sexta-feira, 30 de setembro de 2016

FOLCLORE DO BRASIL - A MÃE DO OURO









A solidão dos garimpeiros que vasculhavam os grotões em busca do ouro e pedras preciosas em tempos idos neste Brasil, criou-lhes o medo. E este deu-lhes asas à imaginação. A lenda da Mãe do Ouro surgiu da crença de que nos locais onde o fogo-fáctuo se desprendia da ossada dos animais mortos, existiam tesouros escondidos.




Naquela caverna por onde as águas do rio das Garças desaparece, mora a Mãe do Ouro. Ela só sai de seu esconderijo no lusco-fusco da tarde porque não gosta da luz do sol. Ela é irmã gêmea do luar. Ela vive no meio da pedraria preciosa, dos brilhantes, turquesas e safiras, onde tem seu leito encantado. Quando sai da gruta, vão caindo de sua cabelereira luzente como as estrelas pingos de luz pelo chão, que se transformam em pedras preciosas da cor dessa luz. Feliz é a mulher que, ao ver a Mãe do Ouro enquanto um pingo vai caindo, lhe fizer um pedido antes que este toque o chão. O pedido será atendido e a mulher passará a pertencer para sempre à Mãe do Ouro. Todas as noites de lua cheia, ao dormir, deixará a pele de seu corpo na cama e sairá para aparecer no Palácio da Mãe do Ouro, sem que ninguém perceba. Na gruta, gozará das festas e delícias permanentes que ali existem: música, canto, dança, amor e alegria. Ao penetrar na gruta, seu corpo é coberto por um traje vaporoso. Mas embora sejam vistosos, ninguém pode falar com a outra e nem se tocar. Caso isso aconteça, virará carvão. As grutas são profundas, e a luz do sol não penetra lá. Mas há muita luminosidade, que as pedras preciosas lhe emprestam. Cada salão é mais bonito que o outro e cada qual possui uma cor.  As estalactites têm reflexos ofuscantes e suas cores variam a cada instante. As águas do rio que penetram terra adentro cantam uma sinfonia sem fim, de uma suavidade ímpar. Somente os gênios das águas podem possuir as mulheres encantadas que vão para a gruta. O leito macio do rio é o leito dessa noite nupcial. Quando o galo canta pela primeira vez, as mulheres encantadas saem da gruta, como se fossem um nevoeiro de nuvens brancas. Voltam para suas casas, retornam à sua pele e continuam sua vida normalmente.
Obra consultada: Brasil – Histórias, Costumes e Lendas.

Alceu Maynard Araújo

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

ESPECIAL: TAINHA CRUA: SAÚDE EM RISCO









Muitas vezes, a falta de informação pode levar o pescador amador a colocar em risco sua saúde e a de seus familiares, principalmente quando leva para casa peixes que, por quaisquer razões, são impróprios para consumo.









Rio em Cananeia.

As tainhas da região de Cananeia (SP) estão seriamente doentes e podem prejudicar a saúde de quem as consome, mais especificamente quando ingeridas cruas. Para saber mais detalhes sobre o que está ocorrendo com esses peixes, entrevistamos os biólogos Gilberto Cezar Pavanelli, do Departamento de Biologia da Universidade Estadual de Maringá (PR) e Maria José Tavares Ranzani de Paiva, do Departamento de Biologia do Instituto de Pesca do Estado de São Paulo. Diz o Dr. Pavanelli: “Na edição 41 da Aruanã, publicada em outubro de 1994, escrevi um artigo sobre vários peixes de água doce que apresentavam “lombriguinhas” em sua carne e vísceras. Naquela oportunidade destaquei o fato de que aqueles vermes, apesar de bastante comuns em muitas espécies de peixes, felizmente não prejudicavam a saúde do homem. No entanto, agora a história parece ser diferente. Temos recebido várias informações de que muitas tainhas – quase a totalidade das capturadas na região de Cananeia, em São Paulo – encontram-se contaminadas por um tipo de larva conhecido como metarcecária, de um verme cientificamente denominado de Phagicola longus. Este verme, quando adulto, é encontrado normalmente como parasita no organismo de uma série de animais cuja dieta se constitui de peixes, em especial garças, socós e pelicanos, entre outros. Esses parasitas alojam-se no intestino desses animais, ocasionando o aparecimento de vários sintomas específicos, tais como dores abdominais, diarreias e alterações no sangue.




Ciclo esquemático do parasita Phagicola longus – (Ilustração Jaime Luiz NUPELA/UEM)

.Quando o homem se alimenta de uma tainha contaminada pelas tais larvas, que se encontram espalhadas pelas vísceras e pela carne desse peixe, então ele irá desenvolver o verme no seu intestino e passará a apresentar sintomas típicos da parasitose, como cólicas, flatulência (formação de gases no estômago e intestinos), diarreia e outros estados característicos de verminose em geral. Comumente, o consumo de tainhas contaminadas ocorre através do sushi e do sashimi, pratos típicos da cozinha oriental, onde a carne do peixe é ingerida crua. Outro aspecto a ser destacado a respeito da doença é o fato de que muitos médicos, bem como a maioria de laboratórios de análises, ainda não estão preparados para diagnostica-la, já que se trata de uma parasitose relativamente recente, cujos sintomas podem ser confundidos com os de outras verminoses intestinais.”.
“No Brasil, o primeiro caso comprovado dessa doença foi registrado exatamente na região de Cananeia, em 1990. De lá para cá, vários novos casos foram sendo constatados, levando a crer que o número de doentes ainda deverá aumentar consideravelmente, principalmente nas regiões litorâneas onde a pesca da tainha é mais comum”.
“Porém, há um fato relativamente tranquilizador para nossa saúde: a princípio, os parasitas podem ser combatidos com sucesso através da utilização dos vermicidas disponíveis no mercado. De qualquer maneira, é necessário que as autoridades da área da saúde pública fiquem atentas, pois com a disseminação do hábito de ingerir peixes crus, esse problema pode se transformar numa perigosa zoonose (doenças transmitida ao homem por animais) com significativa repercussão para a saúde da população apreciadora da culinária oriental.” 




Tainha.

“Por outro lado, as pessoas que consomem tainhas assadas e recheadas, fritas ou ensopadas não precisam se preocupar. Quando o peixe é preparado dessa forma, as eventuais larvas que possam estar presentes são destruídas pela ação do calor e não causam nenhum problema para a saúde.” Por indicação do Dr. Pavanelli, entramos em contato com a Drª Maria José Tavares Ranzani de Paiva, bióloga do Instituto de Pesca de São Paulo, em busca de mais informações. Diz ela: “Tive a oportunidade de realizar algumas pesquisas com as tainhas de Cananeia no período de 1988 até 1996, pesquisas essas que inclusive serviram de tema para a minha tese em doutorado. Os resultados que obtive apontaram a presença do Phagicola longus em 100% das tainhas investigadas.”.
“Não posso afirmar que em outras regiões do Brasil as tainhas também estejam contaminadas por esse verme, já que para isso seria necessário que houvessem sido realizadas pesquisas científicas em cada área específica, coisa que infelizmente ainda não ocorreu. No entanto, com base nas características de infestação constatadas nos peixes de Cananeia, acreditamos que existe uma grande probabilidade das tainhas de outras regiões também serem portadoras desse verme. Outro dado importante a ser ressaltado é que, segundo informações que obtivemos, já foram oficialmente registrados mais de 10 casos comprovadamente de infecção ocasionada por essa verminose”. 



Cisto de Trematóide




Drª Maria José T.Ranzani de Paiva  -                                           Dr. Gilberto Pavanelli.

Finalmente o Dr. Pavanelli aconselha: “Como medida preventiva, a carne de tainha não deve ser consumida crua em hipótese alguma”. De acordo com as informações obtidas junto a dois renomados biólogos brasileiros, ficou aqui demonstrada a gravidade de problema que vem ocorrendo com as tainhas, colocando em risco a saúde de milhares de pessoas. Seria conveniente que nossas autoridades da área de saúde se preocupassem com a existência dessa verminose nas tainhas de Cananeia e com a realização de pesquisas científicas em outras regiões do Brasil a fim de averiguar se o Phagicula longus também está presente em tainhas e demais espécies de peixes provenientes dessas regiões. Certamente o pescador concordará que não vale a pena trazer riscos à saúde insistindo no consumo dos tradicionais sushis e sashimis, pelo menos enquanto ainda não há certeza acerca da presença da larva no organismo de outras espécies de peixes, No momento, é realmente aconselhável abandonar o hábito de comer peixe cru, até que as autoridades da saúde pública se pronunciem a respeito.
NOTA DA REDAÇÃO: Os biólogos do Departamento de Biologia do Instituto de Pesca do Estado de São Paulo estão à disposição da população para esclarecimento de dúvidas e também para receber comunicações acerca do aparecimento de novos casos de contaminação por essa verminose. O endereço do Instituto de Pesca é: Av. Francisco Matarazzo, 455 Parque da Água Branca – São Paulo – SP – CEP 05031-900. Também podem ser feitos contatos através do telefone (011) 262-3360 ramal 213. (deverá ser confirmado este endereço e telefone do Instituto de pesca).



Revista Aruanã Edição nº50  - 04/1996



terça-feira, 20 de setembro de 2016

RESSACA DAS MARÉS.





Desabou!










Mais uma vez Ilha Comprida foi notícia na mídia nacional. E, mais uma vez, com notícias que desabonam o lugar que escolhemos para viver, como se aqui fosse um lugar perigoso, sujeito as alterações climáticas entre outros problemas parelhos ao assunto. Esses desabamentos de casas ou outros tipos de construção, no caso recente uma pousada, prejudicam e muito a imagem tranquila e pacifica da nossa Ilha Comprida. O interessante é que todo esse alarde não é primário, já que desabamentos são até comuns, pela sua constância, no norte da Ilha, causados pela ação das marés. Esse mesmo norte é declarado como APA, ou seja, Área de Proteção Ambiental, onde nada se pode fazer ou mesmo frequentar. Estamos dentro da reserva citada no Decreto Estadual nº 30.817 de 30/11/1989. E mais, agora também somos citados em um Plano de Manejo conhecido como APACIP – Área de Proteção Ambiental Cananeia, Iguape e Peruíbe. Esse ultimo da lavra da Fundação Florestal e agora fortalecida essa autoridade estadual, pelo ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação e da Biodiversidade, uma autoridade federal, que assina também o citado Plano de Manejo. Como nós moradores, não vamos conseguir aprovar/criar nenhuma lei, decreto ou uma simples portaria de nossa autoria, podemos sim, pela nossa inércia em determinar medidas protetoras, pedir, ou melhor, exigir que tanto a Fundação Florestal como o ICMBio, providenciem urgente uma lei, ou seja, lá o que for que proteja nossa Ilha Comprida, já que as ressacas marítimas estão diminuindo a extensão da nossa ilha, que antes era de 74 quilômetros de extensão. Se a Ilha Comprida é uma área de proteção ambiental, que quem assim a classificou, a defenda, já que é sua obrigação então, preserva-la.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

ESPECIAL: VOCÊ PESCA ROBALOS?






        É PROIBIDO!






Você é um pescador amador/esportivo e se orgulha disso. E mais, essa arte/lazer, foi herdada de seus pais ou avós. Ou então por qualquer outro motivo começou a pescar respeitando todas as leis e normas inerentes a sua categoria. Você se orgulha de defender o meio ambiente em seu país, para as próximas gerações. Pois saiba meu amigo pescador amador, que perante as autoridades responsáveis, você não é absolutamente nada, a não ser, recolher sua licença de pesca, e não ter nada de volta, em termos de defesa ou proteção. Vamos te dar uma pequena amostra dessa afirmação.









As primeiras notícias davam conta de que a pesca amadora estava proibida em todo o estuário de Cananeia, “desde Porto Cubatão, até o Ariri”. Alguns moradores/pescadores de lá, manifestavam-se e com razão, completamente irados e em altos brados alertando que a pesca amadora acabou no estuário de Cananeia. Mas a verdade é bem outra. Ela está sim proibida somente em três, agora denominadas reservas, a saber: Reserva Ilha do Tumba, Reserva Taquari e Reserva Itapanhapina. (veja quadro abaixo). Pessoalmente eu sou contra as proibições de agora, como sempre fui contra, por exemplo, da Laje de Santos, do Rio Barra do Una e Guaraú (os dois parcialmente), do Forte dos Andradas e da Fortaleza de Itaipu (Parque Estadual Xixová - Japuí). Fazia então a pergunta e a repito agora: em que a pesca amadora prejudica uma reserva? 






A resposta é nada. Mas, no entanto, tem que haver diretrizes e normas, além de eficiente educação aos pescadores e, leis justas. Tirar de pescadores amadores, para dar tudo ao pescador artesanal me parece uma tremenda injustiça, já que os dois podem ocorrer juntos. Mas o pessoal da APACIP e da Fundação Florestal não acha isso correto, já que o artesanal, apesar de poder pescar com redes, tarrafas, cercos e outros petrechos, além de comercializar seus produtos de pesca se acham, na opinião das citadas autoridades, prejudicados. Alegam-nos que os pescadores amadores, são verdadeiros predadores e até destruidores do meio ambiente. Alegam mais, como eu já ouvi pessoalmente, que somos todos ricos enquanto os artesanais, “coitados”, pescam para sobreviver. Isso é uma insidiosa mentira, além de maldosa e discriminativa.


                                                            A portaria


ATENÇÃO PESCADORES, GUIAS DE PESCA E OUTROS ATORES ENVOLVIDOS COM O SEGMENTO DA PESCA AMADORA!
O Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental Cananéia-Iguape-Peruíbe foi aprovado, através da publicação da Portaria MMA/ICMBio nº 14 de 22 de fevereiro de 2016. Com isso, novas regras para a pesca amadora passaram a valer. Confira:
Normas Gerais – Pesca Amadora (página nº 148)
• É permitida a atividade de pesca amadora, preferencialmente acompanhada por Condutor de Turismo de Pesca devidamente cadastrado, na APACIP ou em órgãos competentes.
• A APACIP limitará o abate e o transporte a 7 (sete) exemplares diários por licença de pesca amadora, exceto as espécies ameaçadas de extinção ou ameaçadas localmente, as quais não poderão ser embarcadas.
No caso específico dos robalos-peva (Centropomus parallelus) e dos robalos-flecha (Centropomus undecimalis), para o robalo-peva, o tamanho mínimo de captura passa a ser de 40 cm e o tamanho máximo de captura passa a ser de 50 cm. Para o robalo-flecha, o tamanho mínimo de captura passa a ser de 60 cm e o tamanho máximo de captura passa a ser de 70 cm.
No caso específico da pescada-amarela (Cynoscion acoupa), o tamanho mínimo de captura passa a ser de 60 cm e o tamanho máximo de captura passa a ser de 80 cm.
• É proibida a evisceração e/ou processamento dos peixes capturados antes do desembarque e da verificação da espécie.
• Torneios de pesca amadora serão permitidos mediante prévia autorização para o evento pela APACIP.
As embarcações inscritas no respectivo torneio poderão portar exemplares abaixo ou acima das medidas mínimas e máximas de captura somente durante o período da prova. Todos os exemplares deverão ser retornados à natureza após as devidas aferições por parte da organização do torneio.
A equipe que acompanhará o torneio deverá conter representantes aptos do ICMBio, Conselho Consultivo da UC e de instituições de pesquisa.
No caso de morte acidental de algum peixe durante os torneios de pesca, este deverá ser desconsiderado da classificação da prova e deverá ser entregue aos organizadores do evento.
Ao fim do evento, os organizadores são responsáveis por enviar ao ICMBio um relatório sobre o evento, com o número de participantes, indivíduos mortos, número de embarcações entre outros.
• Deverão ser adotadas medidas mitigatórias quando houver queda nos estoques pesqueiros.
Maiores informações disponíveis em:
http://www.icmbio.gov.br/portal/unidadesdeconservacao/biomas-brasileiros/marinho/unidades-de-conservacao-marinho/2241-apa-de-cananeia-iguape-peruibe.
Telefones úteis: (13) 3841 2692/VOIP; (61) 3103 9916.
Não esqueça de portar a sua licença de pesca amadora e de conferir períodos e locais onde a pesca é proibida! Seja um pescador consciente, praticando o pesque-solte sempre que possível. Assim você contribuirá com a prática sustentável da atividade e com as suas próximas.


Voltemos ao assunto principal que é uma comparação entre a pesca amadora e a pesca artesanal, conforme quadro oficial aqui publicado. Isto sim é uma mentira e não se sabe de onde tiraram tais dados, com tão disparatada diferença. Não acredito em má fé, mas sim de uma pesquisa mal feita e em anos diferentes, como se pode observar. Fiz uma pesquisa particular, a título de mais subsídios e, como jornalista. Entrevistei dois artesanais, registrados em colônia de pescadores, que pescam a mais de 20 anos, tendo como principal função de renda a pesca, com direito inclusive a seguro desemprego. Segundo eles, que pescam com redes de armar e arrasto, costumam pegar, em um dia ruim, pouco mais de 5 quilos. Já em um bom dia de pesca, até 50 quilos de pescado, ou mais, caem em suas redes, e das mais diferentes espécies, como as citadas no quadro abaixo.



TABELA COMPARATIVA PESCA AMADORA COM A PESCA ARTESANAL.


Recurso
Pesca Amadora Abril -2009 à Março 2010
Pesca Artesanal - 2007
Pesca Artesanal – 2008
Kg
% relativa 2007
% relativa 2008
Kg
% relativa
Kg
% relativa
Centropomus parallelus
31278,007
94,3%
92,5%
1871,9
5,7%
2528,11
7,5%
Centropomus undecimalis
12830,762
91,3%
81,5%
1228,2
8,7%
2919,6
18,5%
Cynoscion leiarchus
8609,997
100,0%
100,0% 
*
0,0%
*
0,00%
Cynoscion acoupa
5028,965
84,5%
53,7%
920,5
15,5%
4327,9
46,3%
Micropogonias furnieri (corvina)
3109,002
70,5%
43,9%
1300,4
29,5%
3979,4
56,1%

Cynoscion acoupa
Pescada amarela
Pescada Jaguara
Cynoscion leiarchus
Pescada branca
Pescada inglesa
Pescada azul

Pescada branca
Pescada inglesa
Pescada azul


* Porque a falta de informação de Cynoscion leiarchus -  pescada "branca, inglesa e azul" no quadro?


Laje de Santos

Se fizermos uma média diária, vamos ter aproximadamente 27,5 quilos por dia, o que daria em uma conta simples, 825 quilos por mês. Continuando, em um período de 12 meses teriam pegado então 9.900 quilos, cada um. Chamo a atenção para o fato de que são apenas dois pescadores artesanais. Multiplique-se essa quantia, pelo número de pescadores artesanais nas regiões citadas e teremos um resultado muito maior do que os números da pesca amadora, no caso de robalos peva e, estendidos às outras espécies do mesmo quadro. E mais um detalhe, a grande maioria desse pescado é comercializado sem notas de produtor, em bancas à beira da praia, estradas, a clientes sob encomenda, a restaurantes da região (que escolhem as espécies), a comerciantes ilegais que vão buscar os peixes para comercializar em suas peixarias e por aí vamos. 






Vendas em bancas de rua, direto ao consumidor e, sem nota.
Vendas em bancas de rua, direto ao consumidor e, sem nota.

Rio Guaraú
Segundo nossas informações, quem forneceu a quantidade de quilos no citado quadro, pescados por artesanais (que hoje são em número de 700 pescadores inscritos regularmente em Cananeia), foi o Instituto de Pesca. Outro detalhe que chama a atenção são os anos da pesquisa.  Porque os anos de 2009/2010 para amadores e 2007/2008, para os artesanais? Apenas mais um exemplo e isto aconteceu e acontece na Barra do Una em Peruíbe. Como lá existe uma barreira onde os carros são revistados, os maus pescadores, compram as notas de produtor dos pescadores artesanais de Barra do Una, para justificarem o número de peixes acima do permitido por lei, à sua categoria. Maus pescadores amadores existem, como existem também, por exemplo, maus funcionários públicos, médicos ou comerciantes. Infelizmente é esta uma triste realidade como vem sendo provado atualmente nos quadros políticos. Vamos respeitar os art. 1º, 5º e 6º de nossa Constituição, já que todo o cidadão brasileiro a eles tem direito. Portanto, o mínimo que pedimos é a revisão de tal portaria e que se ache uma solução, integrando as duas modalidades de pesca, democraticamente. Ou então, no estado de São Paulo, só restará ao pescador amador, usar sua melhor tralha e  ir pescar  nos chamados pesque pague, onde não será preciso pagar nenhuma licença de pesca amadora e respeitar qualquer lei. Por enquanto.

   
Esta é a publicação que podemos encontrar sobre as reservas e a proibição da pesca amadora. E, a propósito, a cerca de duas semanas atrás, houve um campeonato de pesca amadora na mesma região, com a devida autorização dos mesmos órgãos ambientais. Pescar em competição vale e não prejudica em nada a pesca artesanal?  

sábado, 10 de setembro de 2016

DICIONÁRIO ARUANÃ ANIMAIS DO BRASIL - PACA









Antigamente, a caça feita por caçadores amadores, devidamente licenciados para tal, era considerado um esporte. Com o tempo, praticamente em todo o Brasil, o termo “caçar” foi proibido de ser falado e executado,  ferrenhamente defendido por ecologistas. Habitante de nossas matas, ainda hoje presente, mas, em menor número, não se proibiu a derrubada de matas e capoeiras, estas sim, em fase de extinção. Mas no interior do nosso país, índios e caboclos ainda tem nesse animal, uma grande fonte de alimentação.










Roedor da família Caviídeos – Coelogenis paca – que atinge 70 cm de comprimento; pelo feitio geral pouco difere de uma capivara nova ou então pode ser comparada a uma cutia, porém bem maior e tendo, como esta, a cabeça um pouco alongada. O colorido é que a melhor lhe caracteriza; de cor geral bruno-amarelada, destacam-se nitidamente 5 séries longitudinais de malhas, um pouco alongadas, branco amareladas. Vive de preferência nas capoeiras, dormindo de dia na toca, para sair à noite, em procura de toda sorte de frutos e raízes, de que se alimenta. É caça de primeira ordem, sendo a carne comparável à do leitão. A caçada de paca é uma das mais apreciadas. Em noite de luar esperam-na junto às árvores frutíferas, ficando o caçador dissimulado no “mutá”, um tanto elevado. A caça da paca, por meios de esperas nos aceiros ou caminhos, é a mais incerta e geralmente enfadonha. Além do que, a paca, perseguida, não é tão constante como o veado a seguir o caminho que conhece e varia às vezes por outros, se a isso a obrigam os cachorros.
“Diga: Paca, tatu, cutia não” é uma locução muito conhecida, porém de significação e emprego não definidos. Originalmente, parece que circulou apenas como jogo de palavras, cuja graça está em serem repetidos os três nomes pelo interpelado, quando, ao contrário, se lhe pedira claramente a supressão da palavra cutia.

Desenho e texto (adaptado) do original.

Obra consultada:
Dicionário dos Animais do Brasil – Rodolpho V.Ihering

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

DICIONÁRIO ARUANÃ PEIXES DO BRASIL - PIAVUÇU















São muito poucos os pescadores que vão ao Pantanal especialmente para pescar piavuçus. No entanto, quando se pesca pacu, usando como isca o caranguejo, o encontro com o piavuçu é inevitável. Bom de briga e com carne de sabor excelente, este peixe é uma ótima opção. Vamos conhece-lo.








Cientificamente o piavuçu é conhecido como Leporinus obtusidens e pertence à família Anostomidae, a mesma das piavas, piaparas, piaus, etc. A designação de sua família já é uma dica ao pescador, pois em se fazendo uma boa ceva, este peixe – a exemplo de outros que compõe a família – vai pegar muito bem no engodo. O problema maior é que, em se tratando de Pantanal, ninguém se preocupa em fazer tal ceva, ficando então a pescaria desse excelente peixe ao mero acaso. A coloração do piavuçu é cinza esverdeada no dorso e o ventre é esbranquiçado. Apresenta ainda uma mancha cinza vertical no opérculo e longitudinal abaixo do olho, assim como três manchas arredondadas nos flancos. Esta coloração, quando o peixe fica algum tempo fora da água, passa a ser preta com nuances avermelhadas em todo o corpo. Sua área de atuação é principalmente nos rios Mogi-Guaçu, Grande e Paraná, o que lhe garante, por ser da Bacia do Prata, toda a extensão dos rios do Pantanal. Chega a atingir 4 ou 5 quilos, e um bom material para sua pesca poderá ser constituído de vara média, assim como molinete ou carretilha. Uma linha de bitola 0.40mm será mais do que suficiente, e um anzol no máximo 5/0, do tipo usado para o pacu. O anzol deve ser encastoado e usa-se um chumbo do formato oliva, com o peso variando de acordo com a correnteza do rio. Os melhores pesqueiros são as margens onde haja aguapés ou camalotes e águas com pouca movimentação. Suas melhores iscas são a massa de farinha, a mandioca em pedaços, o milho, o caranguejo e até pequenos pedaços de peixe. O piavuçu é bastante arisco, portanto deve-se observar o silêncio durante a pescaria. Caso a permanência do pescador seja de muitos dias, o peixe poderá ser atraído para determinado local por uma ceva, mantida principalmente com mandioca, milho, pão e restos de comida. Sua carne é de excelente sabor, principalmente frita e assada, sendo que neste caso deverá o peixe ser preparado inteiro e recheado. Muito esportivo, este peixe briga bem, só se entregando quando completamente cansado. O manuseio do piavuçu deve ser feito com cuidado, pois ele possui dentes poderosíssimos, que podem chegar a partir anzóis não apropriados para sua pesca.