sexta-feira, 29 de junho de 2018

A LEI (ABSURDA) DO TUCUNARÉ NO AMAZONAS








O Decreto Lei 39.125/18, de autoria do governador Amazonino Mendes PDT, publicado em 14 de junho de 2018, no Diário Oficial do Estado do Amazonas, mostra ao pescador amador menos atento, que “finalmente” foi feita uma lei para a proteção desse peixe, que é a atração de qualquer pescador, que pratica a pesca amadora/esportiva. Mas ao analisarmos seu conteúdo nos deparamos com mais uma lei absurda e com outros interesses quando um estado a publica e mostra de que quem a fez ou não entende nada de pesca ou a intenção principal é outra. Vejamos.









O Decreto Lei 39125/18 tem em seu conteúdo 34 artigos divididos em 13 capítulos e foi assinado pelo atual Governador Amazonino Mendes, por seu Secretário de Estado Chefe da Casa Civil Arthur Cesar Zahluth Lins e ainda por Marcelo José de Lima Dutra Secretário de Estado de Meio Ambiente. Convém lembrar de que Amazonino foi eleito por um período pequeno – até as próximas eleições gerais -, já que o agora ex governador José Melo do Pros, teve seu mandato cassado por corrupção. Isso nada tem a ver com o que queremos explicar e o que entendemos já que qualquer leigo vai perceber é a intenção nas entrelinhas de seus artigos. Vamos começar. A lei tem dois “considerando” citando outras leis etc. Normal. E aí do art.1º ate o art. 6º em sua totalidade de capítulos e parágrafos e incisos é um blá, blá interminável que, aliás, estão em praticamente todas as leis que versam sobre meio ambiente. No art. 7º a primeira citação importante já que fala da captura para consumo próprio de 5 kg de pescado, ou seja, de tucunarés inteiros. Para quem for a Bacia Amazônica pescar, poderá se gabar de comer um tucunaré mais caro do mundo, visto que se somarmos todas as despesas de viagem e estadias esse será o preço a ser divididos entre os 5 quilos desse peixe. Partindo-se do Art. 8º até o art. 13º mais algumas regras a ser seguidas por quem for lá pescar e mais blá, blá, comum aliás também em outras leis semelhantes. 



No Art. 14 aqui sim a primeira surpresa, já que o assunto é delicado pois se refere, de modo até meio complicado sobre licença de pesca e registro de cadastro do pescador onde não são citados os valores para se conseguir esses documentos, citando apenas como consegui-los e... quanto custarão. E a nossa pergunta fica? Não vale a licença do Ibama? Com certeza que não e, deverá ser uma licença exclusiva para quem vá pescar dentro dos limites do Estado do Amazonas. A exemplo de outros estados  que adotaram essa prática o que aliás é citada nesta lei também, fica patente a bitributação. Alguém se incomoda com isso em nossos legisladores? Não ria se puder. Vamos em frente. Art.15º trás a lista de documentos que o pescador deverá adquirir para poder pescar. No art.16º com os mesmos documentos dar entrada e receber o seu CRP – Certificado de Registro de Pesca com o qual serão cadastrados todos que se dedicam a pesca amadora, sejam pessoas físicas ou jurídicas. No caso, pesqueiros, barco hotel, agências e operadores de turismo, etc. Do Art.17º até o Art.21º mais normas para cadastramento, inclusive envolvendo um certificado do Ministério do Turismo com o pomposo nome de Cadastur. No Art. 22º a “coisa pega” e agora é sério: “a fiscalização será realizada por órgão competente, bem como todos os órgãos do Sistema Nacional de Meio Ambiente – Sisnama”. Traduzindo, mais ou menos como Conama etc. E aí o pescador pergunta: mas qual é o órgão que vai fiscalizar? Será algum órgão com poder de polícia tipo Policia Ambiental? 



O Decreto Lei não especifica, infelizmente. No Art. 23 cita que o pescador deve estar de posse de todos os documentos acima citados se pedidos pela fiscalização e cuidado, já que as multas por pescar em locais proibidos ou durante defesos etc. podem variar de R$100,00 (cem reais) até R$100.000,00 (cem mil reais) para quem for pescar e infringir tudo o que está determinado nos incisos, parágrafos e letras desse artigo. O art.25º eu faço a questão de publicar na íntegra. Diz ele: “Os órgãos competentes criarão mecanismos que visem o desenvolvimento integrado de programas de educação ambiental e de informação técnica, relativos à proteção e ao incremento da pesca amadora no Estado do Amazonas, em especial a pesca esportiva”. Que coisa mais lindinha rs. Outra coisa que, em nossa opinião é justa, é que fica o tucunaré (Chicla spp) considerado como peixe Símbolo da Pesca Esportiva no âmbito do Estado do Amazonas. Só no Estado do Amazonas, já que no resto do Brasil ele é caracterizado como um criminoso ou seja, “espécie invasora e que ameaça outras espécies de peixes”. Vai entender isso. Já no Art.27º institui o “Selo da Pesca Esportiva Sustentável – SEPES, no âmbito do Estado do Amazonas, para pessoas físicas e jurídicas que estejam licenciadas pelo órgão ambiental competente e que desenvolvam a atividade de pesca esportiva de forma sustentável, abrangendo todos os elos da cadeia produtiva”. (quanto em $$ o tal selo?)


No Art. 28º permite o transporte de tucunaré (Chicla spp) proveniente da pesca recreativa, somente na área de abrangência do Estado do Amazonas. Do Art. 29º até o 32º fala sobre torneios de pesca e suas regras, além do tamanho mínimo de 30 cms. O art. 33º revoga o Decreto 22747 de 26/06/2002, o Decreto 23050 de 02/12/2002 e “disposições em contrario”. O 34º avisa que este entra em vigor na data de sua publicação, que foi em Manaus, no Gabinete do Governador do Estado do Amazonas no dia 14 de junho de 2018. Seguem-se assinaturas dos responsáveis pelo mesmo.

Nota da Redação. Nós sempre fomos a favor de qualquer ato que venha beneficiar os pescadores amadores e o meio ambiente, o que evidentemente não é o caso deste decreto lei, já que faltam nele “algumas coisinhas”. Exemplo? Vamos lá. Como ficam as regras para os pescadores artesanais/profissionais que se utilizam de seus “apetrechos de pesca” na captura do tucunaré? Apesar de ler com cuidado não vi essas citações. Nas feiras de peixes como a existente em Manaus, serão respeitadas as normas deste decreto? Nos bares e restaurantes, onde é muito apreciado o prato da famosa caldeirada de tucunaré, vai ser proibida? E nos hotéis de Manaus, além da “ventrecha de pirarucu, costela de tambaqui e a caldeirada, deixarão de existir, em prejuízo do turismo nacional e internacional”? Volto e peço ao leitor que leia novamente o título desta postagem e tire suas conclusões. Será de bom alvitre ler na íntegra o Decreto Lei 39125/18 para tirar suas conclusões e se prevenir.
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sexta-feira, 22 de junho de 2018

DICA - LOCALIZE O ROBALO











A pesca de robalo costuma ser feita durante o ano todo, sendo que pode-se dizer que os maiores exemplares são fisgados de setembro a abril. No entanto, é muito importante que o pescador saiba como localizar os peixes, pois só assim poderá descobrir exatamente onde deve jogar seu anzol.


Galhadas

Elaboramos este artigo visando principalmente os interesses daqueles pescadores que praticam a pesca de robalos nos rios e canais. Também consideramos a pesca feita em praias, desde que haja rios por perto, como pesca de canal, alertando que os robalos, neste local específico, estão apenas de passagem, ou seja, não será todo dia que os encontraremos lá, ao contrário do que acontece nos rios e canais propriamente ditos. Já que a pesca desse peixe só é feita com isca viva ou com iscas artificiais, vamos falar rapidamente disso, para podermos nos alongar mais na análise das estruturas onde a presença do robalo é característica. Como boas iscas vivas, podemos citar o camarão, o pitu, o amborê, o lambari e, no nordeste do país, também a moreia (espécie de amborê). 

Pedras em beira de rio

Normalmente, com iscas vivas, pesca-se de fundo (em lances e ou caceio) ou utilizando bóias. Boas iscas artificiais: os plugs em forma de peixes, que tanto podem ser de superfície, meia água ou profundidade e os jigs, usados principalmente perto de pedras, além de colheres usadas em lances ou corrico, e ainda os camarões artificiais para a pesca de profundidade. Vamos agora tentar descrever todos os tipos de estruturas encontradas em rios e canais.


                                            GALHADAS
São as mais famosas estruturas. Tanto podem estar na margem como mais para o meio do rio. As melhores galhadas serão sempre as mais antigas, que são facilmente identificadas, pois portam cracas, mariscos e outros microorganismos. Merecem destaque especial as grandes árvores que caíram e vão desde a margem (aparece o tronco) até rio adentro. Se a profundidade for de 2 a 5 metros, então, essa é uma galhada campeã.


Cais

A presença de robalos nesse local é inevitável. Se houver várias árvores caídas (muito comum) é melhor ainda.


                                              PEDRAS
Outro grande pesqueiro. Pedras isoladas ou conjunto de pedras anunciam locais que devem ser sempre conferidos. Procure descobrir onde fica o ponto mais fundo, que pode estar na frente ou atrás da(s) pedra(s). Se for uma pedra isolada, devemos “bater” a isca à volta dela toda. Conjuntos de pedras na saída do rio para o mar podem ser considerados como costão. Pesca-se batendo toda a sua extensão, especialmente na praia propriamente dita. Normalmente o local mais fundo será sempre bem próximos a essas pedras. Pedras submersas totalmente são difíceis de serem vistas. Algumas denunciam sua presença nas marés mais baixas, pois costumam fazer algumas marolas na superfície. Outras somente se descobrem por intermédio do sonar.

Pilastras de ponte                                             
                         
                                               CAÍS OU PORTOS
Tipicamente bons locais, seja sua estrutura feita em pedras ou madeira. Os robalos costumam permanecer entre as colunas de sustentação. Pesca-se dando lances de frente ou paralelos à estrutura.
                                                PONTES
Características semelhantes aos cais e portos, com uma pequena variação: Se a profundidade não for superior a cinco metros, os plugs, jigs e iscas vivas, tanto na bóia como de fundo, darão bons resultados. No caso de profundidade ser superior a cinco metros, apenas as iscas vivas, na modalidade fundo, serão apropriadas. Pode-se pescar dando lances a distâncias de 20 metros ou então lances diretamente com cima dos poços rentes às colunas da ponte. Neste caso, amarra-se o barco rente às colunas. 

Barranco                                                   

                                                 BARRANCOS DE TERRA FIRME


Normalmente são encontrados nas curvas dos rios e canais. Esses barrancos resultam da erosão ocasionada pelas grandes marés, que formam poços profundos. Devido também à erosão, é muito comum que as árvores existentes nos barrancos caíam, transformando-se em extensas galhadas que podem acabar submersas, muitas vezes não sendo visíveis a olho nu. Toda a extensão do barranco deve ser batida, mas muitas vezes isso significa percorrer uma distância grandes demais. A melhor opção neste caso é parar o barco a uma distância de aproximadamente 20 ou 30 metros e dar sucessivos lances “varrendo” todo o barranco.

                                                 GAMBOAS
São pequenos cursos d’água que durante a enchente da maré recebem grande volume de água, o qual “jogam” de volta ao rio ou canais quando a maré vaza, trazendo com essa ação muito alimento para o robalo.

Amborê: ótima isca para o robalo

Normalmente são rasos, e o ponto de pesca ideal é sua desembocadura no rio. Forma-se um degrau de profundidade variável, abaixo do qual os robalos se posicionam para esperar o alimento. A melhor dica é jogar a isca (natural ou artificial) bem dentro da gamboa e vir trazendo-a para as águas do rio.


                                                  EMBARCAÇÕES AFUNDADAS

Excelente pesqueiro. Não faz diferença se a embarcação afundou próxima à margem ou no meio. Dependendo de seu tamanho, toda a volta de sua extensão deve ser batida com a isca, começando sempre pelo lado no qual a maré desce. Mais uma vez, a profundidade do local onde está a embarcação é fator determinante. Se for muito fundo e ela estiver totalmente submersa, será melhor usar isca viva e pescar de fundo.

Embarcação afundada 

Se estiver apenas parcialmente submersa, as iscas artificiais ou vivas, na pesca com bóia ou de fundo dará bons resultados.


                                                 SAMBAQUIS
São formações de cascalho ou de ostras no fundo do rio ou canal. Sua extensão é variável, pois numa estrutura desse tipo tanto pode ter apenas alguns metros como centenas deles. Nesses locais, deve-se pescar com iscas vivas, em profundidade e no sistema de caceio, ou seja, com o barco rodando. A isca mais indicada para esse tipo de pesca é o camarão vivo.
                                                CERCOS OU CURRAIS DE PESCA
Só darão bons resultados na pesca esportiva os cercos ou currais que sejam velhos e estejam parcialmente destruídos. Em tais locais, a profundidade não costuma ser superior a 3 metros. Portanto, pode-se pescar de fundo ou com bóia, utilizando iscas vivas. Com relação as artificiais, as iscas de barbela longa e os jigs serão os mais indicados. 

Robalo

Finalmente, podemos concluir que exploramos aqui todos os tipos de estruturas encontradas em rios e canais onde os robalos com certeza estarão presentes. Mas há canais que, por incrível que pareça, não apresentam nenhum tipo de estrutura. Quando isso ocorre, a opção mais recomendável é pescar na modalidade de corrico com iscas artificiais, percorrendo a linha das margens ou meio do canal. Quando o primeiro robalo fisgar, o pescador deverá memorizar o local onde isso ocorreu. Se acontecer de fisgar outro em uma nova corricada no mesmo ponto, é sinal que ali deve existir uma estrutura submersa.
Portanto, se o pescador quiser parar de corricar e passar então a pescar dando lances ou mesmo de fundo, com iscas vivas ou artificiais, essa terá sido uma escolha bastante proveitosa. 

Cerco ou curral de pesca

Há uma regra básica que não podemos deixar de citar: sempre que se deparar com uma estrutura na margem de um rio, saiba o pescador que aquele local é o mais fundo. Basta posicionar sua embarcação à frente da estrutura e guardar distâncias regulares de no mínimo 20 metros. Se não fizer barulho e se a maré estiver descendo, mesmo não tendo sucesso na primeira parada, é só tentar outras vezes, com marés mais altas ou mais baixas. Uma coisa é certa: o robalo vai aparecer. A dica final é pescar sempre na maré vazando e no máximo à uma ou duas horas na enchente, dependendo esta opção, do tipo de rio ou canal. Em nossa opinião, mais uma vez dependendo do rio ou canal, é verificar qual a altura é melhor no seu local de pescaria. Essa altura pode variar e muito e aconselhamos às marés de quarto, próximas as luas grandes – cheia ou nova – observando-se sempre a movimentação da água que não pode ser muito rápida em sua descida.


Revista Aruanã Ed: 55 Publicada em 02/1997

quinta-feira, 21 de junho de 2018

DICIONÁRIO ARUANÃ PEIXES DO BRASIL - MARIMBÁ







Considerada boa por alguns pescadores e sem gosto para outros, sua carne não tem valor comercial. Mas por ser um dos principais alimentos do mero, nos dá uma dica de sua importância, além de sua pesca ser muito interessante, pois é bom de briga. Vamos conhece-lo.










O marimbá é uma espécie marinha pertencente à família Sparidae, família à qual pertencem também o pargo e o peixe pena. Ele é denominado cientificamente de Diplodus argentus. Este peixe é encontrado no litoral que banha as regiões sul e sudeste do país, ocorrendo desde o Espírito Santo até o Rio Grande do Sul. O melhor local para a captura de peixes adultos é em alto-mar, pois apresenta maior ocorrência junto a ilhas, parceis de pedra e costões. Os peixes jovens são comuns ao longo de praias, mangues e bancos de algas. Diurnos, ativos e vorazes, formam pequenos grupos ou cardumes moderados e comem de tudo, desde invertebrados a pequenos peixes, algas, esponjas, variando a dieta conforme a idade e o formato de seus dentes Extremamente comuns, são a única espécie da família realmente confiada e que se aproxima dos mergulhadores com facilidade vindo a comer na sua mão. Como característica predominante, este peixe apresenta uma mancha preta na parte superior do pedúnculo caudal, e sua cor é de um cinza-prateado com o ventre esbranquiçado. O corpo é robusto, mas raramente ultrapassa os 50cm de comprimento, e seu peso não supera 1,5kg. Sua carne, entretanto, não é muito apreciada, mas por servir de alimentação ao mero, é uma ótima opção de isca para esse peixe. (NR: a pesca do mero está proibida). Pode ser capturado durante o todo o ano, sendo que para o pescador, sua pesca pode ser muito interessante, pois os peixes pequenos exigem muita habilidade, porque possuem boca pequena, os médios e grandes oferecem muita disposição ao lutar, dando a impressão de estar-se capturando um peixe maior. Em relação às iscas, como principais podemos citar: pedaços de sardinhas, parati, manjuba, camarão descascado, lula, saquaritá e baratinha-do-mar. O material empregado em sua pesca é o de categoria leve a média, podendo utilizar-se vara com molinete ou carretilha e até mesmo linhada de mão. É também conhecido pelos sinônimos de marimbau e pargo-branco, no Rio Grande do Sul, e pinta-no-cabo no Espírito Santo.

sexta-feira, 15 de junho de 2018

ROTEIRO - PANTANAL: DESCUBRA-O













A área do Pantanal Matogrossense estende-se por mais ou menos 230.000 quilômetros quadrados. Esses números, pó si só, demonstram a real impossibilidade de alguém conhece-lo totalmente. No entanto, se levarmos em consideração algumas regras básicas, poderemos estabelecer, para a pesca, um procedimento que garantirá o sucesso do pescador em suas futuras pescarias. Analise-as e descubra o paraíso.



Embarcando o pacu  

Qual a melhor época para uma pescaria em rios do Pantanal? Por certo, essa pergunta deve ter sido feita a muitas pessoas e, evidentemente, cada uma terá, de acordo com seus conhecimento da região, uma resposta. Em uma pesquisa realizada aqui na REVISTA ARUANÃ, a maioria dos entrevistados, cerca de 75%, respondeu que o período de agosto, setembro e outubro, é a melhor época de todas. E você, meu caro pescador, tem a mesma opinião? Se a resposta for positiva, como responder então, que mesmo nos meses citados, muito bom pescador foi lá e fez uma péssima pescaria? Aí está portanto, uma indagação que deve ser analisada e estudada por cada um de nós, para então formarmos uma opinião a respeito de quando deveremos marcar nossa pescaria. Começamos a analisar a resposta da pesquisa. E esta, por sua vez, é fácil de ser explicada, pelos motivos apresentados a seguir. Durante muitos anos, boas e grandes pescarias eram feitas, por exemplo, nos rios do Estado de São Paulo, em locais como o rio Tiête, Piracicaba, Grande, Paraná, Mogi Guassu e Paranapanema, apenas para citar alguns bons rios de nosso Estado. Há 50 anos, era muito difícil, a não ser que fosse um grande aventureiro, o fato de um pescador paulista precisar deslocar-se até o Pantanal para fazer uma grande pescaria de dourados, pintados, pacus e enormes jaús. 

              A esquerda Tucum – umas das melhores iscas para pacu          A direita um pintado de 18 kg                                                      
Assim sendo, até bem próximo da capital paulista, ótima pescarias foram realizadas, sendo então a época preferida pelos nossos pescadores, observadas as condições de nossos rios de agosto a outubro. Com o progresso de nosso estado, traduzido em barragens e poluição (e a cada dia que passa mais nos aproximamos do fim), começaram então os pescadores a buscar novos campos para sua pescaria. Descobriu-se o Pantanal, para a grande maioria dos aficcionados, agora com muito mais facilidade de locomoção e com a organização de pesqueiros em rios pantaneiros. E lá se foi nosso pescador, para umas das mais belas regiões do mundo. Com ele, na bagagem, sua tralha de pesca, seu conhecimento, sua técnica, e alguns vícios de pescador. A época de pescar em agosto, setembro e outubro foi um desses vícios. Só que essa afirmação não poderá ser considerada como regra, visto que o Pantanal é uma região completamente diferente dos rios de São Paulo. 

As cheias do Pantanal   

                                
                                      As melhores Épocas de Pesca
                                                                     
Para escolhermos uma boa época de pesca para a nossa pescaria anual, temos que levar em consideração a altura das águas do Pantanal. Para que essa explicação seja quase perfeita, vamos analisar um rio pantaneiro, que sem dúvida, pode nos mostrar essa verdade: o rio Paraguai. Esse grande e belo rio nasce na Serra dos Parecis, onde começa sua caminhada para o Oceano Atlântico. Quando ele atinge o Pantanal, nas imediações de Cuiabá, seu leito original começa a receber centenas de outros rios, até sua foz. O ciclo das chuvas inicia-se primeiro na região norte do Brasil. Com as chuvas, as águas dos rios vão se turvando (em alguns lugares) e vão subindo seu nível, que em pouco tempo, ultrapassam a “caixa” dos rios, alagando campos e estradas.  Toda essa água começa então sua lenta descida para outras regiões. Para melhor compreensão, vamos citar só três cidades do Pantanal: Cuiabá, Corumbá e Porto Murtinho. Se é época de cheia em Cuiabá, por certo não o é nas outras duas cidades citadas, pelo simples motivo de que as mesmas águas que formaram a cheia em Cuiabá, pelo rio Paraguai, irão inexoravelmente atingir Corumbá e por fim Porto Murtinho, distantes entre si algumas centenas de quilômetros. 

Jacarés

Com as cheias, toda a ictio-fauna pantaneira começa sua movimentação. Nos campos o pacu vai “pastar” suas iguarias preferidas; em corixos que antes estavam secos, com a cheia, as águas penetram, formando pequenas corredeiras mais rápidas, para a alegria de dourados e pintados, que dão caça aos pequenos peixes, que começam a subir em piracema, para desovar nos campos alagados e águas cristalinas. Formam-se também os poços mais profundos, com seus remansos a lhes denunciar a presença, onde os enormes jaús ficam a espera dos detritos que lhes traz a correnteza. Com as cheias, enche-se de vida o Pantanal, seja qual for a região em que elas aconteçam. Com a descida das águas, os primeiros campos, citados na região de Cuiabá, começam a aparecer. É hora do pacu voltar para o rio. Dourados e pintados já não tem mais as corredeiras a lhes facilitar a labuta da alimentação. Os jaús serão os últimos a serem prejudicados, tal é a profundeza dos poços em que se encontram; no entanto começam também a descer o rio, em busca de outros poços profundos. Se a água dessa região começa a sair dos campos, inevitável é afirmar-se que ela vai para algum lugar. Lentamente, mas com determinação, desce rio abaixo... para a região de Corumbá, e mais algum tempo... para Porto Murtinho. 

      Piranha – inimiga das iscas

Quando é que isso vai acontecer, só a “mãe” natureza é que pode dizer com precisão. Será em agosto, setembro e outubro? Essa resposta pode ser sim ou não. Sim, porque o ciclo das cheias poderá acontecer nesses meses. Não, porque as águas podem adiantar ou atrasar, de acordo com as condições climáticas. Ora, se agora sabemos que com mais água é melhor a movimentação de cardumes de peixes, sendo portanto mais fácil seu encontro com o anzol do pescador, como é que um pescador pode marcar sua pescaria anual com um ano de antecedência? E mais, fazer essa marcação antecipada da pescaria coincidir com suas férias de trabalho? A resposta é simples e objetiva: se coincidir a época das águas com a marcação das férias, ótimo. O resultado será sempre excelente. Se o período for negativo, com pouca água... adeus, boa pescaria. É exatamente nessa hora que o numerário gasto aparece com mais evidência e resulta no mau humor dos pescadores. As vezes, o erro de marcação acontece com diferença de um, dois ou mais meses. Conhecer o ciclo das cheias e o nível das águas no Pantanal é certeza de uma boa pescaria, que poderá acontecer em qualquer época do ano, dependendo apenas do que a natureza determinar. 



A elegância da garça branca
                                         INFORMAÇÃO

As melhores pescarias no Pantanal, dependendo das espécies que se queira pescar, acontecem durante todo o ano. É muito comum ver-se pescadores que lá vão e trazem em sua bagagem somente uma ou duas espécies de peixes. Esse fato acontece porque os pescadores vão atrás do peixe que está mais fácil de ser encontrado e em maior quantidade, de acordo com as características do local e época. Inevitável a pergunta: e os peixes das outras espécies, onde estão? Um ponto muito importante é o pescador amador saber interpretar e conhecer hábitos e costumes de cada espécie. Isso se traduz em iscas, altura das águas e mais uma infinidade de pequenos itens. São os chamados “sinais da natureza”.  Uma pequena “estória” para afirmar ainda mais essas dicas. Eu fui fazer uma matéria em Corumbá, mais precisamente no Porto Morrinhos, perto de onde hoje, fica a ponte que atravessa o rio Paraguai. Fiquei hospedado no Hotel Tarumã (na região só tinha ele e o do Severino). Foi lá que conheci seu Juju, para sorte minha. Se você olhar uma das fotos que ilustram essa postagem vai perceber o nível das águas nessa região. Pois bem, tinha um monte de pescadores amadores lá. 


Piraputanga
 A tarde, na volta ao pesqueiro, todos mostravam os peixes pescados: dourados e pintados. Aliás essa norma era para mostrar entre os piloteiros, quem pescava mais peixes. Na minha volta ao Tarumã, junto com seu Juju, mostrávamos grandes... pacus rs. Ninguém havia pescado nenhum pacu, só nós. Recebi até de um pescador a proposta de trocar dois dourados por um pacu. Não aceitei. Agora a melhor parte dessa viagem. Pela manhã, eu e o seu Juju, éramos os últimos a sair do pesqueiro, “para não entregar o ouro aos outros piloteiros de onde estavam os pacus”. No barco, subíamos o Paraguai rio acima. No caminho passávamos por vários barcos de pescadores que estavam no Tarumã, pescando nas margens do rio. Eu percebi que seu Juju volta e meia olhava para trás. Perguntei o porquê disso e a resposta foi esta: “é prá ver se alguém vai no seguir”. Não deu outra. Minutos após nossa passagem, dois ou três barcos nos seguiam a uma razoável distância. Seu Juju parava então em algum ponto qualquer e fingíamos que estávamos pescando. Seu Juju falava, tá vendo seu Antonio, não falei? Nessa hora fazíamos uma coisa boa. Seu Juju enrola um cigarro e tomávamos caldo de cana e comíamos rapadura feita por ele. 



                   Mapa do Pantanal

Quando não havia mais movimento de barcos perto de nós, ele dava a partida em nosso motor de popa e então lentamente – para não fazer muito barulho – subíamos mais um pouco o rio. Se escutássemos algum barco se aproximando, eu colocava uma vara na mão e fingia que estávamos corricando. Após o barco passar seu Juju aumentava a velocidade e íamos então para o “nosso” pesqueiro de pacus. Em um desses pesqueiros, éramos obrigados a desligar o motor e com o auxilio de mãos e remos, entrarmos no meio do mato até atingir no meio dos camalotes, um vão de rio limpo. Esse local não tinha mais do que trezentos metros de comprimento por cinco metros de largura. Ainda com os remos, subíamos esse pequeno trecho do rio, até seu início. Nova parada, “para descansar do barulho, segundo o seu Juju”. Mais um cigarro e mais caldo e rapadura. Depois de uns quinze minutos ele avisava: vamos pescar. Colocava tucum na vara de bambu e começávamos a bater a isca. Até chegar no final dos trezentos metros, estavam em nosso barco 4 ou 5 pacus com peso variando entre 6 e 8 quilos, fora o que soltávamos por seu tamanho menor. Por diversas vezes, ao escutarmos barulho de motor de popa, parávamos de pescar e chegamos a deitar no barco, pois segundo seu Juju, “a turma estava nos procurando”. Para finalizar, seu Juju costumava cevar o local com milho antes de sairmos do pesqueiro. Aos que lerem esta estória vão entender porque lhe dei o titulo de “REI DOS PACUS”. Saudades eternas.

Revista Aruanã   Edição:03 Publicada em 12/1987

sexta-feira, 8 de junho de 2018

É ÉPOCA DE PEIXES DO FRIO










Com os meses mais frios, principalmente no litoral sul e sudeste do Brasil, algumas espécies começam a aparecer com maior intensidade, proporcionando ao pescador amador grandes pescarias. Descubra porque essas espécies são consideradas como “peixes do frio”.



Miraguaia

Podemos apontar três correntes marítimas que agem em nosso litoral. São elas: a Corrente da Guiana, que é um braço da corrente Sul-Equatorial e que ocorre ao longo da costa do nordeste, do Cabo de São Roque para cima; a Corrente do Brasil, que deriva de um ramo da Corrente Sul-Equatorial do Cabo de São Roque para o sul, normalmente até a altura do estuário do rio da Prata, onde desvia-se para leste em direção à África; e a Correntes das Malvinas ou Falklands, de águas frias, que sobe do extremo sul do continente, passando entre este e as ilhas do mesmo nome até encontrar-se com a Corrente do Brasil, entre o Prata e a costa do Rio Grande do Sul. Esta região de encontro, bem como as intromissões da Corrente das Malvinas em nossas águas de plataforma costeira, alcançando até o litoral do Rio de Janeiro (mais ou menos Cabo Frio), é uma boa dica para o pescador amador pescar corretamente os chamados peixes “do frio”. 

Sargo

Para o pescador amador mais observador, existem ainda algumas dicas que determinam quando está chegando a hora de se tentar essas espécies. A primeira delas é a chegada do nosso inverno. Com frio, poucos são os pescadores que continuam, por exemplo, a pescar de praia. Esta por si só já é uma dica para se mudar o tipo de pescaria. Afinal de contas, ninguém é de ferro, e com frio, é bastante desagradável pescar nas águas da praia. O jeito então é mudar para a pesca de costão ou alto mar. Uma segunda dica bastante aproveitável é o aparecimento da tainha em nossos canais de litoral. Aliás, começamos a ver essas tainhas primeiramente nas bancas de vendedores de peixes e mesmo por notícias de jornais, mostrando a verdadeira “matança” que se faz com esse peixe no litoral de Santa Catarina, em um evento denominado erroneamente de “festa da tainha”. 

Olhete

São diversos pescadores profissionais que, unindo suas forças (redes) fecham os cardumes, que se deslocavam para o sudeste a fim de desovar. Ano a ano, essa atividade mostra claramente que os cardumes estão diminuindo, e só não enxerga quem não quer ver. Em um futuro bem próximo, se esses pescadores profissionais não forem esclarecidos, não haverá mais tainhas em nosso litoral. Após o desabafo, voltemos aos peixes do frio. Com a dica do inverno e do aparecimento das tainhas, começamos a encontrar primeiro nas ilhas lá fora e depois perto dos costões, notícias de alguns pescadores que fisgaram anchovas, olhetes, olhos-de-boi, corvinas, miraguaias, sargos e cações. A Corrente das Malvinas ou Falklands (para os peixes o nome certamente não é importante) tem as águas de uma coloração verde garrafa, e como são ricas em peixes como sardinhas, savelhas, cavalinhas, etc., trazem mais para perto da costa os peixes maiores que vêm em sua caça, já que são sua principal fonte de alimentação.



Corvina

Aliás, essa afirmação por si só já é uma boa dica quanto ao tipo de isca a ser usado. A temperatura dessas águas pode ser medida mais ou menos em torno de 14 graus, e a velocidade das correntes varia em torno de 0,7 nós (1.3 km/h). Ora, se o pescador amador sabe que medindo a temperatura da água e ela estando em torno da marca citada, concluirá que temos as condições para permanência dos peixes em nosso litoral. Se tudo indica boas condições, é impossível então que, indo a uma pescaria, não consigamos fisgar algum peixe do frio. Mais uma vez devemos citar, devido a importância que têm, que os primeiros peixes do frio a aparecer serão capturados sempre por pescadores que pescam embarcados em ilhas ao longo de nosso litoral. 

Betara

Com o domínio maior dessa corrente, e posterior temperatura no litoral, mais especificamente nos costões, começamos a fisgar tais peixes em pontas mais para dentro do mar, para finalmente com marés fortes (normalmente as de luas grandes –cheia ou nova), começamos também a fisga-los até dentro de nossos rios e canais do nosso litoral. Essa regra é certa, porém, a época em que se dá pode variar de ano a ano. Se você é um pescador embarcado com preferência por iscas naturais, use como isca principal a sardinha, e procure pescar sempre perto de ilhas e dê preferência a pescar apoitado em parceis submersos ou nas imediações das ilhas. Os melhores parceis são aqueles que ficam distantes algumas centenas de metros da ilha, e que tenham faixas de areia a separa-los. Outra dica: prefira sempre os parceis do lado sul das ilhas que recebem diretamente a corrente. 


Cação

Para os pescadores que pescam com iscas artificiais, a melhor maneira de pescar será corricando na ilha, dando preferência sempre do lado de fora, onde as pedras tenham mais organismos vivos e o mar é mais agitado. Normalmente, esses locais estão voltados para a direção sul ou nordeste. Os parceis também são de excelente qualidade para se passar corricando sobre eles. Aqui uma dica: o parcel não pode ser muito fundo, sendo ideal um profundidade de no máximo dez metros. Caso haja um parcel mais raso, podemos apoitar e dar lances sobre eles e trabalhando as iscas artificiais. Para esse tipo de pesca (corrico), as melhores iscas são as Rapalas Magnum 14, nas cores branca com o dorso preto ou azul, cromeadas com a mesma cor no dorso, as vermelhas e amarelas e uma muito especial que é a isca totalmente branca com apenas a cabeça na cor vermelha. 

Anchova

Tente todas, já que sabemos que peixe não as vê assim coloridas. A distância ideal entre a isca e o barco cabe ao pescador descobrir. Comece por corricar a uma distância mínima de 30 metros e depois vá se alongando. Outra boa dica é, se houver mais pescadores no mesmo barco, que cada um use uma isca diferente da do outro. Fisgado um peixe, espere a confirmação do segundo peixe na mesma isca. Durante o dia, se parar de bater nessa cor, volte a colocar iscas de cor diferente e espere sempre a fisgada do segundo peixe na mesma isca. Para o pescador de costão, o jeito é pescar somente com iscas naturais. Use dois métodos: pesca de fundo e pesca de bóia. Por exemplo: a miraguaia só pega de fundo, e suas iscas principais são o marisco (em pencas e com casca), os sarnambis, siris, caranguejos de pedra e de mangue. Para espécies como a anchova, olhete, olho-de-boi e corvina, a sardinha é a isca ideal. Ou então um outro pequeno peixe, de acordo com o litoral de cada estado. 

Olhete

Para os sargos, uma boa isca é o caranguejo, o marisco, a baratinha e, em casos mais raros, o camarão. No tocante a material, para a pesca embarcada use varas de ponta mais grossa e do tamanho que não exceda a dois metros. A linha pode ser até 0,60 mm, e no caso de iscas naturais, anzóis desde o 4/0 até o 9/0 dependendo do tamanho dos peixes. Na pesca de costão as varas deverão ter comprimento superior a 3,5 metros, pois além de facilitar o lance, deixam a linha longe das pedras e arrebentação. (As varas de praia podem ser usadas aqui). A bitola de linha mais usada é de 0,50 mm e os anzóis podem ser os mesmos ou não, dependendo do peixe a ser tentado e do tamanho dele. Aí está portanto, uma boa época para peixes do frio. A propósito: no ultimo domingo do mês de junho, no pesqueiro Lage de Santos (NR: hoje proibida a pesca lá) a temperatura da água estava entre 13 e 15 graus. Vários barcos fizeram ótimas pescarias nesse local, usando tanto iscas naturais como artificiais. Para terminar, a Corrente das Malvinas deverá continuar atuando no litoral citado até meados de setembro. Boa pescaria. 

Revista Aruanã Ed:23 Publicada em 08/1991


sexta-feira, 1 de junho de 2018

OS PIONEIROS DA PESCA AMADORA NO BRASIL - NUNO O. VECCHI














O nosso entrevistado, nesta edição, é um batalhador incansável para a melhoria de nosso meio ambiente.  Injustiçado, incompreendido e atacado, mostra um pouco da realidade (NR:10/1991)


Assinatura do documento que torna irmãos o Aquário de Toba, no Japão, e o Exotiquarium.

Há mais de trinta anos trabalhando em Zoologia, Nuno Octávio Vecchi, paulista nascido no Horto Florestal, na Capital, tem 62 anos de idade e é um dos grandes defensores do meio ambiente no Brasil. Filho de Seraphita Miranda Azevedo Vecchi e do Dr. Otávio Vecchi, só podia enveredar pela zoologia, já que seu pai era botânico e entomologista. Para se ter uma idéia de quem foi o Dr. Otávio, podemos citar algumas de suas atuações, tais como: escreveu um livro sobre todas as madeiras existentes no Estado de São Paulo; construiu e inaugurou o museu florestal que leva seu nome, no Horto Florestal em São Paulo; por ocasião de sua morte, deixou uma das maiores coleções de lepidópteros (borboletas) que hoje figura no acervo da Escola de Agronomia Luiz de Queiros, em Piracicaba (SP) entre outras iniciativas. Pescador amador inveterado, Nuno frequenta com assiduidade locais como o Pantanal, Bacia Amazônica, represas e rios de nosso país. Como lembrança predileta tem uma pescaria de tucunarés, cujo maior peixe pesou 9,8kg, realizada na região do rio Trombetas, mais precisamente no lago Jacaré, nas proximidades de Cachoeira Porteira. “Eu tinha ido lá, diz Nuno, para fazer um estudo sobre tartarugas e fui convidado por um caboclo da região para pescar. Nosso material, aliás, o dele, era composto por uma colher número dois e linha de bitola140. Pescamos de corrico e eu consegui fisgar então esse tucunaré. O ano era 1978, o mês de outubro”. Como uma de suas maiores alegrias dentro de sua profissão , Nuno cita o fato de poder desfrutar de uma natureza rica como é a nossa, o que, infelizmente, se as coisas continuarem como estão, as gerações futuras não conhecerão. Cita por exemplo o rio Teles Pires, visitado por ele na década de 60, o Xingu, na mesma época onde ele conta que era preciso viajar de canoa para não ser flechado pelos índios. O Pantanal, na década de 40, na região do rio Negro, peixes e animais se via à vontade. Outras regiões visitadas e que eram um paraíso: Barra do Garça, rio das Mortes, Cristalino e Araguaia. Sua maior tristeza é o descaso com os botos cor-de-rosa, por parte de nossas autoridades. 

Pescaria de tucunarés

Em especial no que se refere ao caso de Bia e da Tiquinha, dois botos fêmeas, oriundas do rio Formoso (GO) e que, durante dois anos e nove meses ficaram aqui em São Paulo, mais precisamente no Exotiquarium, Nuno conta: “No rio Formoso existe uma plantação de arroz e soja, irrigada artificialmente, onde todos os anos botos morrem, em razão da pouca água no período da estiagem. Eu tinha na ocasião uma autorização da SUDEPE para capturar um casal de botos cor-de-rosa, que era o que atendia as pretensões do Exotiquarium para estudo e tentativas de reprodução pela primeira vez no mundo em aquários. Recebemos então a denúncia de que havia dois animais presos nesses canais de irrigação e para lá nos dirigimos”.  “Esses botos estavam aprisionados em um poção desses canais, onde a profundidade era de 40 cm num diâmetro de 40 metros. Não havia nada para eles comerem, e seu estado era lamentável, pois estavam bastante magros, apresentando um quadro completo de desnutrição. Suas mortes seriam inevitáveis, se ali permanecessem. Após a captura, descobrimos que eram duas fêmeas, e resolvemos traze-las assim mesmo, pois lá iriam morrer, e poderíamos até ser acusados de ‘omissão de socorro’. Mais tarde pretendíamos pedir autorização para a captura de um exemplar macho. E assim, com todos os cuidados técnicos e científicos (há filmes que provam isso), as trouxemos para São Paulo.” “O tempo provou que estávamos certos, pois em dois meses apenas, já que percebia claramente a adaptação, pois seu peso havia aumentado consideravelmente , e as fêmeas mostravam-se doces e afáveis. Nossa convivência com a Tiquinha (o filhote) durou exatamente um ano e sete meses, pois, devido a um edema pulmonar agudo, ela veio a falecer. A necropsia mostrou que ala havia sido atacada por um verme que era próprio de sua região de origem. O corpo da Tiquinha permanece hoje na Faculdade Veterinária da Universidade se São Paulo. A partir daí, aumentaram as pressões das supostas ‘entidades ecológicas’, que culminaram com uma ação no Ministério Público contra nós. 


Nuno e Tiquinha

A justiça brasileira ordenou que devolvêssemos a Bia ao seu local de origem onde teria toda a liberdade.” Pois bem – continua Nuno - 17 dias após levarmos a Bia para o rio Formosa, recebemos a notícia de que ela havia sido morta por pescadores profissionais, para, quem sabe, vender seu órgãos genitais e olhos nas feiras da região amazônica, prática essa, alias, muito comum na região. Dizem eles que esses órgãos dão sorte.” “Na verdade, o boto na Amazônia é considerado um concorrente do pescador profissional, pois além de comer peixes, costuma estragar suas redes. Essa, sem dúvida foi a razão principal da morte da Bia. E, pelo nosso lado, deixamos de mostrar a milhares de crianças como é um boto cor-de-rosa. A decisão da Justiça, piegas e romântica, mostra claramente que em nosso país se julga uma questão ambiental mais com o coração do que com a razão. Por que então não se fecha o zoológico, que abriga centenas de animais?”– pergunta Nuno, visivelmente emocionado. Para encerrar, vamos mostrar um pouco das atividades do nosso entrevistado: participou da montagem do Simba Safari, ficou 12 anos no Zoológico de São Paulo, na seção de mamíferos e répteis, participando na pesquisa de campo e captura de animais e realizou a montagem e hoje dirige o Exotiquarium em São Paulo, idéia esta da Mário Autuori, que originalmente seria dentro do próprio Zoológico de São Paulo. Infelizmente, Mário Autuori faleceu antes da realização dessa obra. “Como já tínhamos todos os projetos e estudos prontos, resolvemos montar por conta própria, dentro do Shopping Morumbi – foi o primeiro a nos abrir as portas -, já que a nova diretoria do zoológico não quis continuar o projeto.” O Exotiquarium é hoje internacionalmente reconhecido, havendo a colaboração entre diversos países, como os Estados Unidos, Canadá e Japão, com os quais trocam informações científicas. Em 1988, Nuno foi ao Japão onde foi assinado um acordo entre “aquários irmãos” – o Exotiquarium e o aquário de Toba, a convite do governo japonês. Para encerrar, Nuno quis dedicar esta matéria “in memorian” a Bia e Tiquinha, que padeceram os efeitos típicos da má formação e incompreensão da justiça brasileira e a todos os “ecologistas de asfalto”, que, com sua duvidosa atuação privaram, principalmente as crianças, de conhecer um boto cor-de-rosa.



Revista Aruanã Ed:24 publicada em 10/1991