.
Um último e especial agradecimento aos companheiros de viagem Orozimbo, Ney, Antônio e Kenji. Por certo, foram eles peças fundamentais na aventura. Obrigado a todos. E até a próxima.


NOTA DA REDAÇÃO: Mais de vinte anos separam essa aventura do que agora publico no blog em novembro de 2014. E confesso, eram essas aventuras, as matérias que eu mais gostava de fazer, pela simplicidade e pelos locais onde andávamos ainda virgens na época. 

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

FOLCLORE BRASILEIRO - O GAVIÃO E A RAPOSA.












 Nesta lenda, cuja origem é do norte do Brasil, podemos notar que o conteúdo transmite um bom exemplo de como proceder corretamente na resolução de pequenas causas.






O gavião, sentindo fome, saiu à procura de alguma coisa em que pudesse por o bico. Não estava num dia de sorte. Já fazia bastante tempo que voava e não encontrara nada. Onde mais ia procurar comida? Quando começou a se sentir desanimado, avistou lá embaixo, na estrada, um objeto redondo que o fez descer mais depressa que pôde. Era um queijo. Ele enfiou-lhe as poderosas garras e levantou vôo, o que não foi fácil, por causa do peso.
Também andava por perto, da mesma forma à procura de comida, a pobre raposa, que não punha nada no estômago não sabia desde quando. Ao chegar ao local aonde o queijo havia estado, a raposa sentiu-lhe o cheiro e pôs-se a procura-lo desesperadamente.
Lá no alto, o gavião subia com esforço, carregando aquela preciosidade. De repente, o queijo escapou-lhe das garras e veio cair perto da raposa, que ficou muito espantada. Aquilo havia caído do céu. Que sorte! Se ela tivesse olhado para cima, teria visto o gavião descendo que nem uma flecha. Mal a raposa colocara as patas sobre o queijo, o gavião pousou perto dela:
- Dê-me o queijo, que ele é meu! – gritou raivosamente.
- Seu? Por quê? Acabo de recebê-lo de céu neste instante e não vou entregá-lo a ninguém. Era só o que faltava – respondeu a raposa, segurando ainda mais o queijo.
O gavião ficou louco da vida:
- Caiu do céu coisa nenhuma! Escapou das minhas garras quando eu estava voando. Portanto, dê-me esse queijo que ele me pertence!
- Então, era seu. Achei-o, e agora ele me pertence.
Saiu uma discussão terrível. A raposa não podia tirar as patas do queijo com medo que o gavião o agarrasse, e este não parecia disposto a sair dali. Depois de muito tempo nessa posição, acabaram tendo a idéia de levar a questão para que o juiz da floresta, o guaxinim, pudesse resolvê-la satisfatoriamente, com o auxilio de seu escrivão, o macaco.
Lá chegando e tendo explicado o caso ao guaxinim, este ordenou ao macaco:
- Vá buscar a balança da justiça! O macaco saiu e voltou num instante trazendo a balança de dois pratos.
- Ótimo – prosseguiu – ponha-a nesta mesa.
Os queixosos olhavam com confiança. Vendo que se aproximava o fim da questão.
- Corte o queijo em dois pedaços e ponha um em cada prato da balança. Quero que dona raposa e seu gavião recebam exatamente a mesma coisa.
Sem que os outros vissem, ele piscou para o macaco. O malandro compreendeu e cortou um pedaço bem maior que o outro.
- Que pena! - Disse o juiz – mas não há de ser nada. Dá-se um jeito.
Mandou que o escrivão tirasse uma fatia e comeu-a. Como o macaco tirou uma fatia grande demais, o pedaço que estava menor acabou ficando maior. O juiz então ordenou ao macaco que tirasse outra fatia e comeu-a também. Novamente os pedaços ficaram diferentes e o acerto continuou, para total espanto da raposa e do gavião, que quando o queijo por fim terminou, exclamaram:
- E o nosso queijo?
O guaxinim levantou-se com toda a pose, olhou para um, depois para o outro e declarou solenemente:
- Quem tem coisa de pouco valor, pessoalmente resolve a questão.
Tornou a sentar e despachou os dois infelizes: - Agora não há mais motivo para brigarem. Vão em paz.


sábado, 15 de novembro de 2014

DOCUMENTO VERDADE: AS ESCADAS DE PEIXES NO BRASIL















Às vezes, uma opinião equivocada que parte de uma pessoa mal informada pode acarretar sérios prejuízos ao meio ambiente. Um fato desse tipo aconteceu em 1929, e até hoje, mesmo havendo se passado 65 anos (publicado em 1995), as consequências ainda se fazem sentir. Confira.









Escada de peixes (vista parcial). Peixes subindo em novembro de 1984. Rio Pardo, barragem de Itaipava, Santa Rosa de Viterbo, SP. Escada construída em 1911.

Escada de peixes (a primeira), construída entre 1920-22. Rio Mogi-Guassu, barragem de Cachoeira de Emas, Pirassununga, SP. Foto de 1941. Destruída em 1942-43.

As barragens com escadas para facilitar a desova dos peixes são tema de destaque em vários países ao redor do mundo. Para que possamos ter uma idéia, a mais antiga delas tem seu registro de construção datado de 1640, mais precisamente no rio Aar, nas proximidades da cidade de Berna, na Suíça. Foi concluída, testada e aprovada a escada para subida dos peixes. Para citar outro exemplo: Na Escócia, no rio Thiet (qualquer semelhança com o rio Tietê, em São Paulo, é mera coincidência), foi construída em 1928 a primeira escada para salmões, na forma de degraus-tanques. Foi e é até hoje, um sucesso.
Há ainda outros exemplos de escadas para peixes construídas na Irlanda, França, Suécia, Noruega, Estados Unidos, Rússia, Japão, Iraque, Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Venezuela, Uruguai, Argentina, etc. Todas comprovadamente funcionam, e bem. Algumas, pasmem, datam do século XVII.

Escada de peixes em construção (a atual) entre 1942-43. Rio Mogi-Guassu, barragem Cachoeira de Emas, Pirassununga, SP. É a mais eficiente e funcional escada em degraus-tanques construída no Brasil.

E no Brasil? Para se ter uma idéia, os técnicos da CESP (Centrais Elétricas de São Paulo), entre 1968 e 1984, emitiram opiniões onde enfaticamente afirmavam que as escadas eram “onerosas e antibiológicas, não sendo suficientes em barragens de altura superior a 6 ou 8 metros” (Machado et alii 1968:2). Já outro técnico, de nome Torloni (1984:5), afirmou: “as escadas em barragens com altura superior a 8 metros tornam-se ineficientes, pois são raros os peixes que conseguem galgar o nível de montante...”.Será isso verdade? É lógico que não. Voltemos ao rio Aar, na Suíça. Lá existem e funcionam escadas de peixes com 10, 12 metros de altura, até com 21 degraus-tanques. No rio Liffey, na Irlanda, as barragens com escadas estão entre 3 e 42 metros de altura. No estado de Oregon, nos Estados Unidos, a barragem de North Fork tem 59,4 metros de altura. E vamos por aí afora, não citando mais exemplos para não nos tornamos repetitivos.

Escada de peixes de Cachoeira de Emas, Pirassunga, SP, Rio Mogi-Guassu. Migração reprodutiva através da escada em 16/11/1954. A foto, ampla, mostra a largura dos degraus-tanques e a correnteza atrativa entre os mesmos. Ao fundo a usina hidrelétrica de cachoeira de Emas, que pertencia à Central Electrica de Rio Claro S.A. e, hoje à CESP.

A propósito: as escadas citadas destinam-se em sua maioria aos salmões. Então, pelo fato de ser uma espécie “do primeiro mundo” o salmão seria “mais inteligente” do que nossos dourados, pintados, curimbatás, matrinchãs, pacus, e tantos outros, que miseravelmente pertencem ao “terceiro mundo”?
Brincadeiras à parte, vamos pensar seriamente e tentar chegar a uma conclusão acerca do porquê de técnicos brasileiros fazerem afirmações falsas e completamente equivocadas como as duas aqui citadas.
Em um amplo trabalho de pesquisa, retornamos ao ano de 1929. Era então Secretário da Agricultura do Estado de São Paulo o Dr. Fernando Costa, que convidou o Sr.J.H. Brunson – que a bem da verdade era um piscicultor americano, ou seja, criava peixes comercialmente – para vir ao Brasil e “dar sua opinião” a respeito de nossos peixes. Em sua companhia estava o biólogo brasileiro Rodolpho Von Ihering, que mais tarde seria considerado o “pai da piscicultura no Brasil”.

Escada de peixes construída em 1972 no Salto do Moraes, Rio Tijuco, região próxima de Ituiutaba MG. Na foto, detalhe da escada de peixes e da barragem.

Não se sabe bem por que, e aliás, nem fica bem falar de pessoas já falecidas, o tal americano e o Dr. Von Ihering chegaram à conclusão de que “as escadas de peixes com altura superior a 8 metros não funcionam para peixes de piracema”. Como se não bastasse, em 1957, o belga Felix Charlier confirma essa opinião.
Pronto. Foi o bastante para se condenar as escadas para peixes que tivessem mais de 8 metros de altura no Brasil. Dá para acreditar que as autoridades de nosso país acataram na íntegra uma opinião completamente errada de um criador de peixes, só porque é americano, que vem ao Brasil e emite opiniões sem qualquer fundamento e sem considerar outros exemplos de barragens construídas pelo mundo afora?
Tudo se originou dessa infeliz afirmação. Dezenas de barragens foram construídas sem qualquer critério que visasse à preservação de nossos peixes de piracema. Com certeza, barragens desprovidas de escadas de peixes saem bem mais baratas, e mais uma vez usa-se uma norma que, em termos de meio ambiente, nunca deveria ser levada em conta: custo financeiro x benefício.

Vista geral da barragem mostrando a usina hidrelétrica e, em primeiro plano, a escada de peixes. Escada com desenho não adequado, situada em local não apropriado e não eficiente para a subida dos peixes.

Porém, há um detalhe crucial: segundo cálculos efetuados, o custo da construção de uma escada para peixes onera a obra completa, ou seja, a barragem propriamente dita, de 0,46 a 10% de seu valor total.
Ai está, caros leitores, a história real que esclarece o porquê da não construção de escadas para peixes na maioria das barragens brasileiras.
Na realidade, o que será que existe por trás de tais fatos em nosso país? Falta de informação, preguiça, interesses ocultos, falta de patriotismo, incapacidade? Ou existiria a possibilidade de corrupção, bandalheira, mau caratismo e tráfico de influências?
O mais triste de disso tudo é que as barragens estão aí, sem escadas para peixes, além de outras, em fase de construção ou ainda como projetos, nos quais nem é mencionada a hipótese das escadas.

Foto da maquete. Barragem da usina hidrelétrica Ilha Grande, rio Paraná, da ELETROSUL. Esta será a primeira grande barragem do Setor Elétrico brasileiro, da área governamental, a ter uma escada de peixes, projeto e proposição inicial de M.P.Godoy, cujos estudos foram elaborados entre 1981 e 1985.

Além disso, ainda há leis em vigor que obrigam a construção dessas escadas, mas quem as respeita? Agora nosso leitor sabe um pouco mais da história deste país, onde ainda ocorrem fatos que afrontam nossa decisão de sentirmos orgulho de ser brasileiros. Infelizmente, tal situação é uma verdadeira vergonha. Quem é o responsável por estes danos causados ao ciclo de vida de nossos peixes, que são patrimônio de toda a nação brasileira? 

Ou seja, propriedade minha e sua também.
Só nos resta dizer “muito obrigado” (as aspas são minhas) ao Mr. Brunson e a toda cambada de maus brasileiros que se valeram de uma informação incompetente para mais uma vez lesar gravemente nosso país.



NOTA DA REDAÇÃO: Novembro de 2014, mais de vinte anos depois. As notícias nos dão conta de diversas barragens que estão sendo construídas, algumas em áreas indígenas (que estão dando problemas) e outras em regiões “menos importantes”.
Quando essa matéria sobre o tal Mr. Brunson estava sendo feita, eu conversava (e tive essa honra) com o Prof.. M. P. Godoy sobre os absurdos que foram feitos em nosso meio ambiente. (O Prof. M. P. Godoy faleceu em 14/10/2003). Evidente está, em minhas palavras, que “alguém” conseguiu ganhar um bom ou maldito dinheiro, nessa não construção das escadas de peixes nas barragens construídas. O governador do estado de São Paulo na época era Júlio Prestes de Albuquerque. Foi eleito em 14 de julho de 1927 e governou até 21 de maio de 1930. Foi o 13º governador de São Paulo e seu partido era o PRP – Partido Republicano Paulista – (o número 13 lembra alguma coisa?). Durante seu mandato houve grandes problemas no mundo e o maior deles, com certeza, foi a quebra da Bolsa de Nova York. Portanto foi, durante seu mandato, que o Mr.J. H. Brunson aqui esteve e fez as bobagens que prejudicaram e muito nosso meio ambiente. Será que Sua Excia. Júlio Prestes não “ficou sabendo de nada?”. Também?

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

DICIONÁRIO ARUANÃ ANIMAIS DO BRASIL - TAMANDUÁ














Fêmea com filhote nas costas                                                                  




O tamanduá bandeira é um animal dotado de uma força prodigiosa, capaz de deslocar com facilidade uma casa de cupins ou termita, seu principal alimento. Quando atacado, senta-se nas patas traseiras e defende-se com os possantes braços armados de enormes unhas. No andar, apóia-se com as costas das mãos, mantendo para dentro as compridas e curvadas unhas: isso lhe dá um andar tardo e a impressão que tem estropiadas as patas dianteiras.
Essa particularidade faz com que ele tenha uma calosidade resistente na parte que assenta no solo, não se alterando quando em caminhada por lugares pedregosos ou cheios de espinhos.


Todo o corpo é revestido de pêlos fortes e longos; a cauda imponente e vistosa (80cm) fica ereta quando o animal anda, daí provavelmente o nome “bandeira”. Quando dorme ou descansa enrola-se na cauda, protegendo o focinho, que é sua parte mais delicada. Tem a cavidade bucal bastante reduzida e a língua adaptada para entrar em orifício, tem mais de dois palmos e é revestida de aciculos rijos, sempre umedecida por secreção pegajosa, o que lhe facilita apanhar as formigas. A fêmea traz sempre o filhote sobre as costas. São conhecidas duas sub-espécies: M.T. artata, na América do Sul, e M.T. centralis, na América Central.


Consultoria: Fundação Parque Zoológico de São Paulo


DICIONÁRIO ARUANà  -   ANIMAIS DO BRASIL

sábado, 8 de novembro de 2014

ESPECIAL: UMA BOA PESCARIA DE PRAIA












Pode parecer, à primeira vista, que praia é praia, e portanto, pode-se pescar em qualquer uma delas, ao longo dos 8.000 quilômetros do nosso litoral. A verdade é bem outra. Confira.





Com a chegada da primavera, nosso clima começa a ficar mais quente, e então a pesca de praia se torna mais convidativa e, porque não dizer, produtiva.
Temos que observar então que existem praias e praias. Podemos dividi-las em dois tipos mais comuns: rasas e de tombo. Praias rasas, todos sabem, são aquelas em que o pescador entra na água para jogar sua isca preferencialmente nos canais existentes, que são facilmente identificados pelas ondas, que ao passarem por eles perdem sua espuma. As de tombo, mais fundas, praticamente não têm ondas, a não ser já bem perto da areia, onde quebram em apenas um ou dois metros de comprimento. Em qualquer uma delas, poderá o pescador fazer ótimas ou péssimas pescarias.
Vamos então falar das ótimas pescarias, pois fazer ao contrário do que aqui estamos afirmando, é certeza de que a pescaria não irá ser proveitosa. Senão, vejamos, e desde já afirmamos que nestas regras existem poucas e raras exceções.

Os arrastões de praia, evite-os.

MARÉS

Devemos sempre escolher as marés de maior altura, que normalmente acontecem por volta das datas das luas grandes, ou seja, cheia ou nova. Normalmente, também devemos escolher, nesses dias, as menores marés, chamadas de baixa mar (ou vazias), traduzidas em alturas de 0,00 metros, -0,10 metros ou menores ainda. Isto porque, nessas marés baixas, vamos conseguir nossas iscas da própria praia, ou sejam, corruptos, sarnambis, minhocas, etc. As iscas da própria praia serão sempre melhores do que outros tipos de isca. Uma boa dica é começar sua pescaria sempre na enchente da maré, desde o seu começo, e a hora não terá muita importância, podendo ser durante o dia ou a noite, já que os peixes da praia fisgam em qualquer horário. Teremos então um período de pesca de aproximadamente 6 horas, que é o tempo que a maré dura em seu ciclo de enchente. Quando a maré começar a vazar, pode-se parar de pescar, já que o sucesso da pesca de bons peixes diminuirá em cerca de 70%.

Pescador em praia rasa com obstáculo.

Para escolher a praia certa, algumas dicas podem ser dadas. Por exemplo: procure pescar em praias que tenham rios que nela desemboquem. Praias que tenham obstáculos, tais como navios afundados, pedras ou recifes, serão sempre melhores do que praias comuns.
Havendo esses obstáculos, o local certo para se pescar será sempre à direita dos mesmos, e em distâncias nunca superiores a 500 metros. Junto aos obstáculos, costumam-se formar buracos mais fundos (pela ação da maré) que são também ótimos pesqueiros. O único problema é evitar enrosco ou mesmo que peixes maiores levem para perto do obstáculo a linha, que irá ser rompida em suas formações de cracas, mariscos, etc.

Esperando a fisgada.

No caso de rios, procure descobrir o seu leito dentro da praia, ou seja, qual a direção que ele toma na praia. Normalmente, em nosso litoral o rio sai para a esquerda, fazendo logo a seguir uma volta tomando o rumo da direita, para então desaparecer o seu canal. Nesses leitos dos rios na praia, costumam-se formar buracos fundos, onde várias espécies de peixes gostam de ficar à espera de alimentos vindos do rio.
Apesar de ser difícil de achar, uma boa praia rasa ou de tombo para a pesca será aquela cujo leito esteja original, ou seja, onde não haja arrastões de barcos com suas redes a mexer no fundo. Essa ação costuma afastar os peixes. Procure pescar sempre em praias abertas – e quando falamos em praias abertas –  referimo-nos àquelas que não tenham em sua localização enseadas, baías ou mesmo sejam encobertas por ilhas. As verdadeiras praias abertas são aquelas com o mar totalmente livre à sua frente.

Ao anoitecer, também um bom horário para se pescar.

DISTÂNCIA DO ARREMESSO:

É um outro fator muito importante. Nem sempre o mais longo dos arremessos irá garantir o melhor ou maior peixe. Nas praias rasas, o ideal é pescar nos canais de praia, pois como já falamos são facilmente identificados pela espuma das ondas. Porém, são muitos os casos em que o pescador joga sua isca no terceiro ou quarto canal, e o peixe bom está no primeiro ou no segundo canal. O melhor caminho a seguir então é ir testando todos os canais e distâncias até se achar o peixe. E mesmo achando-se os peixes, durante o período da pescaria essa regra poderá ser alterada, havendo então a mudança de canal.
Na praia de tombo, os canais praticamente não existem, e então a fórmula é testar a distância. Inicie a pescaria jogando a isca bem próxima à arrebentação e vá aumentando a distância dos arremessos progressivamente.

Rio de litoral.

Uma dica: duas varas serão sempre melhor do que uma. Use então a vara de pesca fixa; a outra, a “marisqueira”, será a vara para ir tateando até achar-se o peixe.
No restante, esperamos que o pescador esteja usando o equipamento certo, ou seja: varas, molinetes/carretilhas, linhas, lideres, chicotes, pernadas, anzóis, chumbos e iscas. Com tudo isso certo, e com a pressão atmosférica adequada, fica praticamente impossível o pescador não fazer uma boa pescaria.
Para o leitor que não está habituado a ler regularmente a Aruanã, alguns termos usados nesta matéria poderão parecer estranhos, mas com certeza, ao longo de nossas publicações, abordamos todos eles exaustivamente. Mesmo assim, uma boa dica para o leitor que deseja se familiarizar mais com o assunto é adquirir nosso vídeo Pescando com a Aruanã – Pesca de Praia, que certamente tirará todas as dúvidas do pescador amador. Boa pescaria.





 NOTA DA REDAÇÃO: Em muitos anos de pesca de praia, onde aprendemos tudo com os dois mestres Nelson de Mello e Takeshi Tanabe, chegamos à conclusão em diversas praias onde pescamos ao longo do litoral de todo o Brasil, que cada uma tem suas particularidades. Em nosso vídeo Pesca de Praia (acima), onde esses dois mestres nos ensinam, procuramos detalhar o máximo possível todas essas dicas. Apesar de hoje (novembro de 2014), muitos materiais se modernizaram em suas formas e tipos, mas as dicas, as iscas, os arremessos, os canais de praia, os peixes, a pressão atmosférica, etc, citados, continuam todas iguais. O que mudou nesses anos todos, infelizmente, foi a depredação, os arrastões de praia, a falta de vergonha em nosso país e em nosso segmento, que estão muito piores.