sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

DICIONÁRIO ARUANÃ - PEIXES DO BRASIL BARBADO











Conforme a região do Brasil, o barbado recebe nomes como piranambu, peixe-moela, piramapu e piranampu.
Em tupi-guarani, o nome piranambu significa: pira – peixe, nambu – inhambu. Já inhambu, em tupi-guarani, significa “aquele que corre ou anda a prumo”.

Conheça melhor o barbado, uma espécie presente em todo o Brasil e bastante simples de ser fisgada.









O barbado tem como nome científico Pirinampus pirinampus e pertence à família Pimelomidae. A esta família pertence a maioria dos chamados “peixes lisos” ou, se preferirem, peixes de couro, nos quais estão também incluídos os bagres e suas variações. Este peixe pode ser encontrado em todo o Brasil, incluindo-se todo o Pantanal (Bacia do Prata) e Bacia Amazônica. O barbado é encontrado ainda nas Guianas, Venezuela, Bolívia e Paraguai. Sua coloração básica pode ser descrita como dorso verde-claro e o ventre esbranquiçado. No entanto, dependendo da época e do rio, esse verde-claro passa a ser um cinza claro e apresenta também algumas pintas, principalmente no fim de seu corpo e na nadadeira caudal, o que faz com que alguns pescadores o chamem erradamente de pintado. Uma outra vez em que é confundido com o pintado, só que desta feita maldosamente, é quando é servido em filés em restaurantes, que assim o fazem para enganar o público consumidor. Porém a carne do barbado é mais flácida e ligeiramente amarelada em relação à do pintado. A nadadeira dorsal é grande, com acúleo flexível.  Possui grandes barbilhões, o que por certo deu origem ao seu nome. Aliás, esses barbilhões são comuns entre todos os chamados “bagres”, tanto de água doce como do mar. No que se refere à pesca, o material mais correto será o médio, já que dificilmente vamos encontrar barbados com peso muito acima de 10 quilos. Assim sendo, uma vara de ação média, somado a uma carretilha ou molinete médio, com uma linha de 0.35 a 0.45 milímetros e anzóis de 3/0 até 7/0, serão mais do que suficientes para se praticar uma pescaria dentro os padrões normais. Normalmente, o barbado é um peixe de rio, estando sempre por perto de outros peixes de sua família, como os pintados ou cacharas. Aliás, é muito comum, em uma pescaria onde os alvos são os pintados ou cacharas, fisgarem-se vários barbados. Podemos então, principalmente na região do Pantanal ou outras localidades, pescar o barbado em rios, no sistema de rodada ou apoitados. Suas iscas preferidas serão a tuvira, minhocoçu e pequenos peixes, inteiros ou em toletes, e sempre nessa ordem de preferência para o peixe.
Quando fisgado, o barbado costuma brigar um bom tempo no fundo, dando corridas para tentar se livrar do anzol. A essas corridas – que normalmente somam duas ou três com violência – seguem-se pequenas cabeçadas. Na hora de retirá-lo do anzol será necessária cautela por parte do pescador, especialmente com os ferrões, principalmente nas nadadeiras laterais. Para maior cautela, caso se vá aproveitar o peixe, será muito bom – munido de um alicate de corte – cortar esses ferrões, já que, mesmo no viveiro do barco, o barbado costuma ferir outros peixes com eles. 

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

DICIONÁRIO ARUANÃ ANIMAIS DO BRASIL - OUTROS BICHOS
















Isca de sucesso incontestável na pescaria de pampos, o sarnambi tem ainda outras particularidades dignas de registro. Vamos conhecê-lo.














O leitor habitual da Aruanã sabe muito bem explicar por que o sarnambi é considerado a melhor isca para o pampo, já que por diversas vezes esse tema foi abordado em matérias da revista. É muito simples: todos sabemos que o pampo também é conhecido pelo nome de “sernambiquara”, cuja origem é tupi-guarani. Considerando que a tradução do termo é “comedor de sarnambi”, ou “comedor de mariscos”, está desvendado o segredo. Elementar não é mesmo?
Trata-se de um molusco Lamellibranchio marinho, da família dos Mactracídeos, cujo nome científico já foi substituído várias vezes. Assim chamava-se Azara labiata, depois Mesodesma mactróides e mais tarde Corbvula mactróides. No Brasil, além da forma típica encontrada no Rio Grande do Sul (e também na Argentina), ocorre mais uma subespécie, Corbula mactroides prisca, que se estende de Santa Catarina ao Rio de Janeiro.
O sarnambi (ou sernambi) é comestível, sendo que pode ser conservado seco, salgado ou defumado. Vive na areia das praias, enterrado até 20 centímetros de profundidade. É um dos moluscos que em grande escala contribuiu para a formação dos “sambaquis” (designação dada a antiquíssimos depósitos, situados ora na costa, ora em lagoas e rios do litoral, e formados de montões de conchas, restos de cozinha e de esqueletos amontoados por tribos selvagens que habitaram o litoral americano em época pré-histórica), e isso em todo litoral do Brasil, desde o Rio Grande do Sul até a Amazônia.  Os sambaquis, ou “falsos sambaquis” (esta denominação seria apropriada para um grande acúmulo de conchas, de origem natural, constituídos em épocas geológicas mais recentes) são também conhecidos no litoral paulista e catarinense como “casqueiros”, “concheiras” ou “ostreiras”. Em outros pontos do país, essas formações recebem nomes como “berbiqueira”, “ilha de casca”, “caieira”, etc.
Mas interessante mesmo é o nome do sambaqui no Pará: “mina de sernambi”, ou, simplesmente, “sernambi”.

Bibliografia Consultada:
Dicionário de Animais do Brasil (Rodolpho Von Ihering)
Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (Aurélio Buarque de Holanda Ferreira)


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

DICIONÁRIO ARUANÃ ANIMAIS DO BRASIL - MACACO PREGO





   MACACO PREGO

                  Cebus sp.





O macaco-prego mede de 0.32 a 0.56 m de comprimento com outro tanto de cauda. Esta pode ser utilizada como ponto de apoio quando se põe de pé ou para dar-lhe equilíbrio enrolando-se ao redor de um ramo, mas não é propriamente pênsil. Deslocam-se como quadrúpedes e dão saltos ágeis. Habitam uma grande variedade de ambientes, englobando desde a floresta equatorial aos campos cerrados com vegetação rala.


Sua pelagem tem coloração castanha, mais clara ou mais escura, segundo a espécie. Alimentam-se de frutos, sementes, insetos, vermes, pequenos vertebrados mas não gostam de folhas. Vivem em bandos numerosos e são essencialmente diurnos. São de hábitos arborícola mas abandonam essa proteção para beber água em rios e lagoas ou para alguma incursão pelas roças de milho.


Segundo Angel Cabrera, existem 15 espécies do gênero “Cebus”.
1-C.capucinus; 2-C.gracilis; 3-C.versicolor; 4-C.xanthosternos; 5-C.nigrivitatus; 6-C.olivaceus; 7-C.paraguayanus; 8-C.libidinosus; 9- C.macrocephalus;  10-C.frontatus; 11-C.nigritus; 12-C.vellrosus; 13-C.fatuellus; 14-C.apella; 15-C.pallidus.



Consultoria: Fundação Parque Zoológico de São Paulo

DICIONÁRIO ARUANÃ  -  ANIMAIS DO BRASIL

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

OS MOLHES DO RIO GRANDE - EXCELENTE OPÇÃO DE PESCA!











Assim que se chega em Rio Grande, junto à Lagoa dos Patos, a primeira visão dos molhes chega a impressionar pelo comprimento de seus aterros. A bem da verdade, os molhes são dois e podemos classifica-los como o do norte e o do sul. Sua história começa em 1909, quando começaram a ser construídos. Para isso, foi primeiro construída uma linha férrea, inaugurada em 1911, por onde todas as pedras e materiais foram transportados. O projeto de construção dos molhes data de 1882.
Conseguimos apurar algumas curiosidades sobre os molhes. Por exemplo: no molhe sul foram consumidas 1.852.700 toneladas de pedras e no norte 1.537.100, perfazendo um total de 3.389.800 toneladas. Seus comprimentos são de 3.930 metros e mais 370 metros submersos no sul e no norte 4.012 metros e mais 288 metros na parte submersa. A distância entre os dois na sua parte paralela é de 725 metros e em 1º de março de 1915 o navio-escola “Benjamin Constant”, da armada nacional, foi o primeiro a passar e atracar no Porto do Rio Grande.

Nossa primeira incursão aos molhes foi no sul, que aliás possui uma particularidade muito interessante, pois diversas pessoas têm um carrinho, chamado de “vagoneta”, e se prestam a levar os pescadores até o chamado “cabeço”, ou seja, na ponta da barragem. Essas vagonetas têm dois eixos de linha férrea que aproveitam os trilhos da linha férrea original, que estão conservados em função das necessidades de reparos nos molhes e tráfegos de pescadores. O meio de tração das vagonetas é o vento, constante no local. Sobre os eixos das mesmas construíram um tablado e no centro deste um mastro onde é colocada a vela. A velocidade é boa e o preço da “passagem” ida e volta é de Cr$10.000,00 (outubro/92). É grande o número de pescadores que pesca neste local.


Já no molhe do norte, que possuem também os trilhos, o “serviço de transporte” não existe. Por este fato é que o número de pescadores é bem menor. Conversando com alguns deles, nos disseram que o molhe do norte é melhor para a pesca. Um outro fato que nos chamou bastante a atenção é que quando a maré está violenta, ninguém se atreve a pescar no molhe norte, pois as ondas lavam toda a superfície da barragem. Essas ondas são tão violentas que chegam a deslocar enormes pedras de um lado para o outro da barragem. Para quem, gosta de andar, pescar no molhe é uma boa opção, pois se quisermos pescar no seu cabeço, vamos ter que andar cerda de 8 quilômetros a pé.

Os melhores locais para a pesca nesses molhes são praticamente em toda a sua extensão, com uma particularidade para o caso das miraguaias: para o caso dos “burriquetes” (miraguaias até 15 quilos), pesca-se do lado de fora, ou mar aberto. Para as grandes miraguaias, que facilmente atingem 40 quilos, pesca-se do lado de dentro, ou no canal. As iscas mais usadas pelos pescadores locais são os siris e os caranguejos iscados inteiros. Usa-se também o marisco branco (sarnambi) inteiro ou descascado. As varas devem ser de tamanho médio, a partir de 3.50 metros e a linha variando entre 0.50 e 0.70 milímetros. Os lances devem ser longos (o máximo possível), para se evitar as pedras dos molhes. Um outro peixe também comum na região é a corvina, que chega a atingir 5 quilos ou mais. Para esta, as melhores iscas são o sarnambi inteiro ou descascado e o camarão morto sem a casca. As betaras (lá chamadas de papa-terra), cações, violas, peixe-rei, arraias e abroteas são os peixes mais comuns de serem fisgados.


Outro fato que nos chamou a atenção foram as garoupas de bom tamanho, fisgadas nos molhes. A presença desse peixe lá se dá unicamente pelas pedras dos molhes, que são ricas em organismos vivos tais como cracas, mariscos e caranguejos de pedra. Com exceção de Torres, onde há costões, com certeza será nos molhes de Rio Grande os únicos locais onde o pescador gaúcho irá conseguir fisgar garoupas. A presença dessas garoupas, vem mais uma vez confirmar e provar que os arrecifes artificiais são um sucesso absoluto e que infelizmente não são construídos em nosso país.


Um outro fato bastante interessante nos molhes é a presença constante de lobos-marinhos, que fazem principalmente do molhe norte o seu ponto de descanso. Em nossa visita, conseguimos avistar vários deles e soubemos inclusive que às vezes roubam o peixe fisgado pelos pescadores, enquanto ainda estão brigando e sobem à superfície. Ficamos a imaginar a cena e o que devem dizer os pescadores que têm seus peixes roubados. Uma outra dica diz respeito à pesca de praia, logo abaixo da Praia do Cassino. Todos os pescadores que pescam nos molhes, saindo da Lagoa, quando a água está um pouco suja por causa das chuvas, costumam pescar nas praias, onde essa água termina.


São fisgadas nesses locais grandes betaras, corvinas e os “burriquetes” de bom tamanho. A isca mais usada é o sarnambi (marisco branco). Partindo-se de São Paulo, a cidade de Rio grande fica a 1.470 quilômetros, Via Porto Alegre e Pelotas. Em nossa estada em Rio Grande, ficamos hospedados no Hotel Atlântico, sito à Av. Rio Grande, 387. Os telefones são: (0532) 36-1492 e 36-1350.
Aqui está portanto mais um roteiro Aruanã. Atestamos e testamos os molhes de Rio Grande, principalmente pela pesca da miraguaia, que vai desde novembro até meados de abril. As maiores miraguaias do Brasil, com certeza, só serão fisgadas nos molhes do Rio Grande.


terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

DICIONÁRIO ARUANÃ - PEIXES DO BRASIL - JACUNDÁ-PINIMA













Sob o nome jacundá existem mais de oito espécies diferentes. Porém, vamos nos fixar em especial no jacundá-pinima, um dos peixes esportivos que faz a alegria do pescador amador.










O jacundá-pinima é cientificamente classificado como Crenicichla lenticulata. Suas cores, muito parecidas com as do tucunaré, fazem com que estes dois peixes sejam confundidos entre si. No entanto, apesar de serem da mesma família e apresentar características semelhantes, como a mancha (ocelo) na nadadeira caudal, são peixes distintos entre si. Predomina no jacundá-pinima o vermelho oliváceo no dorso e sete faixas transversais de cor mais escura. É um peixe da Bacia Amazônica, estando porém registrada sua presença em praticamente todo o Brasil. Seus costumes principais são o de habitar lagos de água limpa e em recantos onde predomine o ambiente calmo e as plantas aquáticas como o aguapé.
Nestes locais, o jacundá-pinima dá caça aos pequenos peixes, insetos, camarões de água doce e mesmo as iscas artificiais que imitam peixinhos. As colheres giratórias do tipo spiner são consideradas excelentes para sua pesca. Considerado um peixe brigador, o jacundá-pinima atinge mais de trinta centímetros e até um quilo de peso. Como todos os predadores de sua espécie, costuma reagir ao menor barulho feito na n’água, sendo esta a melhor dica para sua pesca. Portanto, no caso de pescar com iscas artificiais (com exceção das colheres), devemos escolher as chamadas iscas de superfície, providas de barbelas ou do tipo stick. As iscas com hélice também são recomendáveis.
Os melhores locais para se tentar sua pesca são as tranqueiras formadas por árvores caídas, pedras, moitas de capim ou bambu e os aguapés, de preferência na beirada de lagos ou açudes.
No estado de São Paulo, sua presença já foi registrada em represas como as de Igaratá, Jurumirim e nas formadas pelos rios Grande e Paraná, entre outras. Sua carne é de excelente sabor, principalmente quando frita. Finalmente se deve citar que o jacudá-pinima é uma das melhores iscas para se tentar, em rios da Bacia Amazônica, os grandes peixes como a piraíba, o pirarucu, o jaú e o pintado.



DICIONÁRIO ARUANÃ - PEIXES DO BRASIL  JACUNDÁ-PINIMA

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

A MAIOR FÁBRICA DE ANZÓIS DO MUNDO











Qual é o pescador amador, ou mesmo nossos pais e avós, que não conhecem o nome Mustad? Há muitos anos no Brasil, por certo esse anzol já rendeu belos peixes a muitas gerações. Venha conosco, e vamos conhecer a maior fábrica de anzóis do mundo.








Vista Aérea da fábrica

Após nossa saída de Kirkenes, fizemos um escala em Tronso para finalmente chegarmos à Oslo, capital da Noruega. No aeroporto, já nos esperava o amigo Anders Haug Thomassem, diretor comercial da Kruel, uma das fábricas da Mustad.
De Oslo fomos de carro até Gjövick, uma cidade com cerca de 14 mil habitantes, onde está sediada a Mustad. Na fábrica, que ocupa uma área de 46 mil m2, fomos recebidos por Frode Pedersem e por Mikal A. Rötnes, respectivamente vice-presidente e presidente mundial da O.Mustad & Sön A-S. Nessa reunião estava presente também Kjell Sollig, diretor técnico e responsável pela produção de toda a fábrica. Após um gostoso bate papo onde a pesca foi o assunto principal – já que todos eles são pescadores amadores – fomos visitar a fábrica. Começamos pela seção onde o aço, em rolos de arame com espessura de 5,6mm, chega à fábrica. Dali para frente, esse aço é processado pela Mustad, onde sua espessura é diminuída, no caso para anzóis menores, até 0,2mm. Todas as operações são feitas automaticamente, inclusive várias lavagens no arame para se tirar as impurezas. O rolo original é então temperado. De acordo com os pedidos, passa então por um novo processo de trefilação para atingir o diâmetro certo.

A operação seguinte é nas máquinas que “fazem” o anzol. Já pronto, em seu formato original, pois cada máquina dessas é totalmente automatizada e trabalha com programas de computador para cada tipo de anzol, sendo que a Mustad tem registrados e fabrica mais de 15 mil tipos diferentes de anzóis, vão para uma nova lavagem e mais uma têmpera. O tratamento de superfície, ou seja, onde o anzol recebe sua cor definitiva, que tanto pode ser colorida como estanhada, niquelada e até banhada a ouro (anzol nº52264), poderia ser considerada a última operação de fabricação. Deste ponto para frente, recebe a embalagem – que também é feita através de processos automáticos – em 25 tipos diferentes de caixas que tanto podem ser de plástico como de papelão. Finalmente, a produção vai para a expedição. Por ocasião de nossa visita, verificamos um embarque para a Arábia Saudita, Grécia, França e Mauritânia (na África). Atualmente a Mustad fornece seus produtos para mais de 150 países. Uma curiosidade que muito poucos sabem: a Mustad começou suas atividades em 1833, fabricando pregos para ferraduras.

Andar pelas instalações da fábrica é uma agradável surpresa, já que, mesmo sendo uma empresa metalúrgica, não se tem a impressão disto, pois o cuidado com o meio ambiente é impressionante. São prédios construídos com tijolos aparentes, com pequenas praças entre si, com jardins e muitas flores. Alguns prédios são mantidos em suas instalações originais, como é o caso de onde hoje funciona a carpintaria, que foi construída no ano de 1870. Com apenas 650 funcionários, já que seu parque industrial é totalmente computadorizado, a Mustad possui um centro de computação na fábrica que controla tudo, desde a produção industrial até vendas.

Um outro ponto interessante que deve ser citado é que todas as máquinas utilizadas no fabrico de anzóis foram desenvolvidas pela própria Mustad ao longo de sua existência, que aos poucos foi descobrindo seu próprio caminho. E isso acontece em suas quatro fábricas: na Noruega, Portugal, Singapura e no Brasil (Kruel). Além dessas empresas, outras cinco, com sedes na Malásia, Filipinas, Inglaterra, Itália e Estados Unidos fazem parte da Mustad, pois embalam e distribuem os produtos das fábricas. Ao todo, o grupo mundial conta com 2.500 funcionários. Deve-se ressaltar também o cuidado que a fábrica dispensa para o meio ambiente, pois na unidade da Noruega, uma máquina de filtros foi instalada e custou nada menos que US$10 milhões. Nós tivemos oportunidade de atestar sua grande utilidade, já que atrás da fábrica passa um pequeno rio e nele vimos várias pessoas pescando trutas com equipamentos de fly numa água muito limpa.
Por uma especial referência da Mustad, ficamos hospedados na fazenda da empresa, que fica exatamente em frente à fábrica. Construída no ano de 1800, tem estilo das construções do interior da Noruega. A casa sede é lindíssima e seu mobiliário data do século passado. A sede tem sala de jantar, de estar, de música e 10 suítes. Por fora e ao redor da casa, o jardim é totalmente gramado e existem muitas flores. A fazenda produz trigo, batata e leite. Na sala principal, uma árvore genealógica de Hans Mustad, o fundador da empresa, retroativa a Haakon V Magnus Sons, que tem seu parentesco com os Mustad no ano de 1270. Para se ter uma idéia da beleza dessa fazenda, ela é a residência oficial do rei da Noruega, quando em visita à cidade.  Aí está, portanto uma pequena descrição de nossa vista à Mustad na Noruega, fabricante dos famosos anzóis, tão conhecidos por nós, pescadores amadores brasileiros.




A fazenda Mustad

NOTA DA REDAÇÃO: Esta matéria foi publicada pela Revista Aruanã em agosto de 1991 edição nº 23. E a Mustad hoje? A fábrica foi vendida pelos Mustad e atualmente suas fábricas são em Wuxi na China, Portugal e Republica Dominicana. Tem escritórios na Noruega e Miami (USA). A distribuição no Brasil é feita em Porto Alegre (onde Alexandre Mussi Fortes, que está na Mustad desde 1988, é atualmente seu Diretor de Operações) e, o outro escritório é em Singapura. Pois é pescador, tudo muda. Eu sou um dos que, “torço o nariz” quando vejo a frase em qualquer equipamento de pesca – MADE IN CHINA. Felizmente, tenho um amigo que é engenheiro metalúrgico e me explicou que podemos abrir parêntesis no tal “made in China”. Hoje a China, segundo ele, tem produtos da mais alta qualidade em todos os setores. O que se explica é o seguinte: digamos que a Mustad da Noruega, que tinha alta tecnologia e qualidade, cobrava, por exemplo, US$1,00 por uma caixa de anzóis. Se o mercado consumidor quiser, a China fabrica o mesmo produto com a mesma tecnologia e alta qualidade, se isso for pedido. No entanto, ela a China, também vai cobrar os mesmos US$1,00 pela mesma caixa de anzol. E agora eu pergunto, hoje, com a concorrência do mercado, essa tecnologia e qualidade, pode concorrer com outras marcas de anzóis? É algo a se pensar. 

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

ROTEIRO: A CAMINHO DA MATRINCHÃ












Neste roteiro, nossa equipe contou com a participação do José Carlos Padilha e do Noubar Gazarian, companheiros de São Paulo e do Mauro Santana de São José do Rio Claro, em Mato Grosso. A rota até as matrinchãs, saindo de São Paulo, passa por Campo Grande e Cuiabá. Partindo desta ultima cidade, percorremos 330 km para chegar a São José do Rio Claro, nosso destino. A partir de Cuiabá, pega-se a estrada para Santarém, em um local denominado Trevo do Lagarto. Após o trevo, a direção é para Sinop/Santarém, percorrendo um trecho de 160 km. No “Posto do Gil”, deve-se pegar a estrada para Diamantino e finalmente, por essa mesma estrada, atinge-se São José do Rio Claro. No total, desde São Paulo, percorremos 1950 km. De toda essa distância, apenas os últimos 110 km, ou seja, de Diamantino até a ponte sobre o Rio Claro (marque bem este rio), o percurso é feito em estrada de terra. 

A cidade de São José do Rio Claro tem toda a infra-estrutura necessária ao pescador, incluindo hotéis, supermercados, farmácia, telefone DDD, etc. No entanto, para se fazer uma pescaria nesse local, será necessário levar-se barco e motor. Junto à ponte do rio Claro há um local onde se consegue colocar os barcos na água facilmente, sendo esse acesso permitido para carros e carretas de barcos. Eram 7:30h de segunda-feira quando colocamos os barcos nas águas do Rio Claro. Esse rio mostra um espetáculo muito bonito, já que é totalmente ladeado pela floresta amazônica e em toda a sua extensão as águas são rápidas e com diversas corredeiras.
A água é muito limpa e além as corredeiras, existem várias pedras e galhadas, que são os locais preferidos pelas matrinchãs. É onde devemos jogar nossas iscas. Começamos a descida usando só remos, tarefa executada com precisão pelo Mauro. Vimos diversas matrinchãs vindo atrás de nossas iscas artificiais, mas sem fisgar. Da ponte da estrada, após estender-se por 30 km aproximadamente, o rio Claro termina no rio Arinos. A paisagem é a mesma, só que com a água mais lenta e também mais turva, o que ocorre até meados de julho, pois a partir de agosto as águas do Arinos ficam também muito limpas. Continuamos a bater nossas iscas descendo o rio até o anoitecer, e percebemos que as matrinchãs não estavam no Arinos, mas sim no rio Claro.

Resolvemos acampar às margens do Arinos para passar a noite. Não utilizamos as barracas, mas somente redes de dormir, já que nessa região não se encontra nenhum inseto que venha a perturbar o pescador amador, seja durante o dia ou mesmo à noite. O primeiro fato pitoresco desta aventura iria acontecer nesse acampamento, já que o Noubar nunca havia acampado dessa forma. A primeira pergunta dele foi sobre a “possível” visita de alguma onça ao acampamento e como não poderia deixar de ser, várias estórias sobre onças foram contadas. Sugerimos acender uma fogueira, e quem catou mais lenha foi o Noubar. Pelo tamanho, parecia uma fogueira de festa junina, e até a hora de dormir, as chamas foram constantemente alimentadas de lenha pelo Noubar.
Propositalmente armamos sua rede bem perto do mato. Ou seja, qualquer “coisa” que viesse do mato para o rio, encontraria fatalmente a rede do Noubar em primeiro lugar. Aqui um pararênteses: na noite anterior havíamos percebido que o Noubar era um “roncador” dos bons. Por volta das 21:00h, já estávamos todos nas redes. À noite faz frio, o que nos obriga a usar cobertores. Estranhamente não ouvimos uma só vez o Noubar roncar. A hora certa de acordar no acampamento é por volta das 6:00h, pois é o horário em que o sol começa a nascer. Mas, desde as 4:00h, nosso amigo já estava acordado. Fez café, e quando acordamos ele já estava dentro do barco, pronto para pescar.

Tomando café, ele contou que durante a noite havia percebido “passos silenciosos” rondando sua rede e chegou a jurar que era um “bicho”, tendo o tal inclusive “bufado” bem embaixo da rede. Segundo o Noubar, o tal bicho rodeou sua rede e chegou bem perto. Só que ninguém no acampamento ouviu nada. Essa estória rendeu comentários o dia todo. Após o café descemos batendo o Arinos por cerca de 10 km e nada de peixe. Almoçamos e resolvemos voltar ao rio Claro. Subimos novamente o Claro, cerca de 20 km, e descemos batendo nossas iscas. No final da tarde, só havíamos fisgado algumas matrinchãs, tucunarés e um pacu, que aqui chamam de “borracha”, o qual tem cor diferente dos pacus do Pantanal, apresentando inclusive, manchas vermelhas pelo corpo. 

Nesta noite, para a alegria do Noubar, fomos dormir na fazenda. Na volta do rio, já noite, topamos com uma enorme anta dentro da água. O lugar era de barranco alto, o que dificultava a subida do animal, e por diversos minutos, com o auxilio das lanternas ficamos a admirá-lo. Se quiséssemos poderíamos até tocar a anta com as mãos, tal era sua fragilidade, pelas condições em que estava. Satisfeita a nossa curiosidade, fomos embora para a fazenda, deixando-a em paz.
Na quarta feita bem cedo voltamos ao rio Claro. Subimos cerca de 50km de rio, passando por baixo da estrada de rodagem. A cada nova paisagem, o rio nos impressionava, pois suas corredeiras são lindas, com água muito limpa, onde as pedras do fundo são visíveis. Agora já encontramos várias praias de areia, além de várias galhadas nas margens. Motor desligado e levantado, o Mauro controla o barco no remo e lá vamos nós ao sabor da correnteza batendo nossas iscas. No final, várias matrinchãs, sendo algumas grandes, estão no barco. Bicudas, que da mesma forma são peixes bons de briga, também foram fisgadas. Nessa etapa da pescaria conversamos com alguns pescadores locais e ficamos sabendo das principais espécies que podem ser fisgadas no rio Claro e no rio Arinos. Destacamos: jaú, piraíba (enormes), cachara, bicuda, matrinchã (a mais procurada), tucunaré, piau, pacu, corvinas (grandes) e trairão.

A matrinchã, sem dúvida, além de ser a mais esportiva, é o peixe mais atrativo. Nesta região, sua pesca tem característica especial, e é fisgada principalmente com iscas artificiais, no caso spinners, colheres e mesmo plugs de meia-água ou de superfície. Os spinners e colheres são os mais eficientes. No entanto, os lances devem ser dados com precisão, principalmente junto às margens onde haja corredeiras e galhadas parcialmente submersas. Dá-se o lance e assim que a isca bate na água, recolhe-se imediatamente, no molinete ou carretilha com relativa velocidade, já que a água do rio é muito rápida.
No outro dia, fomos a um lugar chamado Lagoão, no rio Arinos, que é mesmo uma grande lagoa, mais ou menos a uns 20 km da foz do rio Claro. 


Do rio até a lagoa, são aproximadamente 100 metros no meio da mata. Por preguiça não levamos nosso barco de alumínio, já que o Mauro disse que havia um “barco” de madeira que poderíamos usar. Realmente lá estava ele, e parcialmente submerso. Puxamos o barco para a margem, esgotamos sua água e nele colocamos um motor elétrico como propulsão. O barco “fazia” muita água, que “brotava” do fundo, feito uma nascente natural. Enquanto dois pescavam, o terceiro tirava água. Ficar de pé então, nem pensar, já que com um movimento mais brusco entrava água pela borda. Mesmo assim, fisgamos vários tucunarés de bom tamanho. Essa lagoa é bem grande e dá, se estivermos bem equipados, para explorar muito bem seu tamanho, não só nos tucunarés, mas também nos trairões.
Suas margens são de floresta absoluta e em alguns locais constatamos rastros de animais como veados, pacas, capivaras, antas e onças. Nas árvores vimos diversas jacutingas, papagaios e um casal de araras azuis. Devido à fragilidade do barco, pescamos por apenas duas ou três horas. À tarde voltamos às matrinchãs no rio Claro e mais uma vez fizemos uma boa pescaria. No ultimo dia, resolvemos bater mais rio e verificar as condições. Facilmente o pescador amador que aqui vier pescar, conseguira identificar os pesqueiros da matrinchã, pelo que já foi dito nesta matéria. Os grandes poções, para quem gosta de jaús e piraíbas, também são facilmente encontrados, pois normalmente estão logo após as corredeiras de pedras e nas curvas mais acentuadas do rio, principalmente do Arinos. Para descobrir um poço, é só olhar o espelho da água, que passa a ser mais manso e com redemoinhos grandes.



O melhor nesses locais é pescar apoitado, com equipamento pesado e usando como isca pedaços de peixes da região, como por exemplo, traíra, piau e mesmo matrinchã. Normalmente, fisgamos a bicuda em rios de corredeira e poderíamos dizer que ela tem os mesmos hábitos da matrinchã. Sua preferencia é ficar perto dos obstáculos do rio, tais como pedras e tranqueiras das margens. Um bom material para sua pesca é o classificado na categoria média, usando-se linha entre 0.35 e 040 milímetros. Predador por excelência é um peixe que ataca qualquer tipo de isca natural, preferindo especialmente pequenos peixes vivos e inteiros, ou ainda filés de outros peixes. Seu horário de atuação estende-se por todo dia, e até mesmo durante a noite. Por essa razão, e tendo em vista podermos bater mais o rio, ao sabor das águas, recomendamos o uso de iscas artificiais, tais como colheres, spinners, jigs e plugs, sendo estes últimos de superfície ou meia-água.

Em razão da violenta briga que a bicuda proporciona, no caso em que o pescador esteja usando plugs, recomenda-se que estes sejam do tamanho médio, como Rapala Original e Huski, os Red Fin (de barbela), as zaras e os poppers ou sticks. É conveniente que se use garatéias reforçadas variando o tamanho entre o número 2 e o 4. As cores para os plugs podem ser variadas, já que não há uma cor predominante com melhores resultados ou mais recomendadas. Já fisgamos bicudas em plugs cromeados azuis e pretos, amarelos, verdes, etc. Com referência às iscas “de metal”, também não há uma regra básica em termos de cores, mas no trabalho delas na água, podemos afirmar que as cromeadas cor de prata são as que mais se parecem com os pequenos peixes apreciados pelas bicudas.
Para que tenhamos uma pescaria de bicudas mais produtiva no caso da utilização de iscas artificiais, o mais recomendável é deixarmos o barco fluir ao sabor da correnteza, controlando-o apenas com os remos, para que mantenha posição paralela às margens. Os lances com as iscas devem ser dados junto às pedras, que tanto podem estar no meio do rio como nas margens, e nas tranqueiras de margem. Evidente está que há determinados locais onde, antes do lance, praticamente já sabemos que o peixe irá fisgar, e esses lugares são aqueles onde se formam pequenos remansos, determinados pela força da correnteza, logo após as pedras ou tranqueiras. Arremessando com precisão nesses locais, o ataque é quase imediato, pois a bicuda é muito valente e ataca a isca com determinação.


Ao pescador só restará então fisgar com moderada força e se preparar para uma boa briga, e o que é melhor: sem pressa de retirar o peixe da água, já que se trata de espécie que pouco se presta para o consumo, devido ao sabor comum de sua carne, a qual, além disso, é bastante entremeada de espinhas. O mais importante a se frisar na pesca da bicuda é a esportividade, pois com a fricção do equipamento (molinete ou carretilha) regulada para a metade da capacidade de resistência da linha, ficaremos brigando com o peixe por um bom tempo, e a bicuda só irá se entregar quando extenuada. Use um puçá para retirá-la da água (lembre-se de que ela será solta) e segure-a firmemente por trás da cabeça, a fim de que possa retirar o anzol com segurança.
A melhor época para a pesca da bicuda, sem dúvida, vai de agosto a outubro. Se levarmos em consideração que se trata de um peixe bastante especial, principalmente naquilo que mais nos interessa que é a briga proporcionada, teremos que classificar a bicuda como mais uma campeã na preferência dos pescadores amadores, pois mesmo não se prestando para o consumo, trata de todas aquelas emoções que somente um verdadeiro pescador amador sabe compreender e aproveitar.


Alguns pontos em especial nos chamaram a atenção neste roteiro. Por exemplo: não se vê a pesca profissional feita com redes ou tarrafas. Os profissionais de lá usam somente linha e anzol. O peixe mais visado é a matrinchã, e o mais incrível é que, além da isca natural (que é de caju e outras frutas), pescam com spinners. Aliás, fabricam o próprio spinners, meio rústico, mas bastante resistente. Há inclusive em São José do Rio Claro uma loja que os vende. Lá, são chamados de “espina”. Um outro ponto bastante curioso é a total ausência de piranhas. Não fisgamos nenhuma, e em conversa com o pessoal local, também eles desconhecem a presença desse predador.
Com raríssimas exceções seremos incomodados por qualquer tipo de inseto, como pernilongos, borrachudos ou pólvoras. Porém há muitas abelhas e com isso devemos tomar alguns cuidados especiais. Caso o pescador vá parar na margem, é bom verificar se não há algum enxame em trânsito. Para sua proteção, o melhor é levar sacos plásticos grandes e transparentes e em caso de ataque de abelhas, vestí-los rapidamente e ficar imóvel, dentro do barco ou dentro da água.
Finalmente, devemos levar equipamento total de barco e motor. Caso o pescador queira acampar, em toda a extensão do rio acham-se clareiras na mata com condições para tanto. Lembre-se de que apesar do calor durante o dia, à noite a temperatura cai bastante, chegando a 14 graus ou menos. Em São José do Rio Claro há hotéis com todo o conforto, além de restaurantes. A distância que separa a cidade do rio é de apenas 18 km em asfalto e com fácil acesso junto à ponte, para a descida dos barcos. Essa é uma boa opção e lógico, mais cômoda.
Apesar da distância, a equipe Aruanã recomenda esse roteiro, pois a pesca é farta e esportiva, a região é muito bonita e os rios de uma beleza incrível. Falar da esportividade da matrinchã será desnecessário e sobre isso podemos dizer que se trata de um dos peixes mais nobres esportivos da Bacia Amazônica.


                       AGRADECIMENTOS


Queremos agradecer ao José Carlos Padilha, profundo conhecedor da região e da pesca da matrinchã.  Agradecemos também ao Noubar Gazarian, pelo companheirismo e dedicação à nossa equipe. Por certo, sem a ajuda destes dois amigos, seria muito mais difícil realizar esse roteiro.