sábado, 31 de outubro de 2015

DICIONÁRIO ARUANÃ PEIXES DO BRASIL - CHERNE



















Muitos o confundem com a garoupa, mas embora da mesma família, o cherne apresenta um colorido diferente destes, e pode ser considerado como um peso pesado do mar. Vamos conhecê-lo.



               










O nome científico do cherne é Epinephelus niveatus, e pertence à família dos Serranidae. Peixe do mar, ainda há quem o confunda com a garoupa ou o mero. No entanto, é um peixe completamente distinto. Seu corpo apresenta uma coloração de um tom que podemos classificar como “chocolate”. Espécie bastante comum em todo o litoral brasileiro, pode ser classificado como um peixe de alto mar, devendo ser pescado no fundo. Sua pesca deve ser tentada, além de em locais profundos, em lugares lodosos. De preferência com o barco apoitado. O material a ser usado é, sem dúvida, o de categoria pesada, com linha de bitola acima de 0.70mm, carretilha e anzol de bom tamanho, sendo aconselhável o de número 10/0. A vara deve ser firme e resistente, com comprimento máximo de 2 metros, já que esta é uma pesca embarcada, e um comprimento de vara superior a este acaba atrapalhando os outros companheiros no barco. Uma prática bastante comum dos pescadores quando estão usando a sardinha como isca é usar três ou quatro delas de uma só vez, fisgadas pelos olhos. Uma característica muito especial do cherne é que ele costuma “embuchar” a isca de uma vez, sendo violenta a sua puxada e consequentemente também sua briga, o que constitui um grande desafio para o pescador amador. Suas iscas preferidas são os pequenos peixes, tais como as sardinhas e os paratis. Costuma pegar também em camarões e lulas. Também há pescadores que utilizam para a pesca do cherne o siri e o caranguejo, devendo estes serem conservados vivos para um melhor resultado. Sua carne é de excelente sabor, podendo ser saboreada frita, ensopada e mesmo assada, para exemplares de pequeno tamanho. O cherne atinge peso e proporções muito grandes, passando facilmente de 100kg de peso e 2m de comprimento. Um dos recordes registrados desse peixe data de abril de 1973, e nos dá conta de um exemplar de 122,5kg capturado na cidade de Cabo Frio, no litoral fluminense. Conforme a região do Brasil, recebe ainda outro nomes. Assim o cherne é também conhecido como: cherne, cherne-preta, cherneta ou chernota (jovem), mero-preto e sirigado-cherne. 

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

FOLCLORE BRASILEIRO - O JABUTI















Com o título original “O Finório do Jabuti”, esta crônica de Eurico dos Santos desvenda os motivos pelos quais este animal é considerado, no folclore indígena, astuto e sabido.











De todos nossos quelônios, é o jabuti o mais conhecido pelos seus hábitos terrestres e facilidade com que podemos conservá-lo em casa, mesmo esquecendo, frequentemente, de lhe dar comida. Resiste a tudo a pobre alimária e, mesmo se lhe deceparmos a cabeça do corpo, ainda durante um mês andará e se mexerá, afirmam sádicos experimentadores. Mas se tem tamanha vitalidade, ao ponto de ser tarefa desanimadora querer matá-lo, é também dono da mais pesada e grosseira incompreensão. Não compreende, nada aprende e nem sequer reconhece quem, durante anos seguidos, lhe forneça alimento. Dificilmente se encontrará entre os brutos uma bruteza maior de entendimento e, coisa singular e curiosa, o índio fez deste animal, um cúmulo de argúcia, um rival da esperta e ardilosa raposa das fábulas arianas, o bicho sete-ciências. No entender do índio toda aquela falta de vivacidade, aquele passo pero e pesadão, a cara sôrna e o olhar apagado são disfarces da mais requintada sagacidade. E tanto assim é que, no rico folclore indígena, o jabuti estará sempre para pimpar de sabido, astuto. Por isso é que, vence o veado na corrida, tapeia o jacaré, mede forças e vence a anta e até o Caapora... (Ironia? Sarcasmo?)
Não parece interessante esboçar aspectos da biologia deste quelônio, porque pouco se oferece de pitoresco. Melhor será, neste caso, abandonar o bicho real, tão desinteligente, pelo que nos pinta a fábula dos nativos. Escolho a história dos jabutis que os índios primitivos mais gostavam de contar e reproduzo-a na sua clássica simplicidade. Certa vez, ia a onça para a caça e ouviu o jabuti tocar flauta e assim cantar: “Do osso da onça fiz minha flauta, fim, fim, fim.” Aproximou-se, mansamente, o felino e disse: - Como você toca bem e como é que estava cantando? – Eu – disse o jabuti – cantava assim: “Do osso do veado fiz minha flauta.” – Hum! A modo de que escutei outra coisa ainda agorinha. –Não. É porque estavas de longe, retrucou o matreiro e acrescentou: - Vou ficar mais afastado e ouvirás melhor. Aproximou-se então da entrada de sua toca e cantou: “Do osso da onça fiz minha flauta”. O felino arroja-se de um salto para o jabuti, mas esse que esperava tal resposta, já se metera na toca onde a onça, enfiando a mão, ainda lhe agarrou a perna. Sentindo-se seguro, o ladino deu uma risada dizendo: - Ah! Pensavas ter pegado minha perna, hein? O que seguraste foi uma raiz de árvore, e continuou a rir. A onça largou-lhe a perna, julgando que fosse mesmo a raiz, e o velhaco riu com mais gosto dizendo: - Olha boba! Você tinha agarrado mesmo minha perna. A onça de ódio ficou à porta da toca esperando que o jabuti saísse, e esperou tanto que até morreu de fome.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

DICA: O PRIMEIRO PASSADOR













A pesca nas modalidades de praia e costão exige, na maioria das vezes, grandes e longos lances. No entanto, apesar de utilizar equipamentos de boa qualidade, há casos em que o pescador simplesmente não consegue fazer bons arremessos. Vamos agora descobrir as causas desse problema tão comum.












Pesca de praia
Em pescarias na praia e no costão, as varas de pesca devem obrigatoriamente ter como medida mínima os 3,5 metros de comprimento. Há também quem utilize varas de 4 ou até 5 metros nessas modalidades. Esses padrões de comprimento tem como base, no caso de praia, permitir bons arremessos e também manter a linha o mais longe possível das ondas, já que a arrebentação, ou se preferirem, a espuma branca das ondas, tende a trazer nossa linha para o raso. No caso do costão, o comprimento tem as mesmas funções, só que em vez de ondas, servirá para nos manter afastados das pedras. Como se vê nos dois casos o arremesso é muito importante.




Costão de pesca

Pois bem. Supondo que o pescador prefira utilizar um molinete, ele devera optar por um de grande tamanho, já que uma outra regra básica nessas modalidades é ter bastante linha de reserva no equipamento, pois o próprio lance já exige uma boa quantidade dela e os peixes muitas vezes só se cansam depois de uma boa briga e após levar bastante linha. É uma visão muito bonita presenciar um pescador dando um grande lance com seu equipamento. Ele costuma acompanhar com os olhos a trajetória descrita pela chumbada, e o faz por duas razões básicas: a primeira é ver exatamente onde consegue jogar e a segunda, não menos importante, é verificar se nenhuma isca caiu durante seu percurso até a água. Voltemos a primeira razão, ou seja, a distância do lance.



Pesca de praia: corvina

Porque será que apesar de colocar força suficiente, muitas vezes não conseguimos dar um lance satisfatoriamente longo? Se isto aconteceu ou está acontecendo com você, saiba que a culpa é do... primeiro passador. Há nesse caso uma regra, matematicamente certa e portanto sem exceções, que mostra que o primeiro passador da vara exerce influência vital na qualidade dos arremessos. Ele deve ter o diâmetro certo e estar disposto no corpo da haste na distância correta em relação ao molinete. Assim sendo, vamos dar alguns exemplos, considerando os grandes molinetes. Comece medindo o diâmetro externo do carretel de seu molinete. Digamos que seja de 95 milímetros. Sendo essa a medida exata, é obrigatório que o primeiro passador da vara apresente um diâmetro interno de 40 milímetros e esteja posicionado a uma distância que pode variar entre 1,2 e 1,4 metros do ponto onde está fixado o molinete. 



Ilustração: localização do primeiro passador através do giro da linha

Tudo isso montado em uma vara de 3,5 metros de comprimento. Se a vara tiver 4 metros, o local apropriado para o primeiro passador irá mudar, e assim sucessivamente, com varas maiores ou menores. Mágica? Nada disso. A explicação é lógica. Vamos a ela. Pegue uma vara somente com a ponteira (pequeno passador fixado na extremidade mais fina), sem nenhum outro passador colocado. Fixe nela o molinete e segure a haste de forma que o mesmo fique posicionado na parte superior do corpo da vara (normalmente ele é fixado na parte de baixo). Puxe a linha e amarre-a na ponteira. Solte a fricção do equipamento completamente, para que o mesmo enrolando, a linha não venha - ela está amarrada, lembra?




Fixação do passador com fita adesiva

Introduza a linha por ele e volte a amarrá-la na ponteira. Retome o teste “enrolando” a linha e veja se ela está raspando demais na borda internas do passador. Se isso ocorrer, solte o passador e vá afastando-o progressivamente, fixando-o com fita adesiva em vários pontos em direção à ponteira até perceber o local exato em que a linha passa por dentro dele sem raspar ou raspando levemente em suas bordas internas. Após determinar e marcar esse ponto, e de acordo com o diâmetro do carretel de seu molinete, você já pode fixar o primeiro passador, que poderá ser esse de 40 milímetros. Se a linha não raspar ou raspar só um pouquinho no passador, pronto: seu lance será perfeito. Se ficar raspando demais ou se houver muita folga, troque o passador por outro de diâmetro interno maior ou menor, lembrando sempre de que a determinação exata desse diâmetro está diretamente relacionada ao diâmetro do carretel do molinete.




Equipamento de praia

Os demais passadores não comprometem o lance, mas é recomendável que sejam colocados nos pontos corretos para que a vara de pesca execute a ação certa. A determinação desses pontos é feita da seguinte maneira: de posse da mesma vara, introduza a linha pela ponteira, ao invés de deixa-la amarrada. Puxe um pouco da linha e amarre a ponta em um local qualquer. Procure então envergar a vara como se estivesse brigando com um peixe. Segure a vara desta vez com o molinete na posição correta (para baixo) e estando ela envergada, a linha estará tensa e encostando na parte inferior do centro do primeiro passador.



Carretilha 

Pegue a linha com a mão e puxe-a de encontro ao corpo da vara em vários pontos, observando a proporção em que ela se mantém reta em relação ao passador anterior e assim sucessivamente, o que facilitará a determinação da medida da haste dos outros passadores (normalmente entre 10, a 15 milímetros), seu diâmetro e sua distribuição ao longo da haste da barra. Observe que em relação à vara, a linha deve ficar em distância igual ou pouco inferior à distância determinada para a haste do primeiro passador. Coloque quantos passadores achar necessário e considere que qualquer haste de vara tem “alma ou barriga”. O melhor exemplo do que é a “barriga” da haste, pode ser entendido a partir da velha e tradicional vara de bambu.



Pescaria de costão

Perceba como as “aberturas” dos gomos (pontos de onde os ramos saem do caule da planta) numa haste de bambu alternam-se entre a parte posterior e anterior da haste, não sendo encontrados nas laterais. A dica é simples: em uma vara de bambu, nunca monte os passadores em nenhuma das duas faces onde os gomos tem suas “aberturas” (para ficar mais claro, vamos chamar essas faces de norte e sul), optando por uma das duas laterais restantes onde eles não existem (”leste” ou “oeste”), que são as “barrigas” ou “almas” da haste.  No caso de varas de material plástico, é possível determinar a “alma” de uma haste girando-a e envergando-a continuamente, sendo que desse modo encontraremos um ponto de circunferência da haste em relação à envergadura dada que será mais mole, ou flexível.




A diferença dos passadores: para molinete e para carretilha 

A “barriga” estará do lado “contrário”, ou diametralmente oposto. Lá devem ser montados os passadores. Simples não? Quem pesca com carretilha pode fazer o mesmo teste explicado anteriormente para o molinete. Abra a ficção do equipamento e enrole a linha. Ao enrolar, note que com a carretilha, ao invés de descrever círculos, alinha correrá reta tanto para a frente como para trás, devido à ação do guia-linha. Observe a que distância ela passa paralela à vara e calcule o ponto para o primeiro passador, que deverá ter o diâmetro igual a essa distância. O comprimento do intervalo entre o ponto onde está fixada a carretilha e o primeiro passador é determinado da mesma maneira utilizada para o molinete no seguinte aspecto: uma carretilha maior pede um intervalo maior, o que não irá obrigatoriamente aumentar muito a medida do passador.




Posição especial para giro da linha

Hoje em dia já existem carretilhas que param o guia-linha no momento do arremesso. Se você tiver um equipamento desses, procure fazer com que o guia-linha permaneça sempre parado no centro. Só para finalizar: você já percebeu como o diâmetro do primeiro passador de uma vara apropriada para a carretilha é bem menor do que o de uma vara para molinete? Bons arremessos.

sábado, 17 de outubro de 2015

DICIONÁRIO ARUANÃ PEIXES DO BRASIL TAMBAQUI





















Se perguntarmos a um morador da Amazônia qual é o melhor peixe de sua região, a resposta será, sem dúvida, que é o tambaqui. Vamos conhecê-lo melhor e saber o porquê dessa afirmação.











Considerado como o melhor da região por quase todos os pescadores, esse peixe, que habita o rio Amazonas e seus afluentes, têm no sabor de sua carne, a principal motivação de sua pesca, além da esportividade que proporciona, é claro. As melhores épocas para pescá-lo dividem-se em dois períodos: e agosto e setembro no baixo Amazonas e em julho e agosto no chamado alto Amazonas. Cientificamente classificado como Colossoma macapromum, já dá ao pescador experiente a primeira dica para sua pesca, pois o tambaqui é da família do pacu (Colossoma mitrei), também chamado de caranha. Essa dica se traduz nas iscas que podem ser utilizadas para a captura do tambaqui: filés de peixe, diversas frutas locais (de preferência que estejam em pés próximos ao local da pescaria), insetos aquáticos, caranguejos, etc. A maneira de pescar o tambaqui também não difere muito daquela empregada na pesca de seu primo pantaneiro, e a modalidade que por assegurar melhores resultados é considerada a melhor de todas e mais produtiva, é a pesca no sistema de batida, para a qual devemos empregar uma vara de bambu de tamanho aproximado entre 3 a 4 metros, linha do mesmo tamanho da vara e com bitola variando entre 0.70 e 1.00 milímetro. O anzol deve ser bastante resistente, e é aconselhável usar-se um empate de aço. Iscada a fruta – e aqui voltamos a insistir que deve ser dada a preferência para aquelas que estão à beira d’água – é só ir batendo nas beiradas do rio, procurando imitar com a maior perfeição o possível barulho produzido por essa mesma frutinha quando cai da árvore, diretamente na água. Duas ou três batidas serão suficientes para atrair a atenção do tambaqui. Após a última batida, é só deixar a isca ir afundando, até que a ponta da vara encoste na água. Caso o tambaqui não venha a fisgar, a isca deve ser retirada da água e o processo deverá ser repetido desde o começo: bater a isca algumas vezes e depois deixar que afunde. No tempo certo e com a isca certa, será inevitável pescar, não só um, mas vários peixes dessa espécie, que, após fisgados, proporcionam ao pescador esportista uma briga como poucas. Para maior elucidação do pescador, devemos esclarecer que o sistema de batida consiste em deixar o barco ficar solto no rio a uma distância aproximada de 2 ou 3 metros da margem, e outra dica muito importante: o pescador deverá ficar sentado dentro da embarcação no mais absoluto silêncio, pois qualquer ruído pode afugentar o tambaqui, que é um peixe muito arisco. Uma interessante curiosidade sobre esse peixe é que as fêmeas da espécie, no período de dezembro e janeiro, podem desovar cada uma um milhão de ovos. O tambaqui atinge facilmente os 90 centímetros, e pode chegar a pesar 25 quilos. A melhor maneira de apreciar o sabor de sua carne é saboreá-lo assado na brasa ou frito, principalmente as costelas, o que constitui um prato muito famoso em Manaus (AM).

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

DICIONÁRIO ARUANÃ ANIMAIS DO BRASIL - CERVO DO MANGUE




















O cervo do mangue ou galheiro é o maior entre os cervídeos sul-americanos; chega a atingir 2m de comprimento e 1.10 a 1.30m de altura no garrote. Distinguem-se dos outros cervídeos por possuírem nas patas posteriores, pela parte de dentro e abaixo do garrão, uma glândula cutânea que segrega uma substância graxenta, e pelos chifres, os quais são maiores, mais grossos e também bifurcados em novas hastes que também se bifurcam, dando um total de 4 pontas, que por vezes chegam a somar 6 , com ramificações menores que saem da parte interna da haste basilar.  



As aspas são rugosas e percorridas por sulcos rasos até as extremidades. O cervo do mangue exibe um colorido castanho vivo no verão, que passa bruno mais claro no inverno As patas e focinho são pretos; a garganta, o ventre e as parte interna dos membros são brancos. Somente os machos possuem chifres, que caem pela primeira vez com intervalo de 12 meses e depois se alargam até os 20 meses. Seus cascos, alongados e providos de uma membrana interdigital, os qualificam para viver em terrenos pantanosos. 



São ótimos nadadores e vivem em cerrados arbustivos perto de cursos d’água e pântanos. A cria não nasce pintada como em outros cervídeos, mas sim com uma coloração uniforme por todo o corpo. Nos primeiros meses, a cerva-mãe só deixa o filhote mamar quando ela está deitada. Parece ser animal de costumes variáveis, segundo sua sociabilidade: vêem-se indivíduos solitários, tanto de um sexo como de outro, como também bandos regularmente numerosos. É entre todos os cervídeos o que menos teme o homem e podem atacar furiosamente seus inimigos. Quando fogem, o fazem com a cabeça para trás, para evitar que a galhada enrosque no mato. Estão seriamente ameaçados de extinção.
Consultoria: Fundação Parque Zoológico do Estado de São Paulo

terça-feira, 13 de outubro de 2015

A LUTA DE SER UM PESCADOR AMADOR NO BRASIL.





No Brasil, ser um pescador amador, antes de tudo, precisa ser um forte. Em um país onde não somos respeitados, nosso meio ambiente cada vez mais depredado, a pesca profissional cada dia que passa, é mais destrutiva, homens errados, nos lugares certos e mais uma infinidade de problemas, que por falta de conhecimento, respeito, vontade de trabalhar e principalmente vergonha na cara, traz a nós e a todo brasileiro, um prejuízo que dificilmente será revertido, em questões de meio ambiente. Hoje, em 2015, uma lei que tira o “período de defeso” de nossos mares e rios, trás a tona, mais “um pouco de discussão”. Mas, os problemas vêem de longe, conforme publicamos na Revista Aruanã nº 5, em junho de 1988. Senão vejamos:





                            Uma lei absurda que, no entanto, foi aprovada.



Preste atenção na opinião do Presidente do Senado, sobre os órgãos responsáveis por nosso meio ambiente.

As sugestões apresentadas a Gastone Righi, o qual teve a humildade de reconhecer os erros e acatar a sugestão e que se tornaram uma nova lei. Promulgada e aprovada, na Câmara e no Senado do Brasil.


NOTA DA REDAÇÃO: Editamos essa matéria, diretamente das páginas da Revista Aruanã, feita originalmente em preto/branco, o que torna sua qualidade um tanto prejudicada. Na época, tivemos o apoio maciço dos pescadores amadores, em cartas, abaixo assinados, telefonemas, pessoalmente, enfim, era do interesse de todos nós repararmos uma injustiça. Evidente está que a força do Jornal da Tarde, foi o principal fator para que fossemos recebidos pelas autoridades citadas. Fica aqui também, uma homenagem aos pescadores amadores que hoje pescam em nosso depredado meio ambiente e, que nem tinham nascido ainda. Cabe a eles agora, que lutem, pois nós, pescadores “mais antigos”, lutamos e continuamos a lutar. 

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

AGORA FALANDO SÉRIO: 18 DE DEZEMBRO DE 1997.


Como sempre faço, na parte da manhã, estava vendo alguns fotolitos que por certo irão aparecer aqui no blog, quando me deparei com este editorial da Revista Aruanã nº55. Na época tínhamos problemas com a fiscalização em Mato Grosso, mais especificamente no trevo do Lagarto, onde iscas artificiais estavam sendo apreendidas. O texto do editorial já diz tudo, assim como documento assinado pelas autoridades competentes. Quase duas décadas depois, com exceção da proibição do uso de iscas artificiais, o que mudou? A resposta é sua.








sábado, 10 de outubro de 2015

EXCLUSIVO: HISTÓRIA DE PESCADOR












Em junho de 1991 publicamos na Aruanã nossa Aventura no Araguaia. Esta história aconteceu quando no final da aventura, chegamos em São Felix. Seis anos depois, nos lembramos desse fato e o publicamos em abril de 1997. 





A Aventura no Araguaia foi uma reportagem que marcou época, devido à distância percorrida e ao tempo que demoramos para concluí-la. Nossa equipe, mais uma vez, contava com a presença do fotografo Kenji Honda. Para que o leitor saiba quem ele é, mostramos aqui um pequeno “Curriculum” do Kenji. Fotógrafo profissional há muitos anos, presta serviço para a Aruanã principalmente por ser nosso amigo e também um fanático pescador amador. Somos amigos há cerca de 14 anos, desde a época em que ambos trabalhávamos (*) no Jornal da Tarde em São Paulo. Já fizemos várias matérias juntos, convivência que para mim foi excelente, pois o Kenji me ensinou muito em se tratando de fotografias. Como ele diz, é uma troca de interesse, pois quando vai uma informação de pesca, volta informação de fotografia. Uma outra particularidade do Kenji é consertar tudo que está quebrado ou não funcionando. Além disso, nessas viagens, a sua “farmácia” particular é visitada por todos os membros da equipe, já que lá há de tudo para qualquer mal que se sinta. Nos acampamentos também é muito engraçado, pois logo que amanhece, nosso pessoal sai cedo das barracas para o café e agita todo o acampamento para a pescaria do dia. O Kenji não. Ele só abre o zíper da barraca o suficiente para aparecer sua cabeça e fica parecendo um sagui no oco de uma árvore. Tal procedimento é o suficiente para toda a equipe cair matando em cima do japonês. É um tal de imitar o sotaque nipônico, que só acaba quando ele finalmente sai da barraca.

Algum leitor desconfia de quem são essas costas sexy? 

Há muitos fatos engraçados dessa viagem e puxando pela memória, de imediato me lembro da lanterna que não funcionava. Deram para o Kenji consertar e o “defeito” era que tinham colocado só três pilhas e a lanterna tinha capacidade para quatro. Colocada mais uma pilha, a lanterna passou a funcionar. Foi a vez dele dizer: “brasireiro é burrinho, né?” Pois é, esse é o Kenji. Outro fato muito engraçado no Araguaia é que, alérgico a mosquito, o Kenji parecia que estava com catapora, tantas eram as marcas das mordidas dos insetos. À noite, após o jantar ele fazia um monte de areia na praia e ficava com os pés enterrados até a altura onde começava a barra de suas calças. E dizia em voz alta para os mosquitos: Morde agora, desgraçado, morde!”Mas o mais engraçado estava por vir, e aconteceu quando chegamos a São Feliz. Para entender, deve o leitor imaginar como estávamos nós todos bem bronzeados, já que havíamos estado sob o sol por cerca de 14 dias ininterruptos. Bronzeados é o mínimo que podíamos dizer uns dos outros. Quando as aventuras terminam e enfim chegamos à cidade destino, começamos a tomar um banho de civilização, e é uma delícia, por exemplo, comer um salgadinho qualquer com uma bebida bem gelada. Fizemos isso em São Feliz, em um bar da rua do porto. Pegamos o salgadinho e a bebida e sentamos no meio fio, à sombra de uma árvore. Quem conhece essa cidade sabe que ela fica bem próxima a uma aldeia da tribo dos Carajás, em Santa Isabel do Morro, dentro da Ilha do Bananal, ou seja, do outro lado do rio Araguaia. Muitos índios dessa tribo frequentam o comércio da cidade em busca de produtos variados.





Nosso galã.


De repente, percebemos que as índias passavam por nós olhando espantadas, iam logo à frente e retornavam, fazendo esse percurso por várias vezes, enquanto conversavam no seu idioma original, rindo bastante. Aquilo começou a nos intrigar e entre nós tentávamos descobrir o que a “indiarada” tinha cismado. Finalmente descobrimos o motivo de todo aquele alvoroço, já que o Kenji, com o cabelo comprido e queimado do sol, mais parecia um índio, sentado na calçada e bem à vontade. Aliás, observar essa semelhança, depois da descoberta, era incrível! E como não poderia deixar de ser, começaram as gozações. Era um tal de perguntarmos a ele, agora com “sotaque” de índio, qual era a sua tribo, de onde ele tinha vindo, qual era seu nome, etc. Dando boas risadas, ele respondia a tudo e, descaradamente, quando algum índio Carajá o encarava, levantava a mão e cumprimentava seu “parceiro”, dizendo: “mim tribo do japonês”. E assim nasceu o “galã da tribo dos Carajás”, que por certo deixou saudades lá em São Felix quando viemos embora. Essa é uma homenagem que faço ao Kenji Honda, um excelente profissional da fotografia e, além de tudo, um grande amigo. Kenji, um abraço fraterno a você.


*N.R. Até hoje ele continua trabalhando no jornal O Estado de São Paulo.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

FOLCLORE BRASILEIRO --- O SACI



















O saci incorporou-se ao folclore e lendário nacional, fixando um marco indissolúvel de casos e histórias relacionadas com sua existência. Saci pererê é um conhecido negrinho de uma perna só, com sua clássica carapuça vermelha e apaixonado fumante de pitos. O saci tornou-se um mito clássico no folclore brasileiro, chegando a preocupar os intelectuais. Houve uma série de inquéritos, a fim de averiguar o prestígio deste “negrinho” buliçoso que se perpetuou e integralizou dentro do lendário nacional. O saudoso Monteiro Lobato, nos idos dias de 1947, lançava num jornal da Paulicéia uma série de estudos brasileiros. Denominou-a de “Mythologia Brasilica” e curiosamente assinava com um “L”. Foi precisamente no dia 28 de janeiro de 1927, um domingo, e o jornal era “O Estado de São Paulo”. Após a introdução humorística, típica do gênio do saudoso Lobato, ele nos fornece esses ensinamentos. “Das nossas criações populares, a mais original é o saci pêrere. Vem do autóctone que lhe deu o nome atual, corruptela de çaa cy perereg,... O mestiço meteu nele muita coisa de seu”. Da corruptela sofrida podemos assim expressar o significado: çaa cy = olho mau; perereg = saltitante. Sua variação etimológica é curiosa e variada, bem como sua forma. No sul, na sua gênese, o saci prima por uma forma típica de negrinho, de uma perna só, com a carapuça vermelha, muito buliçoso, na maioria dos casos com aspecto de menino. Pequenos detalhes atrofiam sua forma, variando conforme a região. Ele sofre algumas modificações marcantes atribuídas pelos caboclos das regiões paulistas e paranaense: ora é um caboclo, ora é um menino (conserva sempre a característica acima descrita); alguns afirmam vê-lo lustroso, outros peludos. Seu aparecimento em geral é noturno. Num belo estudo comparativo, Barbosa Rodrigues fornece detalhes de suas variantes. Oportuno torna-se descrevê-lo: “No Rio de Janeiro, onde a onda negra mais estragos fez, onde pelos sertões o cancro da escravidão mais tem corroído, o çacy tapererê, que por uma síncope passou a ser sapererê e que os negros fizeram sererê e siriri, tomou a cor negra e usou barrete vermelho, que os africanos recebiam nos armazéns do Vallongo, do Caju e nas costas Marambáia. Assim çacy passou a molequinho coxo ferido nos joelhos, porém mais ativo do que o caboclo”.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

AVENTURA NO ARAGUAIA













H á muito tempo essa aventura se desenhava em nossas mentes. A equipe, formada por mim, o Kuringa (da Levefort), o Kenji (fotógrafo e cinegrafista), o Teodoro e o David – dois amigos que também gostam de aventura -, partiu de São Paulo no dia 17 de abril com destino a Goiânia, onde chegamos na tarde do mesmo dia. Lá, um novo e muito importante membro se juntou à equipe: o Enéas, nosso guia e cozinheiro oficial. Pernoitamos em Goiânia, e no dia 18, às 10:00h da manhã, saímos para Barra do Garça. Durante esse percurso, a viagem, que vinha até aqui desenrolando-se tranquilamente, teve na estrada seu primeiro contratempo, pois, de São José dos Montes Belos até Israelândia, cerca de 40 quilômetros da estrada estão em estado lastimável, o que fez com que nos atrasássemos bastante, já que nossa velocidade média nesse trecho não ultrapassou os 20 km/h. Por esse motivo, acabamos chegando a Barra do Garça somente às 18:00h. Nos hospedamos em um hotel chamado Karajás e aproveitamos o final da tarde para fazer as ultimas compras de supermercado e outras miudezas. No dia 19 pela manhã, fomos para a beira do rio, onde colocamos os barcos na água em uma rampa de concreto existente logo abaixo da ponte que liga Aragarças a Barra do Garça. O rio Araguaia nesse trecho ainda tem as águas limpas, mas na junção com o rio Garças, com sua águas barrentas, adquire essa cor, que nos acompanhou mais de dois terços da viagem.



 A carga, que não era pouca, foi acomodada nos barcos e, exatamente às 10.45h, ligamos os motores. Mesmo acostumado a essas aventuras, meu coração bate mais forte nesses momentos, já que tudo sempre é novidade. Uma boa oração pedindo proteção faz parte de nossa saída. Navegamos por mais de 4 horas e aproveitamos nossa chegada a Araguaiana para almoçar em uma pensão local. É uma pequena cidade, mas com algum conforto, como combustível, gelo e até comprar, se houvermos esquecido alguma tralha da cozinha. Às 14:30h navegamos novamente, pois nosso primeiro acampamento iria acontecer.  Nesta parte do rio, são muitas as praias de areia que avistamos. Vez por outra passamos por diversas formações de pedras que o pessoal nativo chama de “travessões”. Aliás, são os pontos mais perigosos do rio, e mais tarde voltaremos a falar deles. Navegamos por mais três horas, e às 17:30h paramos em uma praia para montar o primeiro acampamento. Esse local chama-se Barreira do Canta Galo. É uma praia bonita, e no fim dela, à direita, um barranco dá nome ao lugar. Ainda não havíamos pescado, só viajado, já que nossa preocupação maior era nos afastar o mais possível das cidades ribeirinhas. A montagem do acampamento ficou muito bonita, e essa foi uma tarefa que só acabou ao entardecer. Era uma barraca para cozinha e seis barracas individuais, pois a experiência dita que nosso sono tem que ser tranquilo. Pelo caminho, diversos registros feitos, como os travessões, que, quando a água está limpa, devem ser excelentes pesqueiros de matrinchãs e mesmo de peixes de couro. 



Nas margens, avistamos diversas espécies de pássaros, como os cabeças secas, garças, irerês (aos bandos) e especialmente colhereiros, que com seu colorido róseo, chamam muito a atenção. Rememorando esse trecho da viagem, passamos pelos seguintes locais: rio Caiapós (Go), rio Ouro Fino (MT), rio Piranhas e rio Claro (GO), todos com águas bastante barrentas. Um bom jantar e sentamos na praia, ouvindo os piados tristes dos jaós, anunciando a noite. Relativamente cansados, fomos dormir.
                                         DIA 20 DE ABRIL
O café saiu cedo e a vontade de pescar também. Montadas as varas de pesca, apesar da água suja, fomos tentar os peixes de couro. Talvez por essa razão, o resultado tenha sido negativo. No entanto, perto do acampamento havia um pequeno igarapé (pequena saída de rio) onde a água estava limpa. Tentamos entrar lá, mas havia várias árvores caídas e isso foi impossível. O Kuringa, o Kenji e o Teodoro, ajudados pelo Enéas voltaram lá depois do almoço, e usando iscas vivas (sardinhas), fisgaram matrinchãs, jurupocas e vários jurupensens. Foram a nossa janta. Eu e o David fomos dar uma volta na mata. Vimos vários rastros de paca, veados, tatus e, atrás do acampamento, bem perto de nós, rastros de anta. O dia passou rapidamente e nosso jantar foi arroz, feijão, batata frita e peixe, frito e ensopado. O Enéas começava a mostrar suas qualidades, tanto como guia e como cozinheiro. E isso durou toda a viagem. Mais tarde vamos falar nele. O sono bateu forte, e às 21:00h fomos dormir, já que no dia seguinte iríamos rodar até Aruanã. 


Durante a noite uma chuva forte rodeou o acampamento. Mas sobre nós, nem um pingo sequer. O café, como sempre, estava pronto antes de acordarmos, o que acontecia por volta das 06:00h. O Enéas na cozinha foi ótimo. Ficamos fazendo hora para as barracas secarem. Desmontamos tudo e carregamos os barcos, saindo direto para Aruanã. Eram 10:00h, e a paisagem é muito bonita, com muitas matas e praias. Mais alguns travessões. De resto, a viagem foi tranquila. Mais ou menos às 12:30h, encontramos uma ponte enorme. É a ligação de Goiás e Mato Grosso. Seu nome é Barreira Branca e faz a ligação para a cidade de Cocalinho. Paramos para registrar os fatos, e do lado de Goiás, há um restaurante que serviu de base para nosso almoço. Mais uma hora de viagem e chegamos à cidade de Aruanã. No porto, uma faixa saudava a chegada de nossa equipe. Desde a ultima vez que lá estive, a cidade cresceu muito. Aruanã está situada do lado de Goiás e na confluência do rio Vermelho com o Araguaia. As águas do Vermelho estavam limpas. Do porto e pelo rio Vermelho, fomos para a casa do Sr. Luli, que nos aguardava. O Sr. Luli, nascido Itabira Loureto Spenciere, já havia nos recepcionado em Goiânia, pois é lá que tem suas atividades, sendo proprietário das lojas A Sertaneja e Rio Vermelho, dedicadas ao comércio de artigos de pesca. Nascido em Goiás, só de beira de rio, na região de Aruanã, tem 45 anos. Aliás, tem o título de cidadão de Aruanã, por serviços prestados à comunidade.
 O Sr. Luli nos deu apoio absoluto e o sucesso de nossa aventura muito dependeu dele. Aliás, ele deixa seu telefone à disposição dos “futuros aventureiros”, para qualquer informação: (062) 225-6003. (NR: á confirmar).




Como não podia deixar de ser, fomos maravilhosamente recebidos na casa do Sr. Luli, que nos ofereceu um almoço, e à noite, um gostoso churrasco. Fomos dormir às 23:00h, já que no dia seguinte, nossa viagem ia prosseguir. Como registros dessa etapa, anotamos o seguinte: consumo de gasolina para os três barcos 220 litros, gastos no percurso e nas pescarias. Passamos os seguintes lagos: Canguinha (GO), Jacaré (MT), Água Limpa (GO), Tacaiú (MT), Piratininga (GO) e Chiquinho Antão (MT). A noite passada em Aruanã foi tranquila, e um fato bastante pitoresco aconteceu. O Teodoro em recente viagem a Miami, havia adquirido uma lanterna blindada, que podia ser usada até debaixo da água. A bem da verdade, já o havíamos visto com a lanterna na mão, colocando as pilhas. Depois de muito mexer, e sem que ela acendesse, à mesa ele pediu-me que desse uma olhada, já que havia mexido nela toda e nada da lanterna acender. O Kenji que gosta de mexer com esse tipo de coisa, pegou a lanterna e as três pilhas fornecidas pelo Teodoro. Testou o contato, testou a lâmpada, regulou o foco e nada da lanterna acender. Com sua paciência de oriental, começou a estudar o funcionamento da dita cuja e o veredito foi rápido. A lanterna não acendia porque era de quatro pilhas e o Teodoro só tinha colocado três. Posta uma pilha a mais... milagre! Passou a acender normalmente. Foi uma risada só, e, lógico acompanhada de diversas gozações ao companheiro. 


                                        
                                      DIA 22 DE ABRIL
Nossa “alvorada” foi às 06:00h da manhã. O Sr. Luli nos esperava com um café completo. Após os desjejum, o Etiene, amigo e companheiro do Luli, chegou com um jipe e fomos dar uma volta pela cidade. Para mim era uma surpresa rever Aruanã depois de tantos anos. É uma pequena cidade, mas completa e com todos os recursos. Na praça perto do porto, usadas como monumento estão as caldeiras do barco de Couto de Magalhães. Após o giro pela cidade, fomos comprar gasolina, enquanto o resto do pessoal fazia as compras do que faltava para a cozinha. Começamos a carregar os barcos às 11:30h, após as despedidas dos amigos, ganhamos o rio. As águas do Araguaia estavam bastante barrentas, e o nível do rio havia subido um pouco. Talvez fosse devido à forte chuva que nos rodeou em Canta Galo. Desde nossa saída de Barra do Garça, encontramos alguns pontos do rio que, se não perigosos, deve-se tomar com eles muito cuidado. São os travessões, locais de pedras e onde existem corredeiras. Com cuidado deve-se passar no local mais fundo, facilmente identificável, pois as águas da superfície são mais lisas. Desde Barra do Garça até Aruanã, passamos por cinco desses travessões, e segundo Enéas, até São Feliz, ainda passaríamos por mais seis. Continuamos a viagem e, às 13:00h, chegamos à cidade de Cocalinho. Pela hora, aproveitamos para almoçar na Churrascaria Gaúcha, que de gaúcha só tinha a cidadania do dono, já que o almoço servido foi composto de arroz, feijão, salada de tomate e bife de uma carne bastante dura, frito em frigideira.




 A cidade de Cocalinho tem alguns recursos, como gasolina, supermercados e gelo. Gastamos de Aruanã a Cocalinho 80 litros de gasolina, sempre nos três barcos e no total. Na saída, compramos mais 300 litros de gasolina, pois daqui para a frente, mais recursos só em Luis Alves. Mais ou menos a 20 quilômetros de Cocalinho “achamos” uma praia muito bonita, que o Enéas disse chamar-se Praia da Mamona. Por votação, mudamos seu nome para Praia dos Pássaros, tal é a quantidade de paturis, garças, cabeças secas, colhereiros, gaivotas, quero-quero e marrecões que lá habitam. Paramos na praia às 17:30h e montamos o acampamento. Ficou tudo muito bonito, com a cozinha no meio e três barracas de cada lado. A noite veio chegando e o céu ficou maravilhoso, tal era a quantidade de estrelas que se podia avistar. O jantar preparado pelo Enéas foi à base de arroz, feijão, omelete, salsicha e macarronada. De aperitivo, “iscas fritas” de bargada, uma espécie de bagre, também conhecida como surubim-chicote. Às 22:00h fomos dormir. O barulho dos pássaros era forte. Bandos enormes de paturis passavam sobre o acampamento, mas nada disso incomodava, já que, vencidos pelo cansaço e pelo sono, adormecemos.
                                               

                                                   DIA 23 DE ABRIL
Exatamente às 06:30h acordei com um cheiro gostoso de café. Na cozinha, além do café, havia leite, bolacha, manteiga e doce. Coisas do Enéas. Dividimos a turma. Eu e o Teodoro, que gostamos de iscas artificiais, fomos para o Lago Rico, bem próximo ao acampamento.


É um lago enorme e muito bonito. Na foz do lago com o Araguaia, vários botos sopravam à superfície, inclusive um deles cor-de-rosa. A água do lago estava um pouco barrenta e não encontramos os tucunarés. De comum acordo resolvemos passar para o Lago da Saudade do lado de Mato Grosso. Na entrada do lago, uma surpresa: um cardume enorme de peixes. Faziam até ondas na água quando se movimentavam. Joguei uma Rebel de barbela, e assim que a isca caiu na água, um peixe fisgou. Um pouco de briga e um salto, quando identificamos a espécie: uma matrinchã. Mudamos a isca para um spiner de um só anzol e começou a primeira pescaria. Em pouco tempo, doze matrinchãs estavam embarcadas, e as levamos para o acampamento para reforçar a cozinha. Nessa pescaria um fato interessante: alguns botos não deixavam as matrinchãs saírem do lago para o rio. Estas, por sua vez, atacavam as sardinhas, lambaris e outros pequenos peixes, mostrando sua presença, e com essa dica, as atacávamos. Já tínhamos peixe suficiente para o acampamento, subimos o lago para conhecê-lo melhor. Rodamos mais ou menos dez quilômetros e toda a extensão do lago tem água limpa. Voltamos para a Praia dos Pássaros. Chegando ao acampamento, soubemos que o Kuringa e o Kenji haviam fisgado cinco mandubés (palmito) e quatro barbados. Aliás, um já estava devidamente frito e nos serviu de tira gosto a um merecido aperitivo. 


Fizemos fotos dos peixes e nosso almoço do dia, além do tradicional arroz com feijão, ainda teve maionese e peixe frito. Estava escrevendo essa parte da aventura às 15:00h e o calor era intenso. Calculamos mais ou menos uns 40 graus à sombra. Vez por outra parava para um banho de rio. O Kuringa e o David foram para uma sombra do rio e fisgavam lambaris e sardinhas para iscas. O Kenji estava lá fora fotografando o acampamento. O Enéas, cochilava ao meu lado, e vez por outra, para disfarçar ele dizia: “Ô sol quente!” Disse isso umas dez vezes em seguida. Sua cabeça pendia para o lado e ele dava cada “fisgada” que fazia gosto. Após a fisgada, lá vinha de novo a conversa do “Ô sol quente!” O pior de tudo era que nós estávamos na sombra. Muito engraçado. Às 16:30h, dois barcos voltaram a pescar. O Kuringa e o Kenji foram tentar peixes de couro. O David e o Teodoro foram a um “furado” pescar o que aparecesse. De longe os avisto. O David no barco pescando e o Teodoro, que havia armado um mosquiteiro na margem e na sombra, dormia. De longe, parecia uma noiva em pleno casamento. Como o calor era muito forte, resolvi ficar no acampamento, jogando conversa fora. O Enéas tem muitas histórias para contar. A noite veio chegando, e é a hora mais gostosa e bonita. O sol se põe na mata à nossa frente e são várias as tonalidades de cores no céu. Já dava para ver uma ou outra estrela a cintilar. A lua estava quase cheia e a claridade do luar nos permitia andar pela praia sem precisar de lanterna. De onde estava, conseguia ver um tuiuiu andando na beira do rio.


Com o auxílio da lanterna, pude iluminar dois jacarés com seus olhos parecendo brasas. Antes de dormir, fiz uma entrevista com o Enéas e fiquei sabendo seu nome completo: Enéas Mota da Silva. Cearense de Fortaleza, 57 anos, foi criado em São Paulo. Chegou ao Araguaia em 1953 como funcionário da Cruzeiro do Sul, lotado em Aruanã, e aí ficou. Desde 1969 serve de guia para os turistas que queiram acampar. Muita gente famosa já andou com o Enéas pelo Araguaia, e entre estes se destaca o presidente Juscelino Kubistchek quando em exercício e muitos outros, pois a lista é grande. Hoje, nós estivemos em sua companhia e dele nada temos a reclamar, pois trata-se de uma excelente pessoa. Seus serviços podem ser contratados através do telefone do Sr. Luli, do qual é amigo há muitos anos.
                                              DIA 24 DE ABRIL
Como sempre, acordamos por volta das 06:00h. Da barraca da cozinha, vem um cheiro gostoso de café. Aos poucos os companheiros vão saindo das barracas Itatiaia e se chegando para o café. Após o desjejum, resolvemos voltar ao lago da Saudade para ver se as matrinchãs ainda estavam por lá. O cardume ainda estava ativo no local, e aproveitamos para fotografar e filmar aqueles momentos. Fisgamos mais de 20 peixes com peso variando entre 1 e 2 kg, e soltamos todos. Ficamos pescando várias horas e voltamos para almoçar.


À tarde, montamos material mais pesado, pois pela manhã, vários filhotes (piraíbas) estavam dando caça às matrinchãs. Voltamos ao lago, mas as piranhas comiam as iscas, não dando tempo para os filhotes fisgarem. O Enéas, durante a tarde, voltou a Cocalinho para buscar mais gelo. Todos cansados neste dia, jantamos e fomos dormir.
                                               DIA 25 DE ABRIL       
Café pronto às 06:00h. Parecia um relógio. O David e o Teodoro resolveram voltar as matrinchãs. O resto do pessoal resolveu lavar a roupa suja. Literalmente. Durante e após a lavagem, o assunto girava em torno de exaltar as mulheres e maquinas de lavar. Fizemos um varal e pusemos tudo para secar atrás das barracas. Resolvi dar uma volta grande por toda a praia e beirada da mata. Bandos de paturis, colhereiros, garças e marrecões voam à nossa aproximação. Na areia da praia, vários rastros de animais, e em especial, o de uma anta. Mais perto da mata, o rastro de uma capivara, seguida pelo rastro de uma onça. Na pegada da onça cabe a minha mão fechada e ainda sobra espaço. Voltei. Pegamos umas cadeiras e fomos sentar perto de um pajaú, que é uma árvore de boa sombra. Eu, o Kuringa, o Kenji e o Enéas, ficamos por ali jogando conversa fora até a hora do almoço. Parece que os companheiros que foram pescar sentiram o cheiro, pois foi só almoço ficar pronto que ouvimos ao longe o ronco do motor de popa. Eles não tinham novidades. Apenas uma boa quantidade de matrinchãs fisgadas e soltas, segundo nos contaram.



O almoço foi macarronada ao sugo. De aperitivo, iscas de peixe e goiabada de sobremesa. À tarde, ninguém fez absolutamente nada. Ficamos à toa, esperando a noite chegar. No jantar, comemos matrinchãs à moda índia, ou seja, assadas no braseiro. Após o jantar, toca arrumar tudo, já que no dia seguinte iríamos viajar novamente.
                                                DIA 26 DE ABRIL
ÀS 06:00h o Kuringa acordou o acampamento. Após o café, desmontamos tudo e carregamos os barcos. Uma surpresa: nossos barcos estavam encalhados na areia. O rio Araguaia durante a noite, havia descido quase um metro de altura. Levamos os barcos para a água mais profundas e devidamente abastecidos, iniciamos a nova etapa da viagem. Eram 08:45h. A descida deu-se sem problemas, e às 11:00h passamos por Bandeirantes, uma cidade pequena, mas muito simpática. Na praça principal, bastante bucólica, a Igreja Matriz e algumas casas comerciais. Nos bancos da praça, dizeres sobre quem os doou. Havia ainda na praça o Hotel Bandeirantes, do Sr. João Pinto, onde almoçamos. Cardápio: arroz, feijão, bife, frango ensopado, jiló, quiabo, salada de tomate e repolho. Foi um banquete. Às 13:00h estávamos novamente no rio. Ao longe algumas nuvens escuras e a chuva caindo. Os três barcos navegavam a uma velocidade de 30 ou 40 km/h. De repente um estrondo no meu barco. Solto no rio, um tronco submerso, que levantou meu motor para fora da água. 


Continuou funcionando, mas com um ruído diferente e pouca potência. O jeito foi encostar e ver o ocorrido. Descobri que o problema era com a hélice. Com a pancada, uma das pás, além de entortar, havia quebrado até a metade. Por precaução, havíamos levado hélices reservas. Foi só trocar e em minutos já navegávamos novamente. A chuva que havíamos visto ao longe agora desabava sobre nós. Antes de castigo, era uma dádiva, pois com ela o calor ficou muito mais suportável. A única preocupação agora era o rio, pois com a chuva e o vento, as águas encresparam um pouco e formavam ondas. Tivemos que diminuir a marcha, e assim como havia começado, de repente tudo voltou ao normal. Chegamos a Luis Alves às 15:30h. Gastamos nesse percurso 150 litros de gasolina. Daqui para baixo o rio ainda está alto, e com a cheia, paramos na rua principal, em frente ao Hotel Pousada do Jaburu, onde o proprietário Oton Nascimento, nos aguardava. Essa pousada recebe pescadores, e é um local muito bonito e bem cuidado, de frente para o rio. Tem diversos apartamentos, e inclusive, uma piscina. Luis Alves é uma pequena cidade e boa base para a viagem. Tem supermercado, hotel, açougue, restaurante e inclusive um posto telefônico, além do que para nós era o mais importante: posto de gasolina. Fizemos as contas e ficamos sabendo que já havíamos andado 650 quilômetros em rios. Anotamos nesse trecho o seguinte: rio do Peixe (GO), Lago Xixá (GO), lago do Fuzil (MT), lago São Joaquim (MT), lago Cocal (MT), cidade de Bandeirantes, lago Piedade (GO), rio Ribeirão Dantas (MT), lago da Montaria (MT), rio Crichás (GO) e o lago Luís Alves (GO), que fazia divisa com a cidade. Passamos a noite no hotel.

                             

                                 DIA 27 DE ABRIL
 Com as comodidades da Pousada do Jaburu, levantamos mais tranquilos, mas no mesmo horário. Um desjejum completo, e da varanda do hotel, conseguimos ver o Araguaia, que desce tranquilo à nossa frente. Nossa tarefa para o dia era simples, já que os barcos haviam permanecidos carregados. Só descemos com a bagagem pessoal. Fomos abastecer os barcos e nossa meta era a barra do rio Cristalino. Exatamente a 65 quilômetros rio abaixo começa a Ilha do Bananal, que é formada pela divisão do rio Araguaia à direita com o rio Javaés à esquerda. Saímos as 09:45h. Deste trecho para a frente, a água estava mais limpa. Após duas horas navegando, chegamos à ponta sul da Ilha do Bananal. Continuamos pelo Araguaia e muitas surpresas fomos encontrando. São vários animais na beira do rio: macacos, jacarés, capivaras, e pássaros, como o mutum, jacú-cigano, araras, etc. Às 13:30h passamos pela barra do rio Cristalino. Suas águas fazem jus ao seu nome: são limpas e claras. Mais meia hora e chegamos ao nosso ultimo acampamento da viagem, na Fazenda Almeida Prado. Usamos como base uma casa vazia da fazenda. E a enchente aqui ainda era grande e descemos dos barcos diretamente na varanda da casa. Isso após passar a porteira da fazenda com o motor do barco funcionando. Descarregamos tudo e já estava na hora do almoço.


Em Luís Alves, o Enéas havia comprado carne e fígado de boi. Foi nosso almoço. A mais ou menos um quilômetro da fazenda há um lago e lá iríamos à tarde tentar os tucunarés. Seu nome é lago da Onça. Montamos nosso material e fomos pescar. Havia tanto peixe que, mal a isca caía na água, era ataque imediato. Em duas horas fisgamos mais de 50 tucunarés. Sacrificamos seis e soltamos o resto. São tucunarés médios, mas vez por outra, fisgávamos exemplares com 5 kg ou mais. Nessa mesma pescaria, fisgamos ainda bicudas, apapás e cachorras. É incrível como tem peixe nesse lago. À nossa volta e embaixo das galhadas, é um festival de tucunarés a atacar pequenos peixes. Cheguei a fisgar dois tucunarés de uma só vez e na mesma isca. Voltamos para a fazenda e nosso aperitivo iria ser iscas de tucunarés. De Luís Alves até aqui havíamos gasto 130 litros de gasolina. Para registro, passamos os seguintes locais: lago da Loira (GO), lado do Varal (MT), lago do Chapéu de Palha (GO), rio Javaés (GO), lago da Goiaba (MT), lago do Capim (Ilha do Bananal – Tocantins (TO), lago Comprido (MT), lago da Ressaca (MT), lago Maria Mendes (TO), lago da Ferreira (MT), lago da Vaca Morta (TO), lago da Pretinha (MT), rio Cristalino (MT) e lago da Onça (MT). Eu estava escrevendo às 19:30h, e o ataque dos pernilongos – lá chamados de muriçocas – era intenso. A única defesa era o Autan, já que os mosquitos ferravam por cima das roupas. Com certeza eles nos fizeram dormir mais cedo, já que, antes das 21:00h, estávamos todos deitados. Além desse havia outro incômodo: o calor intenso, que chega quase a sufocar. Cansado peguei no sono. 

Acordei suado, e o relógio marcava 23:00h. O jeito foi levantar e tomar um banho de rio. Molhei uma toalha e durante a madrugada, vez por outra a passava no corpo. Dentro da casa não há ventilação, o que faz com que o calor aumente muito.
                                               DIA 28 DE ABRIL
Finalmente a noite passou, e às 5:00h acordei. Lá fora o Enéas e o Kuringa já batiam papo. Tomamos café e esperamos o dia clarear mais. O Kenji e eu fomos ao lago tentar fotografar um tucunaré pulando. “Se sair boa, será a capa dessa edição” – pensei. Assim que chegamos ao local da pescaria, no primeiro lance, um tucunaré enorme fisgou e levou a isca para as tranqueiras, arrebentando a linha. Lá se foi uma Red Fin 900. Montei uma Long-A média e voltei a pescar. Fisguei mais de 20 peixes e soltamos todos. O calor no sol é intenso, e o pior é que não havia vento. Voltamos ao acampamento onde uma “violenta” macarronada ao sugo nos esperava. Após o almoço ficamos na varanda da casa esperando o calor diminuir para podermos pescar. Às 16:00h voltamos ao lago da Onça para o nosso ultimo dia de pescaria, e desta vez aproveitamos para gravar um vídeo. Conseguimos pegar várias cenas do ataque dos tucunarés às iscas de superfície. Não contamos, mas com certeza, fisgamos mais de 80 peixes. Entre eles, três enormes, fisgados pelo Teodoro e o Kuringa. Embarcamos os oito maiores para levar para casa.



 Durante essa pescaria, na hora de tirar um tucunaré do anzol, o Kuringa fisgou a garatéia da isca no seu dedo indicador direito. Recomendando calma ao companheiro, fui até o seu barco e consegui ver a garatéia no dedo. Examinei com cuidado para ver se não estava no osso. Esse acidente é comum com iscas artificiais, a não ser que, na hora de se tirar o peixe da água, utilizemos um alicate e um puçá para ter maior segurança. O primeiro passo foi tirar a garatéia da isca, o que fiz com o alicate de corte. A segunda foi cortar os anzóis excedentes, deixando apenas aqueles que estava fisgados no dedo. A haste da garatéia tem que ficar inteira. Com cuidado, fui mexendo com o anzol, sempre perguntando ao Kuringa se doía. Realmente, a dor é grande. Com um alicate de bico, segurei firme a haste do anzol e, recomendando calma ao companheiro, fiz o anzol transpassar o dedo, saindo a fisga pelo mesmo lado. Após essa operação, foi só cortar a fisga e voltar com o anzol pelo mesmo buraco. Pedi ao Kuringa que deixasse escorrer um pouco de sangue, e logo após, passamos mercúrio cromo. Tal fisgada não demorou muito a sarar, já que ele continuou pescando normalmente alguns minutos após a “operação”. Ficamos nesse lago até escurecer. Na volta para o acampamento, o calor ainda castigava. Um banho de rio, jantar e cama, já que os mosquitos não davam sossego. 


                                           
                                           DIA 29 DE ABRIL
Acordamos às 05:30h, e depois de um rápido café, começamos a carregar os barcos, e lá fomos para a última etapa da viagem. Eram 07:45h quando recomeçamos a navegar. Mais ou menos às 08:30h, uma chuva muito forte nos pegou no rio, e mesmo com as capas, ficou todo mundo ensopado. Choveu durante uma hora e como acontece muito nessa região, depois da chuva veio um sol forte. É uma boa, pois a roupa seca rapidamente no corpo. Às 10:30h passamos pela foz do rio das Mortes, e às 11:40h, finalmente encostamos no porto da cidade de São Felix. Calculamos em 1.300 os quilômetros percorridos no rio Araguaia, contando 1050 de percurso e mais as saídas para as pescarias. Da fazenda Almeida Prado até São feliz, anotamos os seguintes locais: lago Macaúba (TO), rio Caracol (TO), lago dos Veados (MT), lago Maria Pereira (MT), lago Laranjeiras (MT), lago São Pedro (TO), lago Bela Vista (TO), lago Comprido (MT), lago Barreira dos Xavantes (MT), lago Gueroba (TO) e rio das Mortes (MT). Não deixei de me emocionar olhando as águas do rio que durante dez dias nos serviu maravilhosamente. Bebemos, cozinhamos e nos banhamos com suas águas. Ele nos deu ainda as emoções das pescarias e a beleza das matas nas margens, seus pássaros e animais. 

Nossa missão chegou ao fim e a partir de agora, muitos serão os pescadores amadores que também poderão realizar essa aventura. Valeu a pena, pois a partir deste momento, mais um pedaço do Brasil – que muitos brasileiros não conheciam – está devidamente registrado. Sem nenhum problema, graças a Deus. Agora a saudade bate forte dentro de mim, mas a cada passo que dou, é em direção às pessoas queridas que nos esperam. “Mais dois ou três dias e estarei em São Paulo, com certeza, com muito mais experiência sobre pesca” – pensei.
                                                
                                PROVIDÊNCIAS FINAIS

Contratamos um caminhão e carregamos toda a nossa tralha nele. Voltamos de avião para Barra do Garça e ficamos esperando o caminhão que demorou 32 horas para percorrer os 700 quilômetros que separam São Feliz de Barra do Garça. No percurso do caminhão registramos os seguintes locais. Posto da Mata, Fazenda Alô Brasil, Cascaeira, Nova Xavantina e Vale do Sol. Nessa estrada, há todos os recursos necessários, e a paisagem é composta principalmente de cerrados, campos e serras. Consegue-se ver muitos animais durante o trajeto. Enquanto esperávamos o caminhão, fomos à Barra do Garça, visitar Água Quente, onde em um clube municipal, tomamos banho nas água quentes, o que foi muito bom para tirar o cansaço da viagem. Barra do Garça é uma cidade boa e tem tudo de que se possa precisar. Carregamos os barcos nas carretas e saímos às 06:00h da manhã. Nosso destino era São Paulo, onde chegamos no dia seguinte, às 16:00h, parando para dormir em Ituverava, logo após o Rio Grande, divisa de Minas Gerais e São Paulo.





                                     


                                 MATERIAL USADO NA VIAGEM


3 barcos Levefort (um Pantaneiro, um Marfim e uma chata de 5 metros); 3 motores Evinrude de 25 HP; Uma barraca grande para a cozinha e seis barracas individuais Yanes, assim como dois fogões e seis lampiões. O material de pesca e acampamento fica por conta de cada um, no entanto, não devem ser esquecidos: estojo de primeiros socorros, facões, pá ou enxada, cadeiras de alumínio, mesa desmontável, balde para água, cordas, etc. Gasto de gasolina em todo o percurso e saídas para as pescarias: 780 litros.