sexta-feira, 24 de novembro de 2017

DICIONÁRIO ARUANÃ ANIMAIS DO BRASIL - GARÇA




Esta linda ave, totalmente branca, chega a impressionar por sua beleza e porte. É única em seu tamanho, chegando a atingir 82 centímetros de altura. Costuma acompanhar os pescadores, tendo inclusive a mansidão de vir comer peixes e crustáceos em sua mão.




                                    Foto: Antonio Gomes Aguillar

Denominação genérica, que compreende várias aves da família Ardeídeos, Herodias egretta, família esta que também abrange os socós; destes últimos as garças diferem por levarem vida diurna e por terem pescoço fino. Alimentam-se de batráquios e peixes, que pescam em águas rasas, razão pela qual seu habitat preferido são as lagoas, praias de rio, regiões pantanosas e todo nosso litoral. Seu bico longo e aguçado raro erra a presa, quando a ave, num movimento rápido, estica o pescoço, que ela em geral mantém curvado em forma de S. Alvíssima, sem nenhuma única pena de outra cor, tão perseguida pelos homens, por ser a principal fornecedora de “aigrettes”. Estas plumas, verdadeiras maravilhas pela delicadeza de sua estrutura, são ornatos que as aves adquirem no tempo da procriação e por isto os caçadores, que vão satisfazer as exigências cruéis da moda feminina, devem abater as garças justamente no tempo em que estas criam os filhotes. Com menos crueldade, poderiam os caçadores de “aigrettes” procurar as penas caídas, que se encontram, até em certa abundância, nos ninhais. Alvíssimas, as pernas são pretas, o bico é amarelo. É ave de toda a America, do Norte até a Patagônia. Também está espécie, na Amazônia é conhecida como “garça real”. Como garça, temos ainda as aves conhecidas como garça azul, garça branca grande, garça branca pequena e garça real.

Bibliografia consultada e adaptada: Dicionário de Animais do Brasil – Rodolpho Von Ihering

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

ROTEIRO: LINHA VERDE - BAHIA












Paisagem comum ao longo das praias



 A Linha Verde é uma estrada que foi construída pelo governo da Bahia a fim de facilitar o acesso às praias e rios do litoral norte do estado. A Aruanã foi conferir à piscosidade dessa região ainda virgem. Conheça os resultados.




      Placa de sinalização no início da estrada

Há aproximadamente três anos atrás o rio Joanes, que fica perto e Salvador, foi tema de uma reportagem nossa (Bahia de Todos os Peixes – Roteiro Aruanã 26), sendo que naquela época ficamos bastante impressionados com a piscosidade desse pequeno rio, já que tivemos a oportunidade de fisgar vários robalos, todos de bom tamanho, além de tucunarés e alguns peixes perdidos, tais como um tarpon e uma grande caranha que com seus dentes deixou marcas visíveis na Rapala que usamos na ocasião. Esse rio foi tão apreciado por nós que depois de alguns meses voltamos a ele para finalizar lá nossa primeira produção em vídeo (Pescando com a Aruanã – O Robalo). Tanto na primeira vez como na segunda tivemos notícias da construção da estrada nova, a tal Linha Verde. Pois bem, a conclusão da estrada é recente, e agora sim podíamos ter acesso às praias e principalmente aos rios, onde os robalos – tínhamos essa informação – eram grandes e estavam presentes em quantidade. Nossas metas eram os rios Itapicuru, Real e Sauípe. As notícias que tínhamos de lá eram muito animadoras, e ficamos motivados a fazer esta reportagem, que sem dúvida seria um ótimo roteiro para os leitores da Aruanã. As informações sobre pesca de praia também eram excelentes, o que nos motivou a convocar o Nelson de Mello, profundo conhecedor dessa modalidade, para nos acompanhar. 

O grande bagre

Em Salvador estavam à nossa espera o Leonardo Fernandes e o Manolo H. Fernandes, bons companheiros da Bahia, sendo que o Leonardo já havia nos acompanhado em outra matéria para a Aruanã (“Porto Seguro – Roteiro Aruanã 42”). A Linha Verde estende-se por 142 km, e exatamente no km 106 está à cidade de Conde. Passando por essa cidade, vamos alcançar um lugarejo chamado Sítio do Conde, bem rente ao mar, com praias lindas e o primeiro rio deste nosso roteiro: o Itapicuru. Chegamos ao Sítio do Conde por volta das 06:00h, o que permitiu que tivéssemos tempo para dar uma olhada no rio e que o Nelson pudesse observar as praias, a fim de escolher o local ideal para fazer sua pescaria. Vamos então falar da praia, que é muito bonita e em alguns trechos apresenta bastantes pedras, formando um verdadeiro recife. Nelson optou por um local onde havia um poço visível e de boa profundidade. Pescou com duas varas, sendo uma barra pesada e a outra leve. No fim do dia o resultado foi bastante razoável , já que alguns bagres haviam sido fisgados e entre eles um que chegou aos 5 kg. Betaras, pampos, paratis-barbudos, sargos e um pequeno xaréu foram as outras espécies pescadas. Nós, adeptos da pesca com iscas artificiais, fomos direto para o Itapicuru, e confesso que me encontrava incomodado por uma certa ansiedade. Só quem é pescador que entende isso. Afinal de contas, estávamos prestes a pescar, em um rio “virgem”. 

Pesca farta nas praias

O Itapicuru é um rio considerado grande, com boa formação de manguezais e alguns braços longos rentes à baía da foz. Nosso horário de chegadas ao rio havia sido muito bem calculado, já que era uma maré média e começava a “correr” por volta das 09:00h. Às 08:30h, nossa chata Aruanã 500 da Levefort estava nas águas do rio. Como manda a experiência, fomos direto para a foz (lá começa a vazar primeiro) para ver se lá havia pedras, já que estas são excelentes pontos de pesca para quem está em busca dos grandes robalos. Na barra, havia uma pedra boa na margem esquerda do rio. Marcada sua posição, começamos a subir o rio para analisar de perto sua estrutura. Uma outra galhada foi anotada mentalmente para batermos na volta. Seguimos subindo o rio Itapicuru, e depois de mais ou menos três quilômetros, o manguezal começava a desaparecer, dando lugar a um rio muito bonito, de margens firmes e com muitos aguapés próximos a elas. Se não soubéssemos onde estávamos, diríamos que aquele era um corixo qualquer perdido no Pantanal. Subimos até onde pudemos perceber que a rasura era constante e começamos a bater dali para baixo. Até chegar ao manguezal, tivemos apenas uma “ação” traduzida em um pequeno robalo de aproximadamente 15cm. Continuamos a bater nossas iscas e vez por outra nos interrogávamos a respeito de qual seria a razão para tão pouca ação da parte dos peixes. Estávamos agora em uma galhada muito bonita, que se estendia por mais ou menos 100 metros. Ao longo desta galhada, bateram e foram fisgados dois robalos flecha de mais ou menos 20cm. 

Sargo capturado junto as pedras na praia

Finalmente chegamos à barra e partimos para as pedras ainda com a esperança de alguma boa “batida”. O resultado foi negativo. Paramos na barra e ficamos a cismar sobre o motivo de tão poucas fisgadas naquele rio belo e “virgem”. Para que o leitor possa fazer uma idéia do que foi nosso trabalho ao “pentear” o rio (usamos essa expressão para nos referir à ação de bater com as iscas em todos os trechos do rio), chegamos a barra por volta das 14:00h, portanto quase no fim da vazante, que é a hora apropriada para se pescar robalos. Entre nós discutíamos o porquê de tão poucos peixes, e não chegávamos a conclusão nenhuma, já que a água estava normal, o dia estava ensolarado e a pressão atmosférica era de 1023 milibares. Ora, se tudo estava perfeito, porque não havia peixes fisgando no Itapicuru? Infelizmente, a resposta não tardou a chegar, já que com a enchente da maré “as aves de rapina” começaram a mostrar suas garras. Começamos a voltar ao nosso porto e, a menos de 100 metros da barra, enroscamos nossas iscas em uma rede tipo “caçoneira”, ou seja, uma rede que fica dia e noite no lugar, sendo visitada no final da enchente para que sejam retirados os peixes que nela caem. Ao longo de mais ou menos dois quilômetros de rio, pudemos contar cerca de 60 redes de espera armadas, de margem a margem, algumas com intervalos de apenas 20 metros entre si. A lei –ora a lei - determina que uma rede não pode ultrapassar um terço da largura do rio, e deve manter uma distância mínima de 100 metros da rede seguinte. 

As pedras da praia

Pois bem, além das redes de espera vimos diversos “pescadores” jogando tarrafas no rio, e qual não foi nossa surpresa quando avistamos outros “pescadores” praticando a pesca de arrastão ali. Isso também é proibido por lei. E para não dizer que faltamos com a verdade, contam-se às centenas os covos (pequena armações cilíndricas) para a pesca de camarões, além de um ou outro garoto pegando caranguejos no mangue. Pronto. Estava explicada a total ausência de peixes no rio Itapicuru.  Conversando com alguns desses “pescadores”, soubemos que nenhum deles têm registro profissional, até mesmo porque – dizem os mais antigos – o IBAMA nunca foi até lá fiscalizar. A propósito: tanto em Conde como no Sítio do Conde, vimos diversas placas do Projeto Tamar com a indicação “adote uma tartaruga”. Parece que essa é a mais nova moda entre os ecologistas. Ia me esquecendo. Na volta a nossa pousada, vimos mais pescadores na vila junto ao Itapicuru tecendo suas redes à sombra das árvores. Em conversa sobre robalos, soubemos que o ultimo grande exemplar pesando 18kg havia sido – é claro – apanhado em uma rede. Deve ter sido uma festa, já que os grandes robalos podem entrar no rio Itapicuru, mas sair, dificilmente conseguirão. À noite o desânimo era geral entre os membros de nossa equipe. 

Rio Sauípe

No dia seguinte, o Nelson escolheu outro trecho da praia para pescar e o resultado também foi bom, sendo que desta feita raias, carapicus, roncadores, betaras, pampos e grande bagres foram fisgados por ele. Decidimos então partir para o rio Real, que fica na divisa entre os estados de Sergipe e Bahia. Em território baiano, há um pequeno lugarejo à margem do rio a partir de onde pudemos descer nossa chata para a água com facilidade. A título de curiosidade, o Real é o rio que nos leva até a cidade de Mangue Seco, cenário da “Tieta” de Jorge Amado. Um outro e não menos famoso afluente do Real é o rio que recebe o nome de Santana, que nos conduz a Santana do Agreste. Pois bem. No Real tivemos um pouco mais de ação, só que o vento atrapalhou e muito nossa pescaria, já que direto do mar, uma grande reta faz com que o rio tenha ondas grandes, o que, batendo no mangue, suja bastante suas águas. Maré vazando, como convém a uma pescaria de robalos, não mostra aos olhos de quem o navega, as armadilhas que o rio tem. Foi só o começar a enchente e de novo vimos muitas redes esticadas de margem a margem do rio, além das tradicionais tarrafas. Não vimos redes de arrasto, mas estranhamos a presença de muitos peixes pequenos mortos boiando rio abaixo. A resposta para esse extermínio não tardou a chegar: estão usando dinamite – isso mesmo, dinamite – para pescar no rio Real. Pois é, prezados leitores, no Real a “turma da pesada” pesca mesmo é com dinamite. 

Raias
Aliás, quando íamos saindo do rio, depois de passar com dificuldade por cima de uma rede armada no “porto”, vimos dois barcos, um do tipo catamaram, com um motor de 40 HP e outro barco, de alumínio, com motor de 25 HP.  Após retirarmos nosso barco da água e já com ele na carreta vimos umas dez pessoas descendo para o rio com uma caixa de madeira nas mãos. Na passagem, um deles falou exatamente isto: “É bom que esses brancos tenham saído do rio, porque agora é hora da nossa pescaria. Vamos detonar, bicho”. Dá para acreditar em tal narrativa? Pois é leitor, por mais incrível que pareça, pode acreditar, pois essa é a expressão da verdade. Muito desanimados, voltamos à pousada. Novo dia, e levamos o Nelson à barra do Itariri, que é um outro rio da região distante de Sítio do Conde cerca de 30 quilômetros. Mais uma vez ele conseguiu fazer uma pescaria razoável, fisgando as mesmas espécies citadas anteriormente. Mas desta vez o Nelson tinha algo mais a relatar. Durante a enchente da maré, a melhor hora para se pescar na praia, um “bando” de pescadores veio, ao lado dele, bater tarrafas em toda a barra do rio. A matança de pequenos peixes – entre eles robalos de 10cm – foi grande. Quanto a nós, bem, fomos ao rio Sauípe cerca de 60 quilômetros em direção a Salvador. Nesse rio a ação também foi pouca, salvo duas pequenas caranhas perto de umas pedras a menos de 500 metros da barra do rio, com o mar. 



Betara

Existem robalos, aliás tivemos também duas ou três ações e chegamos a fisgar um exemplar de aproximadamente 15cm, que, como os outros, foi devolvido à água. No Sauípe encontramos redes, tarrafas e um cerco, lá chamado de “curral”, fechando totalmente o rio. O cerco está colocado a mais ou menos 500 metros acima da ponte da Linha Verde sobre o rio. Pois bem, dizer mais o quê dos rios do litoral norte da Bahia? De nossa parte, com a experiência acumulada em muitos anos pescando por todo o Brasil, podemos afirmar que nunca, em nenhum lugar, vimos uma depredação tão feroz e brutal quanto à encontrada nos três rios aqui citados. E tem mais: na volta a Sítio do Conde, nos deparamos com uma embarcação voltando da pescaria. Segundo pudemos observar, os principais produtos dessa pescaria eram duas raias enormes, pesando algo entre 80 e 100 kg cada uma, que foram limpas ali na praia mesmo, à vista de um bando de crianças. Durante o tempo que durou a limpeza, a praia naquele local foi sendo tingida de sangue. Perguntamos então aos que limpavam as raias sobre a maneira como haviam fisgado tais peixes, e a resposta na tardou: de mergulho. Aliás, aquele era seu último dia de pescaria, já que em três dias haviam conseguido uma quantidade de raias que chegou a uma tonelada, e isso tendo os peixes sidos pesados já limpos. O mergulho desses “pescadores” é praticado com um tubo na máscara, ligado a um compressor no barco. É preciso dizer que essa atividade também é proibida por lei? E mais: o modus operandi desses “pescadores” é localizar pedras submersas com um sonar no barco. 

Nelson, Leonardo e Manuel: a equipe Aruanã

Ali eles apoitam e, em turnos de revezamento, mergulham e ficam à espera das pobres raias que, indefesas, circulam ao alcance de seu arpão, encontrando por fim a morte através das mãos covardes de seus algozes. Vão em número de quatro na embarcação, e enquanto um mergulha, o resto fica na superfície pescando com linha de mão para não perder nenhuma chance, sendo que os peixes assim fisgados não entram no acerto final. São propriedade daquele que os pescou. De nossa parte só resta dizer que, se você gosta de uma boa pescaria de praia, até que recomendaríamos a praia de Siribinha em Sítio do Conde, ou ainda a barra do Itariri e a barra do Sauípe, que além de muito bonitas, apresentam uma razoável piscosidade. Agora, se você quiser robalos, risque de seu mapa a região da Linha Verde a menos que você queira presenciar um verdadeiro show de horrores - pois a mesma, conforme vimos aqui, está totalmente depredada. Sendo só o que nos resta fazer, estamos enviando ofício ao Sr. Presidente da Republica Fernando Henrique Cardoso, ao Ministro do Meio Ambiente Gustavo Krause, e ao Dr. Paulo Souto, Governador da Bahia e, principalmente, ao Dr. José Raul de Souza e Dr. César Monteiro Pirajá Júnior, respectivamente Superintendentes do IBAMA de Sergipe e Bahia, para que pelo menos cumpram as funções de que estão investidos, pois um pedaço do Brasil, que pertence a todos os brasileiros, está seriamente ameaçado, mais uma vez pela inoperância do Instituto do Meio Ambiente, o famigerado IBAMA. A propósito, observamos uma interessante curiosidade em relação ao sobrenome do Superintendente do IBAMA da Bahia, Pirajá, que em tupi-guarani significa ceva, ou viveiro de peixes. Talvez no tempo em que os índios ainda se encontravam por lá tal situação fosse verdadeira. Vamos esperar que o Dr. Pirajá tome providências para que os rios do litoral norte da Bahia voltem a ser “pirajás”.

O mapa geral da extensão da Linha Verde, inaugurada em 1993

NOTA DA REDAÇÃO: Eu tenho bons e grandes amigos pescadores no Estado da Bahia e, não vou citar nomes para não esquecer ninguém. Mas cito sim o rio Joanes, que era um verdadeiro ninho de grandes robalos e tarpons, além de outras espécies. Hoje o Joanes está muito ameaçado com esgotos. Há inclusive uma campanha com o nome “Vamos salvar o rio Joanes” que merece todo o nosso apoio.  Da Linha Verde, as informações são de que continuam exatamente como o aqui descrito há 22 anos. O texto abaixo é atual e para piorar ainda mais as informações, são de que, no sul da Bahia, onde fizemos várias matérias, a depredação também é muito grande e arrasadora.



Manchetes de uma pesquisa realizada pelo jornal Correio da Bahia.
(sic)Águas do Rio Joanes chegam poluídas na praia de Buraquinho
O Joanes é o principal rio de uma bacia que é responsável por 40% do abastecimento de água de Salvador.
Boa parte dos rios de Salvador está poluída e virou canal para esgoto
Ligação com a rede de esgoto favorece a saúde dos rios e a qualidade de vida, diz superintendente da Embasa
Solvente causou morte de peixes em Lauro de Freitas
O produto é semelhante ao encontrado em tintas e combustíveis automotivos





Somente para encerrar esta postagem: algum grupo defensor da Cota Zero ou Pesca e Solta Total poderia ir até esse estado da Republica e fazer lá, uma campanha? Repito, ficar sentado em frente a uma tela de computador é muito cômodo. Esbravejar e mostrar indignação, pouco ou nada vale. Antonio Lopes da Silva.

Revista Aruanã Ed:44 publicada em abril 1995

terça-feira, 14 de novembro de 2017

ESPECIAL: REFLEXÕES DE UM PASSADO RECENTE







“Que atire a primeira pedra” aquele que não gosta de rever seu passado, seja em cartas, fotos, fatos, amigos, parentes e todo o mais. Foi onde no silêncio de minha sala na Revista Aruanã, o que aconteceu em um dia importante – era 15 de novembro - fiz este editorial. O texto, por si só, já diz tudo. 




Publicado em dezembro de 1989



Revista Aruanã Ed: 14 publicado em 12/1989

sábado, 11 de novembro de 2017

PIONEIROS DA PESCA AMADORA NO BRASIL - TRAMONTINA













Publicidade da Tramontina na época



Quem não conhece o nome Tramontina? Desta feita, fizemos uma entrevista na Tramontina Pesca, que tem na pessoa de seu diretor-responsável, Evandro Rech Pereira da Costa, um entusiasta da pesca amadora e, logicamente, um inveterado pescador amador.




Evandro Rech Pereira da Costa

Bastante jovem, com 29 anos, Evandro é formado em engenharia mecânica, e desde a criação da Tramontina Pesca, é seu diretor-responsável. Procurando, como ele mesmo diz, “trazer ao pescador amador brasileiro o que existe de mais moderno na tecnologia de seu esporte”. A Tramontina fabrica hoje 8 modelos diferentes de carretilhas e 4 modelos de molinetes. Brevemente, estará fabricando mais 3 novos modelos, com a tecnologia da Mitchel, estando esse projeto em fase final de execução. Seu parque industrial tem hoje 2.000 m2 e está em fase de construção a nova fábrica, com 22.000 m2, com inauguração prevista para 1991. A implantação da nova fábrica e dos novos modelos, segundo Evandro, “é para concorrer diretamente com os produtos importados”. Na Tramontina Pesca são fabricadas hoje 8.000 peças mensais, entre molinetes e carretilhas, destacando-se os Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul como os dois principais centros consumidores. No total, 87 funcionários compõem o quadro da empresa. Como lazer pratica a pesca na modalidade de praia, mais precisamente em Torres (RS), onde se diverte com pampos, betaras, corvinas e bagres. Aqui uma particularidade do nosso entrevistado, que pratica a pesca em companhia de sua filhinha: soltar todos os peixes fisgados, sem exceção (NR: Isso em 1991). Sua maior alegria é ver nas pescarias outros pescadores usando seus produtos, fato que reafirma, dia a dia, o potencial desse mercado, onde se lida diretamente com o pescador amador. Com tristeza, ele cita que a pesca com redes e tarrafas, além de ser anti esportiva, não traz satisfação nenhuma. 

Aspecto da fábrica.

A administração de Evandro na Tramontina o faz constantemente ter que viajar a países como Estados Unidos, França, Alemanha, Noruega, Inglaterra, Itália e outros, onde, nas feiras de pesca, ele verifica pessoalmente todas as novidades do setor, para poder a partir desse conhecimento, aprimorar cada vez mais seus produtos. E qualquer modificação que seja feita em qualquer produto da Tramontina, o Evandro, como pescador que é, faz questão de testar e aprovar pessoalmente. Uma outra particularidade que nosso entrevistado faz questão de ressaltar é sobre a assistência técnica da Tramontina. Diz ele: “nós garantimos nosso produto quanto a qualquer defeito técnico, e para tanto, o pescador poderá entrar em contato com qualquer loja revendedora e, por meio desta, nos remeter o equipamento com defeito. Caso haja qualquer impedimento para essa ação, poderá então pescador amador entrar em contato diretamente pelo telefone (0152)40-4055, que eu mesmo tomarei as providências para seu pronto atendimento”. Aliás, sobre esse atendimento, nós da Aruanã podemos atestar, já que certa vez recebemos aqui na redação a reclamação de um pescador que não conseguia peças para reposição. Enviamos a carta para a direção da Tramontina, endereçada ao Evandro. O pescador foi atendido por um funcionário da empresa, e o que é melhor: em sua própria residência, atestando com isso a qualidade da assistência técnica da Tramontina. “Infelizmente – concluiu Evandro – 90% dos defeitos em nossos equipamentos ocorrem em consequência de mau uso e má manutenção”. “Aí está, portanto, o perfil de nosso entrevistado do Quem é Quem desta edição, que faz questão de ressaltar ao pescador que a Tramontina Pesca existe para atender da melhor maneira possível o pescador amador brasileiro, nosso principal cliente e amigo.”


Revista Aruanã Ed.13 publicada em 12/89  Foto Kenji Honda

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

ESPECIAL - TAMANHO É DOCUMENTO








Em se tratando de peixes, mais do que nunca, tamanho é documento. Vamos tratar desse assunto e também do pesca e solte, já que muita gente anda fazendo e falando bobagem a respeito.





Black Bass com 25 cm

Às vezes, presenciamos pescadores amadores fazendo bobagens em suas pescarias e até mesmo cometendo crimes com os quais não podemos concordar. Alguns exemplos? Vamos lá. Começamos pelo black bass que, como todos sabem, é um peixe importado que se aclimatou muito bem no Brasil, principalmente no sul de Minas Gerais, São Paulo e em todos os estados da região sul do país. É um peixe bastante esportivo, especialmente para quem pesca com iscas artificiais. O “problema” desse peixe, quando filhote, é que fica junto às margens de nossas represas e se alimenta basicamente de organismos, como pequenos peixes e... minhocas. É aqui que a coisa “pega”. É muito comum aquele pescador de beira de represa que usa minhoca, pegar vários peixes dessa espécie que não chegam a medir 10 centímetros de comprimento. Certa ocasião, na Cachoeira do França (SP), vi um pescador desse tipo com uma fieira onde haviam mais de trinta pequenos exemplares de black bass. Informei-o de que espécie se tratava, e disse-lhe que o black bass atingia mais de 1 quilo facilmente. Não foi surpresa ouvi-lo responder que não conhecia tal peixe. Pura falta de informação, mas com certeza ele agora sabe se deverá soltar ou não esses pequenos peixes em suas futuras pescarias. Um outro exemplo revoltante são alguns pescadores de robalos que se gabam de fisgar numa só pescaria 200 ou 300 peixes dessa espécie, principalmente na região de Cananéia (SP). 

Canoas de pescadores profissionais em Cananéia

A despeito da quantidade contada às centenas, toda essa “pescaria” cabe com folga dentro de um isopor de 60 litros. São robalos pebas e flechas, que não atingem 10 cm de comprimento. Pergunto: um pescador que procede dessa maneira é só desinformado ou é mau caráter mesmo? Neste caso em particular, a segunda hipótese parece se encaixar melhor, já que além de tratar-se de uma espécie conhecida, existe uma Portaria específica a respeito amplamente divulgada, limitando em 30 cm para o peba e 45 cm para o flecha. (NR: na ocasião da publicação. Essas medidas foram alteradas) No entanto, não são poucos os pescadores que cruelmente continuam a praticar verdadeiros extermínios de robalos pequenos. Outro peixe vítima de matança indiscriminada é o tucunaré, e infelizmente não há Portaria estabelecendo tamanhos mínimos para a captura dessa espécie. O ideal seria embarcar peixes com mais de 35 cm de comprimento, pois assim esses teriam a oportunidade de proceder duas ou três desovas. E novamente muito se ouve falar de pescarias de tucunarés onde o “pescador” (ou seria idiota?) se gaba de fisgar mais de 100 minúsculos peixes. Particularmente, recordo-me da represa de Itumbiara em Goiás, onde era (reparem no tempo do verbo) possível realizar grandes pescarias. 

                        Robalo peva

Lamentavelmente, há cerca de três ou quatro anos, essa represa começou a ser muito frequentada por um “bando” de indivíduos provenientes de certo Estado, que se gaba de ter os melhores pescadores do Brasil. Resultado óbvio: os tucunarés de Itumbiara foram praticamente dizimados. Eu mesmo tive a triste oportunidade de assistir o revoltante desempenho de uma dupla de pescadores que, após uma semana pescando nessa represa, mataram e levaram para casa nada menos que 600 tucunarés. Fica a pergunta: estão eles certos quando se consideram pescadores e chamam essa carnificina de “pescaria”? Atualmente, não é fácil fazer uma boa pescaria em Itumbiara, e por conta disso, não só essa dupla como outros de seu bando deixaram de frequentar a represa. Seguramente estão agora depredando outro local. E há muitos outros exemplos que poderíamos citar, pois os perversos crimes contra os peixes pequenos acontecem em todo o Brasil, embora com menor incidência no Pantanal, já que lá a fiscalização é mais intensa. Um dos objetivos principais da Aruanã, e também minha intenção ao escrever esse artigo, é conscientizar o pescador amador de sua responsabilidade no que se refere à preservação do meio ambiente e das espécies, principalmente naquilo que diz respeito aos peixes pequenos, pois o único caminho certo é solta-los.

O pequeno tucunaré convida o pescador a solta-lo 

E não me venham com a desculpa de que não adianta nada soltar, já que ninguém faz isso, pois tal hipótese (que até pode ser verdadeira) não justifica de modo algum a atitude pessoal de cada um de nós. Se você não costuma soltar o peixe pequeno, lembre-se de que, no mínimo, você está se igualando em comportamento àqueles ridículos “pescadores” que você tanto condena. Um outro problema é a falta de informação a respeito do sistema pesque e solta. No Brasil, de uns tempos para cá, essa prática tornou-se corriqueira em vídeos de pesca e programas de televisão (ao vivo é mais difícil presenciar), nos quais os protagonistas, após fisgarem os peixes, fazem questão de solta-los alardeando a própria atitude, nobre, sem dúvida. Até aqui tudo bem, considerando que também nós, nos vídeos produzidos pela Aruanã, praticamos o pesque e solta, que é uma tendência mundial. No nosso caso explicamos que o registro das imagens dos peixes filmados é o suficiente, pois esse é o fim almejado durante a produção do vídeo. Mas o pescador amador deve seguir os exemplos televisivos e praticar o pesque e solta indistintamente? A resposta é não. Calma. Não quero ser mal interpretado, e vou esclarecer o porque dessa resposta. Se o pescador amador pegou um peixe de maneira esportiva, ou seja, com anzol, ninguém tem mais direito do que ele de levar esse peixe para si e sua família, pois é um peixe completamente saudável e, portanto, um alimento puro. 

Dourado abaixo da medida permitida é solto pelo pescador

Por outro lado, a consciência de cada um é que vai determinar que quantidade de peixes deve levar para casa. Se me permitem uma sugestão, creio que devemos levar para casa somente a quantidade ideal para consumo de nossa família, o que obviamente exclui aqueles peixes excedentes que levamos... para dar aos amigos. E isso por duas razões: a primeira é que seu amigo jamais irá dar o devido valor a esse peixe, e a segunda é que você não precisa distribuir peixes para provar que é um bom pescador. Infelizmente, ainda há aquele tipo de individuo que pensa que se o bairro inteiro ficar sabendo que pegou muito peixe, levará a fama de ser um bom pescador. Ser bom ou não, é coisa que não interessa a mais ninguém além de nós mesmos. Vamos abordar outro aspecto. A capa de uma certa edição da Aruanã trazia a foto de um pescador segurando seis ou sete robalos, todos claramente na medida. Naquela ocasião, recebi um telefonema de um desses famosos “professores” recém-especializados em pesca esportiva criticando essa foto, pela “quantidade” de peixes mostrada. Como quem fala o que quer está arriscando a escutar o que não quer, principalmente quando fala sem estar fundamentado na realidade, esse “expert” acabou ouvindo poucas e boas. Disse a ele que ao invés de tentar conquistar notoriedade criticando a Aruanã, ele seria muito mais útil se tivesse a disposição de se por a campo por exemplo nas feiras-livres, peixarias e supermercados, denunciando e combatendo toda aquela barbaridade de peixes fora de medida e expostos ao público. 

                        O pesque e solta consciente, tenta evitar este desastre (black bass)

Perguntei-lhe por que ele não procurava cobrar do Ibama leis de maior proteção a nossos peixes e combate à pesca predatória. Disse que se ele ao menos fizesse isso, com certeza eu aceitaria sua crítica, mesmo achando infundada, já que se assim fosse, a tal critica estaria partindo de alguém que se preocupa realmente com os problemas da pesca esportiva brasileira. Parece lógico que um veículo de informação, pelo simples fato de se direcionar a um grande público (no nosso caso, os pescadores amadores), tem o dever e a obrigação de manter esse mesmo público informado sobre quais são as atitudes mais corretas dentro do meio ambiente. Ninguém contesta que a Aruanã faz isso.  Aliás, só a Aruanã faz um trabalho realmente sério em defesa do meio ambiente, e a essa constatação é muito fácil de se chegar. É só comparar nosso trabalho – onde apontamos vários erros de nossas autoridades de meio ambiente, muitas vezes com duras críticas – ao trabalho de outros veículos de informação que atuam no mesmo segmento. Ao contrário do que muitos afirmam, não se trata de uma questão de coragem, mas antes de tudo, de uma questão de bom senso, pois nosso esporte depende da preservação do meio ambiente e da atitude do pescador amador. Na ausência de qualquer um dos dois itens o resultado é que não sobreviveremos.


                                                            Pesca amadora: direito ao peixe 

Assistindo a um desses programas de pesca na televisão há alguns dias atrás, observei que após pegar um robalo e lutar com ele, caprichando no próprio desempenho artístico, o “protagonista” anunciou que ia soltar esse peixe e começou a encenar esse procedimento. Mas, a soltura propriamente dita não foi ao ar. Era um grande robalo flecha, que, ao que tudo indica, muito provavelmente foi consumido pela equipe de filmagem ao invés de ser devolvido à água. Por certo, a sequência de imagens teria ficado menos ridícula se o pescador assumisse perante a câmera – já que era seu direito – que aquele robalo iria ser aproveitado por sua equipe. Essa teria sido uma atitude muito mais honesta. E menos hipócrita. Concluindo, devemos sempre ter a consciência de que quando o assunto é peixe, tamanho é documento. Nosso dever é soltar todos os peixes pequenos, sem exceção. E quanto aos grandes, o bom senso de cada pescador determinará quantos deverão ser devolvidos à água. É importante que não nos deixemos convencer por conceitos deturpados e filmagens muitas vezes são falsas ou editadas. O certo mesmo é ter sensibilidade suficiente para ouvir a voz da própria consciência e perceber o que é direito em termos de pesque e solta. Digo mais: bom senso, sensibilidade e consciência são características inerentes a pessoas dignas e honestas, que agem dentro desses parâmetros não só na hora de ir pescar, mas em todas as atividades de seu dia a dia. Boas pescarias!

Publicado na Revista Aruanã Ed: nº55 em 02/ 97

domingo, 5 de novembro de 2017

FINALMENTE A PIRACEMA?



FINALMENTE A PIRACEMA!





Dourado


E todos os anos é a mesma discussão: é época da piracema e proíbe-se a pesca em todo o Brasil, com Portaria específica do IBAMA, que de tão parecida com anos anteriores, parece um “carimbo”. Mas uma nova opção está surgindo, já que os estados, alguns, decidiram por optar por épocas de piracema, de acordo com suas características. Diríamos que essa é uma medida inteligente, se não fosse o fato simples de proibir por proibir. É muito mais fácil e aos leigos, parece a opção mais certa.



Cachoeira de Marimbondo . Destruída em 1979 pela Barragem de Água Vermelha






O pescador amador soltando dourado

Estamos na piracema e isso significa a continuação das espécies. Piracema em Tupi significa a “saída dos peixes”. A Portaria Normativa do IBAMA parece um carimbo, aliás, com o texto igual em todas. Porém agora, alguns estados estão fazendo portarias próprias, o que me parece temeroso, não por suas particularidades – o que acho correto – mas sim por erros e resultados praticamente nulos. Senão vejamos:
O deputado estadual Luiz Carlos Martins (PSD) apresentou projeto de lei na Assembleia Legislativa do Paraná que proíbe a pesca, o embarque, o transporte, a venda, o processamento e a industrialização do peixe da espécie Dourado em todo o estado do Paraná. O objetivo do projeto, segundo Martins, é preservar a espécie e promover o seu repovoamento nos rios do Paraná, além de evitar que haja uma migração de pescadores do estado do Mato Grosso do Sul, já que neste estado tramita em fase de aprovação final outro projeto de lei que proíbe a pesca da espécie. Em um trecho do citado projeto, o deputado “ainda” explica que a proibição da captura e comercialização do Dourado não irá influenciar na renda dos pescadores profissionais. “Não haverá influência na renda dos pescadores porque há outras espécies de peixes no estado do Paraná de interesse comercial, pois o que se busca, no caso do Dourado, é exclusivamente a preservação da espécie”, completa.

Um bom exemplo!
Aqui está e isso é o que estamos tentando mostrar. Em rios, todos os peixes, ou pelo menos a grande maioria, é de piracema. Como separar em suas redes profissionais o que é e o que não é peixe de piracema?

Em Mato Grosso do Sul: Sancionada pelo prefeito Ruiter Cunha de Oliveira (falecido em 01/11/2017) a lei que proíbe, pelo período de 10 anos, a captura, o embarque, o transporte, a comercialização, processamento, a industrialização, e a guarda do peixe Dourado (Salminus Brasiliensis), no município de Corumbá. A sanção aconteceu durante solenidade no início da noite da quarta-feira, 14 de junho. Na cerimônia, realizada no Centro de Convenções, também foi apresentado o Projeto de Monitoramento da Cota Zero do Dourado. A lei 2.568, datada de 13 de junho de 2017, entra em vigor a partir de sua publicação no Diário Oficial do Município de Corumbá (DIOCORUMBÁ). De acordo com a nova legislação – já chamada de Lei do Dourado –, o período de proibição poderá ser revisto “mediante estudos de monitoramento da espécie, que apontem o status de conservação da espécie e seu estoque no ambiente natural”.



Como haver piracema em uma barragem sem escadas?

Apenas um adendo a essas duas normas: O rio Paraná, “só” tem de extensão, dentro do Estado do Paraná, 190 kms ainda originais. E esses, ainda fazem divisa com outro país. Será respeitada essa norma, “pelo lado de lá”? Em Corumbá, é Prefeitura legislando, o que o art. 24 de nossa Constituição, em seu teor diz que: ”Compete a União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: Inciso VI – florestas, caça, pesca, fauna etc.” Não cita Municípios e quando os citas le-se a palavra preservar em seu “Inciso VII – preservar as florestas, a fauna e a flora”. Corumbá tem em seu principal rio, a divisa internacional com a Bolívia. Permanece a mesma pergunta, e do lado de lá?
Em nossa opinião, que é exclusivamente nossa e se baseia em exemplos vistos em outros Países, essa defesa, não só do dourado mas, também de outras espécies ameaçadas de extinção, deveria ter ainda uma outra providência. Porque não se criar estações de piscicultura juntos as barragens, - sem escadas para peixes - que teria por função principal a criação de alevinos, para posterior soltura nos rios onde a escassez se mostrar presente? É isso e talvez essa providência, salve muitas das espécies de peixes ameaçadas, inclusive o nosso dourado. A criação de alevinos - comercial - de muitas espécies,  já é uma realidade no Brasil de hoje. 

sábado, 4 de novembro de 2017

DICIONÁRIO ARUANÃ PEIXES DO BRASIL - SARDINHA DE ÁGUA DOCE




SARDINHA DE ÁGUA DOCE
  
Um pequeno peixe mas, nem por isso menos importante. Isca muito usada no Pantanal e de rara beleza, a sardinha de água-doce pode ainda ser encontrada em outros rios ou lagos no Brasil. Bastante voraz, apesar de seu tamanho, compete com o lambari no ataque às iscas que lhe são apresentadas.


Para o pescador de pequenos peixes, que se diverte com a briga que eles proporcionam a sardinha aqui descrita, pode ser comparada com o lambari em muitos aspectos. Voraz ataca com rapidez a isca que o pescador estiver usando, seja ela de massa de farinha, milho verde, minhoca e mesmo pequenos camarões ou pedaços de peixes. Devido ao formato de seu corpo é boa de briga. Fazer uma ceva com quirera de milho será sempre uma boa opção para atrair o cardume. Cientificamente classificada na família Characidae, tem como nome científico Triportheus amgulatus angulatus. Segundo alguns biólogos, pode ser encontrada, além do Pantanal, na Amazônia, Peru, Bolívia e Colômbia, em rios como o Jaguaribe, Russas e Orós, no Ceará; Parnaíba no Piauí; Piancó na Paraíba e lago Papari no Rio Grande do Norte. A sua nadadeira caudal apresenta um prolongamento na região mediana. Ela gosta de ficar perto da superfície da água. Atinge até 24 cm de comprimento total, desovando na época das chuvas. Suas larvas alimentam-se de fitoplâncton e os adultos preferem insetos. O Serviço de Piscicultura do Departamento de Obras Contra as Secas projetou a produção maciça de peixes forrageiros em 1958, para servirem de alimentos às espécies carnívoras: uma das escolhidas foi a sardinha. A reprodução foi conseguida após hipofisação dos reprodutores com extrato hipofisário de curimatã-comum.  O Açude Lima Campos, no Ceará, recebeu 14.333 alevinos, de 20 a 40 mm de comprimento total, com 15 a 25 dias de vida. A exemplo de outras espécies não citadas pelos biólogos, o Pantanal, tanto norte como sul, mostram grandes cardumes desse peixe, que fazem sua piracema todos os anos a exemplo dos chamados peixes lóticos. Talvez seja essa a razão de serem muito apreciada como isca para pintados, dourados, tucunarés e tantas outras espécies de peixes predadores dessa região. Podemos pesca-la com material ultraleve, composto por vara de bambu ou telescópica, linha fina, pequena chumbada oliva e anzol pequeno, o mesmo usado na pesca do lambari. Pega muito bem nas iscas acima citadas e uma ceva garantirá a atração do cardume. Evidente está que junto com ela, devido a ceva feita, virão outras espécies, como o sauá, lambari, piaus, pacu-prata e até piavuçus, que além de comer a isca, com certeza, devido ao seu tamanho e força, não serão içados até a mão do pescador, rompendo a linha e mesmo o conjunto do material usado. É uma boa distração para as horas mais quentes do dia, sempre embaixo de uma boa sombra de árvore. Caso haja um remanso no rio, a ceva será ainda muito mais produtiva.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

DICIONÁRIO ARUANÃ ANIMAIS DO BRASIL - CAPIVARA












A capivara, o maior dos roedores, é um animal de aspectos diversos e fascinantes. Nesta matéria, vamos conhecer um pouco mais de suas peculiaridades.





É o maior de todos os roedores. Hydrochoerus hydrochoerus . Atinge 1 metro de comprimento; a cor é uniforme, parda, nem muito avermelhada nem muito amarelenta. Não tem rabo; suas orelhas são pequenas. Vive sempre à beira d’água, que é seu refugio, quando perseguida; nada e mergulha bem. Forma sempre pequenas varas, que não raro, contam até 20 indivíduos. Alimenta-se como perfeito herbívoro e naturalmente dá preferência ao arroz ou milho novo, pelo que nas regiões ribeirinhas causa, às vezes, muito dano. Passa o dia escondida, perto da água  e só a noite vêm pastar. Assim, só a espingarda pode valer ao lavrador. A carne não agrada a todos os paladares, mas o óleo extraído pela fervura e que depois foi exposto ao sereno, é considerado medicamento valioso. O couro tem boa aplicação para certos fins, laços principalmente. É característica sua posição de repouso, sentada como um cão. Alguns caçadores distinguem uma espécie branca, “capivaratinga”, mas trata-se apenas de indivíduos velhos, que ficam grisalhos. Veja-se também”capincho”. Na Amazônia, às vezes vêem-se capivaras domesticadas, que então acompanham as crianças mesmo durante o banho. Esses animais são atacados, como o cavalo, pelo “mal das cadeiras”, pelo que alguns cientistas desconfiam que sejam estes grandes roedores os depositários do flagelado Trypanosoma equinum. De fato, é sabido que, de tempos em tempos, a epizootia determina grande mortandade entre as capivaras. 




O distinto pintor Teodoro Braga, afirmou-nos que os marajoaras criadores de gado incluem as capivaras entre os perniciosos inimigos da criação, “porque eles envenenam a água e fazem morrer o gado”. Ainda uma vez devemos dar razão à intuição do povo que assim, sem saber, atinou, antes dos cientistas, com os depositários do causador do “mal-de-cadeiras” (ou “quebra bunda”, como lá diz o povo).


Bibliografia consultada no original: Dicionário dos Animais do Brasil – Rodolpho Von Ihering.